30 junho 2019

Mansoa, 1973 - Caça e Pesca em tempos livres


(Post reformulado a partir de outros já publicados em 21 de Julho de 2012)

Caça e Pesca em tempos livres (38.ª Companhia de Comandos)




Mansoa, 1973 - Um porco formigueiro (papa-formigas, abatido com G3 numa incursão nocturna de caça

O oricteropo (nome científico: Orycteropus afer) é um mamífero africano, o único representante vivo da ordem Tubulidentata, da família Orycteropodidae e do seu género. Este animal distribui-se por todas as as planícies e savanas do sul de África[1]. O nome aardvark, pelo que é conhecido em vários países, significa "porco-da-terra" em africâner (aarde, "terra", e vark, "porco"), mas este animal não está relacionado com a família Suidae. Também é conhecido como aardvark, jimbo, porco-da-terra, porco-formigueiro,timba, timbo, orictéropo, oricterope

Características

É um animal de médio porte que pode pesar entre 40 a 100 kg. Tem uma pele espessa e de cor amarelada a acastanhada, revestida por poucos pelos, e orelhas compridas e bicudas.

A dentição do "oricteropo" é única na classe dos mamíferos e o motivo pelo qual são classificados numa ordem à parte. O adulto tem 20 dentes distribuidos segundo a fórmula 0/0 0/0 2/2 3/3, constituídos por dentina e com uma cavidade tubular. Os dentes não são revestidos e desgastam-se; para compensar os dentes crescem continuamente.

A língua, vermiforme, tem uma superfície pegajosa e pode chegar a ter 30 centímetros. Os porco-formigueiros consomem ocasionalmente outros insectos, pequenos roedores e frutos mas a sua alimentação base é composta de térmitas e formigas. Para comerem estes insectos e como protecção contra predadores, os orictéropos desenvolveram uma capacidade excelente para escavar buracos e túneis no subsolo e podem enterrar-se completamente no solo em menos de um minuto.

São animais noturnos e solitários que não mantêm territórios, deslocando-se com frequência dentro do seu habitat em busca de fontes de alimento. Apenas fémeas mantêm morada fixa e mesmo assim só durante a época de reprodução, que varia de acordo com a latitude em que vivem. A gestação dura em média 7 meses e resulta numa única cria, embora tenham sido registados nascimentos de gémeos. As crias nascem dentro de tocas e mantêm-se escondidas por várias semanas. Aos seis meses, o oricterope começa a alimentar-se sozinho e a maturidade sexual é atingida aos dois anos.

Os porco-formigueiros não têm importância económica para o homem mas foram ocasionalmente caçados como fonte de alimento. Graças à sua preferência alimentar por cupins, estabelecem um equilíbrio importante nas populações destes insectos sendo os buracos que cavam em busca de alimento utilizados por diversas espécies como refúgio.

A ordem Tubulidentata surgiu no Miocénico inferior, no atual Quénia.





Mansoa, 1973 - Uma impala, igualmente abatida com G3 numa incursão de caça

Características

A impala (Aepyceros melampus) é um antílope com 50 a 60 kg de peso, único membro da sub-família de bovídeos Aepycerotinae. Vive em grandes manadas nas savanas e é especialmente comum no sul de África. Podem correr a velocidades de 90 km/h e saltar cerca de 6 metros para fugir aos predadores, têm boa visão, audição e reflexos rápidos. Preferem zonas onde exista capim de porte baixo ou médio, com uma fonte de água por perto, condição que pode ser desprezada caso a erva seja abundante.

A espécie tem dimorfismo sexual, sendo a cabeça do macho ornamentada por chifres elegantes, que podem atingir um metro de comprimento e desenvolvem-se em forma de lira. A pelagem é castanho-avermelhada, escurecendo no rosto e no dorso, sendo que o ventre, os queixais, a linha dos olhos e a cauda são brancos. Uma zona de pêlos mais compridos do que os restantes, de cor preta, cobre-lhe os calcanhares. A maturidade sexual é de um ano para os machos e vinte meses para as fêmeas, com um período de 195 a 200 dias de gestação.

Abundante em Angola, toma, neste país, várias designações de acordo com as suas línguas étnicas: m'Pala em tchingangela (ganguela), Ompala em umbundu, Kxara em !kung e Omhala em kwanyama (cuanhama).

A impala está entre as espécies dominantes em muitas savanas. Podem adaptar-se ao ambiente, em algumas áreas, como diferentes herbívoros e noutros locais como simples navegadores. Pastam quando a forragem é verde e no crescimento e viajam noutros momentos. Vão procurar nas partes mais elevadas das plantas e arbustos vagens e folhagens.

Os rebanhos usarão locais específicos para deixar os excrementos. As impalas são activas dia e noite com elevada dependência da água. A presença de um elemento é normalmente um indicador de água por perto. A impala pode consegue sobreviver em áreas onde herbívoros puros o não conseguem.

Quando assustado o rebanho de impalas assume comportamento colectivo saltando a fim de confundir os seus predadores. Podem saltar distâncias superiores a dez metros e três metros em altura. Leopardos, chitas, leões, hienas e cães selvagens são os seus principais predadores podendo, para escapar na fuga, atingir velocidades de corrida da ordem dos 80 a 90 km/h.






Guiné, 1973 - Em cima, belos exemplares de peixe adquirido aos pescadores nativos para as Messes e, em baixo, uma mostra de uma batida às perdizes





Fontes:
Texto compilado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Aardvark e http://pt.wikipedia.org/wiki/Impala; imagens cedidas pelo Alferes Miliciano Ranger Manuel Nuno Ferreira, 38.ª Companhia de Comandos, BCaç 4612/72, Guiné, Mansoa, 1973;


mls

29 junho 2019

Mansoa, 1972/1974 - 38.ª Companhia de Comandos


(Post reformulado a partir de outros já publicados em 25 de Julho de 2012)

Guiné, 1972/1974 - 38.ª Companhia de Comandos, excertos de um resumo histórico


Foi mobilizada no Centro de Operações Especiais de Lamego e embarcou para a Guiné em 27Jun72 tendo desembarcado na Guiné em 30Jun72. Foi comandada pelo Cap Inf Cmd Vítor Manuel Pinto Ferreira e reembarcou de regresso em 30Jun74.




Em cima - Mansoa, 1973 na Messe, um grupo de Oficiais da 38.ª Companhia de Comandos e do Batalhão de Caçadores 4612/72 e, em baixo, numa das frequentes deslocações a Bissau, no café Bento, próximo do Palácio do Governador.



De 10Jul72 a 13Ago72, efectuou o treino operacional na região de Mansoa, sob orientação do Bcaç 3832, após a que ficou colocada em Brá (Bissau) na função de subunidade de intervençãpo e reserva ao Comando-Chefe, sendo a imposição das insígnias de “comando” efectuada em 14Ago72.

Em 15Ago72, deslocou-se para Ganjauará, a fim de reforçar o COP 7, em substituição da 2.ª CCmds Africana, com vista à realização de patrulhamentos e operações na região de Gampará, de que se destaca a operação “Aguia Errante”, entre outras. Em 20Out72, foi colocada transitoriamente em Mansoa, a fim de colaborar na segurança do aquartelamento, tendo dois pelotões permanecido entretanto em Ganjauará até 02Nov72.




Em cima - Mansoa, aspecto da sala de operações e, em baixo, mostra de destroços de armamento diverso recolhidos em resultado de operações efectuadas.



Em 04Nov72 foi atribuída ao CAOP 1, sendo deslocada para Teixeira Pinto a fim de efectuar patrulhamentos, emboscadas e acções ofensivas nas regiões de Belenguerez, Churo-Caboiana, Burné e Ponta Costa, entre outras, com destaque para a operação “Jamanta”.

Em 04Fev73, acompanhando a transferência do CAOP 1, foi colocada em Mansoa, ficando a actuar em patrulhamentos e acções efectuadas nas regiões de Damé, Gã Farã, Cubonge, Mamboncó e Changalana, entre outras, e ainda em escoltas a colunas de reabastecimento a Farim e Guidage.

De 26Mai73 a 10Jun73 foi transitoriamente deslocada para Guidage, em reforço do COP 3, para realização de patrulhamentos e colaboração na segurança do aquartelamento, após o que regressou a Mansoa.

Em 19Jun73 foi colocada em Brá (Bissau), sendo integrada no BCmds, a fim de tomar parte na operação “Malaquite Utópica”, a qual foi realizada na região de Belenguerez de 22 a 24Jul73. De 31Jul73 a 04Ago73, foi atribuída ao Bcaç 4612/72, para realização da operação “Filtração” na região de Jugudul.












Mansoa, 1973 - Em cima e em baixo, em dia de coluna emboscada com pesadas baixas, as imagens documentam, com dramatismo, a evacuação de mortos e feridos em combate. Foram insuficientes os helicópteros e meios presentes no socorro e transporte de tantos militares. A última foto documenta a saída de um grupo de auto-metralhadoras Panhard no apoio às forças emboscadas









Em 012Set73 foi atribuída ao CAOP 2, tendo seguido para Nova Lamego, a fim de ser utilizada em patrulhamentos e emboscadas nas regiões de Buruntuma, Canjadude, Cabuca e Canquelifá, tendo recolhido a Cumeré em 03Nov73 a fim de efectuar um curto período de refrescamento da instrução até 20Dez73, após o que voltou a Brá.

Seguidamente, tomou parte em operações efectuadas pelo BCmds nas regiões de Cadique-Jemberém, na operação “Galáxia Vermelha”, de 21Dez73 a 02Jan74 e de Biambifoi-Biambe, na operação “Seara Encantada”, de 22 a 26Fev74.

Em 07Mar74, seguiu para Cacine, a fim de tomar parte em operações na região de Gadamael e Guileje, em reforço do COP 5.

Em 03Abr74 recolheu a Bissau onde se manteve até ao seu embarque de regresso




Em cima um grupo de vendedoras em Mansoa e, em baixo, Maio de 1974, um grupo de militares portugueses reune no mato com um grupo de guerrilheiros do PAIGC.





Fontes:
Texto compilado da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 7.º Vol, Tomo II, Guiné, Estado Maior do Exército, Lisboa 2002; imagens e texto cedidos pelo Alferes Miliciano Ranger Manuel Nuno Ferreira, 38.ª Companhia de Comandos, BCaç 4612/72, Guiné, Mansoa, 1973.


mls

28 junho 2019

Mansoa, 1973 - Humor negro


(Post reformulado a partir de outros já publicados em 19 de Julho de 2012)

Guiné, 1973 - Boa disposição e humor eram necessários...




Guiné, 1973 - Dois militares da 38.ª Companhia de Comandos, com motociclos então em voga, posam para o fotógrafo em tempo livre, experimentando a sensação desportiva de sair de um cratera aberta pelo rebentamento de uma mina anti-carro



Fontes:
Imagem gentilmente cedida pelo Alferes Miliciano Ranger Manuel Nuno Ferreira, 38.ª CCmds, BCaç 4612/72, Guiné, Mansoa, 1973


mls

15 junho 2019

Comissão Cultural de Marinha, Museu de Marinha, Pavilhão das Galeotas

24 de Junho pelas 17:30

Apresentação do Livro «Traços de Vida de Um Oficial de Marinha»
Autor: João M. L. Pires Neves




Fontes:
Texto e imagem cedidos por cortesia de Vice-Almirante (Ref) João Manuel Lopes Pires Neves;


mls

14 junho 2019

Mansoa, 1973 - General Bettencourt Rodrigues


(Post reformulado a partir de outros já publicados em 15 de Julho de 2012)

Guiné, Setembro de 1973 - O último Governador e Comandante-Chefe da Guiné, General Bettencourt Rodrigues, visita o aquartelamento de Mansoa




Guiné, 1973 - Em cima, o General Bettencourt Rodrigues com oficiais do BCaç 4212/72
e da 38.ª Companhia de Comandos no aquartelamento de Mansoa, em baixo





José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues (Funchal, 5 de Junho de 1918 — 28 de Abril de 2011), mais conhecido por Bettencourt Rodrigues ou Bethencourt Rodrigues, foi um oficial general do Exército Português que, entre outras funções, foi Ministro do Exército (1968-1970), comandante da Zona Militar Leste de Angola (1971-1973), terminando a sua carreira com Governador-Geral da Guiné (1973-1974), cargo para que foi nomeado em Setembro de 1973, substituindo no cargo o General António de Spínola.

Foi o último dos governadores daquela antiga Província portuguesa, numa altura em que a situação militar das forças portuguesas se deteriorava rapidamente. Por despacho da Junta de Salvação Nacional, passou à situação de reserva em 14 de Maio de 1974.

Biografia

Nascido na Madeira, foi muito jovem para Lisboa, onde fez o curso secundário no Liceu de Pedro Nunes. Concluído o ensino secundário, frequentou os estudos preparatórios militares na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ingressando de seguida no Curso de Infantaria da Escola do Exército, que terminou em 1939, como primeiro classificado do seu curso.

Em 1951 concluiu o curso de Estado-Maior com a classificação de Distinto. Em 1968, após a frequência do curso de Altos Comandos do Instituto de Altos Estudos Militares (IAEM), no qual teve a classificação de Muito Apto, foi promovido a brigadeiro e em 1972 a general. Em 1953, frequentou o curso de Comando e Estado-Maior do Exército Norte-Americano, no Command and General Staff College, em Fort Leavenworth, Kansas.

Ao longo da sua carreira, foi comandante do Regimento de Artilharia n.º 1, professor e director dos Cursos de Estado-Maior, chefe do Estado-Maior do Quartel-General da Região Militar de Angola, comandante da Zona Militar Leste de Angola e comandante-chefe e governador da Guiné Portuguesa. Exerceu também as funções de adido militar e aeronáutico junto da Embaixada de Portugal em Londres.

Entre 1968 e 1970 foi Ministro do Exército do governo presidido por Marcelo Caetano. Em 21 de Setembro de 1973 tomou posse como governador da Guiné Portuguesa e comandante-chefe do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), em substituição do general António de Spínola, que cessara funções a 6 de Agosto.

Ocupava estes cargos aquando da Revolução de 25 de Abril de 1974, à qual não aderiu*. Em consequência, foi preso no 26 de Abril de 1974, no Forte da Amura, em Bissau, pelos seus subordinados que faziam parte do Movimento das Forças Armadas. Regressado a Lisboa, passou à situação de reserva em 14 de Maio de 1974, por despacho da Junta de Salvação Nacional.

Ao longo da sua carreira foi condecorado com a Medalha de Ouro de Valor Militar, com palma, com a Medalha de Ouro de Serviços Distintos, com palma e com a grã-cruz da Medalha de Mérito Militar.

Em co-autoria com os generais Joaquim da Luz Cunha, Kaúlza de Arriaga e Silvino Silvério Marques publicou o livro de depoimentos África, Vitória Traída**.


* No dia 26 de Abril, onze oficiais dirigiram-se ao Gabinete do General Comandante-Chefe e exigiram a sua demissão bem como o regresso a Lisboa. Foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático. Com o General vieram também alguns oficiais que se lhe solidarizaram, nomeadamente o Brigadeiro Leitão Marques que o MFA julgava poder contar para o substituir, in "A descolonização na Guiné Bissau".

** "África : A vitória Traída", Braga, Editorial Intervenção, 1977 – 276 páginas




Fontes:
Texto coligido de:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Manuel_Bettencourt_Rodrigues; imagem gentilmente cedida pelo Alferesd Miliciano Ranger Manuel Nuno Ferreira, 38.ª CCmds, BCaç 4612/72, Guiné, Mansoa, 1973.


mls

13 junho 2019

Guiné, 1968 - Piche


Belo exemplo de partilha em Piche, vila do nordeste da Guiné, em zona de etnia fula e influência islâmica

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 11 de Maio de 2012)




...Andámos alguns quilómetros para Norte, passámos por uma palhota onde se encontrava uma mulher a dar de mamar a uma cabra, tirei-lhe uma fotografia, e continuámos na esperança de encontrarmos uma tabanca com galinhas...”

João Alves Martins, Alf Mil ArtBAC1, 1967/69 (Bissum, Piche, Bedanda e Guileje)







Fontes:
Arranjo de texto e foto do autor do blogue a partir de elementos gentilmente cedidos por João Alves Martins, Alferes Miliciano Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69


mls

11 junho 2019

10 de Junho 2019 - XXVI Encontro Nacional de Combatentes em Belém




Convite/Conferência/Programa




Decorreu em Belém o «XXVI Encontro Nacional de Combatentes» de acordo com o convite e programa previamente dados a conhecer e distribuídos.

A cerimónia foi presidida pelo Vice-Almirante João Manuel Lopes Pires Neves e iniciou-se na Igreja dos Jerónimos continuando junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar.

Presentes centenas de antigos combatentes, familiares e amigos que entenderam acompanhar de perto o desenrolar dos acontecimentos.



Vice-Almirante João Manuel Lopes Pires Neves, Presidente da Comissão Executiva

Alocução do Presidente da Comissão Executiva
(clicar para ver o texto completo)

Após uma alocução de abertura pelo Presidente da Comissão Executiva, foi lida a mensagem de Sua Excelência o Presidente da República seguida de um discurso proferido pelo Professor Doutor Bernardo Pires de Lima.

Depois da cerimónia inter-religiosa católica e muçulmana, tiveram lugar a Homenagem aos Mortos e a deposição de flores.

A Banda da GNR tocou o Hino Nacional, interpretação acompanhada por um grupo coral de meninos e meninas da Casa Pia, seguido da salva protocolar de 21 tiros pelo NRP «Figueira da Foz», de acordo com a OSN, no momento fundeado frente à Torre de Belém.



NRP «Viana do Castelo» frente à torre de Belém

A culminar a cerimónia, depois da passagem de aeronave da Força Aérea Portuguesa, o desfile pelas lápides do Memorial com salto de Pára-quedistas do Exército, seguido do almoço-convívio nos terrenos fronteiros ao Monumento.




Mensagem de Sua Excelência o Presidente da República
(clicar para ver o texto completo)



Discurso do Professor Doutor Bernardo Pires de Lima
(clicar para ver o texto completo)

Fontes:
Fotos do arquivo pessoal do autor do blogue com cedências de textos e foto pelo Presidente da Comissão Executiva, Vice-Almirante João Manuel Lopes Pires Neves;


mls

09 junho 2019

10 de Junho - Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas


Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa e o Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 17 de Junho de 2010)





Estive presente em várias cerimónias oficiais, noutras integrei simples convívios de Camaradas e em mais umas quantas participei como mero assistente ou até fotógrafo voluntário.

Como Oficial da Reserva Naval e antigo Combatente na Guiné, continuarei a reter na memória o dia 10 de Junho como o expoente máximo anual das cerimónias evocativas de factos, histórias e feitos que guindavam, ao podium das medalhas e condecorações, personalidades de todos os quadrantes sociais.




Homenageados publicamente por mérito pessoal, encontravam nas artes, nas letras, nas ciências, na cultura em geral ou até no simples exercício da cidadania uma forma de expressão superior.

O próprio serviço militar, obrigatório ao tempo, passou a enquadrar maioritariamente aquelas cerimónias, por via de uma guerra mantida em diversas frentes durante treze anos.

A efeméride, de cariz marcadamente militar, evocava heróis que, defendendo a Pátria, se distinguiram ou tombaram por actos de bravura, coragem e sacrifício justificativos da homenagem.

Na Praça do Comércio e em muitos outros locais do País, perfilavam-se os militares a distinguir, de diversos Postos e Ramos das Forças Armadas. Também presentes viúvas, filhos, irmãos, pais ou familiares daqueles que, caídos ao serviço da cidadania que com a vida defenderam, tinham deles herdado a representação.




Com a extinção dos conflitos além-mar e o consequente redimensionamento, as Forças Armadas foram sendo adaptadas a outro tipo de missões, pretendendo-se continuarem a representar o garante da Soberania Nacional, assumir os Compromissos Internacionais e Missões de Paz, dando cumprimento às tarefas que lhes passaram a estar cometidas no apoio à sociedade civil.

O escoar do tempo, sempre cúmplice do esfumar lento do sofrimento, encontrou na ausência de vontade política o melhor aliado para fazer esquecer, aos vivos, o direito a lembrar e perpetuar a memória dos mortos.

Para com os diminuídos físicos e todos os outros que, apenas na aparência, regressaram incólumes, a solidariedade manifestada na reparação de injustiças e no direito ao reconhecimento de serviços prestados ao País, parte integrante da História, tem sido assaz escassa durante todos estes anos.

A construção do Monumento aos Combatentes do Ultramar, junto à Torre de Belém, paradigma da homenagem aos militares portugueses, veio culminar num conjunto de medidas, para as quais várias organizações de Antigos Combatentes conseguiram apoio institucional e político, após porfiadas diligências.




Consagrado agora como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o dia 10 de Junho vai enquadrar também a XXVI Homenagem Nacional "Aos Combatentes do Ultramar Português".

Cedo e durante toda a manhã, a efeméride faz naturalmente convergir muitos Antigos Combatentes, familiares e público em geral para os diversos locais onde vão tendo lugar as cerimónias oficiais, nomeadamente para Belém.

Ainda que marcadas nuns casos pela simples presença, noutros são frequentemente visíveis as cabeças encimadas por bóinas de Fuzileiros, Paraquedistas, Comandos ou simples Militares, algumas nas cabeças dos netos.

Não falta habitualmente quem empunhe bandeiras e guiões de unidades, em representação de Associações dos mais diversos lugares, medalhas no peito, reencontros marcados também.




Com um ar de festa moderado, e em sucessão, tem lugar uma cerimónia religiosa inicial, os toques de clarim, um minuto de silêncio pelos mortos em combate, as palavras exaltando a homenagem, deposição de ramos de flores, o desfile, muita emoção e recolhimento.

A culminar o encerramento, como habitualmente, desfiles de Unidades dos três Ramos da Forças Armadas, Veteranos e ainda a possibilidade de participação num almoço convívio, preparado e servido igualmente no local.






Com especial e actual significado, aqui transcrevo algumas passagens da comunicação proferida pelo Dr. António Barreto, na sessão solene comemorativa do Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas em 10 de Junho de 2010, na cidade de Faro, por nomeação do então Presidente da República, Prof. Anibal Cavaco Silva. Palavras notáveis as de António Barreto, na comunicação como Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações, que merece leitura, reflexão e divulgação.

Terá acolhimento especial pelos muitos militares que então viveram a Guerra do Ultramar. Abaixo a transcrição de alguns excertos do texto que, no final, se disponibiliza integralmente em formato "pdf".

“…Os soldados cumprem as suas missões por diversos motivos. Por dever. Por convicção. Por obrigação inescapável. Por desempenho profissional. Por sentido patriótico, político ou moral. Só cada um, em sua consciência, conhece as razões verdadeiras. Mas há sempre um vínculo, invisível seja ele, que o liga aos outros, à comunidade local ou nacional, ao Estado. É sempre em nome dessa comunidade que o soldado combate…”
………
“…Um antigo combatente não pode nem deve ser tratado de colonialista, fascista, democrata ou revolucionário de acordo com conveniências ou interesses menores. A sua origem, a sua classe social, a sua etnia, as suas crenças ou a sua forma de vínculo às Forças Armadas são, a este propósito, indiferentes: foram, simplesmente, soldados portugueses…”
………
“…Portugal não trata bem os seus antigos combatentes, sobreviventes, feridos ou mortos. É certo que há, aqui e ali, expressão de gratidão ou respeito, numa unidade, numa autarquia, numa instituição, numa lei ou numa localidade. Mas, em termos gerais e permanentes, o esquecimento ou a indiferença são superiores. Sobretudo por omissão do Estado. Dos aspectos materiais aos familiares, passando pelos espirituais e políticos, o Estado cumpre mal o seu dever de respeito perante aqueles a quem tudo se exigiu…”




Durante o período em que decorreu a Guerra do Ultramar, o 2TEN FZ RN António Bernardino Apolónio Piteira foi o único oficial da Marinha de Guerra Portuguesa que morreu em combate. Foi em Angola, numa emboscada a 2 de Junho do ano de 1973 e pertenceu à Reserva Naval, integrado no 18.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, Classe de Fuzileiros.





Em cima, a placa de homenagem ao STEN FZ RN António Piteira, na sala Reserva Naval da Escola Naval e, em baixo, o pormenor da inscrição local no Memorial de Belém onde figura o nome do oficial morto em combate (Angola, 1973).





Fontes:
Fotos e texto do arquivo pessoal do autor do blogue;


mls

04 junho 2019

Mansôa, 1973 - Cecília Supico Pinto (Cilinha)


(Post reformulado a partir de outros já publicados em 4 de Julho de 2012)


Guiné, 1973 - A Presidente do Movimento Nacional Feminino em Mansôa




Guiné, 1973 - Em cima, Cecília Supico Pinto (Cilinha) no aquartelamento de Mansôa e, em baixo, aspecto geral daquela unidade militar




Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto (Lisboa, 30 de Maio de 1921 — 25 de Maio de 2011), conhecida popularmente como Cilinha, foi a criadora e presidente do Movimento Nacional Feminino, uma organização de mulheres que durante a guerra colonial prestou apoio moral e material aos militares portugueses.

Nesse cargo atingiu grande popularidade e uma considerável influência política junto de Oliveira Salazar e das elites do Estado Novo. Visitou as tropas em África e promoveu múltiplas iniciativas mediáticas para angariação de fundos.

Em Janeiro de 2008, foi publicada uma biografia de Cecília Supico Pinto, da autoria de Sílvia Espírito Santo*.


*Sílvia Espírito Santo, Cecília Supico Pinto - O Rosto do Movimento Nacional Feminino. Lisboa : Esfera dos Livros, 2008 (ISBN 9789896260903).




Apoio Moral

O início da luta armada dos movimentos nacionalistas nas colónias portuguesas apanhou as Forças Armadas não só impreparadas técnica e operacionalmente para fazer face à guerra, trazida pelos mesmos ventos que sopravam desde o final dos anos 40 nas colónias do outros países europeus, como ainda sem disporem de enquadramento legislativo nem de meios institucionalizados, mesmo rudimentares, de apoio a militares em situação de guerra.

Não existia legislação prevista para regular os casos de morte e ferimento em combate, nem muito menos, para o apoio às famílias dos mobilizados. Face a este vazio em que não se previam situações especiais decorrentes da guerra, da morte à incapacidade, da pensão de sangue à trasladação dos corpos, do aprisionamento ou captura de militares em operações ao pagamento de vencimentos, da distribuição de correspondência às licenças de férias…, a primeira resposta de apoio do governo aos militares e familiares, manifestou-se através da criação do Movimento Nacional Feminino (MNF), e a secção feminina da Cruz Vermelha (CVP). Foram as organizações que procuraram suprir essas falhas, desempenhando ainda um papel importante como mobilizadores e catalisadores ideológicos da sociedade e das mulheres em particular.

Ambos foram presididos por senhoras da alta burguesia mais afecta ao regime. Cecília Suplico Pinto, a figura emblemática do MNF e esposa do antigo ministro da economia de Salazar, seu conselheiro, decidiu criar o seu movimento no dia de anos de Salazar.

A secção feminina da Cruz Vermelha teve como figura tutelar Amélia Pitta e Cunha, esposa de Paulo Cunha, antigo ministro dos negócios estrangeiros de Salazar, e no seu núcleo inicial encontravam-se Margarida Fernandes Tomás de Morais.

As duas organizações que além de apoiar o regime de Salazar, promoviam ainda várias actividades em conjunto. Pouco a pouco foram-se separando, ocupando-se de áreas de assistência diferentes e exteriorizando atitudes distintas, de acordo com as suas personalidades das suas dirigentes: o MNF sempre exuberante, com Cecília Suplico Pinto, e a CVP de acordo com a personalidade de Amélia Pitta e Cunha.

O MNF passou a dedicar-se prioritariamente ao apoio moral e social dos militares e suas famílias, muitas vezes através de acções populares a que não faltavam o cunho da demagogia, mas que em muitos casos se revelaram eficazes na resolução de problemas dos jovens e dos seus agregados familiares face à burocracia e ao desconhecimento das situações decorrentes da guerra.

Ao MNF se deve o lançamento dos aerogramas, alcunhados de “bate-estradas”, que constituíram o meio mais difundido de correspondência entre os militares e as famílias. Destes aerogramas foram, cujo o fornecimento e transporte era gratuito para os militares, estima-se, impressos cerca de 300 milhões. Das actividades do MNF destacaram-se a organização de visitas de artistas aos teatros de operações, as ofertas de Natal, com o envio de lembranças, discos, bolas de futebol, isqueiros, etc.. Deve-se ainda ao MNF a promoção da troca de correspondência entre os soldados e as madrinhas de guerra.

A organização do MNF foi estruturada, assentando na figura de Cecília Pinto e no apoio que lhe foi dado por Salazar, tendo vivido da adesão mais ou menos entusiástica das cerca de 80000 mulheres que a ele pertenciam. Este movimento dispunha de direcção central e de delegações em Portugal e nas colónias. Eram estas delegações que promoviam o trabalho de rotina de apoio aos militares e que se tornam mais visíveis por ocasião de Cecília Pinto.

O Movimento Nacional Feminino, dirigiu a acção para os militares activos nos teatros de operações; a secção da Cruz Vermelha Portuguesa dedicou-se principalmente ao apoio aos militares feridos e estropiados, cujo número aumentava e para os quais não havia sistema nem de recuperação nem legislação aplicável. Os dois movimentos aproveitaram as boas relações das suas dirigentes com o apoio do regime para incentivar a publicação de leis e normas correctoras de erros e injustiças administrativas, entre as quais se contava a alteração à situação dos feridos em combate, conseguindo que estes não perdessem direito aos vencimentos e aos subsídios de campanha quando evacuados para os hospitais centrais; a revisão das pensões dos deficientes militares, que era regulada ainda pelas normas da 1ª Guerra Mundial; o apoio às famílias dos mortos, que permitindo que os corpos dos mortos fossem trasladados para as terras de origem destes, sem qualquer custo para as famílias; e ainda a legislação de apoio aos militares estudantes.


In “Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra”



Fontes:
Texto coligido de http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Supico_Pinto; texto "apoio moral", com a devida vénia, em http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=socguerr/; imagem gentilmente cedida pelo Alferes Miliciano Ranger Manuel Nuno Ferreira, BCaç 4612/72, Guiné, Mansôa, 1973.


mls