28 dezembro 2016

Lago Niassa - Base Naval de Metangula, 1964/75 (2)


Reserva Naval nas CF - Companhias de Fuzileiros Navais

(final)


De 1964 a 1975, 12 Companhias de Fuzileiros Navais integraram o dispositivo da Marinha de Guerra em Moçambique que tiveram como bases de estacionamento Lourenço Marques (Machava) e Lago Niassa (Metangula), ainda que ao longo do tempo tivessem cedido pelotões de reforço em vários locais, consoante as necessidades operacionais.

Um total de 76 oficiais integraram o conjunto das CF, dos quais 25 (3 médicos navais) pertenceram aos Quadros Permanentes (32,9%) e 51*(2 médicos navais) à Reserva Naval (67,1%), sendo o comandante de cada uma das unidades dos QP.

Além das Companhias de Fuzileiros o dispositivo incluiu ainda 7 Pelotões de Reforço, dos quais dois foram também comandados por Oficiais da Reserva Naval e os restantes por Sargentos.

Num caso, o oficial que comandou a CF 7 (1973/74), 1TEN Mário José do Santos Carvide, já tinha efectuado comissão anterior como oficial da Reserva Naval no DFE 6, Guiné - 1966/67, tendo ingressado posteriormente no quadro.




CF2 (1962/65)

1TEN José Carlos de Melo Borges Delgado, QP (Comandante)
2TEN José Manuel da Costa Ilharco Moura, QP
2TEN FZ RN Alexandre Manuel Cruz Mendes, 4º CEORN
2TEN FZ RN Eduardo Oloíso Tavares da Costa, 5º CEORN
2TEN RN Carlos Alberto Beatriz da Costa Miranda, 4º CEORN
2TEN RN Luís António Calheiros da França e Sousa, 4º CEORN
2TEN RN José Maria Raposo de Sousa Abecassis, 4º CEORN
2TEN MN RN António Santos Magalhães, 4º CEORN

CF6 (1965/67)

1TEN Heitor Prudêncio dos Santos Patrício, QP (Comandante)
2TEN MN Humberto de Vasconcelos Gonçalves, QP
2TEN António Bernardo Brito e Cunha, QP
2TEN RN Agostinho Cortes Caro Quintiliano, 6º CEORN
2TEN RN Joaquim Manuel Rebordão Esteves Pinto, 6º CEORN
2TEN FZ RN Armando Luiz Clemente de Bayão Marçal Corrêa
2TEN FZ RN Francisco Xavier Mata de Santa Rita Colaço
2TEN FZ RN Eduardo Bello Van Zeller, 8º CEORN
2TEN FZ RN José Manuel Raposo da Silva Peixoto, 8º CEORN
2TEN FZ RN Manuel Renipundo Monteiro Coutinho, 8º CEORN

CF8 (1965/68)

1TEN Jaime Barata Botelho, QP’s (Comandante)
2TEN Carlos Alberto Branco Martins Rosa Garoupa, QP
2TEN FZ RN Augusto César Gaspar Ferraz, 7º CEORN
2TEN FZ RN João Garcia Ribeiro, 7º CEORN
2TEN FZ RN Joaquim Miguel Calhau Barrocas, 7º CEORN
2TEN FZ RN José Sebastião Raposo Alves Saltão, 7º CEORN
2TEN FZ RN José Luís Sequeira Abrantes, 9º CFORN
2TEN FZ RN Aristides Alves do Nascimento Teixeira, 9º CFORN (correcção)
2TEN MN Dinis da Silva Noivo, QP

CF2 (1967/69)

1TEN José Manuel Oliveira Monteiro, QP (Comandante)
2TEN Pedro Miguel Peixoto Correia do Amaral, QP
2TEN FZ RN Manuel Renipundo Monteiro Coutinho, 8º CEORN
2TEN FZ RN José Manuel Raposo da Silva Peixoto, 8º CEORN
2TEN FZ RN Luis Filipe de Azevedo Araújo Neves, 8º CEORN
2TEN FZ RN Aristides Alves do Nascimento Teixeira, 9º CFORN (correcção)
2TEN FZ RN Carlos Alberto Correia de Matos e Silva, 9º CFORN
2TEN MN RN Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos, 8º CEORN

CF4 (1968/70)

1TEN António Pereira Varandas, QP (Comandante)
2TEN José Manuel Narciso de Sousa Henriques, QP
2TEN FZ RN José Luís Sequeira Abrantes, 9º CFORN
2TEN FZ RN Albertino da Silva, 10º CFORN
2TEN FZ RN Mário Artur Rodrigues de Almeida, 10º CFORN
2TEN FZ RN João António Rodeia Peneque, 10º CFORN
2TEN MN RN Mário Orlando Matos Bernardo, 9º CFORN
2TEN FZ RN João Alberto de Bettencourt Dias, 11º CFORN

CF1 (1969/71)

1TEN António Lucas Dias da Costa, QP (Comandante)
2TEN SG Amélio da Silva Cunha, QP
2TEN FZ RN Ernesto de Matos Durão, 13º CFORN
2TEN FZ RN Apolino Luz Martins, 13º CFORN
2TEN FZ RN Francisco Luís Tavares de Sousa Gomes, 13º CFORN

CF2 (1970/72)

1TEN Serafim Simões da Silveira Pinheiro, QP (Comandante)
2TEN SG Bernardino Rodrigues, QP
2TEN MN Osvaldo de Barros Mendes, QP
2TEN FZ RN António Maria Amaro Monteiro, 13º CFORN
2TEN FZ RN Sebastião Tavares Coutinho, 13º CFORN
2TEN FZ RN Vitor Manuel Gonçalves Cabeço, 13º CFORN
2TEN FZE RN José Diogo Coelho da Silva Passos, 16º CFORN

CF10 (1971/73)

1TEN Fernando Alberto dos Santos Lourenço, QP (Comandante)
2TEN SG Manuel Pereira Bicho, QP
2TEN FZE RN José Conde Figueiral Rebelo, 16º CFORN
2TEN FZ RN Eduardo Rui Gago de Carvalho e Cunha,16º CFORN (correcção)
2TEN FZ RN Carlos Alberto de Menezes Feio Duro, 17º CFORN
2TEN FZ RN Duarte Rodrigo Cardoso Belard da Fonseca, 20º CFORN
2TEN FZ RN Artur Eduardo Chaves da Fonseca, 16º CFORN

CF9 (1972/74)

1TEN Eduardo Eugénio Castro de Azevedo Soares, QP (Comandante)
2TEN SG Virgílio André Parola, QP
2TEN FZ RN José Inácio Gonçalves Mimoso Padre, 17º CFORN
2TEN FZ RN Manuel Augusto Simões Morgado, 18º CFORN
2TEN FZ RN António José Miranda Correia, 18º CFORN
2TEN FZ RN José Luís Calheiros Ferreira, 18º CFORN
2TEN FZ RN Roque Gomes dos Santos, 18º CFORN

CF7 (1973/74)

1TEN FZ Mário José dos Santos Carvide, QP (Comandante)
2TEN SG José Manuel Estevens Ferreira, QP
2TEN FZ RN José António de Oliveira Rocha e Abreu, 19º CFORN
2TEN FZ RN José Amaro Martins Carmona e Costa, 21º CFORN
2TEN FZ RN Jorge de Oliveira Cardoso Fernandes, 21º CFORN
2TEN FZ RN Nuno Eça de Queiroz Cabral, 21º CFORN

CF11 (1973/74)

1TEN EMQ José Eduardo Martins dos Reis, QP (Comandante)
2TEN SG Norberto Baptista Lourenço, QP
2TEN FZ RN Carlos Manuel Alves Martins, 20º CFORN
2TEN FZ RN João Manuel Pereira Forjaz de Sampaio, 20º CFORN
2TEN FZ RN Eduardo Augusto de Oliveira Pereira Machado, 20º CFORN
2TEN FZ RN Luís Mário Pais Paiva de Andrade, 21º CFORN

CF10 (1974/75)

1TEN José Manuel Narciso de Sousa Henriques, QP (Comandante)
2TEN SG Manuel Rodrigues, QP
2TEN FZ RN José Lopes da Cruz, 22º CFORN
2TEN FZ RN António Pedro Queirós Vendrell Santos, 22º CFORN
2TEN FZ RN Francisco Maria Castel Branco Potes Cordovil, 22º CFORN
2TEN FZ RN João Sérgio dos Santos Cardoso, 22º CFORN

Pelotão de Reforço (1968/70)

2TEN FZ RN Carlos Alberto Correia de Matos e Silva, 9º CFORN (Comandante)

Pelotão de Reforço (1970/72)

2TEN FZ RN Mário Themudo da Costa Macedo, 13º CFORN (Comandante)


* Dois dos oficiais da CF6 (1965/67) repartiram alargadamente os tempos de comissão pela CF 2 (1967/69)





Fontes:
Factos e Feitos da Guerra de África - Moçambique, Comissão Cultural da Marinha, 2006, Luís Sanches de Baêna; Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, Lisboa, 1992, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado;fotos cedidas pela Escola de Fuzileiros;




Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

26 dezembro 2016

Lago Niassa - Base Naval de Metangula, 1964/75 (1)


Reserva Naval nos DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais





De 1964 a 1975, 19 Destacamentos de Fuzileiros Especiais integraram o dispositivo da Marinha de Guerra em Moçambique que, pela rotatividade periódica de locais de estacionamento, desempenharam missões em todo o território de forma idêntica, especialmente, no Lago Niassa - Metangula ou Cobué – e também em Porto Amélia. Ainda o Ibo, Mocojo, Tete, Magoé Velho, e Tchiroze foram locais pontuais de actuação.




Um total de 75 oficiais integraram o conjunto dos DFE, pertencendo 32 aos Quadros Permanentes (42,7%) e 43 (57,3%) à Reserva Naval, sendo o comandante de cada uma daquelas Unidades dos QP.

Em dois casos, os oficiais que comandaram os destacamentos já tinham efectuado comissões anteriores como oficiais da Reserva Naval.

Foram eles:

Pedro Salgado Baptista Coelho, do 7.º CEORN que, tendo pertencido ao DFE 5 (1965/67) naquele teatro, veio a comandar o DFE 9 (1969/71), no mesmo local. De forma idêntica, Vasco Manuel Teixeira da Cunha Brazão, do 11.º CFORN integrou, na Guiné, o DFE 13 (1968/70), vindo a comandar em Moçambique o DFE 11(1972/74). Em ambos os casos, depois de ingressarem nos Quadros Permanentes vieram a desempenhar diversas funções de comando, atingindo o posto de Capitão-de-mar-e-guerra.

DFE 1 (1964/66)

1TEN Maxfredo Ventura da Costa Campos, QP (Comandante)
2TEN Fernando Alberto Gomes Pedrosa, QP
2TEN FZE RN António da Silva Pereira Jardim, 6.º CEORN

DFE 12 (1965/67)´

1TEN João António Serra Rodeia, QP (Comandante)
2TEN Luís Henriques Lopes Silva de Carvalho, QP
2TEN FZE RN João Frederico Campos Burnay, 7.º CEORN

DFE 5 (1965/67)

1TEN José Luís Pinto Gomes Teixeira, QP (Comandante)
2TEN Carlos António David Silva Cardoso, QP
2TEN FZE RN Pedro Salgado Baptista Coelho, 7.º CEORN

DFE 8 (1966/68)

1TEN João Carlos da Fonseca Pereira Bastos, QP (Comandante)
2TEN José Manuel Mala Ferreira Serra, QP
2TEN Raúl Patrício Leitão, QP
2TEN FZE RN Armando António dos Santos Martins, 10.º CFORN

DFE 9 (1967/69)

1TEN António Luís Santarém da Cruz, QP (Comandante)
2TEN António Eduardo Barbosa Alves, QP
2TEN FZE RN Raúl Henrique Cardoso da Sena Belo, 10.º CFORN
2TEN Guilherme Eduardo Trigo Allen, QP

DFE 1 (1967/69)

1TEN Carlos Jorge Ferreira de Magalhães Queiroz,QP (Comandante)
2TEN Luís António Pinto Basto Ribeiro Ferreira, QP
2TEN FZE RN José Manuel Matos Moniz, 8.º CEORN
2TEN FZE RN António Manuel Ponce de Leão Bettencourt, 10.º CFORN

DFE 4 (1967/69)

1TEN FZ José de Almeida e Costa Cardoso Moniz, QP (Comandante)
2TEN António Maria Catarino da Silva, QP
2TEN FZE RN José David Rodrigues Teixeira, 10.º CFORN
2TEN FZE RN Manuel Augusto Lopes, 10.º CFORN

DFE 6 (1968/70)

1TEN Hermenegildo Duarte Lourenço, QP (Comandante)
2TEN Manuel Amândio Francisco Pina, QP
2TEN FZE RN António José Rodrigues da Hora, 11.º CFORN
2TEN FZE RN José Floriano Lopes Fernandes, 12.º CFORN

DFE 5 (1969/71)

1TEN Luís Filipe Vidigal Aragão, QP (Comandante)
2TEN Joaquim Francisco de Almada Paes de Villas-Boas, QP
2TEN FZE RN Antides Rama de Oliveira Santo, 12.º CFORN
2TEN FZE RN António Lopes Fernandes, 12.º CFORN

DFE 9 (1969/71)

1TEN FZ Pedro Salgado Batista Coelho, QP (Comandante)
2TEN FZE RN António Nobre Rama, 13.º CFORN
2TEN FZ RN Vitor Manuel Lima Palmeira, 13.º CFORN
2TEN FZ RN Ismael da Costa Monteiro, 13.º CFORN

DFE 11 (1969/72)

1TEN Carlos Alberto Fernandes Maia, QP (Comandante)
2TEN Luís Alberto Cristiano de Oliveira, QP
2TEN FZE RN António Bento Martins Ferraz, 14.º CFORN
2TEN FZE RN Hélio Tavares Caló, 14.º CFORN

DFE 2 (1970/72)

1TEN José Manuel Ferreira de Gouveia,QP (Comandante)
1TEN José Luís Rodrigues Portero, QP
2TEN FZE RN Manuel Ribeiro Cardoso Rosa, 15.º CFORN
2TEN FZE RN José Jacinto de Almeida Vasconcelos Raposo, 15.º CFORN

DFE 7 (1971/72)

1TEN António Sadler Simões, QP (Comandante)
2TEN FZE RN Avelino Jorge da Silva Oliveira, 16.º CFORN
2TEN FZE RN António Manuel Mateus, 16.º CFORN
2TEN FZE RN António Luís Monforte Cunha e Silva, 15.º CFORN
2TEN FZE RN David Ribeiro de Sousa Geraldes, 18.º CFORN

DFE 5 (1971/73)

1TEN Pedro Manuel Ferreira Bastos Moreira, QP (Comandante)
2TEN FZE RN José Henriques Rodrigues Franco, 17.º CFORN
2TEN FZE RN Joaquim Pires dos Santos, 17.º CFORN
2TEN FZE RN Carlos Manuel Alves Martins, 20.º CFORN
2TEN FZE RN Luís Emanuel das Dores Ricardo, 16.º CFORN

DFE 9 (1971/73)

1TEN João Manuel Balançuella Bandeira Ennes, QP (Comandante)
2TEN FZE RN Francisco Manuel Lhano Preto, 17.º CFORN
2TEN FZE RN António Maria Allen Burnay Bello, 18.º CFORN
2TEN FZE RN Carlos Alberto Amado Pereira da Silva, 18.º CFORN
2TEN FZE RN António Guilherme Berbereia Ribeiro Moniz, 20.º CFORN

DFE 3 (1972/74)

1TEN EMQ José Matias Cortes, QP (Comandante)
2TEN FZE RN José Manuel Siguensa de Barahona Fragoso, 17.º CFORN
2TEN FZE RN António Agostinho Lucas da SIlva, 18.º CFORN
2TEN FZE RN Domingos de Sousa e Holsten Salgado, 18.º CFORN

DFE 11 (1972/74)

1TEN FZ Vasco Manuel Teixeira da Cunha Brazão, QP (Comandante)
2TEN FZE RN Pedro Segismundo do Valle Teixeira, 19.º CFORN
2TEN FZE RN Joaquim Maria Feijó, 20.º CFORN
2TEN FZE RN José Joaquim Pereira Simões, 23.º CFORN

DFE 8 (1973/74)

1TEN EMQ António Manuel Martins, QP (Comandante)
2TEN FZE RN Luís Alberto Pessoa de Fonseca Castro, 21.º CFORN
2TEN FZE RN Leopoldo Maria Lemos da Cunha Matos, 22.º CFORN

DFE 10 (1974/75)

1TEN Fernando Manuel de Oliveira Vargas de Matos, QP (Comandante)
2TEN FZE RN António Humberto Batista Dias, 22.º CFORN
2TEN FZE RN Benjamim de Jesus Correia, 23.º CFORN
2TEN FZE RN José Carlos da Mota Rodrigues, 23.º CFORN


(a continuar)



Fontes:
Factos e Feitos da Guerra de África - Moçambique, Comissão Cultural da Marinha, 2006, Luís Sanches de Baêna; Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, Lisboa, 1992, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado;fotos cedidas pela Escola de Fuzileiros;




Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

17 dezembro 2016

A Epopeia da LDM 302 na Guiné (2)


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 2 de Dezembro de 2008)

(continuação)

Novo ataque e incêndio da lancha em 10 de Junho de 1968


No dia seguinte, a 20 de Dezembro, equipas do SAO - Serviço de Assistência Oficinal e da secção de mergulhadores sapadores, rumaram para Ganturé embarcadas na LFG «Sagitário» com a finalidade de procederem ao salvamento da LDM 302. Aquela unidade naval, conjuntamente com a LFP «Canopus», garantiram apoio próximo e também escolta ao rebocador «Diana».




A LDM «302» em Ganturé durante a manobra de encalhe para recuperação

Reposta a lancha a flutuar e ainda sob escolta da mesma LFG, foi rebocada para Bissau, onde subiu o plano inclinado no dia 23. Os trabalhos de reparação prolongaram-se até 6 de Janeiro do ano seguinte.

Dia de alegria e também de orgulho para toda a equipa, foi aquele em que a LDM «302» içou à popa a bandeira nacional e recomeçou a navegar com nova guarnição, pronta para outras missões.




Depois de recuperada, a LDM «302» navega em experiências

Entendeu o Comando da Esquadrilha de Lanchas que deveria regressar ao rio Cacheu, agora integrada na organização operacional do dispositivo de contra-penetração ali montado, a Operação «Via Láctea», que viria a manter-se até final de 1971.

Seis meses depois do primeiro afundamento e exactamente no mesmo local, Porto de Coco, Tancroal, no dia 10 de Junho, descendo também o Cacheu, foi novamente atacada com canhão sem recuo, lança-granadas foguete, morteiros, metralhadoras pesadas e armas ligeiras, numa dura demonstração de poder de fogo do inimigo.



Em cima, no rio Cacheu, assinalado o Tancroal, o mesmo local de ataque à LDM «302»

Apesar da reacção imediata da LDM «305», comandada pelo cabo de manobra Lobo que navegava nas suas águas, logo aos primeiros disparos do inimigo foi atingido mortalmente por uma munição de lança-granadas foguete o grumete artilheiro António Manuel. Outro projéctil idêntico atingiu o escudo da Oerlinkon, fragmentando-se em numerosos estilhaços que feriram com gravidade, no tronco e nas pernas, o marinheiro artilheiro Manuel Luís Lourenço da Silva.

Mesmo ferido, continuou o artilheiro a fazer fogo sobre o inimigo, até que uma granada de morteiro deflagrou no poço da lancha, ateando um incêndio que se propagou à cobertura do poço e ao bote de borracha, provocando tal fumarada que o forçou a abandonar o posto da peça.

Ajudado pelo marinheiro fogueiro Ludgero Henrique de Oliveira, lançou o bote à água, fazendo o mesmo com o depósito de gasolina, pelo perigo que constituia. Colocaram o camarada já sem vida à popa, a salvo das chamas, voltando seguidamente à peça e continuando a fazer fogo até calar o inimigo.

O incêndio já tinha tomado proporções alarmantes estendendo-se a toda a lancha e o patrão, cabo de manobra Francisco Pereira da Silva, resolveu abicar à margem Norte. Saltaram então para a água e nadaram para terra conseguindo atingir o tarrafo.

A LDM «305», que não fora atingida, aproximou-se do local, embarcou todos os elementos e seguiu para Ganturé, onde o patrão da lancha, em estado de choque e o marinheiro artilheiro ferido, foram evacuados de avião juntamente com o corpo do artilheiro morto em combate.

No dia seguinte, a LDM “302” que continuava a arder foi rebocada pela LDM “305” para Ganturé, onde mais uma vez a equipa SAO e uma equipa de mergulhadores sapadores, com guarda montada por um destacamento de fuzileiros especiais a conseguiram repor em condições de ser rebocada para Bissau.




A LDM «302» encalhada em Ganturé, após o incêndio

Apoio próximo dado pelas LFP «Canopus» e LFG «Orion», tendo esta última procedido ao reboque da lancha até Barro, continuado depois pelo rebocador «Diana» até Bissau, com escolta daquela LFG.

Além dos elementos referidos, faziam igualmente parte da guarnição da LDM «302» o marinheiro telegrafista António Marques Martins e o marinheiro fogueiro Manuel Fernando Seabra Nogueira.

... e novamente recuperada, já não voltou ao Cacheu!

Em 26 de Julho voltou a subir o plano inclinado donde saíra quinze dias antes, mantendo-se ali em reparações até 10 de Novembro, data de aprontamento para regressar às habituais fainas.

Sabido que, na generalidade dos casos, os marinheiros são supersticiosos, não seria de estranhar que as guarnições da LDM «302» fossem sedimentando a convicção de que a lancha não se dava bem com os ares do Cacheu.

Compreensivelmente, o Comando da Esquadrilha de Lanchas decidiu-se pelo não regresso da lancha àquele rio, atribuindo-a à TU4*, conjunto de unidades navais encarregadas de manter o dispositivo de contra-penetração no rio Grande de Buba e com as mesmas missões de sempre, ou seja, transporte de forças de desembarque, apoio de fogo em operações militares e escoltas a combóios mercantes além de outras acções.

Já em 1969, pelas 11:30 horas do dia 18 de Fevereiro, quando navegava em missão de fiscalização, frente à foz do rio Uajá, afluente do rio Grande de Buba, foi atacada violentamente da margem esquerda com canhão sem recuo, lança-granadas foguetes e ainda metralhadoras ligeiras e pesadas.

Logo aos primeiros disparos, a cobertura da lancha ficou parcialmente destruída e foi ferido com gravidade o marinheiro artilheiro Dimas de Sousa Correia que, mesmo perdendo muito sangue, se manteve no seu posto de combate, disparando ainda quatro carregadores da Oerlinkon sobre o inimigo.

Talvez o seu sacrifício tenha evitado piores consequências ainda que, mesmo assim, registassem ferimentos ligeiros o marinheiro telegrafista, já mencionado em ocasião anterior, e o marinheiro fogueiro Custódio Mestre Paquete.

Houve igualmente um princípio de incêndio, originado por estilhaços dum projéctil de lança-granadas foguete que atingiu a cobertura do poço, mas foi rapidamente extinto.

O patrão da lancha era o cabo de manobra Manuel António Inácio, e ainda fazia parte da guarnição o marinheiro fogueiro Nogueira, numa prova evidente e confirmando o popular ditado de que não há duas sem três...




Cinco homens da guarnição que sofreu o último ataque, da esquerda para a direita: Mar CM Paquete, Cabo M Inácio, Mar A Correia, Mar CM Nogueira e Mar CE Martins (o penúltimo estava presente em três ataques à lancha e o último, no segundo e terceiro ataques).

Depois de evacuados e substituídos os elementos da guarnição referidos neste combate, a LDM «302» continuou a cumprir as habituais missões no rio Grande de Buba.

Até ao final da sua vida operacional, nunca mais foi atacada a gloriosa e nobre LDM «302». Passou à situação de desarmamento em 27 de Julho de 1972, tendo sido abatida ao efectivo dos navios da Armada em 30 de Novembro desse mesmo ano.

Notável historial de uma pequena unidade da Marinha de Guerra, a roçar a ficção ou o lendário, não tivessem sido reais os combates travados e as baixas sofridas. Os elementos das sucessivas guarnições, sem excepção, honraram ao mais alto nível um dever pátrio, no cumprimento das missões de que foram incumbidos, pagando alguns deles com a vida, a dedicação, a determinação e o estoicismo.

Estarão sempre presentes na nossa memória!



* TU4 - Task Unit 4

Das Unidades presentes:

• LFG «Sagitário» tinha como oficiais: 1TEN Joaquim Manuel Vaz Chaves Ubach (Comandante) e 2TEN RN José Horácio Gomes de Miranda (Imediato);
• LFG «Orion» tinha como oficiais: 1TEN Luis Joel Alves de Azevedo Pascoal (Comandante) e STEN RN Luis Mendes do Nascimento (Imediato);
• LFP «Canopus» tinha como oficial: STEN RN Henrique Nunes de Oliveira Pires (Comandante).


Fontes:
Arquivo de Marinha, Revista da Armada n.º 129 de Julho 1982, Setenta e Cinco Anos no Mar da Comissão Cultural da Marinha - Volumes diversos; Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, 1992; Fuzileiros-Factos e Feitos na Guerra de África, 1961-1974, Crónica dos Feitos da Guiné, Luís Sanches de Baêna, Comissão Cultural da Marinha, 2006;


mls

16 dezembro 2016

A Epopeia da LDM 302 na Guiné (1)


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 28 de Novembro de 2008)

19 de Dezembro de 1967 – O ataque e afundamento da lancha




A LDM «302» antes de seguir para a Guiné a bordo de um navio mercante


A «LDM 302», de que apenas o casco veio dos EUA em 1963, foi adaptada nos estaleiros da Argibay, onde permaneceu para esse efeito de 9 de Outubro desse ano a fins de Janeiro do ano seguinte.

Foi aumentada ao efectivo das navios da Armada em 18 de Janeiro de 1964.

Chegou à Guiné, Bissau, a bordo de um navio da Marinha Mercante, na manhã de 23 de Fevereiro desse ano. Era seu patrão de então o marinheiro de manobra n.º 2156, Aristides Lopes.

Após um curto período de adestramento da guarnição, foi atribuída ao DFE 2 - Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 2, ao qual competia a fiscalização da zona do rio Geba tendo aí iniciado intensa vida operacional.

Efectuou um primeiro cruzeiro de fiscalização naquele rio, em 18 de Março, sem que nada de anormal tivesse ocorrido, o que poderia ser interpretado como bom augúrio naquele teatro de guerra.

De 9 a 11 de Abril, pela primeira vez, em conjunto com a LDM «101», LDM «201«, LFG «Escorpião», LFP «Canopus» e os DFE 8 e DFE 9, foi incluída numa missão de apoio de fogo e transporte de fuzileiros, a operação «Tenaz», levada a cabo no rio Cumbijã.

Em 22 de Abril o baptismo de fogo. Frente a Jabadá quando, em conjunto com mais três LDM procedia a um desembarque de fuzileiros, o inimigo tentou opor-se com fogo de armas ligeiras mas não conseguiu evitar o desembarque.

No dia 22 de Julho, foi atacada pela segunda vez, desta feita no rio Cacheu, em Porto de Côco. O inimigo, emboscado nas margens, utilizou metralhadoras pesadas e morteiro, sem consequências.

Durante o resto do ano de 1964 tomou parte em várias operações no rio Geba e recolheu ao SAO – Serviço de Assistência Oficinal, onde foi submetida a alterações no poço, procedendo-se à instalação de uma cozinha e alojamentos para a guarnição. Foram também protegidos com chapa balística a casa do leme e o escudo da peça Oerlinkon de 20 mm.

A partir de então ficou com possibilidades de alojar permanentemente a guarnição, como viria a revelar-se indispensável.

1965, veio a revelar-se para a LDM «302» um ano muito duro. Continuando a desempenhar denodadamente missões de fiscalização, escoltas a combóios de barcaças mercantes, transporte de tropas e apoio de fogo, no dia 4 de Fevereiro, em frente de Tambato Mandinga, no rio Cacheu, foi violentamente atacada das margens com morteiros e metralhadoras ligeiras, sofrendo 30 impactos no costado e superestruturas. Não houve baixas na guarnição para o que muito contribuiu, certamente, a sua pronta e valorosa reacção.




A LDM «302» navegando no Cacheu, junto ao tarrafo da margem
A – Poço(resguardado com chapa balística); B – Peça Oerlinkon; C – Tarrafo; D – Casa do leme;
E – Bote de borracha; F – Porta de abater; G – WC.


No dia 4 de Outubro, no rio Armada, um afluente do Cacheu, em missão de transporte de forças terrestres, foi atacada das margens com metralhadoras ligeiras e granadas de mão, resultando 10 feridos ligeiros entre os militares embarcados.

Novamente, em 28 de Outubro, a leste de Farim, na margem do Cacheu, durante uma operação de desembarque de fuzileiros foi alvejada, sem consequências, com tiros de espingarda.

Foi de relativa tranquilidade o ano de 1966 dado que, apesar de ter estado sempre no rio Cacheu no cumprimento das missões que lhe foram atribuídas, não teve qualquer contacto de fogo directo. Mercê do seu constante vaivém nos rios da zona, tornara-se já perfil conhecido e respeitada pelo inimigo.

Trágico viria a revelar-se o ano de 1967, ainda que pelo escoar do tempo se assemelhasse ao anterior, aparentemente tranquilo. Chegara-se a meados de Dezembro sem qualquer acção hostil e apenas no dia 16, em violenta acção do inimigo contra Binta, auxiliou com eficácia as forças terrestres na defesa daquele aquartelamento.

Não viriam aqueles seis homens de guarnição a terminar assim o ano quando, a 19 de Dezembro, pelas 11:00, a LDM “302” descia o rio Cacheu, em postos de combate, calor já a apertar, margens de tarrafo denso a entranhar-se pelo rio.

No leme, o patrão, marinheiro de manobra Domingos Lopes Medeiros; nos seus postos, junto à Oerlinkon, os marinheiros artilheiros Manuel Luís Lourenço e Silva e Manuel Santana Carvalho; no posto de fonia, o marinheiro telegrafista Joaquim Claudino da Silva; na MG 42 o marinheiro fogueiro Manuel Fernando Seabra Nogueira e junto aos artilheiros, pronto a acorrer onde necessário fosse, o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, de serviço aos motores, comandados da casa do leme.

A lancha deixara para trás uma das muitas curvas sinuosas do rio e passava frente à clareira do Tancroal, com a guarnição em redobrada atenção pelo comprovado perigo que representava, pelo historial anterior de ataques já desferidos contra diversas unidades navais.

Subitamente, observaram-se fumos na margem sul à boca de peças e, quase de seguida, fortes rebentamentos. O navio estremeceu violentamente e os motores pararam. Estavam sob violentíssimo ataque de canhão sem recuo, lança-granadas foguetes (RPG) e ainda metralhadoras, pesadas e ligeiras.




Em cima, no rio Cacheu, assinalado o Tancroal, local de ataque à LDM «302»

A lancha atingida e com o patrão gravemente ferido ficou sem leme, entrando pelo tarrafo da margem Norte. Os ramos vergaram de imediato e, de seguida, ao recuperarem a posição normal, projectaram a LDM «302» que recuou, ficando à deriva.

A lancha metia água e afundava-se rapidamente de popa. A inclinação era já muito grande e os artilheiros, com água pelo peito, ainda faziam fogo por cima do tecto da casa do leme com grande dificuldade. O posto de fonia, atingido por um estilhaço de granada, tinha ficado destruído e o patrão moribundo, jazia caído sem que alguém lhe pudesse sequer acudir no momento.

Sentido, de todo, que o navio estava perdido, os artilheiros viram-se forçados a abandonar a peça tentando então o telegrafista, socorrer o patrão. Fez um esforço para o por de pé mas foi-lhe de todo impossível. Atingido em cheio estava quase cortado em dois, pelas costas, com as vísceras de fora.

Inexplicavelmente, o inimigo deixou de fazer fogo. O telegrafista, o mais antigo depois do patrão, assumiu o comando e deu ordem para abandonar a lancha. Arriaram então o bote de borracha, colocaram lá dentro, o patrão, nessa altura já morto, os papéis de bordo e uma G3, dirigiram-se para a margem e esconderam-se no tarrafo. Fora de água, a lancha tinha apenas parte da porta de abater.

Era imperioso alguém ir a Bigene, o aquartelamento do Exército mais próximo, situado a cerca de três quilómetros e regressar com socorros. Sendo os restantes elementos novos na guarnição e o telegrafista o único conhecedor da zona, empunhou a arma e foi ele próprio, conseguindo lá chegar coberto de lama e sem precalços pelo caminho.

Entretanto, a LDM «304», que navegava não longe do local, alertada pelo ruído das explosões e tiros da LDM «302», dirigiu-se ao local deparando, para espanto da guarnição, com uma lancha totalmente afundada, sem ninguém à vista.

Passaram-lhe um cabo de reboque e seguiram rio abaixo, avistando pouco depois os sobreviventes que embarcaram e relataram o sucedido.

Mas nesse dia a má sorte acompanhava a LDM «302». Ao aportarem a Ganturé, local escolhido para encalhar a lancha, em águas poucos profundas para poder ser recuperada, o artilheiro Carvalho, que saltara do bote para a LDM «302» a fim de manobrar os cabos de reboque, caiu à água e nunca mais foi visto, não obstante os porfiados esforços dos seus camaradas, soldados e nativos de terra que tinham acorrido ao local.

Tudo tinha sido muito rápido, com consequências trágicas em escassos vinte minutos de duração, num combate desigual para a guarnição, que enfrentou o inimigo com perda de vidas mas com exemplar determinação, abnegação e estoicismo.

Foram agraciados com a Cruz de Guerra na cerimónia anual do 10 de Junho, no Terreiro do Paço, estando os já ausentes representados pelas suas famílias.

A LDM «302» seria rapidamente recuperada e voltaria a navegar!


(continua)



Das Unidades presentes:

• LFG «Escorpião» tinha como oficiais: 1TEN José Olias Maldonado (Comandante) e 2TEN RN Fernando Tavares Farinha (Imediato);
• LFP «Canopus» tinha como oficial: 2TEN RN Luis Pinto Fernandes Sequeira (Comandante);
• DFE 2 tinha como oficiais: 1TEN Mário Augusto Faria de Carvalho (Comandante) que tinha substituído o 1TEN Pedro Manuel de Vasconcelos Caeiro, ferido em combate; 2TEN Adolfo Esteves Sousa (imediato), 2TEN FZ SE António Carlos Samões e 2TEN FZE RN José Luis Couceiro;
• DFE 8 tinha como oficiais: 1TEN Guilherme Almor Alpoim Calvão (Comandante), 2TEN José Manuel Malhão Pereira (Imediato) e 2TEN FZE RN José Luis Couceiro (3.º Oficial); este último tinha substituído o 2TEN FZE RN Abel Fernando Machado de Oliveira, ferido em combate;
• DFE 9 tinha como oficiais: 1TEN Horácio Gata Metelo de Nápoles (Comandante), 2TEN Francisco Isidoro Montes de Oliveira Monteiro (Imediato) e 2TEN FZE RN Emídio da Silva Simões (3.º Oficial);


Fontes:
Arquivo de Marinha, Revista da Armada n.º 129 de Julho 1982, Setenta e Cinco Anos no Mar da Comissão Cultural da Marinha - Volumes diversos; Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, 1992; Fuzileiros-Factos e Feitos na Guerra de África, 1961-1974, Crónica dos Feitos da Guiné, Luís Sanches de Baêna, Comissão Cultural da Marinha, 2006;


mls

12 dezembro 2016

Guiné - LDM 302 atacada e afundada


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 15 de Novembro de 2008)

Rio Cacheu, 19 de Dezembro de 1967




A «LDM 302» antes de seguir para a Guiné a bordo de um navio mercante


A «LDM 302», a mais mítica «LDM» presente no dispositivo naval da Guiné, ganhou justificadamente o estatuto de lenda naval, durante o tempo em que esteve operacional ao longo de quase nove anos, no período compreendido entre 18 de Janeiro de 1964, data em que foi aumentada ao efectivo e 30 de Novembro de 1972, quando foi abatida.

E ganhou-o com todo o mérito, pela serenidade com que as guarnições enfrentaram sucessivas adversidades, pelo determinado desempenho no cumprimento das missões atribuídas e pela coragem demonstrada nas acções de combate.

Atacada e flagelada por oito vezes enquanto desempenhava as diferentes missões, em 19 de Dezembro de 1967, na sequência de um violento ataque sofrido no rio Cacheu, veio a afundar-se com o dramático balanço de dois mortos em combate.

Foi posteriormente recuperada e voltou à situação de operacional.

Da acção, de que resultou o seu afundamento, se publica uma curiosa e original banda desenhada, incluída na Revista da Armada, quando era então seu Director e primeiro nesse cargo, o CAlm Malheiro do Vale que anteriormente tinha desempenhado o cargo de 2.º Comandante da Defesa Marítima da Guiné.








Em tempo oportuno, voltaremos a abordar este tema - «LDM 302» - com um historial bastante mais completo daquela unidade naval.

Além desta versão histórica da LDM 302 publicada na Revista da Armada n.º 8 de Maio 1972 existe uma outra versão, igualmente em banda desenhada, da autoria de A. Vassalo.

Fontes:
Texto do autor do blogue com a devida vénia pela cedência de imagem da Revista da Armada n.º 8, Maio 1972.


mls

09 dezembro 2016

Clube Militar Naval e Reserva Naval - Fundação da AORN


Clube Militar Naval e Reserva Naval - Fundação da AORN

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 6 de Março de 2009)




Ao longo dos anos, frequentei inúmeras vezes o Clube Militar Naval participando em almoços calendarizados entre camaradas Reserva Naval a que se associaram também, em muitas ocasiões, oficiais dos Quadros Permanentes ou outros Convidados.

No conjunto procuraram sempre reviver, nos convívios havidos, a amizade, companheirismo e também camaradagem, fruto das mais-valias adquiridas de anos de convivência em Unidades e Serviços, com especial incidência no tempo da Guerra do Ultramar. Algures, no tempo, ter-se-iam cruzado ou mesmo partilhado missões ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa.

Também na qualidades de Mestres e Alunos sendo que, tanto oficiais dos Quadros Permanentes como da Reserva Naval, desempenharam aquelas prestigiadas missões na Escola Naval num mútuo e significativo enriquecimento cultural.

Em nenhuma situação procurei o Clube Militar Naval a sós porque, estatutariamente, os antigos oficiais da Reserva Naval não tinham direito à frequência das instalações do clube por "...não terem abraçado a carreira militar naval como profissão...". Para muitos outros constrangedora, também a mim me pareceu sempre impeditiva de uma livre frequência do clube podendo a qualquer momento poder ser invocada a não existência da qualidade de sócio.

Pessoalmente, como 1TEN da Reserva Naval licenciado em 1972, com um percurso de que ainda hoje me orgulho, sempre rejeitei a tão arbitrária quanto possível excepção ao princípio estatutário de que, quando acompanhado ou convidado por um sócio efectivo, poderia frequentar as instalações. Também nunca me agradou a simples facilidade de acesso, baseada na maior assiduidade com que cada qual poderia frequentar, ou não, as instalações do Clube. Por essa via se abre a porta à permissividade do conhecimento e simpatia, ainda que sem a condição necessária.

Julgo que todos procuram muito mais do que uma mera refeição, que pode ter lugar em qualquer outro local com farta escolha possível, provavelmente até em condições económicas mais vantajosas. Pessoalmente, furto-me normalmente a esse tipo de hábitos adquiridos, procurando sempre o espírito Reserva Naval recreado no ambiente próprio da Marinha que a acolheu e que naquele prestigiado clube sempre encontrei.

Mantida pela Direcção do Clube aquela reserva no tempo, terá sido uma medida redutora da valorização de um relacionamento recíproco que, além de afastar muitos antigos oficiais da Reserva Naval da frequência do Clube Militar Naval, conduziu à fundação de uma associação própria, a AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval, em 14 de Julho de 1995, na Sala do Risco - Casa da Balança, como exemplo único em todos os Ramos das Forças Armadas.



Ao tempo, afirmaria o primeiro Presidente da Direcção, Dr. António Rodrigues Maximiano:

„...Fomos e somos parte integrante de um Povo e de uma Marinha.

Como Associação crescemos e queremos ser toda a Reserva Naval.

Cumpriu-se o Mar.

Que se cumpra a AORN!...“




Foi primeiro Presidente da Assembleia Geral da AORN, o Prof. Doutor Êrnani Rodrigues Lopes – 7.º CEORN e Presidente do Conselho Fiscal, o Dr. Alípio Pereira Dias – 9.º CEORN.

Em 10 de Maio de 1996, realizou-se no Clube Militar Naval, um convívio de Oficiais da Marinha e Familiares que estiveram em Metangula – Lago Niassa, entre 1968 e 1971. A iniciativa partiu do CAlm Joaquim Espadinha Galo, conjuntamente com o Dr. João Rodeia Peneque – 10.º CFORN e Prof. Dr. Ricardo Migães de Campos – médico naval do 11.º CFORN.

Mais tarde este conceito de convívio foi alargado a outros participantes e ficou agendado, de forma permanente, para a primeira quinta-feira de cada mês, ficando conhecida como a mesa da Reserva Naval – Metangula, almoço convívio que ainda se mantém com os participantes que entenderem comparecer, onde pontifica o espírito aglutinador e sensato do Dr. João Sarmento Coelho (CMG), também ele fundador da Associação e antigo oficial da Reserva Naval do 10.º CFORN.

Há mais de quatro décadas, como tantos outros, quando ingressei na Escola Naval – Marinha de Guerra Portuguesa, fiquei indelevelmente marcado pela primeira sem nunca da segunda esquecer a génese, quer nos valores da hierarquia consentida, alicerçada na competência, quer no exemplo e no espírito de equipa.

Magnífico complemento de formação académica, com fasquia bem acima de formaturas de parada em que, a par de formação, instrução e ensinamentos, também marcaram passo espírito de grupo, camaradagem e amizade.

Durante mais de três décadas nas classes de Marinha, Médicos Navais, Administração Naval, Engenheiros Maquinistas Navais, Construtores Navais, Farmacêuticos Navais, Fuzileiros, Técnicos e Especialistas, a Reserva Naval ombreou com os Oficiais dos Quadros Permanentes nas mais variadas e espinhosas missões, teatros de guerra de além-mar incluídos.

Hoje, tudo se resume a memórias históricas, espelhadas em documentação diversa, relatos, imagens e testemunhos de vivências, recreadas em convívios de antigos camaradas de armas, afinal parte integrante da História da Marinha de Guerra da segunda metade do século passado.

O debate da eventual frequência das instalações do Clube Militar Naval pelos Oficiais da Reserva Naval, esgota-se num horizonte bem distante de qualquer protagonismo que considere efectividade ou o voto como principais objectivos. Pela oportunidade e actualidade, com a devida vénia, reproduzo integralmente o artigo do Comandante Adelino Rodrigues da Costa, publicado na Revista da Armada n.º 261, de Janeiro de 1994.





Notas:

Cerca de três anos mais tarde, em 3 de Março de 2012, o Presidente da Direcção da Associação de Oficiais da Reserva Naval, na altura o Comandante Joaquim Moreira, afirmaria que "...no passado dia 2, o espírito de cordialidade e de câmara entre oficiais de carreira da Armada e os antigos oficiais da Reserva Naval foi reforçado com a assinatura de um protocolo entre o Clube Militar Naval (CMN) e a AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval, efectuado nesse dia.

O protocolo, assinado entre o CMN e a AORN, na sede da primeira instituição, em Lisboa, em ambiente de salutar convívio, viabiliza formalmente “a utilização das instalações e serviços do CMN pelos antigos oficiais da Reserva Naval”, preconizando ainda a efectivação de iniciativas conjuntas, tais como “palestras, colóquios ou qualquer outro tipo de eventos de carácter cultural, recreativo ou técnico profissional”....


(Da assinatura deste protocolo daremos conhecimento em breve)


Fontes:
Texto do autor do blogue com inserção de texto do Comandante Adelino Rodrigues da Costa publicado na Revista da Armada n.º 261 de Janeiro de 1994;

mls

26 novembro 2016

2.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval,1959





Fontes: Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Lisboa, 1992, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Adelino Rodrigues da Costa, 2006; Texto do autor do blogue compilado e corrigido a partir do publicado na Revista n.º 6 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, Janeiro/Março 1998; Fotos de Arquivo do autor do blogue;

mls

22 novembro 2016

Reserva Naval… os números!




Transcrição de alguns excertos efectuados do capítulo "Síntese de 25 CFORN" de "O Anuário da Reserva Naval, 1958-1975" da autoria dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado:

........início de transcrição....................

“...O Decreto-Lei nº. 41.399 de 26/11/57 que criou a Reserva Naval, previa que o seu pessoal seria convocado por ordem de mobilização total ou parcial ou, em casos especiais de interesse público, por determinação do Governo, pela pasta da Marinha, sendo os seus elementos enquadrados por pessoal do activo nas lotações das unidades e serviços.

Porém, em poucos anos, o espírito da referida lei foi ultrapassado pelas circunstâncias.

A partir de 1961, as crescentes necessidades da Marinha em pessoal e em material, bem como a diversificada natureza das missões que lhe competiam nos diferentes teatros operacionais, obrigaram a profundas adaptações estruturais...”

............

"...Foram essas centenas de oficiais que, ombreando em dedicação e profissionalismo com os Oficiais do Quadro Permanente, permitiram o normal cumprimento das múltiplas missões exigidas à Marinha até 1974...”

............

"...Esta maciça presença de Oficiais RN nas mais diversas unidades e serviços da Armada revela a importância quantitativa e a influência qualitativa que a Reserva Naval teve na Marinha e nos seus hábitos..."

........fim de transcrição....................


De 1958 a 1974, num crescendo de necessidade em Oficiais, a Marinha, de uma incorporação anual, a partir de 1967 passou a efectuar duas, iniciadas com os 10.º e 11.º CFORN (38+75 cadetes) e atingindo um pico de admissões em 1973 com o 22.º e 23.º CFORN (100+81 cadetes) repetido em 1974 com os 24.º e 25.º CFORN (95+86 cadetes).

Estes números não deixam lugar a quaisquer dúvidas e, tomando como modelo os 16.º e 17.º CFORN’s de 1970, dos 63+103 cadetes incorporados e considerando todas as Classes, destacaram para prestarem serviço em Unidades ou Serviços de além-mar, cerca de 57% dos Oficiais da Reserva Naval que juraram bandeira.

Noutro âmbito e ainda significativamente mais expressivos, são estes valores percentuais apenas na classe de Fuzileiros, registando as maiores taxas de participação de oficiais da Reserva Naval, comparativamente à totalidade de Oficiais, quer dos Quadros Permanentes quer da Reserva Naval, que integravam o Comando daquele tipo de Unidades em Angola, Moçambique e Guiné.

Num total de 63 Destacamentos de Fuzileiros Especiais distribuídos por aqueles teatros operacionais, da totalidade de 139 oficiais neles integrados, 82 eram Oficiais RN (56%) e, mesmo dos 57 dos Quadros Permanentes que comandaram os DFE, mais de uma dezena tinham desempenhado missões anteriores como oficiais da Reserva Naval e vieram a optar pelo ingresso no QP.

Maior acuidade ainda no tocante às Companhias de Fuzileiros em que, das 45 Unidades que nos mesmos teatros operacionais estacionaram, considerando incluídos os Pelotões Independentes e de Reforço (também em Cabo Verde), 217 dos 328 Oficiais (66%) que integraram o Comando das Companhias pertenciam à Reserva Naval. De entre estes últimos, 11 pertenciam à Classe de Médicos Navais e alguns Comandantes daquelas unidades eram igualmente oriundos da Reserva Naval.

Ainda numa outra perspectiva, em finais daquele ano de 1974, do total de Oficiais que prestavam serviço na Armada, 24% pertenciam à Reserva Naval e, considerando apenas os Oficiais subalternos, essa percentagem aumentava para 40%.

........início de transcrição....................

“...Este contributo adicional de juventude, necessariamente que influenciou a Marinha, os seus hábitos, as suas mentalidades e até a sua forma de actuar...”

...Foram 1712 cidadãos que a Marinha teve o privilégio de acolher e de com eles conviver. Foram 1712 marinheiros que à margem do sextante ou do fuzil, a Marinha ajudou a preparar para uma vida diferente. A Marinha recorda-os e este trabalho é também uma homenagem que os seus autores lhes prestam...”

........final de transcrição....................


A Reserva Naval continuou até ao ano de 1992, embora com outras condições na admissão, mais adequadas e adaptadas a uma tão estudada como necessária redução do dispositivo, vindo a ser progressivamente substituída pelo regime de contratação, não sem que, ao longo de mais de três décadas, 3.598 Oficiais da Reserva Naval dos mais variados quadrantes de formação universitária tenham desfilado pela Marinha de Guerra Portuguesa.


Fontes:
Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, 1992; Anuário da Reserva Naval 1976-1992, Manuel Lema Santos, 2011; foto de arquivo autor do blogue;


mls

21 novembro 2016

Descubra as diferenças (I)...





Entre as imagens da ponte, em cima e em baixo, existem algumas diferenças.

Em cima:

– Data: 28 de Agosto de 1969.
– Apenas um tabuleiro, o superior.
– Captada de bordo do NM/TT Uíge ao regressar da Guiné.
– Fotografada por um antigo Alferes Médico do Exército.
– Nome: Ponte Salazar.

Em baixo:

– Data: 10 de Abril de 2004.
– Dois tabuleiros, superior e inferior.
– Captada do cais das docas.
– Fotografada por um antigo 1.º TEN da Reserva Naval da Marinha de Guerra.
– Nome: Ponte 25 de Abril.

Pontos comuns:

Os fotógrafos são irmãos e estiveram simultaneamente na Guiné, como militares.





mls

20 novembro 2016

Reserva Naval, 5.º CEORN - A Pátria Honrai...


2TEN FZE Emídio da Silva Simões, 5.º CEORN
Medalha da Cruz de Guerra de 2.ª Classe





O 2TEN FZE RN Emídio da Silva Simões pertenceu ao 5º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval e ingressou na Marinha de Guerra, Escola Naval, a 4 de Outubro de 1962. Promovido a Aspirante RN em Maio de 1963, foi destacado para prestar serviço na Guiné, no DFE 9-Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 9, de 1964 a 1966.

Por portaria de 2 de Novembro de 1965, foi-lhe concedida a Medalha da Cruz de Guerra de 2ª classe.

Foi Comandante do DFE 9 o 1TEN Horácio Gata Metello de Nápoles, seu Imediato o 2TEN Francisco Isidoro Montes de Oliveira Monteiro e 3.º Oficial o STEN RN Emídio da Silva Simões.






Fontes:
Fuzileiros - Factos e Feitos na Guerra de África 1961/74 - Guiné, Luis Sanches de Baêna, 2006; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Ordens da Armada 1.ª Série n.º 45 de 27.10.1965 e n.º 47 de 10.11.1965.


mls

17 novembro 2016

Reserva Naval... um Legado, uma História!



A LFG "Escorpião" em plena navegação ao largo de S.Tomé


Encontram-se decorridos 58 anos sobre o início da contagem crescente de cursos na Escola Naval quando, em 1958, ingressou naquele estabelecimento de ensino superior o 1.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval.

A propósito do escoar deste mais de meio século, ocorre-me a transcrição de alguns parágrafos do Anuário da Reserva Naval, 1958-1975 do capítulo “A Abrir”:

“...A carência de Oficiais aumentara substancialmente e foi na Reserva Naval que a Marinha encontrou a solução que melhor se adequou às suas necessidades específicas em pessoal qualificado.
Os Oficiais da Reserva Naval ombrearam então com os do Quadro Permanente no desempenho de cargos e missões da mais alta responsabilidade militar, na maioria das vezes em situações desconfortáveis, complexas e de elevado risco.
Daí resultou um intenso convívio, um são companheirismo entre homens de formação muito diversa e um mútuo enriquecimento cultural, técnico-profissional e até político, que tantas vezes perdurou no tempo e que, no plano dos princípios, continua a inspirar referências e, inclusivé, a ocupar um destacado lugar no imaginário de muitos Oficiais da Armada...”
.

Nem todos tiveram a oportunidade de completar esta travessia temporal, tolhidos no caminho pelo mais temível inimigo da Vida, que a todos embosca em qualquer e inesperado destino último. Cada ausente dos nossos convívios e memórias, simbolizará a passagem de um testemunho a transmitir aos que ficaram, na defesa e conservação dos mesmos valores dessa memória colectiva.

Responsabilidade individual acrescida, a assumir por cada antigo Oficial da Reserva Naval vivo, numa perspectiva de continuidade ao serviço da cidadania representada pela Instituição Marinha a que continuam histórica e afectivamente ligados.

Foram 3.598 os oficiais da Reserva Naval que desfilaram pela Marinha de Guerra ao longo de mais de três décadas.

Entre 1958 e 1975 a Escola Naval formou 1.712 oficiais em 25 cursos das mais variadas classes. Com um intervalo em 1975 em que não houve qualquer curso, entre 1976 e 1992, esse número foi acrescentado de mais 1.886 novos oficiais, correspondentes a 943 cadetes integrados em 41 cursos realizados da Escola Naval e a outros tantos 943 cadetes, em 37 cursos levados a cabo na Escola de Fuzileiros.

Também pela Marinha de Guerra que institucionalmente deu corpo à Reserva Naval, escolheu, formou e treinou os seus Oficiais para o desempenho de tão múltiplas como complexas missões.

E ainda por uma Associação que colectivamente os represente, cuidando de que, institucionalmente, a vontade colectiva dos seus membros expressa nos Estatutos e Regulamentos que aprovaram, sejam garante do exercício pleno dos seus Direitos e Deveres.

A assim não ser, estará em causa o legado histórico e cultural da Reserva Naval, parte importante da História da Marinha de Guerra dos últimos 50 anos.


Manuel Lema Santos, 8º CEORN
1TEN RN,1965-1972
LFG "Orion" Guiné, 1966-1968
CNC/BNL, 1968-1970
EMA, 1970-1972


Fontes:
Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, edição e autoria dos Comandantes A. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, 1992; Imagem cedida pelo 2TEN RN Silas Esteves Pêgo, Oficial Imediato da LFG "Escorpião" entre 6Mai68 a 6Abr70

05 novembro 2016

O Anuário da Reserva Naval 1958-1975






O Anuário da Reserva Naval é uma edição dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado e, aos autores, ambos Oficiais dos Quadros Permanentes da Marinha de Guerra, foi devido este importante trabalho de pesquisa, compilação e publicação dos cursos da Reserva Naval que tiveram lugar entre 1958 e 1975.

Apresentada em 1992, a obra funciona como uma espécie de chave de abertura de um quase desconhecido mundo “Reserva Naval”, para quem pretenda aceder a elementos informativos complementares sobre quem e quando integrou os diferentes 25 cursos que tiveram lugar na Escola Naval entre aqueles dois anos de referência, balizadores de um intervalo de tempo.

A brochura foi prefaciada pelo Almirante A.C. Fuzeta da Ponte, ao tempo Chefe do Estado-Maior da Armada.

Depois de uma breve abertura e introdução, a obra aborda sucessivamente a criação, evolução regulamentar, breve análise dos CFORN*, depoimentos, resenha de cada um dos cursos havidos, síntese e a listagem dos 1.712 Oficiais da Reserva Naval formados durante aquele período, encerrando com algumas informacões adicionais de grande interesse.

Reiterar aqui um público agradecimento àqueles dois Oficiais pelo serviço prestado à Marinha e à Reserva Naval, é dever que cumprimos com redobrado prazer pela Camaradagem e Amizade desde sempre reveladas.

Abordaremos em futuro próximo a temática de uma havida continuação dos cursos da Reserva Naval iniciada em 1976 - em 1975 não existiu qualquer curso - e terminada em 1992, ainda que não se esgote dessa simples forma o caminho trilhado no ordenamento dos cursos, partilhada que foi a formação entre a Escola Naval e a Escola de Fuzileiros, no seguimento do 26.º CFORN.



Clique no botão para efectuar o download da listagem dos Oficiais da Reserva Naval
que integraram os 25 cursos de formação entre 1958 e 1975


* CFORN – Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, designação dos cursos adoptada apenas a partir do 9.º curso; desde o 1.º ao 8.º curso tiveram a de CEORN – Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval.


Fontes:
Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Texto e foto do autor do blogue.


mls

14 outubro 2016

Galeria Reserva Naval - Comandante Artur Manuel Coral Costa




Comandante Artur Manuel Coral Costa
(1924-2003)


O Comandante Artur Manuel Coral Costa, nasceu em 9 de Julho de 1924, e alistou-se na Armada em 6 de Setembro de 1943.

Frequentou a Faculdade de Ciências de Lisboa (1942/1943), pertenceu ao curso “D. João I” da Escola Naval que completou em 1946 e, em 1948/1949, tirou o curso de especialização em Artilharia (A), na Escola de Artilharia Naval.

Continuou a sua formação, frequentando o curso de Defesa Atómica, Biológica, Química e Limitação de Avarias (ABCD), em Inglaterra, no ano de 1954. Cursou ainda, nos Estados Unidos da América, em 1955/56, o aperfeiçoamento em Artilharia Antiaérea (AA).

Em 1962/63, frequentou o Curso Geral Naval de Guerra (CGNG), voltando a Inglaterra em 1974 para a frequência do Naval Tactical Course (TN/CI).

Foi Oficial de guarnição e Oficial Imediato de várias Unidades Navais, Instrutor da Escola de Artilharia Naval (1954/56), integrou a Missão de Recepção das Fragatas da “Classe Diogo Cão”, nos Estados Unidos da América (1956/57), organizou e foi Director dos Cursos de Formação dos Oficiais da Reserva Naval (1958/1960), pertenceu ao Estado Maior da Armada (1963/67) e esteve na Embaixada de Portugal em Madrid, como Adido Naval (1970/73).

Foi Comandante dos seguintes Navios e Unidades: LFP “Altair” (1948), navio-patrulha “Santo Antão” (1960/63), corveta “Cacheu” (1967/69), fragata “Magalhães Corrêa” (1973/75), Instalações Navais de Alcântara (1976/80).

Promovido ao posto de Capitão de Mar-e-Guerra em 2 de Setembro de 1974.

O Comandante Artur Manuel Coral Costa foi condecorado com a Medalha Militar de Prata de Serviços Distintos, Medalha Militar de Mérito Militar de 2ª classe, Medalha Militar de Ouro de Comportamento Exemplar, Comenda da Ordem Militar de Aviz, Medalha Comemorativa das Expedições das Forças Armadas (legenda Cabo Verde 1967/69), Medalha de Prata Comemorativa de V Centenário da Morte do Infante D. Henrique e Medalha de Mérito Naval de Espanha, de 1ª Classe, com Distintivo Branco.

A evocação do comandante Artur Manuel Coral Costa, nesta “Galeria”, não é um mero acto de retórica por nele se corporizar a História da Reserva Naval. Como Director de Instrução do 1.º CEORN, em 1958 e, no ano seguinte, do 2.º, foi vigilante atento das matérias ministradas nos cursos, na sequência da tarefa de que fora incumbido superiormente. Foi ainda o comandante Coral Costa que acompanhou o 5.º CEORN na sua viagem de instrução, substituindo o Director de instrução daquele curso, entretanto destacado para outra missão.

Foi o próprio Comandante Coral Costa que, em entrevista recolhida para a Revista da AORN, em 1997, relatou a forma como recebeu essa missão revelando dados históricos a propósito do início da Reserva Naval:


“Na altura, os Quadros normais da Marinha não previam operações de guerra nas Províncias Ultramarinas. Isto quer dizer que qualquer oficial que destacava para Angola, Moçambique ou Guiné, era desligado do Quadro. Desta forma, dava-se uma consequente redução dos efectivos no Continente, com as evidentes dificuldades de preencher os lugares e posições que ficavam vagas.
O único pessoal que não desligava era o dos navios e dos Destacamentos ou Companhias de Fuzileiros, Todos os outros, pertencendo a Governos de Província, Comandos Navais, Comandos de Defesa Marítima, Capitanias de Portos, entre outros, eram desligados do Quadro.

Como se depreende, não havia Quadros de Oficiais para as necessidades exigidas por três frentes de combate. Esta situação veio a verificar-se alguns anos mais tarde, mais precisamente três anos após a entrada, em 1958, do 1.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, podendo considerar-se a decisão de iniciar estes cursos como uma antecipação, ou previsão, de situações e cenários que vieram a ser realidade.

Estava eu a bordo da fragata “Diogo Gomes”, como oficial Imediato; recebi, através do respectivo Comandante Basílio de Sousa Pinto, a indicação de que o Almirante Quintanilha me queria falar. Conhecia o Almirante Fernando Quintanilha desde a viagem do aviso “Bartolomeu Dias” às comemorações da coroação da Raínha Isabel II de Inglaterra. Ele era então o comandante desse navio e eu o oficial chefe do Serviço de Artilharia.




No decorrer da entrevista, o Comandante Coral Costa, explica a Manuel Torres do 8.º CEORN as diferentes fases de criação da Reserva Naval.


Mas não fazia a mais pequena ideia de qual seria o assunto sobre o qual ele me quereria falar. Dirigi-me ao Gabinete do Almirante Quintanilha, apresentei os normais cumprimentos e, com o feitio que se lhe conhecia, não perdeu tempo com grandes explicações. Deu um murro na mesa e disse-me:

– Coral, vamos começar com a Reserva Naval!

Percebi então que qualquer pergunta que fizesse seria absolutamente extemporânea. E disse:

– Pois sim, senhor Almirante. E terminou ali a conversa.

Quando cheguei ao corredor, disse para comigo: O que será isto? Onde é que hei-de ir? E dirigi-me, penso, ao sítio certo. Na 1.ª Divisão do Estado-Maior da Armada estava então o Comandante Manuel Pereira Crespo, futuro Ministro, que uma pessoa que remodelou a Marinha em muitos aspectos, grande valor, CMG na altura e muito meu amigo. Expliquei-lhe a situação e recebi algumas preciosas directivas.

Passaram-me para a Escola Naval, mas era em casa que trabalhava no assunto, dia e noite. Tinha um mês para fazer o trabalho.

Eu já tinha estado no estrangeiro, sabia mais ou menos os planos de um curso desta natureza, o tempo que se leva a falar de certas matérias, de alguns pormenores importantes e acabei por fazer o Plano de Curso.

Evidentemente que tive de recorrer a camaradas que me ajudaram em períodos muito especiais, como foi o caso da Navegação, em que foi fundamental o apoio do Comandante Pinheiro de Azevedo. Era, aliás, uma matéria que ninguém acreditava fosse possível ensinar em tão pouco tempo. Refiro aqui outras colaborações que me foram dadas. Para as matérias de Máquinas recorri ao Engenheiro Vila Real, também formado pelo Instituto Superior Técnico. Nas matérias de Luta Anti-Submarina, ao Tenente Virgílio de Carvalho; para as Comunicações, ao Tenente Paulo Manuel Guerra Corujo; para as Informações de Combate, ao Tenente João Encarnação Simões e para Administração Naval, aos Tenentes Alfredo de Oliveira e Carlos Pereira de Oliveira.

Feito este estudo, extrapolei para seis meses, nem mais um dia. No total um ano e meio de serviço. Toda a gente concordou e começámos.


Na mesma entrevista, foram expostas também as razões porque o Comandante Coral Costa decidiu oferecer à Associação dos Oficiais da Reserva Naval o seu valioso espólio, constituído por uma biblioteca de várias centenas de livros, nos quais se incluem, encadernados, todos os números da Revista de Marinha, as suas fardas de gala e a número três e ainda todas as condecorações descritas na sua biografia, tal como a sua espada pessoal.




A espada, medalhas e condecorações do Comandante Coral Costa, cedidas para guarda da Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

“Ao longo da minha vida e pelo curriculum que vos mostrei, conclui-se que mais de metade do tempo passei-o a bordo. Mais do que em casa. Penso que as minhas coisas, relacionadas com a vida de Marinha, não irão ter continuidade.

Os livros que fui comprando, para os ler mais tarde quando houvesse mais tempo, terão possivelmente o destino da Feira da Ladra. Tudo são bocadinhos meus. Pensar que tudo iria, talvez, ser vendido a peso, era de facto um desgosto enorme. Numa Biblioteca Nacional de Marinha iria passar despercebido. Num Museu, igual.

Eu tenho esperança que na vossa Associação, serão de facto apreciados. Com outra curiosidade, até porque de entre estes livros há alguns que são realmente bastante bons”.



Estas confissões do comandante Coral Costa, na sequência da sua decisão de tornar depositária do seu espólio a Associação dos Oficiais da Reserva Naval, representada pela AORN, conhecedor do projecto de instauração de um Museu materializando a sua História, foram prova da máxima simpatia e amizade que a ela dedicou desde sempre, e que deveriam conciencializar a Associação para a responsabilidade que o acto representou.

O Capitão de Mar-e-Guerra Artur Manuel Coral Costa, em 15 de Janeiro de 1998 teve oportunidade de se reunir num almoço, no Clube Militar Naval, com oficiais da Reserva Naval que pertenceram ao 1.º e 2.º CEORN.




Andrade Neves - 2º CEORN, J. de Almeida Rezende, M. Andrade Neves,
J. Cavalleri Martinho e M. Paiva Pinto, todos do 1º CEORN, com o Comandante Coral Costa.



Director de Instrução destes dois cursos, decorridos 40 anos desde o seu primeiro encontro, foi nesta data reactivada a ligação ao passado através de João de Almeida Resende, Manuel Andrade Neves, José Cavalleri Martinho e Manuel Paiva Pinto do 1.º CEOEN e António Andrade Neves do 2.º CEORN, num acto de extrema simpatia e amizade.

Quem teve o privilégio de conhecer o Comandante Artur Manuel Coral Costa, ao longo da sua vida activa de Marinha ou, já retirado, mantendo as suas ligações em religiosas deslocações ao Clube Militar Naval para almoços com amigos, guarda a imagem de um grande Senhor, não só como profundo conhecedor da História da Reserva Naval, mas também no orgulho que deixava transparecer por ter deixado o seu nome pessoal ligado ao êxito que da sua criação e implementação, na Armada, resultou.


Fontes:
Publicado na Revista n.º 5 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval - Jul/Set 1997; fotos de arquivo do autor do blogue.


mls

07 outubro 2016

1.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval,1958






Fontes:
Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Dicionário de Navios, Adelino Rodrigues da Costa, 2006; Texto do autor do blogue compilado e corrigido a partir do publicado na Revista n.º 5 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, Julho/Setembro 1997; Fotos de Arquivo do autor do blogue;


mls

07 setembro 2016

"Os perigos de uma única História" - Reserva Naval


"Os perigos de uma única História" – Reserva Naval vs AORN





Há tempos atrás, deparei na caixa de correio com um texto da conferencista Chimamanda Ngozi Adichie, escritora nigeriana de nacionalidade, reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras anglófonas que está a atrair, com sucesso, uma nova geração de leitores de literatura africana e que aconselho vivamente a ler. Não satisfeito com uma primeira leitura transversal menos atenta, voltei a ler, reli novamente e repeti ainda uma última vez.



Fixando-me apenas na analogia, vou deixar de lado quer o tema visado que a conferencista aborda de forma tão simples como acutilante, quer a forma e espírito com que o fez. Confinar-me-ei a uma marcada identificação com a ali tão bem reafirmada aversão cultural à construção estereotipada de modelos de uma única história.

Uma única história, repetida e divulgada sistematicamente sempre da mesma forma, retira a possibilidade de lhe acrescentar outras mais-valias, suportadas num contraditório dinâmico de uma possível segunda versão. Versão que complete uma história que se deseja de consenso alargado, alicerçada em testemunhos de factos e acontecimentos relatados pelos que a viveram e nela participaram.

Mas afinal que tem a ver este meu deambular sobre o perigo de uma única história com Reserva Naval vs AORN? A Reserva Naval compreende um universo constituído por uma classe de oficiais que pertenceram à Marinha de Guerra Portuguesa, naquela qualidade e enquadrados na e sob a responsabilidade da casa-mãe, a Armada.

A AORN–Associação dos Oficiais da Reserva Naval foi e será apenas uma associação constituída por sócios que terão sido ou não oficiais da Reserva Naval, de acordo com os estatutos daquela e que a ela tenham aderido mediante o pagamento de uma quotização numa das diversas classificações estatutárias de "admissibilidade de sócio" previstas.

Será obrigatório acrescentar que a condição sócio originário apenas poderá ser atribuída a um antigo Oficial da Reserva Naval de acordo com o estabelecido no "...Artigo Quinto dos Estatutos - Dos Associados , UM, alínea a): Todos os que tenham servido como Oficiais, na Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa, criada pelo Dec.-Lei nº 41399 de 26 de Novembro de 1957..."

Pode afirmar-se com propriedade que houve 3.598 oficiais da Reserva Naval da Marinha de Guerra. Entre 1958 e 1975 a Escola Naval formou 1.712 oficiais em 25 cursos das mais variadas classes. Entre 1976 e 1992 esse número foi acrescentado de mais 1.886 novos oficiais, correspondentes a 943 cadetes integrados em 41 cursos realizados da Escola Naval e a outros tantos 943 cadetes, em 37 cursos levados a cabo na Escola de Fuzileiros.

Dos 1.712 oficiais dos primeiros 25 cursos, cerca de 50% terão sido mobilizados para as mais diversas funções e missões na então Guerra do Ultramar/Guerra Colonial, nos teatros de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. Como notas curiosas, em Macau também prestou serviço um oficial e até mesmo em Timor desempenharam missões outros 2 oficiais da Reserva Naval.

Foram missões e serviços de complexidade variável, alguns deles de elevado risco, onde tiveram cabimento a nomeação para comandos e outras missões em unidades navais ou de fuzileiros, desde simples acções de fiscalização e patrulha até ao combate, em transportes, apoios, escoltas e também ainda servindo em unidades ou serviços em terra, ombreando com oficiais dos Quadros Permanentes e dos outros Ramos das Forças Armadas.

A AORN é a única associação existente que, desde 1995, ano da sua fundação, representa aquele conjunto de oficiais, enquanto sócios. No decorrer do tempo de vida da associação, ao longo de vários mandatos directivos têm sido diversos os "avisos à navegação", relativos a um percurso que parece estar a revelar-se escasso na prossecução dos princípios estatutários por que se deveria reger a colectividade e os objectivos a atingir.

Poderá a história da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa e dos seus 3.598 oficiais que por ela desfilaram vir um dia a ser devidamente salvaguardada, no espaço e no tempo, por espólios diversos constituídos por documentos, imagens, relatos e testemunhos, deixados à guarda da AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval, na qualidade de sua fiel depositária?

Terá a AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval ganho a confiança da Instituição Marinha - Armada - e de um conjunto significativo de antigos oficiais da Reserva Naval, sócios e outros associados, para que lhe venha a ser conferido o pleno direito de exercer essa qualidade de representante única e fiel depositária de tão importante memória histórica?

Pessoalmente, julgo que não! Parece-me razoável que pairem muitas dúvidas por esclarecer. O inexorável relógio do tempo, estreitando cada vez mais o horizonte de sobrevivência da AORN ao último Reserva Naval vivo ditará, ou não, da veracidade desta minha inqualificável profecia de Velho do Restelo.

Assumo que, integrado no conjunto das responsabilidades partilhadas, não terei tido a capacidade, eu próprio, de “levar a carta a Garcia” enquanto sócio e colaborador até meados do ano de 2004. Também depois, apenas como colaborador externo até ao final do ano de 2014, com o espírito Reserva Naval de que me orgulho de estar permanentemente imbuído.

Ter-me-á faltado certamente engenho e arte para debater objectivos e temas com os meus pares ou terei aceite demasiadas vezes a condição de remetido ao silêncio nas reuniões de trabalho e acções em que participei e foram muitas.


Em qualquer caso, continuarei a ser detentor da inalienável qualidade adquirida de antigo oficial da Reserva Naval da classe de Marinha do 8.º CEORN. Foi um privilégio pessoal e uma mais-valia académica, profissional e humana a que, orgulhosamente, posso acrescentar a invulgar situação de ter sido licenciado no posto de 1.º tenente, em 1972, por efeito do prolongamento voluntário do tempo de serviço prestado na Marinha.

Ao longo destes últimos anos terei ganho motivação suficiente para me manter a rabiscar num modesto blogue pessoal iniciado em 2006, a título meramente pessoal, farrapos de memórias Reserva Naval, expressando livremente opiniões, publicando relatos, imagens e documentos ou simplesmente divulgando notícias que considerei de interesse cultural.

Para esta dimensão, sem pretensões, ultrapassada a encorajadora fasquia de 311.000 visitas, ainda que no decorrer do tempo o silêncio nos comentários tenha sido maioritariamente ensurdecedor, os aspectos positivos foram suficientes para que mantenha afastada a ideia de abandono, no sentido de desistência da minha visão escrita de retalhos das memórias Reserva Naval.

Em consciência, profissionalmente distante de um perfil de historiador ou sociólogo, creio ter atingido um tempo de balanço neste meu exercício pessoal, forçado pela minha própria participação Reserva Naval e vontade de concluir um projecto idealizado já há alguns anos. Pelo caminho, foi muito o tempo dispendido ao sabor de algum mau tempo, vagas alterosas e diversas correntes, a que aliei uma tendência desmedida para alargar o âmbito do projecto inicial e também muita inexperiência da forma como lidar com temas de tal complexidade.

Existe uma subtil tendência para avaliar de forma grosseira, com leveza e ausência de conhecimento, a disponibilidade, meios necessários e tempo dedicado a pesquisa, recolha, compilação, tratamento e publicação de documentação de memórias históricas. É frequente a classificação do trabalho de quem mete mãos à obra como efectuado em tempo de lazer ou ainda como possível devido à disponibilidade de tempo de quem o faz.

Em vez de valorizar, motivando quem constrói, subalterniza-se diminuindo a qualidade da construção ou, bem pior, ignorando a construção. Terá o caminho percorrido desde 1997 sido feito no respeito por instituições e pessoas? Certamente que houve da minha parte esse cuidado que procurarei continuar a trilhar, mas tal não será impeditivo de manifestar desacordos pontuais sempre que se justificarem.

É tempo de não se correr também o perigo de uma única história da Reserva Naval e o articulado neste texto, sob aquele título, será por mim futuramente abordado com diferentes perspectivas, como que regressando a uma anterior rota, temporariamente abandonada devido a “marés e ventos desfavoráveis”.

Na qualidade de não sócio, encerro estes comentários com estas reflexões:

A Reserva Naval com génese num projecto de dimensão nacional na casa-mãe Marinha de Guerra Portuguesa completa este ano de 2016 o 59.º Aniversário;

O 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que integrou 68 cadetes e a que eu próprio pertenci, foi alistado na Escola Naval em 9 de Outubro de 1965, completando no mesmo ano de 2015, meio século de ingresso na Instituição. Terá havido da parte da AORN a preocupação de organizar e/ou apoiar qualquer tipo de encontro/convívio, habitual em iniciativas relativas a efemérides de cursos Reserva Naval? Se teve lugar alguma realização, em que qualidade e dimensão foi levada a cabo com a Escola Naval, a Instituição que acolheu aquele curso da Reserva Naval?

A Associação dos Oficiais da Reserva Naval comemorou no ano transacto o seu "20.º aniversário AORN", optando por abandonar um anterior percurso de vários anos de comemoração do "Dia da Reserva Naval" em que se apelava ao universo de Oficiais Reserva Naval, em vez de apenas "Sócios da AORN e convidados".

Porque me parecem invertidos valores e prioridades?

Da mesma forma que acima se critica o inexplicável, também se cumprimenta a Direcção da AORN pelo regresso este ano, ainda que parcialmente, a um anterior figurino expresso na comunicação prévia efectuada:

"...As Comemorações estarão abertas a todos os Camaradas que prestaram serviço na Marinha e respectivos acompanhantes, estendendo-se, deste modo, a toda a Reserva Naval...".


Manuel Lema Santos, 8.º CEORN
1.º TEN RN 1965-72 (lic)
Guiné, LFG "Orion" 1966-68
Comando Naval do Continente, 1968-70
EMA, 1970-72

Fontes:
Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa Manuel Pinto Machado, Lisboa 1992; Anuário da Reserva Naval 1976-1992, Manuel Lema Santos, Lisboa, 2011; Foto do arquivo pessoal do autor, gentil cedência da Escola Naval;



mls

01 março 2016

Reserva Naval 1958-1992






A Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa encarnou, para todos os Oficiais que por lá desfilaram, muito mais do que uma forma, dita civilizada, de cumprimento do serviço militar obrigatório.

Ao tempo, uma opção pessoal possível num percurso universitário completo ou em vias de o ser, passagem obrigatória no rumo de vida traçado, ao serviço da cidadania e do país onde nasceram.

Diria melhor e mais correctamente, da Pátria.

A evasão temporária ao amplexo paternalista, algum inconformismo e a necessidade inadiável de transpor aquela linha no horizonte terão sido algumas das motivações.

Outras tantas, eventualmente condicionadas por aspectos pessoais, profissionais, familiares e também económicos.

De um lado, incertezas, anseios, dúvidas tumultuosas, sentimentos contraditórios e algumas perspectivas goradas, mas também natural confiança e esperança.

Do outro, o salto no desconhecido, arrojado mas sonhador, a aventura e o desejo de bem cumprir.

Se para muitos configurou uma escolha alternativa enquanto no desempenho de um dever cívico, para outros terá representado uma ponte provisória para a vida profissional.

Ainda para alguns, em menor número mas mais tarde, a própria carreira profissional.

Escola Naval, viagem de instrução e juramento de bandeira marcaram, em sucessão, formação académica e humana, camaradagem e também crescimento.

Em cenários de guerra como Moçambique, Angola e Guiné, mas igualmente em S. Tomé, Cabo Verde e no Continente, quase quatro mil Oficiais da Reserva Naval desempenharam funções ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa.

A navegar ou em terra, como oficiais de guarnição ou nos fuzileiros, todos fazendo parte do transbordante testemunho de solidariedade, generosidade e convívio partilhado com as Unidades e Serviços onde permaneceram.

Ombreando com militares e camaradas de outros ramos das Forças Armadas.

Ganhando acrescido sentido de responsabilidade e maturidade.

Grangeando pelo cumprimento, pelo exemplo e pela dedicação, a amizade, admiração, respeito e camaradagem de superiores, subordinados e também das populações com que contactaram.

Na memória que o tempo não apaga, esfumam-se relatos, acontecimentos, documentos, registos, afinal História.

História da Reserva Naval e da Marinha de Guerra que lhe deu origem.

No espírito Reserva Naval, um passado comum a preservar.

Uma palavra para todos aqueles que nos deixaram prematuramente, chamados para a última viagem.

Estarão sempre connosco!




mls