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25 janeiro 2019

Reserva Naval no NTM «Creoula» em 24 Setembro 2011 - Organização AORN (Parte III)


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 12 de Janeiro de 2012)

NTM «Creoula», AORN e Reserva Naval

Parte III - pequeno resumo filmado





Fontes: Redigido e publicado a partir de passeio no NTM «Creoula» organizado pela AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval em 24 de Setembro de 2011; imagens e edição do autor do blogue; imagem inicial "Creoula" cedida pelo Museu de Marinha; música de fundo: «Joaquin Rodrigo & John Williams - Concerto de Aranjuez by William Kimberley & The European Philharmonic Orchestra» in Youtube;

mls

22 janeiro 2019

Reserva Naval no NTM «Creoula» em 24 Setembro 2011 - Organização AORN (Parte II)


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 9 de Janeiro de 2012)

NTM «Creoula» e Reserva Naval (Parte II)





Passado que foi o portaló do NTM «Creoula» numa sempre tão camarada quanto calorosa recepção do Comando e Guarnição aos «veteranos Reserva Naval», familiares e convidados envolvidos, ganhou-se o permanente sentimento de um mergulho renovado no passado de cada um dos presentes que por aquelas casa terá passado algum dia.






Um pouco como quem regressou a um local familiar com que nos identificamos numa etapa de vida já não muito próxima, a apetecer desbravar de novo, dispararam-se dúvidas e questões que nos fizessem sentir actualizados. Redescobrimos a bordo, da proa à popa, o Mar e a Marinha, os ensinamentos da Escola Naval, as aulas de marinharia e postos de faina, navegação e instrumentação, e ainda muitos vocábulos perdidos nas memórias que o tempo apaga.



Num clássico modelo, o sino de bordo, fazendo parte dos «amarelos» a brunir, sempre irrepreensivelmente limpo e brilhante à custa de puxar lustro nos serviços, desperta a já habitual curiosidade pelas jocosas graçolas envolvidas no conceito.




Existem três únicas cordas a bordo dos navios, já que todas as outras, assim incorrectamente chamadas, são denominadas «cabos» ou «espias», de acordo com a arte naval. São elas, a corda do sino, a corda do relógio e “acorda que já são horas”. Uma quarta era acrescentada, à revelia da semântica naval, nas cobertas, à boca fechada, quando se cochichava que o “comandante era da corda”...



Verificada no «detalhe» a presença da guarnição, especialmente reforçada por cerca de sete dezenas de «rijos e bravos» marinheiros, pessoal em postos de faina, o «Creoula» largou da Base Naval de Lisboa no enfiamento do canal balizado, e desceu o Tejo rumo a Cascais, máquinas a vante com a força aconselhada, pano recolhido, indicativo radiotelegráfico içado e o distintivo de almirante embarcado.




O ronronar das máquinas breve se tornou parte do ruído de fundo da comitiva deixando aos presentes a apreciação do que, parecendo velho, é sempre novo. Lisboa e margem sul, vistas de dentro do rio, são sempre novidade para quem não faz esse percurso de eleição com frequência.




Num dia que tinha amanhecido cinzentão e pouco prazenteiro, mar chão, o sol decidiu contrariar a tendência, rasgando nuvens e mostrando as margens do Tejo em todo o explendor de que Lisboa disfruta. Pelo caminho vão desfilando o Terreiro do Paço, 24 de Julho e a antiga CUF, ponte 25 de Abril e Cristo-Rei, a arrojada arquitectura do edifífio da Fundação Champalimaud e a Torre de Belém.




No mesmo rumo, a passagem pelo través de estibordo de dois draga-minas germânicos, com o regulamentar cumprimento ao «Creoula» à vista do distintivo de almirante, prontamente retribuído pelo Comandante, CFR Nuno Maria d’Orey Cornélio da Silva.




Visível o perfil da serra de Sintra recortada no horizonte, a proximidade do forte da Torre, semi-rígidos com grupos de turistas que se mostravam e acenavam em passagens próximas, num evidente propósito de apreciarem de perto o elegante e sempre belo lugre.




Enquanto a navegar até ao largo da baía de Cascais, foi aproveitado o tempo para, em grupos fraccionados, serem visitados os principais compartimentos e serviços do navio com um breve descritivo histórico do «Creoulas».

Com o navio a pairar, foi dada a oportunidade aos presentes de confirmar, mais uma vez, a excelência da hospitalidade e a invulgar qualidade da taifa da Marinha, num almoço volante servido no convés com «mar pouco menos do que de patas», poupando estômagos menos predispostos a estas veleidades navais.




Palavras de agradecimento do Presidente da Direcção da AORN e do Comandante do «Creoula» e lembranças mútuas trocadas encerraram uma inesquecível jornada de camaradagem e convívio.






Depois, o regresso! Rumo invertido, o farol do Bugio próximo, o paquete «Gemini» que demanda a barra na saída do Tejo, o pessoal agora reconfortado que continua a olhar o horizonte, os comentários no reavivar de memórias em pequenos grupos, a aproximação da Base Naval de Lisboa, os rebocadores e a acostagem.




(continua)

Manuel Lema Santos
8.º CEORN




Fontes:
Texto e imagens de arquivo do autor do blogue; imagem do Creoula cedida pelo Museu de Marinha.

mls

21 janeiro 2019

Reserva Naval no NTM "Creoula" em 24 Setembro 2011 - Organização AORN (Parte I)


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 7 de Janeiro de 2012)

NTM «Creoula» e Reserva Naval (Parte I)




NTM «Creoula»

Introdução

0 NTM «Creoula» é um lugre de quatro mastros. Construído no início de 1937 nos estaleiros da CUF para a Parceria Geral de Pescarias, o navio foi lançado à água no dia 10 de Maio a efectuou ainda nesse ano a sua primeira campanha de pesca. Um número a reter é o facto de o navio ter sido construído no tempo recorde de 62 dias úteis.
As obras-vivas a vante, com particular destaque para a roda de proa, tiveram construção reforçada uma vez que o navio iria navegar nos mares gelados da Terra Nova e Gronelândia.
Até à sua última campanha em 1973, o navio possuía mastaréus, retrancas e caranguejas em madeira. O gurupés, conhecido como « pau da bujarrona», que também era em madeira, deixou de existir em 1959, passando o navio a dispor apenas de duas velas de proa: giba e polaca.
As velas que agora são em dacron, material sintético mais leve e mais resistente, eram na altura feitas de lona de algodão, possuindo o navio duas andainas de pano, que eram manufacturadas pelos próprios marinheiros de bordo. O pano latino era feito com lona de algodão n° 2, o velacho (redondo) com lona de algodão n° 4 e as extênsulas com algodão n° 7, o mais resistente. As tralhas das velas eram em cabo de manila. Quanto ao aparelho fixo, esse sempre foi em aço, mas o de laborar era outrora em sizal.
O espaço que medeia hoje entre a zona da coberta de vante (coberta das praças) e a casa da máquina, era na época o porão do peixe e em cujos duplos fundos se fazia a aguada do navio. O navio estava assim dividido em três grandes secções por duas anteparas estanques que delimitavam, a vante e a ré, o porão do peixe. A vante do porão ficavam os alojamentos dos pescadores, o paiol de mantimentos e as câmaras frigoríficas para o isco; a ré, os alojamentos dos oficiais, a casa da máquina, os tanques do combustível, o paiol do pano e aprestos de pesca. Tinha ainda nos delgados de vante e de ré vários piques utilizados como reserva de aguada, armazenamento de óleo de fígado, carvão de pedra para o fogão e óleos lubrificantes.
Todo o interior do navio era revestido a madeira de boa qualidade e o porão calafetado para evitar o contacto da moura com o ferro.
O mastro de vante (traquete) servia de chaminé à caldeirinha e ao fogão a carvão, fogão este que se encontra hoje no Museu Marítimo de Ílhavo

In: https://www.marinha.pt/pt



Nota do autor:

Quando comecei a escrever este texto, tinha a ideia de que ia suceder o inevitável que mais não é do que, nas linhas rascunhadas, navegar ao sabor de um hipotético vento ou encapelado mar. Num dia inicialmente pardacento que virou excelente tarde soalheira, aquele figurino de tempo não passou de mera imaginação ao serviço de memórias que não consigo evitar quando percorro os diferentes molhes da Base Naval de Lisboa. Desculpas de um Reserva Naval que não consegue apagar no tempo a herança cultural de uma grada fatia de formação complementar adquirida e sedimentada naquelas casas, quer sob o ponto de vista académico quer como pessoa e como homem.

Parafraseando Álvaro de Campos, in «Ode Marítima”, Lisboa, 1915:

“As viagens agora são tão belas como eram dantes
E um navio será sempre belo só porque é um navio”





A AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval com o apoio da Marinha, organizou um embarque no NTM «Creoula» que teve lugar em 24 de Setembro de 2011. Desta feita, num pormenor complementar de requinte institucional, embarcaram igualmente o Chefe de Gabinete do CEMA, Contra-Almirante Francisco Braz da Silva e um oficial, primeiro-tenente médico naval, não fossem os balanços de mar cavado, o içar do velame ou a escalada pelos enfrechates criar problemas às articulações dos veteranos.




O Chefe de Gabinete do CEMA, Contra-Almirante Francisco Braz da Silva e o oficial primeiro-tenente médico naval que o acompanhou

Jornada quase obrigatória, como parte do planeamento anual de eventos a levar então a cabo pela Associação, reunia os condimentos necessários para que os antigos “marinheiros” da Reserva Naval regressem ao ambiente e fainas do mar sem que a veterania viesse a pesar negativamente nas memórias, sempre revividas na ocasião.

Foi proporcionada aos sócios e familiares da AORN um embarque naquele antigo lugre bacalhoeiro de quatro mastros, depois de uma concentração junto ao Portão Verde do Laranjeiro com transporte em autocarro até à Base Naval de Lisboa, no Alfeite. Sessão de cumprimentos finalizada, reencontros diversos testemunhados, os participantes dirigiram-se para o cais de embarque onde estava acostado o navio.




Embarque que não evitou que, pelo caminho, ao longo do cais, à esquerda e à direita, se fossem mirando e identificando outras unidades navais, onde alguns oficiais da Reserva Naval terão ocasionalmente embarcado ou prestado serviço. Visíveis o navio-escola «Sagres» o navio abastecedor «Bérrio», além de outros unidades navais onde se destacavam fragatas e navios-hidrográficos, reacendendo memórias incontornáveis ainda que fugazes.




Adormecidas nos pontões respectivos, lá estavam as corvetas «João Roby» - F487 e «António Enes» – F471 que viram nos anos 70, pela primeira vez, as águas onde navegaram.




A corveta «João Roby» participou, no final do ano de 1975, em diversas acções na ilha de Ataúro, em Timor, onde estava estacionada, aquando da invasão daquele território pela forças da Indonésia. Juntamente com a corveta «Afonso Cerqueira» que rendeu, foram as duas últimas unidades navais a abandonar aquela antiga possessão portuguesa no final daquele ano.




Na «António Enes», em comissão de 1973 até final de 1974, prestou serviço o 2TEN RN Álvaro Eduardo Osório de Meneses Bastos do 22.º CFORN que, no final do curso, após o juramento de bandeira e promoção, ali prestou serviço a partir de Outubro de 1973.

Esta corveta escoltou a célebre "Incrível Armada" constituída pelo navio-balizador «Schultz Xavier» rebocando as LFG «Argos», LFG «Dragão» e LFG «Hidra». Integraram também aquele combóio naval as LFG «Lira» e LFG «Orion» a navegarem por meios próprios e ainda as LDG«Ariete» e LDG «Alfange».

Em 3 de Dezembro de 1974 deixaram Porto Grande na ilha de S. Vicente de Cabo Verde, rumo a Angola onde atracaram no cais de Luanda depois de escalarem S. Tomé, percorridas 2.900 milhas ao longo de 19 dias de navegação.




Lá estavam acostados também os navios-patrulha «Zaire» – P1146 e «Cuanza» – P1144, navios da classe «Cacine», construídos em número total de dez unidades a partir de 1969.

Como apontamento pessoal, estive no Arsenal do Alfeite em 6 de Maio de 1969, data da entrega do NRP «Cacine», já que desempenhava as funções de ajudante de ordens do Almirante Francisco Ferrer Caeiro, então Comandante Naval do Continente e que esteve presente na cerimónia de lançamento da primeira unidade naval daquela classe.

Neles, algumas dezenas oficiais da Reserva Naval, de vários cursos, ali prestaram serviço nos teatros de Angola, Guiné, Cabo Verde ou também no Continente e Ilhas, mesmo de cursos alistados depois de 1975.

Importante referir que substituiram a anterior geração das LFG - Lanchas de Fiscalização Grandes da classe «Argos», construídas entre 1963 e 1965, especificamente para a Guerra do Ultramar e em igual número. Cerca de sete dezenas de oficiais da Reserva Naval nelas desempenharam as funções de oficiais Imediatos.




"Neta e Avó", em cima, a LFR «Sagitário» (de 2001) atracada no Alfeite e, em baixo, a LFG «Sagitário» (de 1965) a navegar no rio Cacheu, próximo de Ganturé, no ano de 1971



Já foi possível encontrar ali as descendentes, agora «netas» daquela geração anterior, as Lanchas de Fiscalização Rápida, LFR «Dragão» – P1151, LFR «Sagitário» – P1158 e LFR «Orion» – P1156.

Foram baptizadas com os mesmos nomes mas divididas em duas classes diferentes: a classe «Argos» com as LFR «Argos», LFR «Dragão», LFR «Escorpião», LFR «Cassiopeia» e LFR «Hidra» aumentadas ao efectivo em 1991, e a classe «Centauro» com as LFRLFR «Centauro» em 2000, e as LFR LFR «Sagitário», LFR «Hidra» e LFR «Orion» , estas em 2001.

Seria previsível adivinhar, num futuro próximo, o baptismo de uma outra e talvez última nova LFR «Lira», única com o nome em falta, para a renovação familiar completa das dez unidades navais aumentadas ao efectivo três a quatro décadas depois da anterior classe «Argos». Até hoje nunca veio a verificar-se. Terá havido alguma razão especial para a exclusão deste nome nas novas LFR?




"Neta e Avó", em cima a LFR «Orion» (2001) atracada no Alfeite e, em baixo, a LFG «Orion» (1964) a navegar frente ao Terreiro do Paço, antes de seguir para a Guiné



Manuel Lema Santos
8.º CEORN


(continua)




Fontes:
Texto e imagens de arquivo do autor do blogue; Setenta e Cinco Anos no Mar, Comissão Cultural da Marinha, Vols 8.º, 10.º e 15.º, Lisboa; imagens cedidas pelo Museu de Marinha (NTM «Creoula»), Comandante Adelino Rodrigues da Costa (LFG «Sagitário»), Revista da Armada (LFG «Orion»);


mls