29 fevereiro 2020

«Galeria Reserva Naval» vs «In Memoriam»


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 25 de Outubro de 2009)




A «Galeria Reserva Naval» foi temática já anteriormente iniciada a que regressaremos sempre que entendermos oportuno.

Ainda que utilizando nova formatação, englobaremos neste conceito publicações que poderiam ser inseridas quer sob o título “In Memoriam” quer sob o de “Galeria Reserva Naval” ou, simplesmente, com outra referência. São menções de critério pessoal, aleatórias, nunca definidoras de um universo Reserva Naval/Marinha de consenso geral.

Serão apenas algumas das possíveis escolhas face às dificuldades de pesquisa e compilação de memórias decorrentes de um período temporal com mais de meio século e muito esbatido no tempo.

Pretende representar simultaneamente um acto de justiça e consequente destaque de figuras que, pela sua personalidade e de forma relevante, tenham contribuído para a valorização e elevação da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa, na preservação da sua Memória e História.

Assim foi desde a data da criação deste blogue, no ano de 2009 e até hoje, ainda que, por iniciativa própria, tenha sido suspenso pelo autor durante um largo período. Procuraremos prosseguir este projecto desta forma, sem qualquer preocupação de ordenamento cronológico ou critério de valorimetria hierárquica na publicação, quer tenham pertencido ou não à Reserva Naval e sem restrições quanto a caracterização civil, militar ou de qualquer outra ordem.

Quer tenham prematuramente concluído a rota da vida quer sejam ainda presenças de convívios, iremos lembrando personalidades que marcaram, directa ou indirectamente, a vida da Reserva Naval no seu todo ou parcialmente.

Certamente com a preocupação única de manter viva a sua lembrança, quer num simbolismo simples de retribuição da consideração e amizade que sempre nos dedicaram, quer ainda de gratidão pelas referências ou exemplos que para nós representaram.

Nesse sentido, ao simples correr da pena e em rascunhos simples, sem a pretensão de exaustivos, iremos inserindo páginas já anteriormente publicadas ou outras que, de ora avante, nos parecer deverem ser incluídas.

Afinal, abrindo caminho a outra oportunidade de tão simplesmente relembrar!


mls

28 fevereiro 2020

DFE 2, Angola 1968/69 - Reserva Naval e «Moisés Salomão»


«Moisés Salomão» - Angola 1968/69

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 19 de Outubro de 2009)


Desde criança, não conhecia outra vida e outros mundos para além do quimbo, da lavra onde plantava e colhia a mandioca e da pesca no rio, cujo caudal sereno, prateado e calmo, na estação seca, lhe permitia andar dentro dele, com água pela cintura, deixando flutuar o cesto de canas que, ao afundá-lo, lhe mostrava, quantas vezes e com quanta generosidade, um saltitante peixe estrebuchando desesperadamente numa tentativa de fuga sem êxito.

O final anunciado, bem como o de muitos outros companheiros do mesmo mundo aquático, era, depois de abertos e retiradas as tripas, a secagem em rudimentares estruturas de paus e ramos de árvores, preparando, assim, as “despensas” da população para períodos de menos abastança.

A estação das chuvas fazia o rio perder as margens e as suas águas castanhas, barrentas espraiavam-se por quilómetros invadindo a chana, cobrindo os campos de mandioca, caminhos e picadas, isolando povoações, deixando-as resignadas e esperando serenamente que o retorno ao seu leito normal os pudesse levar de novo às tarefas agrícolas e piscatórias.

Cresceu, fez-se homem e, como todos os seus companheiros e pelos costumes do sobado, casou cedo, com a filha do soba. O quimbo ficava na região de Serpa Pinto onde se lembrava de ter ido, uma vez a pé, pela picada e de ter ficado admirado por ter visto, pela primeira vez, casas sem ser de adobe, capim e troncos de árvores.




Chilombo-1968
À esquerda: O 1.º aquartelamento do DFE2 em antigas casas de civis, abandonadas aquando do início da guerrilha em Angola; à direita: 1.º içar da Bandeira Nacional no aquartelamento do Chilombo


Brancos, já os tinha visto, pois, a tropa, de vez em quando, passava pelas suas terras e, também, “uns senhores que não eram tropa mas andavam armados como os “tropa” e faziam perguntas, entravam nas cubatas à procura de armas ou “combatentes” e, algumas vezes, davam porrada para saberem coisas…”

Uma vida sem horizontes, de pobreza e miséria, dividida entre os “tropa” brancos e os “combatentes” pretos, foi-lhe alimentando o desejo de mudar, de procurar uma nova vida. Outros, já tinham partido e já tinham voltado. Haviam contado que, para Sul, havia outras terras, outras gentes, outros trabalhos que não a mandioca e a pesca e onde se podia ganhar muito dinheiro nas minas de ouro.

Encorajado e decidido, rumou a Sul, a pé, por caminhos, picadas, mata, atravessou o sudoeste africano (Namíbia), foi perguntando onde ficavam as minas de ouro e ao fim de dois meses chegou à África do Sul onde não teve dificuldade em ser recrutado por uns senhores brancos. Por lá esteve dois longos e sofridos anos, tendo juntado os “randes” que julgava suficientes para iniciar uma nova vida.

E regressou, pelos mesmos caminhos até à fronteira com Angola. Aqui chegado, depois de atravessar o Cunene, é surpreendido por um grupo de “combatentes” do MPLA que o despojam do que havia ganho e amealhado nas minas de ouro e o conduzem a uma base de guerrilheiros para passar a integrar aquele Movimento.

Estes acontecimentos e os que lhe seguiram, iriam mudar completamente a vida que projectara! Passados meses em treinos de movimentações na mata, uso de armas de guerra e acções de guerrilha, rapidamente lhe reconheceram qualidades e aptidões para além das exigidas aos “simples” combatentes.

Os dois anos de África do Sul, nas minas de ouro, haviam-lhe aberto novos horizontes, novos conhecimentos e saberes, outras competências e uma dimensão mais alargada do mundo, da sociedade e do homem.

Os chefes não tiveram dúvidas em o mandar “estagiar” para a União Soviética, primeiro, e para a Argélia, depois. Por lá andou mais quatro anos! Aprendeu quase tudo sobre guerrilha, guerra psicológica, controlo de populações, comando e condução de homens em situação de combate na mata. Regressou a Angola “doutorado” na matéria!

As saudades da família levaram-no a visitá-la no quimbo, onde a sua ausência/desaparecimento era, de há muito, conhecida. E não só pela família e população. Os senhores que não eram “tropa” mas andavam armados como eles e que apareciam, de vez em quando, lá pelo quimbo, também já sabiam da sua longa e estranha ausência.

A sua notada chegada e curta estadia, antes de se apresentar aos chefes do MPLA, rapidamente chegou ao conhecimento da PIDE, em Serpa Pinto que, num ápice, o foi apanhar com “a boca na botija”, na companhia da mulher.

Os métodos e técnicas de interrogatório, onde a violência física era dominante, deixaram-lhe marcas visíveis para toda a vida! Conhecidas as sua actividades de ligação ao MPLA e o seu percurso desde que regressara a Angola, vindo das minas de ouro da África do Sul, foi entregue ao Comando da Zona Militar Leste que, juntamente com o Comando das Forças de Marinha de Leste (Comformarleste, Comte. Sousa Campos) logo preparou uma operação, tendo como base as informações colhidas nos inúmeros interrogatórios.

É, assim, que é recebida no Destacamento n.º 2 de Fuzileiros Especiais (DFE 2), no Chilombo, uma mensagem informando da chegada de um guia para acompanhar o Destacamento numa próxima operação. Dias depois, vindo numa coluna militar do Exército, chega ao Chilombo o esperado guia. Conduzido ao comando do Destacamento, na altura, o Imediato Dias Miguel, por ausência do Comandante Medeiros Ferreira, no Luso, logo são feitas as apresentações:

Pergunta: “Como te chamas?”.

Resposta: “Moisés Salomão”.

Era um homem baixo e robusto, feições correctas, ausência de cabelo, com sinais evidentes de cicatrizes na cabeça, fruto de espancamento que lhe destruiu parte do crânio, aparentando à volta de 35 anos. Envergava um camuflado que ajustava ao seu corpo, arregaçando as mangas e dobrando as calças em baixo, pois o tamanho seria 2 números acima do seu!

De “posse” do homem que me iria conduzir e orientar durante a operação, com ele travei diversas conversas ao longo do dia, tentando conhecer esta personagem que me iria marcar profundamente para o resto da minha vida, a tal ponto que, passados 37 anos, ainda o recordo e, por isso, aqui quero deixar este meu testemunho que não é mais do que uma sentida homenagem a um homem, um angolano, que de forma tão sentida e perene enriqueceu as minhas memórias de um período inesquecível da minha passagem pelos Fuzileiros e pela Marinha de Guerra Portuguesa.



Foto da esquerda: Da esq. para a dir. o 2TEN FZ RN Taco Calado-11.º CFORN, 2TEN FZ RN Carreiro e Silva-9.º CFORN, 2TEN MN RN Edward Limbert-11.º CFORN, Capelão da Armada Azevedo, 1TEN Medeiros Ferreira, 2TEN Dias Miguel dos QP e 2TEN FZ RN Fernando Freitas-11.º CFORN;
Foto da direita: O Grupo de Combate que realizou a operação "Campino" abaixo descrita.


A operação “Campino” integrada na “Victória II” teve início a 10 de Novembro de 1968 e tinha como objectivo montar uma emboscada junto a Cassupa (fronteira com a Zâmbia) para interceptar guerrilheiros do MPLA fugidos de uma outra operação feita pelo Exército e que teriam consigo um missionário raptado no Lumege.

A operação saldou-se por “um êxito total e resultados apreciáveis” (terminologia usual da época), tendo merecido as seguintes mensagens de felicitações:

Almirante Comandante Naval (Contra-Almirante Eugénio Ferreira de Almeida) – “COMARANGOLA felicita vivamente esse comando resultados obtidos acção Campino fazendo votos novos sucessos para prestígio vossa unidade e contribuição aniquilação do IN.”;
Comandante Sousa Campos (COMFORMARLESTE) – “Meu nome pessoal, quer como Comformarleste, desejo transmitir oficial, sargentos e praças maiores felicitações votos novos êxitos cada vez mais expressivos.”;
Comandante do DFE2 (1TEN Medeiros Ferreira) – “Particularmente grato, como comandante deste DFE, enviar valorosas felicitações êxito obtido transmitindo oficial, sargentos e praças tomaram parte acção.”




2TEN FZ RN Fernando Freitas do 11.º CFORN, comandante do Grupo de Combate,
com o Sargento Piedade, o Cabo "Puskas" e o material apreendido ao inimigo.


Para além dos acontecimentos atrás, muito resumidamente, descritos e que, naturalmente, constituem hoje parte de um património pessoal de um tempo riquíssimo que marcou e transformou a minha personalidade e o modo de estar na vida, ficou-me para sempre a recordação de um contacto humano extremamente enriquecedor com essa figura singular de seu nome Moisés Salomão.

Ainda hoje, não posso deixar de recordar as suas palavras serenas, tristes e sofridas, quando, após o fim da operação e perante os resultados obtidos (diga-se baixas causadas ao IN), se me lamentava: “ Sinhor Tinente, tudo isto não faz sentido! Andamos a matar-nos uns aos outros, quando somos todos irmãos!”.

O regresso foi festejado e todos fomos saudados pelos companheiros que nos aguardavam no Chilombo. Merecemos louvores, tiramos fotografias. Lamentavelmente, o Moisés Salomão não ficou em nenhuma!

Partiu como chegou, humilde, respeitador, muito educado.

Para nós tinha cumprido o seu dever. Será que nós o cumprimos para com ele? Não consegui evitar o deixar escapar uma lágrima de despedida. Não fiquei com uma fotografia dele e que tanto desejaria tê-la.

Deixei-lhe como homenagem e reconhecimento aquela lágrima que ele compreendeu e retribuiu.

Até sempre, meu amigo, estejas onde estiveres.


Fernando Freitas
2TEN FZE RN-11.º CFORN


Fontes:
Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; texto redigido a partir de texto e imagens cedidos pelo 2TEN FZE Fernando Dias de Freitas, 11.º CFORN, Dezembro 2000;

mls

25 fevereiro 2020

CCav 3404, Guiné, 1971/1973 - Marinha e Reserva Naval


Guiné, 1971/1973-CCav 3404, 36 anos depois do regresso

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 18 de Outubro de 2009)




Guarda de honra por pelotão e terno de clarins do RAAC de Queluz.




Um pouco por todos os municípios do país, em praças ou largos criteriosamente escolhidos, estão espalhados símbolos de um passado próximo que marcaram pelo sacrifício e sofrimento uma geração inteira de mães, mulheres e familiares, privados do convívio de filhos, pais, maridos, irmãos ou simples amigos.

São sempre carregadas de significado e emoção as cerimónias de evocação e homenagem àqueles que, numa guerra que se prolongou por uma dúzia de anos, caíram, regressaram diminuídos ou combateram ao serviço de Portugal, na Guiné, em Angola ou Moçambique.

A efeméride que teve lugar num já ido Sábado, em Cascais a 17 de Outubro de 2009, levada a cabo por elementos da antiga CCav 3404, junto ao quartel da Cidadela, no antigo CIAAC já desactivado, foi mais um exemplo dessa determinação, reunindo acima de uma centena de pessoas entre elementos da referida Companhia, Familiares, Amigos ou como meros transeuntes.

A CCav 3404, comandada pelo Cap Cav Luis Fernando Andrade de Moura juntamente com as CCav 3405/3406/CCS fez parte do BCav 3854 que embarcou para a Guiné em 4 de Julho de 1971 no NM «Angra do Heroísmo», arvorado em Transporte de Tropas. Atracou em Bissau em 9 de Julho desse mês, depois de ter efectuado uma escala no Funchal para desembarcar um militar acometido de apendicite aguda.




O NM/TT «Angra do Heroísmo».

Foi capitão de bandeira do navio o CTEN Engrácio Lopes Cavalheiro personalidade da Marinha já conhecida dos cursos da Reserva Naval por ter sido, anteriormente, um dos instrutores do 8.º CEORN na Escola Naval.

Como nota complementar curiosa, no mesmo navio e também para a Guiné, seguiu a CCav 3420 comandada pelo então Capitão de Cavalaria Fernando José Salgueiro Maia.

Nos dias 10, 11 e 13 seguintes, a LDG «Alfange», comandada pelo 1TEN João Manuel Lopes Pires Neves e tendo como oficial imediato o 2TEN RN Duarte José de Melo Borges Coutinho do 16.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, transportou para o Xime, na margem esquerda no rio Geba e um pouco acima da confluência com o Corubal, pessoal e material daquele batalhão.




O rio Geba, de Bissau até ao Xime, na margem esquerda, a montante da foz do rio Corubal.

A CCav 3405, mais tarde, efectuou o percurso por Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego, inflectindo para sudeste para Cabuca, junto ao rio Corubal e à fronteira leste, onde permaneceu durante dois anos desempenhando as diversas missões que lhe foram atribuídas.




A sudeste de Nova Lamego, a povoação de Cabuca.



No dia 12 o mesmo NM/TT «Angra do Heroísmo» regressou a Lisboa, trazendo de volta, por ter terminado a comissão, o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 3, comandado pelo 1TEN José Manuel Velho da Silva Dias que desempenhou igualmente as funções de Comandante das forças embarcadas.

Eram seus oficiais os 2TEN João Joaquim Teles Ribeiro (Oficial Imediato), 2TEN FZ RN José Pedro Pimentel Mesquita e Carmo do 14.º CFORN, 2TEN FZ RN Miguel Duarte Ferreira Castro Soares do 14.º CFORN e ainda o 2TEN FZ RN Francisco Ruy Pato de Góis Oliveira do 15.º CFORN. O navio atracou ao cais da Rocha Conde de Óbidos, no dia 17.

Mais de dois anos depois, em 11 de Setembro de 1973 a LDG «Montante» comandada pelo 1TEN Pedro Manuel Couceiro de Sousa Santos e tendo como oficial imediato o 2TEN RN José António Barbot Veiga de Faria do 21.º CFORN, trouxe de volta, do Xime para Bissau, a mesma unidade, a CCav 3404.

A 4 de Outubro seguinte, aquela unidade do Exército juntamente com outras, embarcaram de regresso a Lisboa no NM/TT «Niassa» que, já tendo sido escoltado na ida pela corveta «Honório Barreto» foi-o, no regresso e até á bóia de espera do Caió, pelo navio-patrulha «Quanza», estacionado na Guiné. Integrava a guarnição desta unidade naval o 2TEN RN Vitor Correia Guimarães do 18º CFORN.




O navio TT «Niassa».

Foi capitão de bandeira o CFR Joaquim Armando Cabeçadas da Silva Reis e a viagem decorreu sem incidentes com o apoio longínquo da fragata «Comandante João Belo», estacionada em Cabo Verde, fazendo parte da sua guarnição o STEN RN Cândido José Dominguez dos Santos do 21º CFORN. O navio foi ainda sobrevoado por um avião P2V5 Neptune daquela zona aérea.

A viagem de retorno completou-se sem incidentes e, em 11 de Outubro, depois de ter ficado a pairar em S. José de Ribamar por ter encontrado intenso nevoeiro na entrada da barra do rio Tejo, o navio atracou mais tarde ao cais de Alcântara.

A reconstrução simplificada deste pequeno “puzzle” de memória histórica, ilustra bem o notável trabalho logístico levado a cabo pela Marinha dos anos '60 no transporte e apoio às unidades militares que, como aquelas, ali estiveram estacionadas.

Simultaneamente, pode fazer-se uma pálida ideia do que representará a reconstituição detalhada do gigantesco rendilhado da memória histórica dos diferentes teatros de guerra, articulando os acontecimentos havidos pelos três ramos das Forças Armadas durante uma dúzia de anos de conflito.




Os modelos expostos por Mário Cavalleri, militar da Companhia e organizador do evento.

36 anos depois, em ambiente de agradável e são convívio, reviveram-se acontecimentos passados em que também estiveram representados alguns modelos das unidades e armamento então utilizados pelos três Ramos das Forças Armadas em serviço na Guiné, sendo visíveis um modelo da LFP «Bellatrix», outro da LDM 304, e ainda um avião Dornier DO 27.


Foi uma honra ter estado presente como convidado!

Fontes:
Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; texto do autor do blogue compilado a partir de documentação cedida por Mário Cavalleri, militar da CCav 3404; fotos de arquivo do autor do blogue;

mls

15 fevereiro 2020

Reserva Naval, 13.º CFORN - A Pátria Honrai...


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 11 de Dezembro de 2008)

O 2TEN FZE RN Hernâni Vidal de Rezende pertenceu ao 13.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval e ingressou na Marinha de Guerra em 28 de Agosto de 1968.

Promovido a Aspirante da Reserva Naval em Abril de 1969, foi destacado para prestar serviço em Angola, no DFE 10 - Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 10, de 1969 a 1971.



Mais tarde, ingressou nos Quadros Permanentes onde desempenhou diversas funções, entre as quais comandante do Batalhão de Fuzileiros n.º 3, Chefe do Estado-Maior do Corpo de Fuzileiros e Comandante da Escola de Fuzileiros, tendo ascendido ao posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra.


Fontes: Revista da Armada n.º 9, Junho de 1972

mls

12 fevereiro 2020

Reserva Naval - Primeiro Título de Condução


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 12 de Outubro de 2009)


Aproveitando as facilidades concedidas durante o tempo de prestação do serviço militar na Marinha, de entre as quais se destaca a ausência de custo para a sua obtenção, vários oficiais da Reserva Naval «tiraram» a carta de condução, após a promoção ao posto de Aspirante.

José Alvarez Cavalleri Martinho, do 1.º CEORN, foi o primeiro oficial da Reserva Naval a quem este documento foi concedido, a pedido pessoal.





Terminado o período de permanência ao serviço na Marinha, a lei permitia a troca desta carta militar pela equivalente carta civil.

Aqui fica a reprodução do documento, o primeiro de outros obtidos em idênticas condições.


Fontes:
Publicado no sitio da AORN-Associação dos Oficiais da Reserva Naval, 2009;

mls

11 fevereiro 2020

Reserva Naval 1958/1975 - II


Reserva Naval e legislação que lhe deu origem

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 5 de Outubro de 2009)




A criação da Reserva Naval remonta a 26 de Novembro de 1957 e está contida no Decreto-Lei n.º 41.399, que estabelece as bases da reorganização das reservas da Marinha em pessoal e material.

Neste diploma foram definidos os diferentes quadros das reservas da Marinha, designadamente a Reserva da Armada (Ra), a Reserva Naval (RN), a Reserva Marítima (RM) e a Reserva Legionária (RL).

No que respeita à Reserva Naval era estabelecido que os indivíduos a ela destinados seriam alistados provisoriamente, na idade militar, em contingentes a solicitar ao Ministério do Exército e fixados anualmente pelo Ministério da Marinha para as diferentes especialidades.

Esses contingentes eram constituídos por indivíduos que frequentassem ou tivessem frequentado as seguintes escolas:

Faculdade de Ciências
Faculdade de Engenharia e Instituto Superior Técnico
Faculdades de Medicina
Escolas de Farmácia
Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras
Faculdade de Economia
Instituto Superior de Agronomia

Era dada preferência aos voluntários e oferecidos e aos que possuíssem conhecimentos náuticos, possuindo carta de Patrão de Costa ou de Patrão de Alto Mar.

Finalmente, o referido Decreto-Lei remetia para o Ministro da Marinha a responsabilidade pela expedição das instruções necessárias à sua execução.

Assim, em 27 de Maio de 1958, através da Portaria nº 16.714 foram estabelecidas as condições de recrutamento e de prestação de serviço dos reservistas da Reserva Naval.

Esta Portaria, sucessivamente adaptada às realidades e necessidades da Marinha, constitui o instrumento regulador mais relevante da actividade da Reserva Naval.







Decreto-Lei n.º 41.399


Ministério da Marinha

Estado-Maior da Armada


Dada a manifesta conveniência de modificar a legislação respeitante às Reservas da Marinha para que elas possam corresponder às actuais necessidades da Armada. Usando da faculdade conferida pela 1.ª parte do n.º 2 do artigo 109.º da Constituição, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:


Capítulo I - Constituição e Organização

Artigo 1.º


São reorganizadas, pelo presente diploma, as reservas da Marinha, constituídas pelo pessoal e pelo material nele descriminados.


Artigo 2.º


As reservas da Marinha em pessoal compreendem:

(…)

II – RESERVA NAVAL, ou Reserva N, constituída pelos indivíduos que frequentando ou tendo frequentado cursos das escolas superiores, tecnicamente adequados aos serviços e especialidades da Armada, tenham nela prestado serviço militar e recebido, de acordo com as suas habilitações, instrução que lhes permita servirem como oficiais em caso de mobilização.

(…)


Artigo 10.º


A incorporação, a duração e natureza da prestação de serviço obrigatório, o alistamento definitivo, a graduação e a promoção dos reservistas da Reserva N, serão regulados por portaria do Ministro da Marinha.

a) Os reservistas da Reserva N poderão ter acesso aos postos até primeiro-tenente, inclusivé.

b) Para efeitos de actualização de conhecimentos, podem os reservistas ser convocados individualmente ou por grupos, por portaria do Ministro da Marinha, fundamentada em proposta do Chefe do Estado-Maior da Armada

(…)


Artigo 44.º


O Ministro da Marinha fará expedir as instruções necessárias á execução deste Decreto-Lei.

Publique-se e cumpra-se como nele se contém.



Paços do Governo da República, 26 de Novembro de 1957
Francisco Higino Craveiro Lopes; António de Oliveira Salazar; Marcelo Caetano; Fernando dos Santos Costa; Joaquim Trigo de Negreiros; João de Matos Antunes Varela; António Manuel Pinto Barbosa; Américo Deus Rodrigues Thomaz; Paulo Arsénio Veríssimo Cunha; Eduardo de Arantes e Oliveira; Raul Jorge Rodrigues Ventura; Francisco de Paula Leite Pinto; Ulisses de Aguiar Cortês; Manuel Gomes de Araújo; Henrique Veiga de Macedo.







Portaria n.º 16.714



Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro da Marinha, aprovar e publicar o seguinte:

1º - Na Reserva Naval, ou Reserva N, considerada no artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 41.399 de 26 de Novembro de 1957, são criadas as seguintes classes de oficiais:

a) Marinha
b) Engenheiros Construtores Navais
c) Saúde Naval – médicos e farmacêuticos navais
d) Engenheiros maquinistas navais
e) Administração naval

2º - Aos oficiais da Reserva N competem as funções próprias da correspondente classe dos oficiais do activo, na medida em que a sua preparação e treino permitirem o desempenho dessas funções. Os oficiais da Reserva N diplomados com o curso de engenharia electrónica são especializados em electrotecnia e como tal poderão desempenhar funções que respeitam a essa especialização.

3º - Enquanto não for possível recrutar directamente os oficiais da Reserva N nas universidades, o recrutamento destes será feito exclusivamente entre os contingentes de mancebos destinados pelo Exército à frequência dos cursos de oficiais milicianos e, para esse fim, o Ministério da Marinha indicará anualmente ao Ministério do Exército o número de mancebos de que necessita, especificando as habilitações escolares consideradas como indispensáveis para cada classe da Reserva N.

4º - Os mancebos destinados à Reserva N são observados por uma Junta de Saúde da Armada eos que forem apurados serão alistados, provisoriamente, no Comando de Reservas da Marinha como cadetes.

5º - Quando não for possível ministrar toda ou parte da instrução militar naval aos referidos cadetes nas escolas superiores, essa instrução será dada ou completada, nos cursos especiais de oficiais da reserva naval, seguidamente designados por CEORN, tendo em atenção o seguinte:
a) A cada classe da Reserva N corresponde um curso
b) Os CEORN são divididos em dois ciclos com uma duração total de seis meses;
c) Os CEORN compreendem instruções nas unidades e serviços da Armada e embarque em navios armados;
d) A data do início dos CEORN e a duração dos respectivos ciclos são determinadas anualmente por despacho do Ministro da Marinha.
Os planos dos cursos são revistos anualmente.

6º - Será nomeado anualmente um oficial da classe de marinha para Director dos CEORN. Este oficial,como delegado da Superintendência dos Serviços da Armada, coordenará a instrução nos vários cursos, nas diferentes unidades e serviços,organizará os programas e acompanhará os cadetes no seu embarque.

7º - No fim dos cursos, um júri constituído pelo Director da Escola Naval, como presidente, pelo director dos CEORN e por delegados das unidades e serviços que os cadetes frequentaram, determinará para cada cadete a avaliação final nas várias disciplinas cotadas de 0 a 20 valores.

8º - Os cadetes que obtiverem cota de mérito e classificação de carácter militar igual ou superiores a 10 valores juram bandeira em cerimónia a realizar na Escola Naval, serão promovidos a aspirantes a oficial das várias classes da Reserva N e alistados definitivamente na mesma Reserva, definindo a cota de mérito para cada curso, a sua posição na respectiva escala de antiguidades.

9º - Os cadetes que obtiverem cota de mérito inferior a 10 valores serão abatidos à Reserva N e alistados como primeiros-grumetes escriturários no Corpo de Marinheiros da Armada. Nesta situação completarão o período de prestação de serviço efectivo a que são obrigados, o qual será de duração igual à estabelecida para os mancebos do seu contingente que ascenderam a aspirante a oficial.

10º - Os aspirantes das várias classes da Reserva N prestarão serviço nas unidades e serviços da Armada de acordo com o estabelecido na Lei de Recrutamento e Serviço Militar para os aspirantes a oficial miliciano do Exército e durante este período serão semestralmente informados pelos respectivos comandantes e chefes. Finda esta prestação de serviço os aspirantes serão licenciados, sendo promovidos a subtenentes os que tenham obtido boas informações. Poderão voluntariamente e quando convier ao serviço da Armada, prestar serviço efectivo por períodos de um ano, seguidos ou alternados, até ao máximo de cinco períodos.

11º - Serão promovidos a segundos-tenentes os subtenentes que tendo obtido boas informações, tenham prestado um ano de serviço efectivo na Armada como subtenente ou que tenham permanecido cinco anos na Reserva N, contados desde a data de promoção a aspirante, e tendo prestado pelo menos quarenta e cinco dias de serviço efectivo na Armada como subtenente.

(...)


Ministério da Marinha, 27 de Maio de 1958
O Ministro da Marinha (interino),
Raul Jorge Rodrigues Ventura.


Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992;

mls

08 fevereiro 2020

Reserva Naval 1958/1975 - I


Recordando...

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 3 de Outubro de 2009)




1967 - Em Bissau, as LGF «Orion» - P362 e LFG «Lira» - P361, atracadas lado a lado na asa interior da ponte-cais

Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992;

mls

07 fevereiro 2020

Reserva Naval - Primeira Condecoração


Primeira Condecoração de Um Oficial da Reserva Naval

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 17 de Outubro de 2009)


Eurico Jorge Marques Antunes, pertencente ao 2.º CEORN, foi o 1.º oficial da Reserva Naval a ser condecorado pelo Governo Português, conforme Portaria de Janeiro de 1962.




Foi condecorado com a Medalha de Prata de Coragem, Abnegação e Humanidade do Instituto de Socorros a Náufragos, “por ter efectuado a tentativa de salvamento de um operário do Arsenal do Alfeite quando este caiu à água entre aponte do Arsenal e um navio patrulha, para o que se atirou à água entre a ponte e o navio, mergulhando à profundidade de seis metros e procurando no fundo do lodo, apenas pelo tacto, dada a turvação das águas, o corpo do referido operário, acabando por o encontrar e, sem qualquer auxílio, trazê-lo à superfície”

Este louvor, confirmado pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e concedido pelo Comandante do draga-minas “Pico”, CTEN Carlos da Fontoura Garcez de Lencastre foi publicado na ODA n.º 143 de 25 de Julho de 1961 e terminava assim:

“...Usando pois, das atribuições que me são conferidas pelo artigo 106.º do Regulamento de Disciplina Militar, louvo o Subtenente da Reserva Naval Eurico Jorge Marques Antunes pela elevada coragem e abnegação que demonstrou possuir quando, em condições muito perigosas e difíceis, mergulhou à profundidade de seis metros em águas turvas, fundos de lodo e no apertado espaço compreendido entre a ponte cais cheia de cortantes incrustações e o navio, junto dos robaletes, arriscando-se a ficar preso num deles, e sem auxílio conseguiu trazer à superfície o corpo do operário que jazia inanimado no fundo, dando assim provas de elevado heroísmo, decisão e iniciativa...”


Fontes:
Revista n.º 6 da AORN de Jan/Mar 1998;


mls

05 fevereiro 2020

Galeria Reserva Naval (1)


Comandante Adriano Chuquere e Reserva Naval

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 4 de Agosto de 2009)


No espaço afectivo de cada oficial da Reserva Naval, ficou certamente alocada uma área reservada para avaliações pessoais e institucionais que cada um daqueles oficiais foi registando ao longo do seu percurso dentro da Marinha.

Apreciação e avaliação de Unidades e Serviços onde estiveram integrados, mas também de Comandos em que serviram ou de Guarnições que comandaram, ao serviço Marinha por que optaram no cumprimento de um dever cívico, onde também só lhes foi dado ingressar por escolha selectiva daquela mesma Instituição.

Muito mais do que avaliar militares no cumprimento de funções e missões – disso se encarregarão a própria Instituição e a História – cada qual registou memórias de locais, encontros, acontecimentos, episódios, vivências com camaradas, populações, pessoas e até rotinas.

Em muitos casos, esse diário da caminhada, nem sempre isenta de escolhos, foi suavizada por gratificantes convivências com personalidades de notável dimensão cultural e humana, pela forma competente, cordial, afável e bem humorada com que lideravam uma equipa sob o seu comando ou como nela se integravam.




O CMG Adriano Augusto Loureiro de Chuquere Gonçalves da Cunha

Ainda que a subjectividade da selecção implique sempre o risco de alguma injustiça colateral, afirmaria que o Comandante Adriano Augusto Loureiro de Chuquere Gonçalves da Cunha corresponderia a um escrutínio alargado de possíveis escolhas dentro do universo Reserva Naval, escolha que eu próprio subscrevo, ainda que não alicerçada em alargada convivência pessoal.

Não se trata de efectuar qualquer biografia do Comandante Chuquere, objectivo que excederia saber e competência pessoais, mas antes alinhavar uma manta de retalhos de vivências havidas por uma mão cheia de oficiais da Reserva Naval que passaram sob o seu Comando, de Unidades Navais até ao Estado-Maior da Armada e da Madeira a Metangula, no Lago Niassa.

Depois de ter sido Director da Escola A/S de 1956/58 e Ajudante de Campo do Ministro da Defesa Nacional, de 1959/61, o Comandante Chuquere desempenhou, na Guiné, então como primeiro-tenente, as funções de Oficial Imediato do NRP «Tejo», de meados de 1961 até ao início de 1962 mas, ainda que nessa altura estivessem já preparadas as primeiras levas de oficiais da Reserva Naval que iriam desempenhar missões além-mar, a nenhum coube ser oficial da guarnição daquela unidade naval.




O navio-patrulha «Maio» nos Açores

Mais tarde, enquanto comandante do Patrulha «Maio», de 1962 a 1965, foram seus oficiais imediatos o 2TEN RN Gabriel Ângelo Silos de Medeiros, do 1º CEORN, de 13 de Março a 20 de Agosto de 1963 e, seguidamente, o 2TEN RN Mário Alberto Duarte Donas, igualmente do 1º CEORN, até 27 de Novembro de 1964 (passou seguidamente ao NRP «Santa Luzia» até 16 de Fevereiro de 1965 e, nessa altura, passou ao NRP «Porto Santo».

Sobre essa passagem pelos navios-patrulhas, em artigo da Revista da Armada nº 18 - Março 1973, subordinado ao título “Reserva Naval – Retalhos da vida do mar” e referindo-se ao 2TEN RN Mário Alberto Duarte Donas relatava o Comandante Chuquere:

"...Serviu como imediato do patrulha que eu então comandava, na última fase da sua longa permanência na Marinha, pois a sua passagem por cá prolongou-se por cinco anos, o que, para um oficial da Reserva Naval, não é comum.
Estive com ele há pouco tempo quando veio a Lisboa, ainda antes do último Natal e, demonstrando-me muita amizade e certa saudade me visitou, acompanhado da sua mulher e de dois filhos que eu ainda não conhecia.
Durante essa curta visita, a Marinha foi tema!
Verifiquei que no meu ex-imediato – hoje senhor engenheiro esplendidamente colocado numa grande empresa do Norte – o gosto e o entusiasmo que contraiu pela Armada se mantinham intactos.
Recordámos nessa noite cenas das comissões feitas no navio, especialmente da última, com 10 meses passados nos Açores, episódios vários da rotina de bordo, momentos agradáveis e situações de “rascada”, expectativas em manobras havidas, mas sobretudo, e sem disso especialmente falarmos, transpareceu na sua conversa, no modo como mostrava aos filhos as fotos do nosso ex-navio e outras dos meus álbuns navais, a satisfação que tivera em ter sido “destas casas”, na vida que passámos juntos, em que ele fora, ainda que episodicamente, um homem do mar.
Depois, naturalmente, veio uma troca de palavras sobre a sua actual situação, a sua vida de agora, como estava satisfeito, como vivia com gosto, dedicado à profissão que escolhera ditada pela sua vocação.
Dizia ele: De facto, comandante, estou muito satisfeito, mas quero-lhe dizer que não me importo nada, antes gosto e tenho muita honra em que o senhor, quando se distrai, me continue a tratar por imediato.
Julgo que não foi só episódica a passagem do senhor engenheiro pelo Mar!..."


No período de 1965 a 1968, já como oficial superior, desempenhou as funções de Comandante da Defesa Marítima do Porto de Caminha e veio a ser nomeado para a Chefia do Estado-Maior do Comando de Defesa Marítima dos Portos do Lago Niassa, em Metangula, no início do ano de 1969.

Durante quase dois anos, no âmbito das funções que assumiu, com cunho muito pessoal, dinamizou empenhadamente as vertentes cultural e social da vida naquela base naval, de que se destacam, como exemplos, o «Tchifuli» e o «Cancioneiro do Niassa»*.




O monte «Tchifuli»

O «Tchifuli», nome da montanha sobranceira à Base Naval de Metangula, era também o nome atribuído ao jornal do Comando da Defesa Marítima dos Portos do Lago Niassa, com um “corpo de redactores e jornalistas” constituído por pessoal da guarnição, impresso a copiador, com anedotas, textos, poemas e entrevistas.

Destacam-se, por exemplo, uma entrevista com o escultor de arte indígena "Mustaphá Makuindja" e outra com a Directora da Escola Primária de Metangula, em que a professora, Dona Ana Maria, descreve as actividades da Escola e a vivência dos seus 146 alunos, apenas dois dos quais eram brancos.




Também um postal alusivo a Metangula, desenhado e colorido pela Sra. Dª Rosa Gallego Fraxenet Gonçalves da Cunha – para todos a Sra. Dª Rosita e mulher do Comandante Chuquere - que deixou uma imagem marcante num apelo turístico à zona, em que os motivos incluíam a silhueta de uma vamp e de uma «infra-estrutura hoteleira» com as encorajadoras head-lines de «Passe as Férias em Metangula»*, "Descubra um Paraíso Secreto" e «Ténis - Desportos náuticos - Piscina - Praia».

Foram muitos os oficiais dos Quadros Permanentes ou da Reserva Naval, já referidos em anteriores publicações, que com o Comandante Chuquere colaboraram e conviveram em Metangula, enquanto Chefe de Estado-Maior do Comando de Defesa Marítima dos Portos do Lago Niassa, mística memória histórica da Marinha que ainda hoje é recreada e mantida viva.

Depois de regressar o Comandante Chuquere desempenhou as seguintes funções:

• Chefe do Serviço de Publicações do Estado-Maior da Armada e integrou, desde o seu início, a Redacção da Revista da Armada, 1971/73;

• Nomeado para desempenhar funções em Norfolk, no SACLANT, até 1976;

• Chefe do Estado-Maior do Comando Naval do Continente, 1976/77, tendo sido promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra;

• Comandante do NRP «S. Gabriel», 1977/79;

• Comandante Naval da Madeira e Capitão do Porto do Funchal, 1979/84;



O NRP «S. Gabriel"» a navegar

O facto de o Comandante Chuquere ter dirigido o último serviço em que prestei serviço na Marinha e onde dele fui adjunto, no Estado-Maior da Armada – Serviço de Publicações, em 1971/72, incentivou-me a deixar aqui mais este testemunho pessoal.


* Do «Cancioneiro do Niassa» efectuaremos um post específico;

Fontes:

Arquivo de Marinha; Revistas da Armada números 18 (Março 1973) e 26 (Novembro 1873); Apontamentos cedidos pelo Almirante Joaquim Espadinha Galo enquanto Comandante da Esquadrilha de Lanchas do Niassa; Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Setenta e Cinco Anos no Mar, Comissão Cultural da Marinha - Lanchas, 2006;



Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

01 fevereiro 2020

NRP Bérrio - Um novo fôlego até 2028?


NRP Bérrio - Um novo fôlego até 2028?


Em 24 de Setembro de 2003 por ocasião de um encontro Reserva Naval que incluiu um embarque de fim-de-semana no NTM «Creoula» iniciado na Base Naval de Lisboa, o NRP «Bérrio» encontrava-se pacatamente atracado no Alfeite.

Congratulamo-nos com a decisão agora tomada pela Marinha.





Fontes:
Texto e imagens de arquivo do autor do blogue;


mls