05 julho 2018

Reserva Naval - Talvez por ser puto! Talvez...


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 23 de Abril de 2011)

Talvez por ser puto! Talvez...




Rio Cacheu, Guiné - A LFP «Canopus" (Lancha de Fiscalização Pequena) vs LFG "Orion" (Lancha de Fiscalização Grande)

Emídio Aragão Teixeira, amigo pessoal e antigo camarada do mesmo curso, o 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que, com mais de uma dezena de camaradas, eu incluído, fomos destacados para o cumprimento de diferentes missões na Guiné no ano da graça de 1966.

Sobre a viagem efectuada num DC6 da FAP já aqui publiquei um resumo possível:

Mal recordado diga-se, que a memória de acontecimentos idos e menos festivos refugia-se e trai-nos, dificultando a lembrança fácil e instantãnea. Emídio Aragão Teixeira, o "Mio" para familiares e amigos próximos e também para mim, foi nomeado para comandar a LFP «Deneb», Lancha de Fiscalização Pequena da classe «Bellatrix» enquanto que, a mim, me tocou na nomeação ser oficial imediato da LFG «Orion», Lancha de Fiscalização Grande da classe «Argos».

Diferenças? Em quase tudo quanto é possível em unidades navais, muito dissemelhantes nas dimensões e tipo de construção, passando pela guarnição, equipamentos e armamento, até à capacidade das missões a desempenhar.

Diferenças que se esbateram pelas condições específicas do teatro Guiné em que, operacionalmente, ombrearam lado a lado num dia-a-dia denso, diversificado e muitas vezes imprevisível, ao longo de dois anos com que foi premiada cada uma das guarnições que nelas foram desfilando - Oficiais, Sargentos e Praças - rumo a uma História ainda pouco divulgada por insuficientemente relatada. As LFP com guarnições de 7 e as LFG com guarnições de 27 homens.

Trata-se de contas simples para 13 anos de conflito na Guiné, das quais 8 LFP-Lanchas de Fiscalização Pequenas que ali ficaram atribuídas operacionalmente a adicionar a 7 LFG - Lanchas de Fiscalização Grandes. As primeiras ali foram abatidas ao efectivo e, das segundas, foram afundadas 140 milhas a oeste de Bissau as LFG «Cassiopeia» e LFG «Sagitário», por não terem condições de navegabilidade. As restantes 5 LFG juntaram-se em Angola às 3 que ali mantiveram a vida operacional, desempenhando missões até ao seu abate.

Acrescentem-se-lhe ainda 3 LDG - Lanchas de Desembarque Grandes (20 elementos de guarnição), 44 LDM - Lanchas de Desembarque Médias (6 homens de guarnição), 9 LDP - Lanchas Desembarque Pequenas (3/4 elementos de guarnição) e ainda to da uma panóplia de navios diversos que incluiu fragatas, corvetas, navios-patrulha, navios-auxiliares, navios-hidrográficos e ainda Unidades e Serviços em terra.

Obrigatório deixar igualmente aqui um espaço para assinalar os 27 DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais e as 11 CF - Companhias de Fuzileiros além de diversos Pelotões de Reforço que completaram o dispositivo naval.

Sobre a nossa ínclita viagem até à Guiné Aragão Teixeira rubricou um comentário que aqui volto a transcrever integralmente:




Meu muito caro Lema,

Lembro-me de alguma coisa a propósito da memorável viagem, ruidosa e fria, que 13 magníficos, tal onze mais dois do oceano por cima dele passando, tratámos de fazer.

Dois meses antes antes do nascimento da Karen...

Puto que eu era!

Feliz na facilidade da vida e das coisas, sem nunca se me ter apresentado a hipótese de não estar a fazer a coisa certa.

E isso talvez tenha ajudado a que, política e imagem incorrectas à parte, ainda hoje considere que foram os dois menos complicados anos da minha vida!

Talvez por ser puto! Talvez...

Talvez por ser inconsciente, o grande antídoto para o medo. Talvez...

Mas porque me lembro de quem e como era na altura, não hesito em afirmar que se voltasse atrás tudo voltaria a ser igual.

Normalmente as mesmas causas, no mesmo enquadramento, determinam as mesmas consequências.

Dizem que o verdadeiro estúpido é aquele que espera coisa diversa da já verificada!

Não me sinto pior ou melhor por ter andado por lá aos tiros do que se sentiria o Persa depois de ter perdido a guerra contra o Grande.

Mesmo que os jornais do Irão de hoje considerassem, e não consideram, o Dário como um criminoso. Vencido.

Já percebeste que estas linhas são apenas o prefácio de outras que espero escrever a este respeito.

A Pátria honrae? Talvez.

Mas cega,ninguém contempla ninguém.

Um forte abraço!

Quantos restamos dos treze?




Emídio Aragão Teixeira
8.º CEORN




Fontes:
Comentário de Emídio Aragão Teixeira, 8.º CEORN, compilado e editado pelo autor do blogue, mls; fotos de arquivo do autor do blogue com cedências de Museu de Marinha e Henrique Oliveira Pires, 11.º CFORN;


mls

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