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10 maio 2020

NTM «Creoula», 2003 - Reserva Naval e Cabo Espartel

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 3 de Abril de 2012/23 de Setembro de 2018)






No ano em que o NTM «Creoula», UAM 201, antigo lugre da Frota Branca Portuguesa (Portuguese White Fleet) completava, em 10 de Maio seguinte, 75 anos de lançamento ao mar e ao serviço da Marinha Portuguesa, justo é que se exaltem também as missões de colaboração e treino de mar com a AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval que representavam, oficialmente, aquela histórica classe de oficiais da Marinha de Guerra Portuguesa.

Será correcto que, nessa perspectiva, se considere como tantos outras unidades navais que tantos e bons serviços prestaram à Marinha e a Portugal, um navio Reserva Naval. Assim ficaram conhecidos navios onde se incluiram, destroyers, fragatas, navios-patrulhas, draga-minas, navios hidrográficos e auxiliares, lanchas de ficalização grandes e pequenas bem como também lanchas de desembarque grandes, médias e pequenas e, como não poderia deixar de ser, navios-escola.

Qualquer relato diferente ou oportuno registo fotográfico arrastará consigo uma referência ao “velho” lugre, justa homenagem a um navio que reflecte de forma única, na história que simbolicamente consigo transporta, num misto lendário de coragem e determinação, uma escola de marinheiros, disciplina, trabalho e sacrifício, a que corresponderam 37 campanhas bacalhoeiras que o «Creoula« já tinha cumprido na Gronelândia e Terra Nova, a última em 1973.

Em 1 de Junho de 1987 o navio foi formalmente entregue ao Ministério da Defesa Nacional passando a ser designado como Unidade Auxiliar de Marinha (UAM 201) e classificado como NTM - Navio de Treino de Mar.

Todos os anos, desde a Páscoa até Outubro, o navio realiza cruzeiros destinados a futuros profissionais do mar e a jovens interessados, os quais se integram na vida diária de bordo, desempenhando todas as tarefas necessárias. Têm sido inúmeras as missões desempenhadas nas áreas do ensino e da cultura com estas vertentes de formação e treino, algumas delas também com a AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

É de um antigo oficial da Reserva Naval o registo fotográfico exibido e o comentário abaixo que, em 2003, a sul do Algarve, algures entre Portimão e o Cabo Espartel – Tanger, cruzou o rumo do lugre no caminho para Marrocos. Como afirmou “... parecia o lago do Campo Grande e obrigámos um grumete a ir a correr à popa para arriar a bandeira, respondendo à nossa saudação...”, seguindo a mais antiga tradição naval.

Bem hajas Camarada e Amigo, continuas connosco «aragonez»!






O Cabo Espartel é um cabo situado na costa marroquina, perto de Tânger. No penhasco que ali se situa (a 110 m de altura sobre o mar), existe um farol cuja luz se pode ver a 23 milhas náuticas. Para sul, o terreno desce rapidamente dando lugar a uma planície, o que provoca a ilusão de que o cabo pareça uma ilha quando visto de alguns pontos. Antigamente, este cabo era conhecido como Cabo Ampelusia. Este ponto é um dos limites em terra do estreito de Gibraltar.
O local foi palco de confrontos navais famosas, como a Batalha do Cabo Espartel em 20 de Outubro de 1782, entre a esquadra franco-espanhola e a esquadra inglesa.
Posteriormente, uma outra batalha naval teve lugar ali, durante a Guerra Civil Espanhola, também denominada Batalha do Cabo Espartel, em 29 de Setembro de 1936, quando foi quebrado o bloqueio republicano do Estreito de Gibraltar, assegurando o suprimento das forças nacionalistas no Marrocos Espanhol.







Fontes:
Texto e imagens de arquivo do autor do blogue; Dicionário de Navios e Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha, 2006; http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_Espartel; imagens cedidas gentilmente por Emídio Aragão Teixeira, 8.º CEORN, 2012;


mls

31 agosto 2019

Guiné 1967 - Da Ponte ao Convés


LFP «Bellatrix»


Nota do autor do blogue:

Esta publicação, respeita texto e data em que foi publicado na revista n.º 6 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval de Jan/Mar 1998. Apenas se acrescentou a foto do autor do artigo que ao tempo da publicação não ilustrava o texto.

Manuel Henrique Vieira de Sousa Torres, o "Manecas" foi um Camarada do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, curso de que estiveram presentes em comissões de serviço na Guiné 15 Oficiais.

Mas o "Manecas" foi muito mais do que isso. Foi também um Companheiro de sempre do bairro de Campo de Ourique, Liceu Pedro Nunes e, depois de regressarmos daquele teatro de conflito, Camarada na Direcção da AORN, onde convivemos duas décadas.

Vestiu igualmente a capa de um inexcedível organizador de convívios mensais de Oficiais presentes na Guiné no Clube Militar Naval. O destino último privou-nos do seu convívio em Agosto de 2015.

Até sempre Manecas!




Manuel Torres
Manecas da «Bellatrix»
8º CFORN - 1965



Fontes:
Ficheiro coligido da revista n.º 6 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval de Jan/Mar 1997; fotos de arquivo do autor do blogue e Arquivo de Marinha;


mls

16 agosto 2018

Anuário da Reserva Naval 1976/1992 de Manuel Lema Santos

Apresentação pelo Comandante Adelino Rodrigues da Costa

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 19 de Julho de 2011)





No dia 14 de Junho de 2011, por ocasião do 16.º Aniversário da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, no Museu de Marinha - Pavilhão das Galeotas, com a presença do Vice-Almirante José Augusto Vilas Boas Tavares, Director da Comissão Cultural de Marinha, diversas Entidades e Convidados, foi apresentado a edição "Anuário da Reserva Naval, 1976-1992".

A apresentação da obra foi efectuada pelo Comandante Adelino Rodrigues da Costa que, na ocasião, dirigiu as seguintes palavras às personalidades e convidados presentes:

" Foi com muito agrado que aceitei o convite que me foi dirigido pela AORN para apresentar o Anuário da Reserva Naval, nesta edição que regista e identifica o vasto conjunto de homens que, entre 1976 e 1992, serviram a Reserva Naval e a Marinha.

A minha aceitação desta tarefa resultou essencialmente da admiração pessoal que tenho pelo Manuel Lema Santos, o autor deste trabalho – que desde já felicito vivamente –, pela dedicação, persistência e seriedade como conduziu as suas pesquisas em fontes informativas muito dispersas, que não eram fáceis, nem isentas de contradições.

Porém, houve outras razões adicionais para que eu aceitasse este honroso convite. Uma delas é de natureza emocional. De facto, tenho mantido uma ligação muito próxima à Reserva Naval, bem como a muitos dos seus elementos e às suas memórias navais, porque entre 1968 e 1974 tive o privilégio de ter sido instrutor de sete CFORN – Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval, além de muitos desses oficiais terem sido meus companheiros em diversas situações, nomeadamente em Moçambique e, sobretudo, nas barras e nos rios da Guiné.

Para além disso, também entendi que este convite me dava a oportunidade de louvar uma vez mais a AORN pelo trabalho que tem desenvolvido em prol da Marinha e de prestar a minha modesta homenagem aos seus primeiros presidentes da Assembleia Geral e da Direcção, que prematuramente nos deixaram e que aqui evoco com saudade – Ernâni Rodrigues Lopes e António Henrique Rodrigues Maximiano.

O Anuário da Reserva Naval que hoje é apresentado, constitui um notável trabalho que resulta da laboriosa actividade do seu autor e, naturalmente, de uma pesquisa documental muito vasta.

Creio estar em condições de fazer esta afirmação porque, há cerca de vinte anos, eu próprio passei por uma experiência semelhante à que viveu o Manuel Lema Santos e, portanto, sei por experiência própria, que neste tipo de pesquisa se sucedem muitas dificuldades e que há muitos obstáculos e lacunas de informação nos documentos que se consultam. Assim se consomem tempo e paciência que, por vezes, quase bloqueiam o andamento do trabalho e desesperam quem assumiu o desafio de chegar a um resultado final.

Por isso, embora as 116 páginas do Anuário da Reserva Naval nos possam sugerir uma ideia de facilidade ou de simplicidade, o facto é que essas páginas correspondem a um labor aturado e exigente de pesquisa e de selecção de informações, assim como de atenta resolução de muitas dúvidas e contradições.

Esta edição do Anuário vem revelar-nos uma nova visão do que foi a Reserva Naval e é um notável contributo para a preservação da sua memória histórica e da sua relação com a Marinha.

Por vezes, há a tendência para identificar a Reserva Naval com o período de 1958 a 1975, quando a previsão da guerra em África e as hostilidades que se mantiveram por 13 anos na Guiné, em Angola e em Moçambique, levaram a Marinha a procurar na sociedade civil e, em particular nas universidades, os homens que vieram reforçar os seus quadros, que comandaram lanchas de fiscalização, que embarcaram em todos os tipos de navios, que integraram os destacamentos e companhias de fuzileiros e que, de uma forma mais geral, deram um importante contributo para um certo rejuvenescimento e modernização da Marinha.

Se o contributo da Reserva Naval foi um facto que tanto valorizou a Marinha, a inversa também é verdadeira. Esses jovens de formação universitária também se valorizaram através da sua integração temporária na Marinha e dos conhecimentos que adquiriram sobre a organização e a cultura da corporação e, hoje, nas suas actividades e nas suas vidas, mantêm com orgulho essa marca marinheira.

Porém, este trabalho do Manuel Lema Santos revela-nos que, a partir de 1976 e já com as páginas da conflitualidade colonial encerradas, a Marinha decidiu continuar a procurar na sociedade civil um reforço de quadros e de especialistas de que necessitava para acompanhar as exigências da sua adaptação aos novos contextos operacionais, mas também às novas realidades democráticas e às suas mudanças políticas, sociais e, sobretudo, tecnológicas.

Nesse período decorrido entre 1976 e 1992, a Marinha incorporou 1885 oficiais cuja formação decorreu na Escola Naval ou na Escola de Fuzileiros, salientando-se que 414 se destinaram à classe de Marinha, 249 à classe de Médicos Navais, 484 à classe da Especialistas, 50 à classe de Técnicos, 666 à classe de Fuzileiros, 11 à classe de Engenheiros Construtores Navais e 11 à classe de Farmacêuticos Navais.

Estes números mostram que, embora num contexto operacional bem diferente do que acontecera entre 1958 e 1975, a Reserva Naval continuou a prestar importantes serviços ao País, através da nossa Marinha.

A edição que hoje nos é apresentada sumaria o historial da Reserva Naval entre 1976 e 1992, com uma detalhada descrição da evolução dos cursos realizados e uma elaborada Síntese Legislativa, que inclui a principal legislação publicada ao longo desse período, que foi muitas vezes alterada em função das necessidades da corporação e constitui um importante auxiliar para fundamentar futuros estudos sobre este tema.

Depois, o Anuário identifica os cursos e os cadetes das várias classes que os frequentaram, com a indicação das suas datas de nascimento, de alistamento e de promoção a Aspirante, constituindo uma notável base de dados que, até agora, não estava disponível.

Na sua parte final o Anuário da Reserva Naval inclui Informações Adicionais, onde se incluem diversas listagens – Comandantes da Escola Naval e da Escola de Fuzileiros, Directores de Instrução dos vários cursos, Prémios Reserva Naval atribuídos – e, ainda, uma interessante resenha ilustrada do nosso dispositivo naval entre os anos de 1976 e 1992, com uma apresentação inspirada nos Jane’s Fighting Ships.

Finalmente, para além do seu conteúdo objectivo, deve ser salientada a excelência da apresentação gráfica do Anuário, que muito o valoriza. Assim, o Manuel Lema Santos está de parabéns e é credor do reconhecimento da AORN e da Marinha, pelos resultados que obteve e pelo livro que hoje nos apresenta.

O Anuário é, portanto, um valioso repositório de informações sobre a Reserva Naval. Um dia, tal como hoje sucede com os registos do Arquivo Histórico da Biblioteca Central da Marinha e com as saudosas Listas da Armada, os Anuários da Reserva Naval serão um instrumento indispensável para a pesquisa histórica e para o conhecimento do que foi a Marinha na segunda metade do século XX, mas também do importante papel que os oficiais da Reserva Naval – mais de três mil – tiveram na sua na sua estrutura administrativa, técnica e operacional.

E nesta sala, que com as suas galeotas e aeroplanos nos evoca algumas das facetas mais simbólicas da nossa herança cultural marinheira, eu ouso perguntar se a Marinha podia ter sido uma prestigiada corporação e uma referência institucional da sociedade portuguesa, sem o enriquecedor contributo da Reserva Naval.
E ouso, também, dar a resposta:

Poder, podia, mas não era a mesma coisa!


Adelino Rodrigues da Costa
Lisboa, 14 de Julho de 2011




Edição disponível no Secretariado da Associação:



Rua da Junqueira, 1300-342 Lisboa
Telefone: 21 362 68 40 – Horário das 15 às 20H
Fax: 21 362 68 39
aorn95@reservanaval.pt
maria.antonieta@reservanaval.pt




Fontes: Alocução do Comandante Adelino Rodrigues da Costa em 14 de Junho de 2011; Anuário da Reserva Naval, 1976-1992, Manuel Lema Santos, edição AORN-2011;



Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

31 julho 2018

"In Memoriam" Professor Doutor Agostinho Almeida Santos - O último embarque de um antigo Oficial da Reserva Naval


2TEN MN RN Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos
8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval





Agostinho Almeida Santos


Aqui nesta modesta homenagem recordo Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos, alguns dias depois de ter deixado o nosso convívio, dia 14 passado.

Infausta notícia que, chegando tardia no meu conhecimento, não me impede de manifestar, à família enlutada e a todos os amigos pessoais, um enorme sentimento de pesar pela perda havida.

Dissertar aqui sobre o percurso pessoal e profissional de Agostinho Almeida Santos é objectivo para que assumo humildemente não ter dimensão, quer pelo relativo afastamento pessoal quer profissional, ambos condicionados por rumos de vida diferenciados.

A comunicação social especializada e a própria Assembleia da República, em diferentes formas de manifestada homenagem, expressaram e difundiram a notícia da perda de tão humana quanto erudita personalidade.

Limito-me aqui a mencionar algumas das possíveis referências:



In "Notícias de Coimbra"

"...O médico e professor catedrático de ginecologia, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), realizou, pela primeira vez, em Portugal, a técnica de procriação medicamente assistida, designada por GIFT (Transferência de Gâmetas para a Trompa), “método que propiciou o nascimento do primeiro bebé em junho de 1988”, refere um resumo curricular de Agostinho Almeida Santos do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida...."

"...Naquela que terá sido uma das suas últimas entrevistas de vida, efectuada por Braga da Cruz e Américo Santos, dois dos grandes timoneiros do Clube da Comunicação Social de Coimbra, o reputado médico lembrou que se sentia “o pai de 17 mil crianças” nascidas no seio de casais que não tinham filhos..."


In "Público"

"...Segundo a mesma nota, Agostinho Almeida Santos fundou e dirigiu o programa de reprodução medicamente assistida, que funciona em Coimbra, desde 1985. Entre 2005 e 2007, foi o presidente do Conselho de Administração dos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Na vida académica, publicou 185 trabalhos científicos, proferiu mais de 400 palestras e foi o responsável pelas disciplinas de Obstetrícia e Ética, Deontologia e Direitos Médicos da FMUC.

Membro de 18 sociedades científicas nacionais e internacionais, desempenhou funções de perito da Comunidade Económica Europeia na área de investigação em bioética. Autor do livro Razões de Ser, associado aos problemas e futuro da bioética, Agostinho Almeida Santos manteve uma actividade universitária de forma ininterrupta desde 1965, sublinha a mesma nota curricular.

Em 2011, com a intervenção da troika, alertou para a necessidade de se ajudarem os portugueses mais pobres, no acesso aos cuidados de saúde. "Vamos ter em Portugal, dentro de pouco tempo, pessoas que não têm dinheiro, nem amigos, mas vão precisar de ter acesso à saúde", disse então, frisando que se tratava de "um problema cívico", que devia mobilizar todos...."




Largamente difundida em toda a comunicação social, a notícia do desaparecimento de tão ilustre personalidade da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra com vasto e riquíssimo percurso médico, científico, académico, humano e pessoal, transporta-nos a memória ao mês de Setembro de 1965, ano em que ingressou num grupo de 68 Cadetes na Escola Naval, na classe de Médicos Navais do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, onde se manteve até Fevereiro de 1968, ano em que foi licenciado, passando à vida civil no posto de Segundo-Tenente.




8.º CEORN, na portaria da Escola Naval em foto de família - Agostinho Almeida Santos (ao centro do círculo),
Jorge Miranda (à esquerda), António Palma Fernandes (à direita) e Frederico Silveira Machado (atrás)





Foto de grupo do 8.º CEORN - Em cima, da esquerda para a direita: Augusto de Athaide Albergaria, Agostinho Almeida Santos, Frederico Silveira Machado, José Silveira Godinho, Manuel Castro Norton e António Simões Pereira; em baixo, Mário Rocha de Sousa

Em Abril de 1966, depois da habitual viagem de instrução nas fragatas «Corte Real» e «Diogo Cão», seguiu-se o Juramento de Bandeira com a promoção a Aspirante a Oficial.

Agostinho Almeida Santos foi então destacado para o NRP «São Gabriel», vindo a integrar como Médico Naval a Companhia de Fuzileiros n.º 2 em Moçambique, onde permaneceu até 1968, ano em que foi licenciado, regressando à vida civil no posto de Segundo-Tenente.




Buarcos, 1992 - Em cima, da esquerda para a direita:
José Silveira Godinho, Martinho Pereira Coutinho, Agostinho Almeida Santos, Alexandre Ferreira Borrego, António Simões Pereira, António Cardoso da Silva e Manuel Lema Santos;
Em baixo, Joaquim José Carvalho, Luis Mata de Oliveira, Mário Rui Nunes e Fernando Nunes Serra com a companhia de várias das respectivas senhoras presentes;


Nunca esqueceu a Marinha e os camaradas de curso "Filhos da Escola". Anos mais tarde, em Novembro de 1992, empenhou-se na organização de um Encontro-Convívio dos elementos do seu curso da Escola Naval, 8.º CEORN-Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, reunindo em Coimbra/Buarcos vários antigos companheiros e respectivas senhoras, convívio repetido por sua iniciativa em 1994, sempre num ambiente de grande fraternidade e amizade, características de uma personalidade eminentemente humanista e social.




Dois momentos do 1.º Encontro de Médicos no Hospital de Marinha



Em 27 de Fevereiro de 1999, integra a Comissão Organizadora e participa no 1.º Grande Encontro de Médicos da Reserva Naval, numa organização da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, com o apoio do Hospital de Marinha que encerrou na secular Sala da Farmácia com a já tradicional hospitalidade da Marinha.



Na revista n.º 11 da mesma Associação, em Abril de 2000, sob o título «Saúde e Medicina» publicou um artigo denominado "Clonagem Humana - Um Horror Quase Possível".


Entre 19 e 21 de Setembro de 2003, esteve presente como elemento e sócio participante no Primeiro Encontro Nacional da Reserva Naval, numa organização da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval que teve lugar na Figueira da Foz, no Centro de Artes e Espectáculos.




Encontro Nacional da Reserva Naval, Set2003 - Em cima, Agostinho Almeida Santos no secretariado e, em baixo no decorrer do Jantar Convívio de encerramento




Agostinho Almeida Santos apoiou ainda e encabeçou a direcção e organização de uma Delegação das Beiras da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

Depois de uma reunião prévia decorrida em 8 de Julho, em Coimbra, no Hotel Astória, continuada num convívio a 6 de Setembro, em 24 de Outubro de 2003 nasceu aquele Núcleo, então a bordo do "Basófias", com mais de 30 camaradas da Reserva Naval presentes.

Promovido por Agostinho Almeida Santos, acompanhado pelos camaradas Corte-Real, Maia de Carvalho e João Paulo Craveiro, com o apoio do Polo Norte que apadrinhou, o Núcleo das Beiras viu finalmente o baptismo do mar com o nome de "Granel das Beiras".




Agostinho Almeida Santos na sua alocução

Sobre aquele momento escreveu então Agostinho Almeida Santos:

"...Coimbra não tem mar mas tem marés. E foi numa maré cheia de uma lua nova que uma vintena de bravos marinheiros de antanho subiram o Mondego numa barcaça sem quilha, flutuando ao sabor da sorte a bordo de um “Basófias”. Após lauto repasto os intrépidos guerreiros bradaram às armas e decidiram navegar a vante.
Para se reabastecerem, semanas depois, no porão da ré de um couraçado bairradino. Com o Luís Pato ao leme, o imediato suporte dos comandos do “Polo Norte” e a fragância das espumantes ondas, o iluminado espírito do camarada Pires da Rosa fez baptismo do “Granel das Beiras” que há-de ser figura de proa da nau do Centro à conquista das mares da costa que nos banha.
Todos seremos agora poucos para no “Granel das Beiras” honrarmos um passado de que nos orgulhamos, ao serviço da Armada Portuguesa.
Agostinho Almeida Santos
8º CEORN



Desde a vinda a este mundo que todos estamos ao portaló a aguardar a hora de chamada para o último embarque, agora num horizonte de vida necessariamente estreitado pelas milhas já percorridas.

Até breve!


Fontes:
Texto do autor do blogue, compilado a partir de: Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Lista da Armada; Fotos de arquivo pessoal do autor do blogue; Revistas da AORN-Associação dos Oficiais da Reserva Naval, nº 9-Mar1999, n.º 11-Abr2000 e n.º 17-Mar2004;


mls

07 julho 2018

Reserva Naval, Guiné - Talvez por me sentir ainda puto...


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 23 de Abril de 2011)


Resposta a Emídio Aragão Teixeira do 8.º CEORN, também o meu curso...



Rio Cacheu, Guiné - LFP «Canopus» vs LFG »Orion»




Meu Caro Aragão Teixeira,


Talvez por me sentir ainda puto, partilho muitas das tuas convicções e irreverências. De forma idêntica, respeito diferenças de filosofia marcadas por percursos de vida diferenciados. Nas nossas amarras, e cada navio tem uma ou duas, partilhamos ser «Filhos da Escola» como um indissociável elo comum.

Talvez por me sentir ainda puto, gosto de pensar que nascemos, crescemos em mundos diferentes e fomos talhados à medida de uma geração de valores sedimentados pela educação e cultura, em que nunca se confundiu educação com formação académica nem cultura com bens materiais.

Talvez por me sentir ainda puto, acho que a educação se ministrava num berço, digno ainda que modesto, preferencialmente em casa dos pais. A formação académica adquiria-se em estabelecimentos de ensino adequados, muitas vezes com sacrifícios familiares, dando sentido objectivo a uma futura vida profissional com naturais anseios e sonhos, ficado muitos deles pelo caminho e concretizando outros, estes últimos normalmente poucos.

Talvez por me sentir ainda puto, sonho que a cultura, assenta num equilibrado crescimento de formação e conhecimento, nunca alienando a educação pelo caminho, no respeito por valores, pessoas, sociedade e País onde os nossos pais envelheceram e nos deixaram um dia, então melhor preparados para enfrentar a vida.

Talvez por me sentir ainda puto penso que, de forma oposta, a ambição material, arrogante e cega, em si mesma como objectivo, ignora educação, despreza valores e julga poder adquirir cultura ou conhecimento sem esforço, a troco de favores, influências, interesses de grupo ou simples envelopes «adaptados às circunstâncias».

Talvez por me sentir ainda puto, habituei-me a respeitar e agradecer a enorme energia motivadora de gente simples de antanho que, tratando-me por «vossemecê» e trabalhando se sol a sol, beata no canto da boca, de enxada nas mãos calejadas pelo tempo, não compreendiam porque se sentiam cansados aos setenta e muitos. De quando em vez, emborcavam um copo de tinto com a bucha, para retemperar forças e o trabalho seguia. Muitos, por essa idade, lá iam ao médico sem nunca terem posto os pés numa consulta.

Talvez por me sentir ainda puto, agradeço ter recebido, a troco de nada, grandes lições de sabedoria dessa «gente grande». Cresciam em berços de palha, paredes meias com o gado e arrumavam uns trocos dentro de uma meia velha, guardada dentro de uma panela esmaltada. Lá na aldeia, em tempo de férias de estudante, nas noites de cozidela de forno, partilhavam comigo a bôla de cevada ainda quente. Ensinaram-me a fazer fisgas de uma vara de freixo e a usá-la para atirar aos pássaros ou para as mais variadas aventuras, algumas delas tropelias de garotada.

Talvez por me sentir ainda puto, sonho com arcabuzes fabricados com as varas de salgueiro e rolhas talhadas com os pequenos canivetes que usava como formão, plaina, enxó e lixadeira, num quatro em um bem aproveitado. Sonho ainda com os custilos comprados na loja do correio para armar aos pardais ou às megengras (chapim-azul). Também ali se podiam comprar mercearias ou beber um copo de tinto avulso. Ao lado, a eira do povoado onde se jogava futebol, a malha do cereal, joeirar o centeio, a medição final nos alqueires para as arcas, as podas, as enxertias, as mondas, as corridas de leiras na arranca da batata e as vindimas, rodopia tudo isto nas lembranças de tempos idos.

Talvez por me sentir ainda puto, julgava ser possível estar presente numa manifestação de estudantes universitários de forma livre e espontânea. Em 1962, assim pensei no Campo de Santana e tive de fugir da polícia de choque e, no dia 11 de Maio desse mesmo ano, alta noite, juntamente com um irmão meu, fomos detidos com mais de milhar e meio de estudantes no convívio da Cidade Universitária, «apenas» por um dia. Num momento fortuito, descobri não ser possível a cidadania de corpo inteiro.

Talvez por me sentir ainda puto, em 1965, sonhei ser possível concorrer e ingressar na Escola Naval ombreando com futuros camaradas, em condições de igualdade, sem me ser lembrado aquele pequeno estigma registado numa reunião estudantil anos antes. Ingresso sim, foi possível por mérito próprio mas, no dia da admissão, a Direcção do Curso entendeu alertar para aquele «perigoso» registo de presença acrescentando o «sábio conselho» de evitar outras incursões naquele domínio.

Talvez por me sentir ainda puto, em 1966, depois de concluído o curso da Escola Naval, sonhei poder servir o País como tantos cidadãos o fizeram e entendi escolher livre e voluntariamente África para o fazer. Ainda que a classificação do final de curso, boa, pudesse fazer antever, por direito de classificação, outro teatro para o desempenho das funções atribuídas, foi entendido «superiormente» que a Guiné era o local mais adequado para o meu perfil.

Talvez por me sentir ainda puto, julgava de todo impossível, de acordo com a legislação vigente ao tempo, que outro familiar próximo, irmão mais velho, nove meses mais tarde, viesse a ter o mesmo teatro como destino de desempenho do serviço militar, neste caso como médico, integrado num batalhão. Sonhei ainda ser possível estar presente no funeral do meu pai, falecido quinze escassos dias antes do final do meu regresso da comissão de serviço. Acordar doloroso o meu, porque nem eu nem o meu irmão fomos bem sucedidos nessa normal ambição!

Talvez por me sentir ainda puto, nunca me incomodou a ideia de operações com fuzileiros, baptismo de fogo, emboscadas, flagelações e até, integrado na guarnição, servirmos de isco para provocar o combate com o inimigo. Era normal suceder. Tensão, juventude e alguma leveza na avaliação do risco eram catalisadores importantes. Sempre me preocupou a segurança daqueles que das minhas funções e do meu comportamento dependiam.

Talvez por me sentir ainda puto, recordo aqueles dois anos plenos de inesquecíveis e ricas vivências fruto do comportamento, camaradagem e solidariedade de uma guarnição de que muito me honro ter sido Oficial Imediato. Lembro-os a todos e à LFG «Orion» com grande saudade e amizade, sobretudo aos que já não se contam entre nós.

Talvez por me sentir ainda puto, gostaria que fosse possível visitar uma daquelas unidades navais que tanto prestigiaram a Marinha nos mais de doze anos de implacável e ininterrupta guerra. Quem sabe, talvez pudessem ter sido preservadas uma LDM (escolheria a LDM 302), uma LDG (escolheria a LDG «Alfange»), uma LFP (escolheria a LFP «Bellatrix») ou uma LFG (escolheria a LFG «Lira»). Afinal foram dezenas de unidades navais e alguns milhares de homens que se bateram pelo País. Mas não, ficaram por lá todas sem excepção, cascos apodrecidos num rasto pouco de acordo com uma cultura histórica digna.

Talvez por me sentir ainda puto, gosto de recordar os heróis da Marinha que se distinguiram em acções especiais. Bastará lembrar os elementos das guarnições da LDM 302 que em três dos vários ataques sofridos (1967, 1968 e 1969), tiveram 3 mortos em combate e 1 ferido grave (todos no rio Cacheu) e um outro grave (no rio Uajá).

Talvez por me sentir ainda puto, lembro também a LFG «Lira» que, no mesmo local do rio Cacheu (Tancroal), no princípio de 1968, já noite a fechar, atacada com diverso armamento, foi atingida com 2 granadas de RPG7 que lhe provocaram 1 morto (DFE 10), 4 feridos graves e 3 ligeiros. Dos feridos ligeiros, um foi o nosso camarada 2TEN RN Calado Marques que, mesmo ferido, assumiu durante 5 horas a navegação até Vila Cacheu, complementando o comando de um navio sem comunicações, sem giro e com avarias diversas. Apenas ali foi possível a evacuação do elemento da guarnição morto em combate e dos feridos.

Talvez por me sentir ainda puto, sonho que um dia poderá vir a ser possível levar a cabo um projecto sério de País em que os nosso filhos e netos se orgulhem de viver, alicerçado numa cultura idónea de cidadania e sociedade. Nele, as Instituições responsáveis defenderão intransigentemente a preservação da identidade de um Estado democrático com maior justiça e bem estar social.

Talvez por me sentir ainda puto, continuarei determinadamente a registar, no nosso caso particular, o orgulho de termos sido o último curso «Especial» de muitos outros da Reserva Naval e, enquanto pudermos utilizar pena ou teclado, reescrever as memórias do que entendermos importante.

Talvez por me sentir ainda puto lembro que, do nosso convívio Guiné, já partiram para a última comissão dos »Magníficos» os camaradas e amigos Jorge Manuel Calado Marques (Galã), José Carlos Pereira Marques (Lotus Flower), Manuel Sousa Torres (Manecas) e ainda o José Manuel Matos Moniz. Do nosso curso, não apenas Guiné, também o José Tereno Valente, Alexandre Ferreira Borrego, António Palma Fernandes, Augusto Soares de Albergaria, António Marinho de Castro, Frederico da Luz Rebelo, José Matos Moniz, Manuel Monteiro Coutinho, Paulo Lowndes Marques e Rui Sousa Eiró já não se encontram entre nós. Certamente escolheram o rumo certo para um reencontro do nosso curso para breve, o 8.º CEORN.

Abraço amigo,



Manuel Lema Santos
8.º CEORN




Fontes:
Comentário de Manuel Lema Santos, 8.º CEORN, compilado e editado por mls; texto e fotos de arquivo do autor do blogue com cedência do Museu de Marinha e Henrique Oliveira Pires, 11.º CFORN;


mls

05 julho 2018

Reserva Naval - Talvez por ser puto! Talvez...


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 23 de Abril de 2011)

Talvez por ser puto! Talvez...




Rio Cacheu, Guiné - A LFP «Canopus" (Lancha de Fiscalização Pequena) vs LFG "Orion" (Lancha de Fiscalização Grande)

Emídio Aragão Teixeira, amigo pessoal e antigo camarada do mesmo curso, o 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que, com mais de uma dezena de camaradas, eu incluído, fomos destacados para o cumprimento de diferentes missões na Guiné no ano da graça de 1966.

Sobre a viagem efectuada num DC6 da FAP já aqui publiquei um resumo possível:

Mal recordado diga-se, que a memória de acontecimentos idos e menos festivos refugia-se e trai-nos, dificultando a lembrança fácil e instantãnea. Emídio Aragão Teixeira, o "Mio" para familiares e amigos próximos e também para mim, foi nomeado para comandar a LFP «Deneb», Lancha de Fiscalização Pequena da classe «Bellatrix» enquanto que, a mim, me tocou na nomeação ser oficial imediato da LFG «Orion», Lancha de Fiscalização Grande da classe «Argos».

Diferenças? Em quase tudo quanto é possível em unidades navais, muito dissemelhantes nas dimensões e tipo de construção, passando pela guarnição, equipamentos e armamento, até à capacidade das missões a desempenhar.

Diferenças que se esbateram pelas condições específicas do teatro Guiné em que, operacionalmente, ombrearam lado a lado num dia-a-dia denso, diversificado e muitas vezes imprevisível, ao longo de dois anos com que foi premiada cada uma das guarnições que nelas foram desfilando - Oficiais, Sargentos e Praças - rumo a uma História ainda pouco divulgada por insuficientemente relatada. As LFP com guarnições de 7 e as LFG com guarnições de 27 homens.

Trata-se de contas simples para 13 anos de conflito na Guiné, das quais 8 LFP-Lanchas de Fiscalização Pequenas que ali ficaram atribuídas operacionalmente a adicionar a 7 LFG - Lanchas de Fiscalização Grandes. As primeiras ali foram abatidas ao efectivo e, das segundas, foram afundadas 140 milhas a oeste de Bissau as LFG «Cassiopeia» e LFG «Sagitário», por não terem condições de navegabilidade. As restantes 5 LFG juntaram-se em Angola às 3 que ali mantiveram a vida operacional, desempenhando missões até ao seu abate.

Acrescentem-se-lhe ainda 3 LDG - Lanchas de Desembarque Grandes (20 elementos de guarnição), 44 LDM - Lanchas de Desembarque Médias (6 homens de guarnição), 9 LDP - Lanchas Desembarque Pequenas (3/4 elementos de guarnição) e ainda to da uma panóplia de navios diversos que incluiu fragatas, corvetas, navios-patrulha, navios-auxiliares, navios-hidrográficos e ainda Unidades e Serviços em terra.

Obrigatório deixar igualmente aqui um espaço para assinalar os 27 DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais e as 11 CF - Companhias de Fuzileiros além de diversos Pelotões de Reforço que completaram o dispositivo naval.

Sobre a nossa ínclita viagem até à Guiné Aragão Teixeira rubricou um comentário que aqui volto a transcrever integralmente:




Meu muito caro Lema,

Lembro-me de alguma coisa a propósito da memorável viagem, ruidosa e fria, que 13 magníficos, tal onze mais dois do oceano por cima dele passando, tratámos de fazer.

Dois meses antes antes do nascimento da Karen...

Puto que eu era!

Feliz na facilidade da vida e das coisas, sem nunca se me ter apresentado a hipótese de não estar a fazer a coisa certa.

E isso talvez tenha ajudado a que, política e imagem incorrectas à parte, ainda hoje considere que foram os dois menos complicados anos da minha vida!

Talvez por ser puto! Talvez...

Talvez por ser inconsciente, o grande antídoto para o medo. Talvez...

Mas porque me lembro de quem e como era na altura, não hesito em afirmar que se voltasse atrás tudo voltaria a ser igual.

Normalmente as mesmas causas, no mesmo enquadramento, determinam as mesmas consequências.

Dizem que o verdadeiro estúpido é aquele que espera coisa diversa da já verificada!

Não me sinto pior ou melhor por ter andado por lá aos tiros do que se sentiria o Persa depois de ter perdido a guerra contra o Grande.

Mesmo que os jornais do Irão de hoje considerassem, e não consideram, o Dário como um criminoso. Vencido.

Já percebeste que estas linhas são apenas o prefácio de outras que espero escrever a este respeito.

A Pátria honrae? Talvez.

Mas cega,ninguém contempla ninguém.

Um forte abraço!

Quantos restamos dos treze?




Emídio Aragão Teixeira
8.º CEORN




Fontes:
Comentário de Emídio Aragão Teixeira, 8.º CEORN, compilado e editado pelo autor do blogue, mls; fotos de arquivo do autor do blogue com cedências de Museu de Marinha e Henrique Oliveira Pires, 11.º CFORN;


mls

31 maio 2018

Lisboa > Sal > Bissau, 31 Maio 1966 - O início de uma comissão de 2 anos


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 17 de Abril de 2011)


Bilhete de ida, ida simples… de volta, mais à frente se verá!


Era já noite entrada quando o robusto quadrimotor, um DC 6 da FAP, de transporte de páraquedistas, descolou rumo a nenhures… Ninguém nos tinha informado mas sabíamos de antemão que a Guiné ficava lá mesmo, em nenhures. Onde o tempo não tinha significado, a não ser na contagem decrescente para o regresso. Para trás, vida e futuro interrompidos, sonhos e planos abruptamente truncados, com alguma sorte adiados por dois anos, a prosseguir noutra vida mais à frente. Uma mão cheia de interrogações quedavam-se sem resposta.

Em linguagem informática, o meu registo de memória desta época de vida volatilizou-se. Com tanto tempo decorrido, não consigo aceder a qualquer informação, além da genérica e, quando me esforço por trazer a lume factos ou acontecimentos mais pormenorizados, nada está disponível. Não que me seja penoso, mas é-me impossível visualizar os «ficheiros» dos dias anteriores à viagem. Foram mesmo apagados.






O projeto DC-6 nasceu em 1944 como o XC-112 para as Forças Aéreas do Exército dos Estados Unidos. As Forças Aéreas pretendiam uma versão aumentada e pressurizada do C-54, com motores aperfeiçoados. Contudo, na altura em que o XC-112 voou pela primeira vez a Segunda Guerra Mundial já tinha acabado e a Força Aérea deixou cair o seu pedido.
A Douglas converteu então, o seu protótipo num transporte civil (redesignado YC-112A, o qual tinha diferenças significativas em relação aos subsequentes DC-6 de produção) e entregou o primeiro DC-6 de produção em Março de 1947. Contudo, uma série de misteriosos incêndios durante o vôo (incluindo uma queda de uma aeronave da United Airlines) colocaram em terra toda a frota de DC-6. Depois de descoberta a causa, todos os DC-6 foram modificados de modo a corrigir-se o problema, voltando a frota a voar ao fim de quatro meses no solo.
A PanAm usou aeonaves DC-6 na inauguração dos seus voos transatlânticos em classe turística, iniciados em 1952.
Em 1 de Novembro de 1955 uma bomba explodiu a bordo de um DC-6 matando 44 pessoas sobre Longmont nos Estados Unidos.
A United States Air Force passou a utilizar um versão do DC-6, denominada C-118 Liftmaster entre 1957 e 1975.






Preparativos, hora de partida, se terá sido mesmo da Portela ou do Figo Maduro, quem esteve comigo no aeroporto ou quem efectuou comigo a viagem são elementos de contorno difuso, perdidos no tempo. Perdida no tempo, está também a recordação consciente dos camaradas que se juntaram a mim nesta aventura. Se não a totalidade dos que fomos para a Guiné, lembro alguns deles do mesmo curso além de alguns outros passageiros. Talvez tenhamos voado todos mas afinal a esta distância também não é pormenor de importância.

Primeiro Lisboa e o Tejo, depois a costa. Por último, as derradeiras luzes costeiras coseram-se com o horizonte, sumidas na distância. Ficou o roncar ensurdecedor dos motores do avião, rasgando a noite naquele angustiante mergulho, rumo ao desconhecido. Uma espécie de torpor invadia-me, tolhendo-me o pensamento. Lembro-me vagamente de viajar sentado de costas para uma das janelas, por cima da asa esquerda do avião, as luzes de presença da cabine e pouco mais.




Abril 1973 - Um avião Boeing 707 da TAP estacionado na placa do aeroporto da ilha do Sal

Através da vigia, olhava o reflexo incandescente de um dos motores criado pela rotação das pás dos hélices, perguntando-me se seria normal ou se estaria eminente algum acontecimento estranho. Fiquei a saber mais tarde que era possível aos pilotos, em caso de sobreaquecimento, accionarem extintores ou desligarem mesmo um motor pouco colaborante. Tranquilidade acrescida, a transmitida por este conhecimento quarenta e cinco anos depois e, haja Deus, vivo!

Pudemos juntar ao baptismo de voo um autêntico teste de resistência auditiva, embalados aos sacolejões no bojo da barulhenta aeronave, que mais parecia um salvado da segunda guerra mundial com emissões sonoras a nível de um concerto de «hard rock». Os meus camaradas da FAP desculpar-me-ão certamente o meu desabafo pela invasão humorística daquele espaço aéreo.

Quanto a conforto de cabine, podia ter sido feito melhor pelo pessoal. Bem longe das ofertas actuais, eram bancos únicos, corridos, laterais mas em lona, viajando de frente uns para os outros, ainda que de través relativamente ao sentido da viagem. Verdade seja que podíamos conversar, ou melhor, gritar para nos fazermos ouvir, mas a vontade escasseava. Hospedeiras, nem vê-las e a farda 3B com um colarinho a simular um colar cervical, não ajudaram muito a preservar uma imagem cativante do percurso.




1972 - Vista aérea do aeroporto internacional de Bissau e arredores da pista

Depois de uma escala técnica pela ilha do Sal com desentorpecimento de pernas e cerca de nove horas e quarenta e cinco minutos depois, a ruidosa mas ainda confiável «fragata aérea» que se tinha proposto deixar-nos em Bissau, acabou por cumprir a missão. Pousámos em Bissalanca, o aeroporto internacional que servia aquele território onde, depois de aberta a escotilha de saída que melhor simulava uma entrada para o caldeirão do Asterix, tal era a baforada tórrida do ar exterior, nos aguardavam na gare alguns camaradas que espreitavam avidamente os substitutos chegados.

De pouco mais, que este quase nada, me lembro. O tempo decorrido se encarregou também de esfumar a chegada, quem estava ou não, quem me terá feito companhia no transporte utilizado para o percurso até ao início da ponte-cais ou ao Comando de Defesa Marítima da Guiné, no final da Avenida Marginal de Bissau. Este descritivo não abona muito a imagem que de mim fazem alguns camaradas e amigos em termos de memorização de nomes, factos e acontecimentos.




Em cima, uma vista aérea da zona do porto da cidade de Bissau, sendo possível ver, atracados, um NM da Sociedade Geral (CUF), uma LDG a as habituais LFG, LFP e LDM ou LDP;
Em baixo, a praça Nuno Tristão ao fundo da Av. de Portugal, junto à marginal e ao Pijiguiti




Com a imprescindível guia de marcha no bolso lá fui para a competente apresentação naquele Comando, sem qualquer instrução complementar relativamente aos ensinamentos da Escola Naval mas, para a Guiné, também não acrescentaria nada de substantivo.

Sem entrar em aspectos fantasiosos, julgo ter passado primeiro pela LFG «Orion» atracada à ponte-cais de Bissau, onde me apresentei deixando alguns pertences – malas e bagagens – para depois ter ido cumprir aquele dever militar formal, de onde necessariamente me recambiariam, com nova guia, para o navio que viria a tornar-se o meu lar pessoal durante dois anos.




1968 - O Edifício do Comando da Defesa Marítima da Guiné (antigo Edifício da Alfândegas),
aquando da visita do Almirante Américo Tomás àquele território, em momento de cerimonial


O entorpecimento mental era muito e a esta distância temporal tenho dificuldade em focar imagens e acontecimentos, sobretudo a torradeira climática onde tínhamos aterrado para ali permanecer tão alargada temporada. E utilizo o plural porque, para que não me sentisse muito só, alguém teria providenciado de que tivessem sido enviados para o mesmo local, no mesmo transporte e do mesmo curso, o 8.º CEORN, mais doze camaradas, para funções diversas.



Bissau, 1969 - Habitual panorama da asa esquerda da ponte-cais; as LFG Lira» - P 361 e LFG «Sagitário» - P 1131 estão atracadas de braço dado, com a LFP «Canopus» do lado de fora, e ainda uma LDP a ultimar a atracação a esta última

Pode entender-se esta última expressão «para funções diversas» como semanticamente optimista, já que todas elas eram missões desempenhadas na Guiné, em terra ou a navegar mas, mesmo nesta perspectiva mais abrangente, lugares em terra não tinham alicerces tão firmes quanto isso e, lugares a navegar, também podiam vir a efectuar desembarques em terra, nomeados quando necessário ou por mero voluntarismo desportivo. Sabe-o quem lá esteve e eu também tive essa experiência.

Éramos treze na ida e outros tantos regressámos. Facto concreto esse que, no futuro, me ajudou a esconjurar aquela malapata dos treze à mesa, ferrête com que geneticamente vim marcado a este mundo e que ainda hoje apavora a maioria das mesas de muitas lusas famílias. Mesmo no Clube Militar Naval, pode servir de pretexto para manter camaradas separados num almoço de convívio.

Realmente, o treze, continua a ser um número que preocupa mentes mas era de efêmera relatividade comparativamente ao «dois», referente aos anitos de comissão vividos na Guiné que, esses sim, marcavam especial importância na vida cá do indígena.

Aqui ficam registados os nomes da restante dúzia de camaradas que, solidarizando-se, comigo na LFG «Orion», ali partilhámos várias sessões de sauna, em diferentes versões de equipamento naval, ao longo de dois anos de dimensão temporal marcadamente XXL:

2TEN RN Abílio dos Santos Martins Silva, LFG «Hidra»;
2TEN RN Afonso Henriques da Costa, CDMGuiné;
2TEN RN António José Cardoso da Silva, NH «Pedro Nunes»;
2TEN RN Carlos Alberto Lopes, LFP «Canopus»;
2TEN RN Emídio Guilherme Mendes de Aragão Teixeira, LFP «Deneb»;
2TEN RN Jorge Manuel da Silva Calado Marques, LFG «Lira»;
2TEN RN José Carlos Pereira Marques, CDMGuiné;
2TEN RN Júlio Conceição Ribeiro Coelho, Esquadrilha de Lanchas da Guiné;
2TEN RN Manuel de Sousa Santos, LFG «Cassiopeia»;
2TEN RN Manuel Henrique Vieira de Sousa Torres, LFP «Bellatrix»;
2TEN AN RN Álvaro Rodrigues Quintana, Gabinete Militar do Comandante-Chefe da Guiné;
2TEN AN RN José António de Fátima Fragoeiro, CDMGuiné;





Em cima, Abílio Martins Silva, Afonso Henriques da Costa e António Cardoso da Silva e,
em baixo, Carlos Alberto Lopes, Emídio Aragão Teixeira e Jorge Calado Marques








Em cima, José Pereira Marques, Júlio Ribeiro Coelho e Manuel Sousa Santos e,
em baixo, Manuel Lema Santos, Manuel Sousa Torres, Álvaro Henriques Quintana e José António Fragoeiro.






Mais tarde, para ali foram cumprir comissões de serviço outros camaradas do mesmo 8.º CEORN. De 1968/1970, o 2TEN RN José Joaquim de Sousa Ferreira Martins, LFP «Aljezur», tendo prolongado o tempo de permanência na Marinha, veio a ingressar nos Quadros Permanentes no Serviço Especial de Hidrografia.

Ainda outros dois camaradas, da classe de Fuzileiros, após de terem optado por continuar nos Quadros Permanentes e depois de efectuado o curso de Fuzileiro Especial, já no posto de primeiro-tenente, ali desempenharam missões como Comandantes dos DFE 21 e DFE 12, de 1972/1974: os Primeiros-tenentes FZE José Manuel Matos Moniz e Adelino Carlos Mendes da Silva, respectivamente.





José Ferreira Martins, Adelino Mendes da Silva e José Matos Moniz.



Daqui os saúdo a todos, recordando especialmente os que agora já não nos permitem contar tantos. Sermos cada vez menos à mesa da vida, assume ser uma tão inexorável como alheia tendência. Parece ser pertença exclusiva de outros, em espírito por nós rejeitada para, subconsciente e prudentemente, nos mantermos fora da contagem.

Quando não enquadrados numa memória histórica colectiva, a do 8.º CEORN, acontecimentos isolados e não mediatizados, são carimbados como de relevância reduzida. Perder-se-ão inexoravelmente, caídos no caminho do tempo que a tudo relativiza e faz esquecer. Assim não devia ser porque já faltam bem mais do que aqueles de que há conhecimento.




Fontes:
Texto e fotos de arquivo do autor do blogue; Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; texto da aeronave DC 6 em http://pt.wikipedia.org/wiki/Douglas_DC-6 com fotos gentilmente cedidas por Victor Barata, http://especialistasdaba12.blogspot.com/; Arquivo de Marinha; Abel de Melo Sousa, 20.º CFORN; Henrique Oliveira Pires, 11.º CFORN;


mls

03 fevereiro 2018

Reserva Naval, 8.º CEORN, 1965 - Cartas trocadas


Paulo Henrique Lowndes Marques e Augusto de Athayde Soares de Albergaria, foram dois integrantes do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que, em condições e cenários diversos, no longínquo ano de 1967, cumpriram o seu tempo de serviço militar na Marinha.
Ingressaram na Escola Naval em 9.10.1965 e foram promovidos a Aspirante a Oficial em 29.4.1966. Licenciados no posto de 2.º Tenente em 1968, regressaram à vida civil.
Ambos do meu curso da Reserva Naval, o 8.º CEORN, já deixaram os dois o nosso convívio. Mais uma vez aqui lhes presto um saudoso preito de homenagem.




Em Angola, o primeiro e, em Lisboa, o segundo, foram os autores de uma troca de correspondência que reflecte estados de espírito bem diferentes, um e outro com curiosas observações que, sem qualquer comentário, a Revista n.º 10, Dez2000 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, deu a conhecer passados que foram 33 anos.




Paulo Lowndes Marques (8º CEORN)
(21.8.1941 - 1.1.2011)


Angola, 1 de Março de 1967

Meu Caro Augusto,

Eis-me em pleno Rio Zaire, a uns 70 Km da foz deste grande rio. Comando um Posto denominado Macala, numa zona do rio onde este estreita. Não só vejo perfeitamente a outra margem, como distingo uma pequena aldeia e, indistintamente, as pessoas que nela se movimentam.

Contam-me os meus libidinosos fuzileiros que lá se encontra uma albina, o que algo excita os latinos deste lado, embora, francamente, a distância não o justifique. Mas no centro de África como em Pigalle, a imaginação é tudo!

O rio embora aqui estreito, como disse, parece ser mais profundo do que o Mediterrâneo! O Zaire é rio internacional até penetrar no Congo Kinshasa e o porto de Matadi é pois servido por este "canal" meu vizinho.

Tenho cerca de 35 homens (e não, helas, mulheres – quanto tempo demorará para o bom exemplo de Israel chegar aqui?) sob o meu comando. Tenho ordens por escrito segundo as quais este posto não se pode render.

Se for atacado, tenho a obrigação de morrer gloriosamente com tudo e todos. Medito muitas vezes (até porque há muito tempo para meditar) no dilema de um militar jovem e subalterno há seis anos (1961) na fronteira de Gôa.

Durante semanas o inimigo aumentou a pressão psicológica através da rádio e de óbvia concentração de tropas em frente do equivalente deste posto com o vai-vem de camionetas, a chegada de artilharia, o treino diário de cada vez mais homens, a prática dos morteiros. E eu com os meus trinta homens, por certo com armamento muito inferior.

Vem a madrugada do ataque – na última escuridão da noite ouviria (mantendo o paralelo com a minha situação) o barulho das Lanchas arrancando os seus motores, os primeiros morteiros caindo, tentando calcular o alcance certo.




Posto de Fuzileiros da Quissanga em 1967

Eu enviaria uma mensagem com prioridade para a minha chefia hierárquica e descobriria que eles, os meus chefes, já lá não estavam! Já tinham decampado, ou se rendido, ou sei lá?

E ali estava eu com as minhas ordens escritas, irredutíveis e patrióticas e os meus chefes desaparecidos! Julgo, sinceramente, que este abandono dos subordinados constitui a acusação mais grave aos comandos militares em Gôa quando da invasão.

Há bons e honrados precedentes históricos para ignorar e desobedecer ao poder político. O almirante russo que desobedecendo a ordens, ordenou a rendição geral na batalha de Tsuchima, por exemplo.

Enfim, estou a divagar. O rio corre com enorme força. Na época das chuvas chega a fazer sete milhas por hora. Se se sobrevoar a foz, o Zaire entra como um grande soco castanho no estômago do Atlântico Sul. Tenho cerca de 20 Km de rio à minha guarda.

Por vezes aparece uma mensagem alarmista – vem um corpo de um branco morto levado pelo rio. Além do desagradável que me escuso de te descrever (o que faz, por vezes, só darmos o alarme quando o dito já está no território do posto vizinho) o "branco" é invariavelmente um negro, pois a pigmentação escura descolora com a imersão prolongada – (para a tua sabedoria anatómica).

De resto muitas, algo rotineiras patrulhas. Por vezes (não nesta zona), há incidentes com pescadores furtivos que vêem a este lado. Nada mais. Não há guerra. Os crocodilos são bem mais perigosos, embora tenham muito mais medo de nós, que nós deles.

É claro que esta guerra mole e algo podre tem os seus perigos. A complacência e a rotina levam ao descuido e é então que um ataque ocorre. Em Nóqui, a montante de onde estou, o aeroporto fica distanciado uns quilómetros do quartel da tropa. Passaram os meses e sempre nada, as medidas prudentes de escolta e cuidados dos primeiros tempos foram-se diluindo no calor, na rotina e no abandalhamento. Depois veio o ataque e emboscada cuidadosamente preparados, deixando sete mortos!

Enfim!...O Posto da Macala é bonito, com flores trepadeiras cuidadas, buganvílias e vistas panorâmicas. Há muito tempo nas mãos. Leio muito. Finalmente li a "Guerra e Paz" de capa a capa.

É da lógica militar que um pelotão de trinta homens só tem dez para, de facto, ocupar em patrulhas. Sentinelas, cozinhas, reparação de botes, etc., etc., consomem a mão-de-obra. É de questionar se a "fixação" de militares, afinal treinados para actividades de maior intervenção, será a melhor forma de os aproveitar. Porque não trazer navios patrulha e lanchas a navegar neste rio como "postos flutuantes", usando assim todos os fuzileiros para patrulhar?

Recordo com saudade a nossa viagem a Cabo Verde, Açores e Madeira. Do pó e areia em São Vicente (os dois clubes de golf – um português, outro inglês – os "greens" algo castanhos!), do cenário lunar de Santo Antão, dum lado e do outro do verde tropical no fundo dos vales, da perdida fotografia do Raul Ventura numa repartição esquecida e do magnifico Café Mussolini. Não sei se visitaste o famoso Tarrafal. O Luandino Vieira que se recusava, com dignidade, diga-se em abono da verdade, a encontrar o "olhar" dos visitantes.




Escola Naval - Paulo Marques assina o Livro de Honra no decorrer de um encontro
entre elementos do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval,
a convite do Comando daquela Instituição


E após o mau tempo e embates do mar à saída de Cabo Verde, a súbita e quase mágica visão do verde dos Açores. Bem se percebe a psicologia do Canto IX dos Lusíadas, embora, mais uma vez, helas, sem a substância do Canto tão querido dos escolares portugueses. E as nossas deambulações na Madeira, culminando com o civilizado chá no Reeds.

É curioso como uma farda nos solidariza. Enfim, percebi a lógica de uma farda de colégio. A farda e, em verdade, a proximidade de perigo que, na prática, só me recordo dos exames na Faculdade, período onde todos éramos amigos e nos conhecíamos de perto. Tu, bom aluno, decerto nunca experimentaste o receio do chumbo, mas acredita que, como dizia o Dr. Johnson sobre alguém que vai ser enforcado no dia seguinte, que "concentra a mente por forma admirável". Mas novamente divago.

Li algures e em tempos, que "a guerra é uma experiência de grandes períodos de ócio e maçada, intercalados por súbitos momentos de medo intenso, sem nada pelo meio". Confesso, conforme disse, que até agora tive bem mais medo de exames do que propriamente experiências de guerra.

Em verdade te diz este fuzileiro distante que te abraça com amizade.

«Paulo»




Uma patrulha de Fuzileiros no Rio Zaire






Augusto Athayde (8º CEORN)
(4.4.1941 - 25.2.2014)



Lisboa, 15 de Março de 1967

Caríssimo Paulo,

Muito obrigado pela tua carta de 1 deste mês, como sempre cheia de interesse pelos factos narrados e reflexões feitas. Ainda bem que os teus riscos de guerra não são os piores! Adiro por inteiro ao que dizes sobre o inconcebível abandono dos subordinados pelos chefes. Espero veementemente que tal nunca te venha a suceder!

De qualquer forma pergunto-me sempre: como irá tudo isto acabar? Mal, muito provavelmente… A paz celestial dos nossos primeiros anos, vividos nestes palmos de terra esquecidos e intactos durante a pior convulsão que a humanidade conheceu e de todos os seus horrores… vai bem longe.

Afinal os males das guerras só viriam a atingir a nossa geração mais tarde (sem, reconheça-se, as dimensões apocalípticas de Hiroshima e outros desastres indiscritíveis...) Mesmo assim, todos teríamos desejado entrar na idade adulta de outra forma… E eu estou-me a queixar "de barriga cheia".

A "minha guerra" na "nau de pedra" é...de papel e lápis. A Repartição de Justiça (é certo esmagada de trabalho) inclui: um Capitão de Mar-e-Guerra, um Tenente do Serviço Geral, um Sargento e três Marinheiros. E, é claro, os dois juristas da Reserva Naval: o Rui Machete e eu.

O serviço corresponde, como saberás, em receber Autos (toneladas de Autos), levantados pelas Unidades, estudá-los e, num bonito papel amarelo, emitir uma informação distinguindo entre o que é infracção disciplinar, (faltas que serão punidas pelo Almirante Superintendente, ao abrigo do RDM) e o que é crime, caso em que os Autos seguem para o tribunal de Marinha. Sem esquecer que há situações nas quais se acumulam infracções disciplinares com crimes e outros – mais raros – em que, depois do Auto bem examinado, se tem de concluir não haver nem uma coisa nem outra.

Já somos todos amigos, dentro desta sala pombalina, dividida por tabique e com janela para um pátio. Por baixo dessa janela existe um aparelho de "ar condicionado" que, – fazendo enorme ruído sem produzir nem calor nem frio – se considera que terá a função de nos impedir de esquecer o das máquinas dos navios...

O tema a que bem aludes da "ausência feminina" em Macala… leva-me, por associação de ideias, a contar que aqui, na Repartição de Justiça há, por vezes, visitas extremamente pitorescas e que eu, como "o mais novo" devo atender. Invariavelmente uma megera "à la portugaise", obesa, perna gorda, hálito pestilento e pêlo na venta, vem acompanhar uma mulherona nova (que receio já tenha dormido com metade da Armada...) para reclamar contra a lentidão do processo em que o grumete ou marinheiro X é acusado de ter estuprado a segunda.

A megera faz as despesas da gritaria, "Vocês estão é todos feitos uns com os outros! E olhe que a mim homens nunca me meteram medo, óviu! Nem fardas!!" (etc., etc.) Isto acompanhado de grandes punhadas no tórax (dela!). Eu tento fazê-la falar mais baixo: “olhe que está ali o senhor Comandante”

- “Pois que esteja. Quero lá saberi! O que vocês querem todos sei eu! (etc.,)!”

Finalmente invoca o testemunho da estuprada."Oh filha conta lá como é que aquele filho de puta te levou ao engano!” E a matulona: "Olhe, eu ia pr'a casa com uma pequena amiga e ali do outro lado (do Terreiro do Paço), vem ele por trás, encosta-se a nós, e vai logo pondo as mãos. Bem..., o senhor está a entender... E diz: Oh filhas: vocês são bem boas. Se se lavassem bem – (censurado) – todas!“ Etc., etc. Mantenho uma cara digna (com dificuldade) e asseguro que podem confiar na Justiça. A Repartição toda abafa (mal) o riso. Lá as vou acompanhando para fora. Penso, sinceramente, que qualquer dia quem leva uns socos sou eu! O que ainda não terá ocorrido devido à minha visível corpulência... Enfim, nota para a vasta temática "a mulher e a Armada"...

Uma curiosidade jurídica: descobri, no Código de Justiça Militar que, ao contrário do que nos tinham ensinado na Faculdade, a pena de morte ainda está em vigor neste país, para certos crimes militares, especialmente graves. Perguntarás: mas quando se aplica? Resposta: nunca! Como só poderia ser aplicada a autores de crimes cometidos em teatro de guerra, a "brandura dos nossos costumes" e, penso eu – principalmente razões políticas, levaram o Governo a considerar que as operações no Ultramar...são de polícia!...e não de guerra! logo...não há teatro de guerra...

Antes assim! Por esta vez, ao menos, houve o bom senso de não agravar um descontentamento que (as gerações mais velhas não se dão conta) vai crescendo imparavelmente. Que efeitos provocará esse descontentamento? Os mais variados, de certo. Bons, ou muitos bons, se ele for a alavanca, no futuro, de um grande espírito de reforma, justa, tolerante, feita em liberdade e equilíbrio. Maus, ou muito maus, se se desembocar nalguma grande ruptura revolucionária, ideológica e arrasadora.




Escola Naval - Augusto de Athaide assina o Livro de Honra no decorrer de um encontro
entre elementos do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval,
a convite do Comando daquela Instituição


Enfim, não divaguemos…

Mas o menos que se pode dizer é que o futuro, para a nossa geração, é incerto. Só me parece evidente que o "modelo" actual não pode subsistir indefinidamente: ou evolui ou acaba...

Mas, passemos a coisas "menos pesadas". A longa batalha para pagar as dívidas dos meus pais, continua. Felizmente, aos poucos, e através dos episódios mais variados, vou avançando para o grande objectivo de se pagar tudo mesmo ficando sem nada mas de "cara lavada".

Agora, Paulo caríssimo: este é que é o verdadeiro curso de Direito!! Acho que até devia pagar por um mergulho assim nas realidades do Direito sobre as quais a Faculdade pouco ou nada nos disse! (Pagar? Mais ainda? Livra!!)
Afinal este é um "assunto pesado". Pesado também e, cada vez mais, está o meu filho Augusto. Parece alegre e esperto… (Olhos de Pai...) Oxalá "as fadas" tenham visitado o seu berço...

Em que mundo viverá quando tiver a nossa idade? Espero que faça a Marinha! (Cada vez mais aprecio esta instituição de rigor, seriedade, trabalho, ambiente civilizado. Penso que representa algo de, infelizmente, raro em Portugal).

(Ou, quando tiver a idade que hoje temos, o Augusto já só poderá optar pela...Marinha soviética?) Não posso ficar a escrever o resto da tarde...em cima destes Autos...porque acabo por chamar a atenção do senhor Tenente!!

Mas apetecia-me recordar também a nossa inesquecível viagem. Tocas nos pontos fundamentais. Lembras-te do momento em que, do convés da lancha que nos levou do Mindelo a Santo Antão, entre risos e solavancos, avistámos à chegada, pintada no exterior da pequena doca, em grandes letras, a célebre frase "havemos de chorar os mortos se os vivos o não merecerem"...

Nada mais dissonante naqueles confins do mundo, na paisagem desértica daquela ilha, ainda por cima em paz absoluta, do que aqueles dizeres "épicos"… inutilmente virados para um imenso mar vazio...

Recordámos, como recordarás, a célebre tirada mussoloniana pintada nos mais remotos recantos dos desertos da Líbia e da Abissinia - "Molti n'mici molto onore"...(Não sei se se escrevia assim). E o "Café Mussolini", na Costa Oeste de Santo Antão? Dizes bem: é um nome… inesperado... Alguma vez se conseguirá descobrir a sua origem?

Termino no terraço do "Reid's" e no grande momento, que evocas tão bem, daquele "chá" civilizado, com o grande fim de dia sobre o Funchal. Uma grande recordação, de certo vitalícia. Entre tantas outras boas que essa viagem deixou!

Voltando ao presente: cuidado com a "paz podre"!! Não te "descuides"!! Mas escreve sempre!

O maior abraço do Augusto

PS - Não conseguirás filar a pele de uns crocodilos, para uma pasta para ti e uma carteira que alguma menina certamente apreciaria muitíssimo? Umas caçadas bem se integrariam na insólita (e, para mim, falsa...), frase de Malraux: " Les guerres sont les vacances de la vie".




Fontes:
Fotos de arquivo e compilação do autor do blogue a partir de artigo publicado no n.º 12 da revista da AORN- Associação dos Oficiais da Reserva Naval, Dezembro 2000;


mls

08 abril 2017

8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, 1965



Listagem completa do 8.º CFORN
(clicar)





Em cima, o 8.º CEORN no habitual registo de família na portaria da Escola Naval e, em baixo, a identificação de cada um dos presentes.




Classe de Marinha:

1 - Manuel Alfaia Pinto Pereira; 2 - ­Manuel Sousa Torres; 3 - ­Luís A. Mata de Oliveira; 4 - ­Rogério E. Bordalo da Rocha; 5 - ­Manuel Ferreira Gomes; 10 - José J. Ferreira Martins; 13 - ­Afonso Henriques da Costa; 16 - Abílio Martins Silva; 17 - Manuel Sousa Santos; 19 - ­José P. Cabral Fernandes; 23 - ­José Alcino F. da Costa; 25 - José C. Pereira Marques; 26 - Martinho Pereira Coutinho; 28 - José Manuel Neto Domingues; 29 - Jorge Manuel Calado Marques; 31 - Carlos Alberto Duarte Moura; 37 - ­Manuel Lema Santos; 40 - ­Júlio Ribeiro Coelho; 43 - ­Mário Rui Alves Nunes; 44 - José Maria Correia Sampaio; 45 - Fernando A. Costa Nicolau; 46 - Jorge M. Duarte Pedro; 47 - ­António J. Cardoso da Silva; 49 - Luís A. Santos Pereira; 53 - ­Francisco Sampaio Simões; 59 - José R. Centeno da Costa; 61 ­João Manuel Sousa Dias; 63 - Emídio Aragão Teixeira; 64 - José Tereno Valente; 66 - Carlos Alberto Lopes;

Classe de Construtores Navais:

56 - João Stichaner Lacasta;

Classe de Médicos Navais:

9 - Mário Rocha de Sousa; 15 - ­Agostinho Almeida Santos; 42 - Frederico Silveira Machado; 57 - João C. Nunes Corrêa;

Classe de Administração Naval:

7 - Jorge M. L. Miranda; 14 - António Palma Fernandes; 18 - Alexandre F. Borrego; 20 - ­José António Fragoeiro; 21 - Álvaro Henriques Quintana; 24 - Vítor Manuel Pessoa; 30 - ­José António Silveira Godinho; 52 - Augusto de Athayde Albergaria;

Classe de Engenheiros Maquinistas Navais:

33 - António M. Simões Pereira; 41 - ­Manuel Castro Norton; 51 - ­António P. Costa Quintas; 60 - Fernando Nunes Serra; 62 - Ismael de Oliveira Cavaco;

Classe de Fuzileiros:

6 - Joaquim de Oliveira Branquinho; 8 - António Luís Marinho de Castro; 11 - Luís D. Azevedo Vaquinhas; 12 - Carlos A. Marques Pinto; 22 - Frederico da Luz Rebelo; 27 - Urbano Moreno Marques; 32 - Manuel Renipundo M. Coutinho; 34 - José Manuel Matos Moniz; 35 - Adelino Mendes da Silva; 36 - José Manuel Silva Peixoto; 38 - Pedro Corrêa de Barros; 39 - Eduardo Van Zeller; 48 - Fernando Carvalho Mendes; 50 - Manuel José Santos Pereira; 54 - Paulo Lowndes Marques; 55 - Rui Sousa Eiró; 58 - ­Luis Filipe de Araújo Neves; 65 - João Nuno Belo da Conceição;





Último com esta designação CEORN de «Especial», passou posteriormente a CFORN de «Formação», e criado com base numa directiva emanada em 8 de Julho, iniciou­-se em 9 de Outubro de 1965, integrado na Escola Naval de que era então Director e Comandante o Comodoro Manuel Carlos Sanches.




O Contra-Almirante Manuel Carlos Sanches, Comandante da Escola Naval.

Alistados um total de 68 cadetes – 30 da classe de Marinha, 1 da classe de Construtores Navais, 4 da classe de Saúde Naval, 5 da classe de Engenheiros Maquinistas Navais, 8 da classe de Administração Naval e 20 da classe de Fuzileiros - foi dos mais numerosos cursos incorporado até à altura, resultado de uma política de apoio à manutenção das frentes que, sobretudo em África, exigiam uma mobilização contínua desde o início dos conflitos além ­territoriais. Foi Director de Instrução o CTEN António Seixas Louçã.




O Director de Instrução, CTEN António Seixas Louçã.

O Patrono do curso, de seu nome «Mem de Sá», irmão de Sá de Miranda e também do renascentista Gil Vicente, embora apenas pelo sangue paterno, era licenciado em Direito e cedo chegou ao topo da carreira da magistratura, como Juiz Desembargador.

Nomeado Governador­ Geral do Brasil em 1557, estabeleceu-­se em S.Salvador e procurou normalizar a vida naquele território colonial, degradada pelo jogo e marginalidade, tentando estabelecer normas de conduta adequadas a um ambiente regido por princípios jurídicos.



Em cima, da esquerda para a direita: Augusto Athayde, A. Almeida Santos, Silveira Machado, Silveira Godinho, Castro Norton, Simões Pereira e Mário Rocha de Sousa;
Em baixo, da esquerda para a direita: Manuel Torres, Lema Santos, José Moniz, Ismael Cavaco, João Manuel Lacasta, "Machado", Rui Eiró, Simões Pereira e Nunes Serra.




Após várias lutas internas quer com os indígenas, em que perde o próprio filho, quer com os franceses, que lá tentaram com insucesso estabelecer uma colónia, acaba por conseguir escorraçar definitivamente os franceses no final de vários anos, em 1567.

Cansado e ambicionando o regresso, solicita a sua substituição mas tal não chega a suceder.

Faleceu Mem de Sá em 1572.

A viagem de instrução efectuou-­se nas Fragatas «Diogo Cão» e «Corte Real», comandadas respectivamente pelos CFR Peixoto Correia e CFR Pinheiro de Azevedo. Escalou os Açores, Madeira e Cabo Verde.

O Prémio Reserva Naval foi concedido ao Cadete de Administração Naval, José António da Silveira Godinho.



Entrega do Prémio Reserva Naval.

No dia 29 de Abril de 1966, em cerimónia presidida pelo então Ministro da Marinha, Almirante Fernando Quintanilha Mendonça Dias, realizou-­se o Juramento de Bandeira e a subsequente promoção a Aspirantes.

Quase de imediato, seguiu-­se o destacamento para diversas Unidades e Serviços com especial incidência de rendições no Ultramar.

Foram designados para prestar serviço em África os seguintes oficiais:

Guiné (13 Oficiais):

2TEN RN Abílio dos Santos Martins Silva, LFG «Hidra»;
2TEN RN Jorge Manuel da Silva Calado Marques, LFG «Lira»;
2TEN RN Manuel de Sousa Santos, LFG «Cassiopeia»;
2TEN RN Manuel Lema Pires dos Santos, LFG «Orion»;
2TEN RN Carlos Alberto Lopes, LFP «Canopus»;
2TEN RN Emídio Guilherme Mendes de Aragão Teixeira, LFP "Deneb»;
2TEN RN Manuel Henrique Vieira de Sousa Torres, LFP «Bellatrix»;
2TEN RN António José Cardoso da Silva, NH «Pedro Nunes»;
2TEN RN Afonso Henriques da Costa, CDMGuiné;
2TEN RN José Carlos Pereira Marques, CDMGuiné;
2TEN RN Júli« Conceição Ribeiro Coelho, CDMGuiné;
2TEN AN RN José António de Fátima Fragoeiro, CDMGuiné;
2TEN AN RN Álvaro Rodrigues Quintana, Gabinete Militar do Comandante-Chefe da Guiné



No interior do autocarro no regresso de um período de formação. Da esquerda para a direita: Duarte Moura, Costa Nicolau, Duarte Pedro, Ribeiro Coelho e Aragão Teixeira.

Angola (15 Oficiais):

2TEN RN José Rui Marinho Centeno da Costa, LFG «Escorpião»;
2TEN RN Jorge Manuel de Sousa Duarte Pedro, NH «Carvalho Araújo»;
2TEN RN Rogério Eduardo Bordalo da Rocha, LFP «Fomalhaut»;
2TEN MN RN Frederico Aníbal Saldanha da Silveira Machado, CF 1;
2TEN FZ RN António Luis Marinho de Castro, CF 1;
2TEN FZ RN Joaquim José de Carvalho, CF 1;
2TEN FZ RN Rui Camargo de Sousa Eiró, CF 1;
2TEN MN RN João Carlos Cabral Nunes Corrêa, CF 11;
2TEN FZ RN Frederico da Luz Rebelo, CF 11;
2TEN FZ RN Manuel José Gomes dos Santos Pereira, CF 11;
2TEN MN RN Mário Rocha de Sousa, CF 10;
2TEN FZ RN Adelino Carlos Mendes da Silva, CF 10;
2TEN FZ RN Carlos Alberto Marques Pinto Pereira, CF10;
2TEN FZ RN Paulo Henriques Lowndes Marques, CF 10;
2TEN FZ RN Pedro Manuel de Almeida Corrêa de Barros na CF 10;



Em cima: Durante a viagem de instrução, no Mindelo - S. Vicente de Cabo Verde uma pausa numa visita de exploração, vendo-se junto às viaturas Sampaio Simões e Sousa Dias;
Em baixo: O Ilhéu «Poia da Saloia» à entrada do Porto Grande de S. Vicente, da cidade do Mindelo




Moçambique (9 Oficiais):

2TEN RN José Manuel Neto Domingues, LFP «Algol»;
2TEN RN José Pedro Cabral Fernandes, LFP «Castor»;
2TEN RN Luis Alberto Santos Pereira, Comando Naval de Moçambique;
2TEN FZ RN Eduardo Bello Van Zeller, CF 6;
2TEN FZ RN Joaquim Manuel de Oliveira Branquinho, CF 6;
2TEN RN José Manuel Raposo da Silva Peixoto, CF 6;
2TEN FZ RN Manuel Renipundo Monteiro Coutinho, CF 6;
2TEN FZ Luis Domingos Costa Azevedo Vaquinhas, CF 2;
2TEN FZE RN José Manuel Matos Moniz, DFE 1;



NRP «Corte Real» - No decorrer da viagem de instrução, em Abril de 1966, realizaram-se exercícios de fogo anti-aéreo.

Continente, Ilhas e Outras Unidades (29 Oficiais):

2TEN RN Carlos Albertio Duarte Moura, Instituto Hidrográfico;
2TEN RN Fernando Augusto Antunes da Costa Nicolau, Instituto Hidrográfico;
2TEN RN José Alcino Ferreira da Costa, Instituto Hidrográfico;
2TEN RN Manuel Ferreira Gomes, Instituto Hidrográfico;
2TEN RN Francisco José Sampaio Simões, Estado-Maior da Armada;
2TEN RN Luis Alberto Moura Mata de Oliveira, Estado-Maior da Armada;
2TEN AN RN António Manuel Velhinho Palma Fernandes, Estado-Maior da Armada;
2TEN RN João Manuel Pontes de Sousa Dias, Agrupamentos de Navios-Patrulhas e Draga-Minas;
2TEN RN José Maria Gil Correia Sampaio, Agrupamentos de Navios-Patrulhas e Draga-Minas;
2TEN RN Mário Rui de Freitas Alves Nunes, Agrupamentos de Navios-Patrulhas e Draga-Minas;
2TEN RN Martinho Afonso Pereira Coutinho, Agrupamentos de Navios-Patrulhas e Draga-Minas;
2TEN RN José Joaquim de Sousa Ferreira Martins, LFP «Aljezur»;
2TEN RN José Tereno Valente, DSP-5.ª Rep;
2TEN RN Manuel Alfaia Pinto Pereira, GR n.º 1 EA;
2TEN FZ RN João Nuno Bellegarde Belo da Conceição, GR n.º 1 EA;
2TEN ECN RN João Manuel Monteiro Stichaner Lacasta, Inspecção de Construção Naval;
2TEN MN RN Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos, NA «S. Gabriel»;
2TEN EMQ RN António Pedro Pacheco Costa Quintas, LF «Bicuda»;
2TEN EMQ RN António Manuel Salvador Simões Pereira, LF «Espadilha»;
2TEN EMQ RN Fernando Nunes Serra, NE «Sto André»;
2TEN EMQ RN Ismael Ventura de OLiveira Cavaco, LF «Dourada»;
2TEN EMQ RN Manuel José Pedreira de Castro Norton, LF «Azevia»;
2TEN AN RN Alexandre Ferreira Borrego, Gr n.º 2 EA;
2TEN AN RN Augusto de Athayde Soares de Albergaria, DSP-4.ª Rep;
2TEN AN RN Jorge Manuel Moura Loureiro de Miranda, DSAN;
2TEN AN RN José António da Silveira Godinho, Inspecção de Marinha;
2TEN AN RN Victos Manual da Silva Rodrigues Pessoa, DSA;
2TEN FZ RN Luis Filipe de Azevedo de Araújo Neves, Escola de Fuzileiros;
2TEN FZ RN Urbano de Sousa Moreno Marques, DSP-6.ª Rep;



Em cima: No refeitório da FF «Corte Real», da esquerda para a direita, Calado Marques, Ferreira Martins, Lema Santos, Neto Domingues e A. Martins Silva;
Em baixo: Em pleno alto mar, um exercício de lançamento de cargas de profundidade recortando-se, ao longe, a silhueta da FF «Diogo Cão».




A partir de meados de 1968, a maioria destes oficiais começou a ser licenciada; Manuel Lema Santos, com pedidos de prorrogação de permanência na Marinha, depois de ter desempenhado as funções de ajudante de ordens do Comandante Naval do Continente durante dois anos, e outros dois como oficial-adjunto no EMA, foi licenciado no posto de 1.º tenente em 1972.

Ingressaram nos Quadros Permanentes;

Na classe de Marinha, José Joaquim de Sousa Ferreira Martins;
Na classe de Fuzileiros, José Manuel de Matos Moniz e Adelino Carlos Mendes da Silva;

Decorridos trinta e seis anos desde a data do ingresso na Escola Naval, a Revista da AORN registou a memória do 8.º CEORN, curso que manteve larga participação nas actividades da Associação e encontros diversos ao longo do tempo.

Também aqui expressamos uma justa homenagem e a sentida saudade daqueles que, sempre prematuramente, já não se encontram entre nós, inexoravelmente colhidos pela lei da vida.


Observações:
Os Cadetes da classe de Fuzileiros Fernando Luis de Carvalho Mendes e Jorge Bizarro de Assis Paixão reprovaram no final do curso, motivo por que foram abatidos ao efectivo da Reserva Naval; ainda como instruendo, foi dado como inapto para prestar serviço na Armada, sendo abatido ao efectivo da Reserva Naval, o Cadete da classe de Construtores Navais Luis Leal da Silva, que recebeu guia para o Distrito de Recrutamento e Mobilização de onde tinha vindo;





Galeria de Fotos:





Fontes:
Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Dicionário de Navios & Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, 2006; Texto do autor do blogue compilado e corrigido a partir da Revista n.º 12 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, Dezembro 2000; Fotos de Arquivo do autor do blogue.

mls