A LFG - Lancha de Fiscalização Grande «Lira» em patrulha no rio Cacheu
(Post reformulado a partir de outro já publicado em 2006.06.20)
Para montante do Porto de S. Vicente, o leito do rio estreitava perigosamente, pouco excedendo em alguns troços, dois comprimentos de navio.
Sentia-se no ar a pestilência da bolanha, coalhada pela pesada humidade que asfixiava o ar. Pairava uma ameaça constante por detrás da cerrada vegetação.
Uma densa neblina como que amortalhava por inteiro a zona, fazendo pesar ainda mais o silêncio, apenas interrompido pelo piar agudo das aves que debandavam assustadas à passagem da lancha de fiscalização.
Apenas se ouvia o ronronar das máquinas e o ruído do gerador, abafados pelo rufo fechado. As antenas de comunicações curvavam-se para as margens, quase que roçando as pernadas do frondoso tarrafo.
Assomavam os primeiros alvores do dia, o sol coalhado pela humidade do ar deixando ver ao fundo uma embarcação de cabotagem.
Na asa de bombordo da ponte, uma metralhadora MG 42 guarnecida. Tudo parecia sossegado mas a prudência recomendava essa rotina.
Saracoteando-se ora a bombordo ora a estibordo, o Cacheu estendia-se no enfiamento da proa adivinhando-se, mais à frente, uma curva para bombordo de contornos imprecisos.
Outra e mais outra, sempre, numa dança infindável. Desfilavam em sucessão as lalas de Canja, Barro e o porto de Ganturé (Bigene) na região do Olossato.
A proa, recortada pelo reflexo da água, cortava o rio lodoso e barrento, rasgando caminho ao navio para montante, para voltar a fechar à popa. A esteira da água amortecia-se na distância, como se nada tivesse sulcado o leito.
Mais para vante, Porto Coco, Jagali e Tancroal, adensavam o receio de uma possível emboscada nas lalas com a mata ao fundo. Peças guarnecidas a bordadas ou mesmo postos de combate.
Instruções aos artilheiros pelo telefone, o trabalhar dos motores das peças de 40 mm e os cadenciados tiros de reconhecimento. A aproximação à curva seguinte e, de novo, silêncio e o tarrafo.
Lá muito a montante da foz, 95 milhas depois, Farim.
Era assim o Cacheu, místico e traiçoeiro.
Fontes:
Texto do autor do blogue com imagem de arquivo cedida por especial cortesia do CMG (fal) Carlos Dias Souto, então 1TEN e comandante da LFG "Lira".
Texto do autor do blogue com imagem de arquivo cedida por especial cortesia do CMG (fal) Carlos Dias Souto, então 1TEN e comandante da LFG "Lira".
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