26 fevereiro 2021

Guiné, rio Armada - O aparecimento da primeira mina aquática em Abril de 1967







Fontes:
Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; algumas informações sobre este episódio encontrados nos arquivos do Estado-Maior do CDMG, tomando como base o auto de ocorrência levantado oportunamente pela Esquadrilha de Lanchas em Maio de 1967; Arquivo de Marinha; Pormenor da carta 285-A, de Cacheu a Barro, do Instituto Hidrográfico; Texto e fotos de arquivo do autor do blogue;


mls

23 fevereiro 2021

Guiné, nunca será demais...

...as acções das LD, LP, LDP e LDM na Guiné!

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 2 de Abril de 2010/23 de Setembro de 2017)


Na Guiné, todos os acessos a portos ou simples locais de abicagem que permitissem acesso a localidades habitadas eram demandadas por unidades navais do Comando da Defesa Marítima da Guiné quer em missões de interesse puramente operacional quer, sobretudo, nos contínuos movimentos de apoio logístico às Forças Armadas.


Especial relevo para os comboios logísticos de batelões, organizados pontual ou periodicamente, enquadrados e escoltados por LDM’s, que garantiam transporte a militares, populações, armamento e equipamento. Reabasteciam-se, por essa via, não só aquartelamentos e populações mas, simultaneamente, procedia-se ao necessário escoamento de produtos, parte integrante da economia daquele território.




Em cima uma perspectiva satélite da região de Tombali - Catió (actual) e, em baixo, um pormenor da carta militar então utilizada (1966). Anotam-se os pormenores do porto interior no rio Cadima, o porto exterior no rio Cagopere e as estradas de ligação à Vila de Catió e para Cufar



Se tem sentido referir portos ou simples locais de abicagem, a Vila de Catió (actualmente cidade), não pode deixar de ser uma referência histórica. Situada no sudoeste da Guiné, a norte das ilhas de Como, Caiar e Catunco, e a sul do Cantanhês, pertencia à região do Tombali, ao sector com esse mesmo nome - Catió. Região muito disputada militarmente pelo PAIGC e palco de tão intensos como permanentes conflitos.




Catió - Em cima, uma vista aérea e, em baixo, a pista de aviação



Tratava-se de uma localidade que pela localização, acabava por estar encravada e permanentemente sitiada numa zona que o PAIGC controlava na sua quase totalidade. Como um dos principais centros de escoamento do arroz do sul do território, em região densamente povoada, era visitada uma vez por mês por embarcações civis integradas em combóios escoltados.

O acesso fazia-se, quer pelo porto interior, no rio Cadime, afluente do Cagopere, por sua vez afluente do rio Cobade. Este último liga o rio Tombali ao rio Cumbijã e acessível a partir da confluência com o Tombali. Pelo porto exterior, situado no rio Cagopere podia fazer-se o acesso a Catió utilizando a estrada até à povoação.




A igreja de Catió

Esta última solução tinha a vantagem de dispor de maiores fundos e largura do rio para manobra das LDM e embarcações civis, embora com meios de abicagem praticamente inexistentes. A estacada existente onde se efectuava a atracação acabou quase em ruínas.

Por outro lado, a utilização do porto exterior estava permanentemente dependente da montagem de um dispositivo de segurança conveniente por parte das forças terrestres durante o tempo de permanência de navios e embarcações, normalmente 3 a 4 dias.

A outra solucão, praticamente a única ultimamente utilizada, era a do porto interior, onde existia um cais de pedra com possibilidade de atracarem as embarcações civis para operações de carga e descarga. As abicagens das LDM para o desembarque de viaturas e outro material pesado eram feitas no próprio cais, mas em péssimas condições.




Perspectiva do porto interior, no rio Cadima, completamente em seco

No canal de acesso ao porto interior, a cerca de 30 a 40 metros do alargamento onde se encontrava o cais, havia tendência para um pronunciado assoreamento, com tendência para fechar a entrada o que obrigava à dragagem. Limitação importante era também o porto interior ficar em seco no estofo da baixa-mar, sobretudo para as unidades navais que lá permaneciam durante o tempo de carga e descarga das embarcações civis.

Ali se cruzaram, em diferentes missões, militares de todos os ramos, a maioria do Exército, uma boa parte deles da Marinha - sendo que alguns Oficiais da Reserva Naval. Em encontros ocasionais ou não, ilustres desconhecidos ao tempo, ficou como que emitido um bilhete de identidade definitivo Guiné.

Décadas depois, promove encontros e cavaqueiras descontraídas, suscita relatos contraditórios, renova vivências, esbate diferenças, suscita apoios e amizade. Resumidamente, valores, que hoje configuram tesouros a preservar.

Abaixo ficam alguns testemunhos de passagens. Ainda que efêmeras, ficaram indelevelmente gravadas na História.



Em 2010.03.25, Benito Neves, em comunicação sobre "Nunca será demais" disse:

É como dizes... nunca será demais !!!!!!
É sempre um prazer navegar nas tuas águas, melhor dizendo, navegar contigo nas águas da "nossa" Guiné.
Desta vez, e mais uma vez, nas LDM, aquelas LDM que não esquecemos, que tanto nos ajudaram, que tanto nos valeram.... tanto que nem sabemos quanto!!!



Relembro-as com saudade e foi a saudade que me levou a abrir o baú das recordações e aí te envio algumas das muito poucas fotos, pintadas à mão e a pincel, que guardo das LDM.
No caso presente foi a LDM 310 e outras que não identifico mas que para ti aqui vão com um abraço.
Esta operação "Sobreiro", foi realizada no dia 21 de Fevereiro de 1967 e participaram a minha CCav 1484, a 4.ª CCaç que, na época, constituia a guarnição do aquartelamento de Bedanda, a CCaç 1591 e o Pelotão de Canhão sem Recuo 1154. O objectivo foi bater a região compreendida entre os rios Lama e o Ungauriuol.




Resultados: NT 2 mortos e 4 feridos; IN 3 mortos e, supostamente, feridos em número não estimado.
Depois de muito fogo a retirada foi feita em LDM – abençoadas - presumo que pelo rio Cumbijã, até Bedanda.
Continua a tua escrita que nos faz bem. Obrigado.

BNeves




Em 2010.03.26 mls respondeu a Benito Neves:

Sei pela tua própria boca, o que para ti e para muitos outros eventualmente mais silenciosos do que seria desejável, representou a Marinha e, particularmente, as LDM's que vos ajudavam a sobreviver naqueles lamaçais que todos pisámos.
Já que há como que um esquecimento voluntário da epopeia daquelas unidades navais, aqui substituo de quando em vez, mas sempre indevidamente, a Instituição a quem pertencerá assumir de forma inapelável esse dever moral e histórico.
Posso publicar a tua mensagem e as fotos?...apenas ajeitada editorialmente para publicação. Tenho mais...

"mls"




Em 2010.03.27 Benito Neves respondeu a mls:


Estás completamente à vontade para utilizares, como o queiras fazer, a mensagem e fotos que te enviei e que não são mais do que uma forma de gratidão que tenho e mantenho para com a Marinha.

B Neves




Em 2010.03.26 Benito Neves continuou para mls:

Há pouco dei-te uma resposta um tanto à pressa e acabei por não dizer tudo porque isto de haver horas para ir buscar os netos à escola, etc., etc., por vezes leva-nos a "acelerar" e, depois, acabamos por deixar de dizer coisas importantes que vou revelar ao mesmo tempo que respondo às questões que me pões:
... como dizia o outro: "era menino e moço" e mandaram-me para a Guiné com o posto de furriel miliciano, integrado na Companhia de Cavalaria 1484 que foi constituída no Regimento de Cavalaria 7 sito, na época, na Calçada da Ajuda.
O embarque foi feito no dia 20 de Outubro de 1965 no cais da Fundição, junto a Santa Apolónia, no paquete Niassa, com chegada a Bissau no dia 26 de Outubro.
Aqui para nós (embora esta informação conste dissimulada na história da Companhia) a viagem atrasou um dia porque foi vendida na nossa embaixada de Paris a informação de que o Niassa levaria duas bombas a bordo. Mar alto, sem costa à vista, o Niassa voltou para trás e fundeou na baía de Cascais. Depois... o espectáculo - sem sabermos o que se passava - coletes vestidos, Polícia Marítima, Mergulhadores, etc., etc, durante algumas horas. A notícia confirmou-se, segundo nos disseram, uma estaria na casa das máquinas e outra presa no casco exterior do navio.
Chegados a Bissau o nosso destino foi Nhacra onde permanecemos até ao dia 8 de Junho de 1966 - o adjunto do General Arnaldo Schultz dizia-se ter sido o padrinho de casamento do meu comandante de companhia. Na época a unidade tinha três pelotões em Nhacra, um pelotão destacado em Safim que, por sua vez, tinha uma Secção em Ensalmá e outra em João Landim.
Também aqui, em João Landim, onde cada Secção permanecia por períodos de 15 dias, posso dizer-te que só o facto de muitas vezes fundear no Mansoa o navio de fiscalização da Armada, mesmo em frente às nossas precárias instalações, permitia-nos uma noite muito mais tranquila. Também a vossa acção psicológica foi muito importante, até nestas pequenas coisas. Quantas vezes as pequenas coisas são tão importantes !!!!
Em 8 de Junho de 1966 embarcámos para Catió, com paragem em Bolama, como era da praxe.



Em Catió a CCav 1484 ficou em intervenção ao sector até ao dia 20 de Julho de 1967 e aqui, sim, soubemos o que era atravessar rios a vau, o que era ficar atascado, o que era o tarrafo, a mata, as operações, os feridos e os mortos.
Na parte das operações a minha sempre enorme gratidão para com a Marinha, para com a Força Aérea e outras forças que connosco colaboraram.
Para além da actividade operacional – verdade seja dita que em Catió todas as actividades eram operacionais - fizémos, em Cufar, a rendição da CCaç 763 (do Mário Fitas) e ali aguentámos até à chegada da CCaç 1621 (do Hugo Moura Ferreira) e estivemos no Cachil, na Ilha do Como, por mais de 30 dias, para rendição da CCaç 1587.
E, agora, algo de muito importante que me tinha ficado por dizer:
Quanta gratidão para com os homens da LP2 que, fundeados em Catió, diariamente, transportavam a água e o pão para a Companhia que se encontrava aquartelada no Cachil.




Quantas vezes com eles naveguei? Não sei mas foram largas dezenas. Quanto trabalho aquilo dava? Era muito, mas feito com gosto por quem tinha vinte anos. Carregar os barris, navegar pelo rio Cagopere até ao cais interior de Catió, descarregar os barris da lancha e voltar a carregá-los na Mercedes ou na GMC, ir enchê-los ao quartel de Catió. Voltar ao cais... esperar que a nova maré nos colocasse a lancha ao nível do cais para carregamento e nova viagem.
Quantas vezes, quase sempre, nestas viagens navegava connosco o medo de uma bazookada ou uma canhoada que nos afundasse.




As fotos que vão em anexo são do álbum do Victor Condeço, com quem entretanto falei e me autorizou a enviar-tas com liberdade de as utilizares como quiseres. Diz-me o Condeço que está convencido que te terá enviado estas fotos faz algum tempo. Portanto... liberdade de utilização.
Meu caro Lema, meu caro Amigo: Despejei o "saco", verti sentimentos e gratidão, gratidão eterna, pelo menos enquanto viver. E provavelmente por estas e por outras é que nos atrevemos a dizer que a rapaziada que passou pela Guiné é diferente da que esteve noutras partes do Império.
Já te dei que fazer. Corta, altera, modifica, faz como quiseres sem alterares o meu respeito e gratidão. Quanto à parte do Niassa ter voltado para trás, transcrevo-te o que está escrito na história oficial da CCav 1484:
"Em virtude de um alarme especial, o "Niassa" esteve fundeado em frente a Cascais, sofrendo assim o atraso de um dia. A viagem decorreu depois com normalidade, realizando-se a bordo palestras, sessões de cinema e jogos, tendo-se efectuado ainda um exercício de salvamento".
...as minhas desculpas pela longa mensagem.

B Neves




Em 2010.03.30 Victor Condeço comunicou a mls:

Vou enviar-te uma colecção de fotografias relacionadas com a Marinha, porto interior e exterior de Catió e também com a própria vila.
Delas farás o que entenderes, penso que te não servirão para muito mais do que a não ser vê-las.
Não têm particularidades para o teu trabalho, mas como diz o outro ‘quem dá o que tem...’
Não tenho fotos que digam respeito ás LDM’s em particular.
Julgo que se vislumbra numas das fotos no porto interior a LDM302, pelo menos num toldo consegue ler-se 302... que terá feito escolta a um comboio de reabastecimento em Setembro de 1967.
Para além de não ter fotos, não tenho memória visual de outras passagens.
Tenho para mim a ideia que as LDM’s teriam, dada a pouca largura do rio Cadime na zona do porto, que era digamos o início do rio propriamente dito, alguma dificuldade em manobrar para voltar a sair e por isso não iriam ali com muita assiduidade, ficando-se pelo porto exterior no rio Cagopere.



Do movimento no porto de Catió, para além dos barcos civis, batelões dos Correia e Gouveia o que mais recordo é a LP2, a lancha de apoio ao Cachil e que ali tinha o seu porto de abrigo.
A sua tripulação era gente boa, bons camaradas dos quais infelizmente já não recordo os nomes, com eles fiz (fizemos) grandes petiscadas, umas a bordo como se vê nas fotos, outras vindo eles ao quartel.



Das fotos que em tempos te mandei, penso que eram relativas à lancha Canopus no porto exterior e não sei se da LP2.
A propósito andei a fazer umas pesquisas sobre as LP e encontrei coisas curiosas, foram aumentadas 4 ao efectivo em 1963 e abatidas 4 menos de um ano depois, não obstante em 68 ainda estava em funcionamento pelo menos a LP2, junto envio também um doc do Word onde anotei essas curiosidades.
Manuel, se alguma das fotos te suscitar algum interesse e quiseres saber algo mais ou algum comentário, é só dizeres qual é, tentarei corresponder.
Peço desculpa por me ter alongado e nada ter adiantado relativamente às LDM.

Victor Condeço




Em 2010.03.31 mls respondeu a Victor Condeço:

Agradeço-te a valiosa colaboração no esforço de trazer a lume elementos quase desconhecidos sobre LDM's e LDP's em que me envolvo com facilidade. Procuro fazê-lo apenas pontualmente, na expectativa de que estas nossas linhas encontrem eco em quem de direito.
Algum desinteresse institucional acaba por ser colmatado, algo parcialmente, por antigos militares de todos os ramos que conheceram de perto a vivência daquelas guarnições, muitas vezes delas dependendo no abastecimento. Aí estaremos a referir toda a logística da Guiné em que se incluem a maioria dos aquartelamentos e Catió especificamente.
Também tem muito a ver com a Reserva Naval porque os combóios de abastecimento a Catió, Impungueda, Bedanda, Cabedú, Cacine e Gadamael eram na maior parte das vezes escoltados por LDM's integradas nos combóios com comando de oficiais subalternos, da Reserva Naval ou não e Fuzileiros ou não. Bom, mas a seguir teríamos de começar a efectuar outras abordagens como o Cacheu e não só. Voltemos ao nosso tema.
A escolta era completada em alguns troços, no Cobade por LFP's e no Cumbijã ou Cacine por LFG's, além do apoio aéreo. Chegou a haver combóios com 14 batelões ou embarcações. Imagina que granel imenso, uns com motor outros rebocados, marés que não davam tréguas, avarias e limitações de vária ordem e o velho IN à espreita para o habitual e variado foguetório de saudação.
Eu próprio, saindo da "Orion" no Cacine, efectuei uma operação com a LDM 307 e a Companhia estacionada em Cabedú.
Também tens razão ao afirmar que as LDM's se ficavam normalmente pelo porto exterior, no Cagopere, onde havia uma estacada que depois acabou arruinada, embora se tivesse de percorrer o resto do caminho para o aquartelamento por estrada.
Quanto a legislação, verifico que te manténs atento e vigilante. Certamente não serão reminiscências de Catió, mas a necessidade de rigor no teu xadrez histórico.
As primeiras Lanchas Patrulhas LP1 e LP2 e de Desembarque, LD 1, LD 2, LD 4 e LD 6 ainda participaram em diversas operações incluindo a "Tridente", em 1964.



As LD's 2 e 4 (mais tarde LDP's 102 e 103) com fuzileiros a bordo, vendo-se ao fundo a fragata "Nuno Tristão"; participaram todas na operação "Tridente"

As LD's (não LP's) de 1 a 7 vieram a dar origem às LDP's com o mesmo número. Pela sua reduzida autonomia e capacidade operacionais, quando comparadas com as LDM's, as área de actuação, salvo casos pontuais, passaram a desenvolver-se preferencialmente em águas mais próximas da base, em Bissau.
Mais tarde, ainda foram fabricadas as LDP's 108 e 109 mas a primeira foi para Angola e a segunda ficou aqui no Continente. A LDP 107 (ex-LD 7) foi para o Lago Niassa.
A LDP 103 (ex-LD 3) ficou para instrução na Escola de Fuzileiros e, em 1969, foi adaptada como meio de transporte do NA Sam Brás que estava em Moçambique e lá foi entregue.
Foram todas construídas nos Estaleiros Navais do Mondego. A maioria voltaram a ser renomeadas. Assim:
– LD 1 > LDP 101 (1963) > LDP 301 (1965) - Guiné
– LD 2 > LDP 102 (1963) > LDP 302 (1965) - Guiné
– LD 3 > LDP 103 (1963) > Escola de Fuzileiros (Instrução) > Sam Brás (1969)
– LD 4 > LDP 104 (1963) > LDP 303 (1965) - Guiné
– LD 5 > LDP 105 (1963) > Angola (Rio Zaire e Leste)
– LD 6 > LDP 106 (1963) > LDP 304 - Guiné
– LD 7 > LDP 107 (1963) > Moçambique (Lago Niassa)
– LDP 108 > Angola (Rio Zaire)
– LDP 109 > Continente
Julgo que a "302" a que te referes em "Catió" terá sido a LDP 302. Parece-me vislumbrar, na foto, o tipo de cobertura adoptado nas LDP mas deixo lugar a alguma dúvida.



Na foto da LFP "Canopus", reenviada agora por ti, reconheço sentado a meio do convés o meu camarada e colega de curso o Carlos Alberto Lopes, comandante daquela unidade naval. Espero bem que também esteja atento porque será uma foto extremamente invulgar com a lancha atracada ao cais de Catió, quase em seco.
Espero ter acrescentado algo útil ao teu já alargado conhecimento desta temática...

"mls"




Fontes:
Arquivo de Marinha; Revista da Armada; fotos de Victor Condeço, Benito Neves e arquivo do autor do blogue; Setenta e Cinco Anos no Mar, 17.º Vol, 2006, Comissão Cultural da Marinha; carta do IICT, escala 1:50000.




Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

19 fevereiro 2021

Guiné, 1964 - Operação «Hitler» no rio Camexibó


STEN RN Abel Fernando Machado de Oliveira - 5.º CEORN, ferido em combate na Operação «Hitler»

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 9 de Fevereiro de 2010)


Esta operação foi antecedida de um cuidadoso planeamento por parte do Comando de Defesa Marítima da Guiné com base em alguns pressupostos importantes.

O PAIGC, no decorrer do ano de 1963 tinha-se apoderado de várias embarcações comerciais de que, com algum significado, podem referir-se a «Mensageira» e a «Persistente», ambas à vela e semelhantes nas dimensões ou na capacidade de carga, a «Mirandela», a «Arouca» e o «Bandim» todas com motor e casco de ferro, com características restantes variadas e ainda a «Bissau», também com casco de ferro mas à vela, como as primeiras.

Havia o propósito claro de o PAIGC vir a utilizá-las no transporte de armas, munições, pessoal e abastecimentos a partir das bases de Kadigné, Sansalé e Kandiafara, instaladas na Guiné Conakry, na região de Boké, para lá da fronteira sul do nosso território.

Kandiafara representava como que uma testa de ponte para o início do apelidado "Corredor de Guileje".



Em cima: O curso do rio Cacine, para montante da povoação com o mesmo nome, sendo visíveis, a noroeste, os aquartelamentos de Gadamael(Porto) e Guileje, e a norte, no rio Cumbijã, as povoações de Bedanda e Cufar, ambas com pistas de aviação.
Em baixo: A barra do rio Cacine, a povoação onde existiu um aquartelamento com um grupo em Cameconde, a cerca de oito quilómetros, as povoações de Cabedú e Cacoca e as ilhas da Canefaque e Cambom cortornadas pelos rios, Camexibó, Nhafuane e Inxanche, este último fronteira natural com a Guiné Conakry.




À época, a ainda não existência de cartas hidrográficas dos rios Cacine e Cumbijã dificultava qualquer tipo de acção naquela zona pelo que decidiu o Comando de Defesa Marítima da Guiné efectuar o reconhecimento prévio.

Para isso socorreu-se da presença do NH «Pedro Nunes» na área que se encontrava a efectuar trabalhos hidrográficos na barra do rio Cacine e que, com apoio do radar, conduziu a navegação da LDM 305 na entrada do rio Camexibó, com a guarnição reforçada com elementos da Companhia de Fuzileiros n.º 3.

A 26 de Fevereiro de 1964, praticamente na preia-mar e sem bandeira, a lancha entrou naquele rio surpreendendo, quase de seguida, nas margens, um grupo inimigo a curta distâcia. Depois de breve troca de vozes à distância, e antecipando-se, a lancha abriu fogo sobre a margem. O grupo abandonou o local deixando várias baixas no terreno.

Depois de continuar a progressão para montante, já de bandeira içada, verificou-se ser possível contornar as ilhas de Canefaque e Cambom com uma embarcação do tipo LDM, utilizando os rios Camexibó, Nhafuane e Inxanche.

No dia seguinte, aquando do regresso, na aproximação à foz, com a maré próxima do estofo da baixa-mar, foi a lancha defrontada com a existência de uma saliência rochosa impeditiva da saída. A necessidade de aguardar pela enchente com melhores condições de maré, deu tempo a que fosse montada violenta emboscada das duas margens a que a guarnição respondeu com todo o armamento, rechaçando o ataque.

Após mais alguns confrontos e a destruição de várias canoas foi efectuado o regresso a Bissau, em 1 de Março, com a certeza de que o inimigo estava muito bem armado na zona e que podia progredir para Cassumba, Cassantene e Campeane sem ter de utilizar o rio Cacine. Podia efectuar todo o tipo de abastecimentos a partir do interior da Guiné Conakry utilizando, para o transporte, aquele curso de água fronteiriço, o rio Inxanche.

Depois de análise detalhada das informações disponíveis, de fotografia aérea da zona e dos levantamentos hidrográficos efectuados até à data, foi decidido pelo CDMG lançar a operação de nome de código «Hitler», comandada pelo 1TEN Alpoim Calvão do DFE 8.

Numa primeira tentativa, a 30 de Abril de 1964 largaram de Bissau para a marca Samba, na foz do rio Cacine, a LFG “Dragão” e as LDM’s 304 e 306. Foram montar emboscadas no rio Nhafuane, com pessoal num ilhéu, complementadas com botes junto á base de Kadigné.

Era objectivo a intercepção de qualquer embarcação que demandasse aquele rio para montante, visando o transporte de armas e pessoal para, através das ilhas de Cambom e Canefaque, cambarem para as zonas de Campeane, Cassumba, Cassebeche e Cassantene sem recorrerem ao rio Cacine.

O grupo era comandado pelo STEN FZE RN Abel Machado de Oliveira, do 5.º CEORN que ficaria emboscado no ilhéu. Em 1 de Maio, já noite fechada, foi ali desembarcado pela LDM 306 que, além de material de combate, levava também material de distracção diverso, livros e revistas.Com uma espera a adivinhar-se longa era necessário passar o tempo.

Na ida para montante a lancha foi flagelada e, depois de largar pessoal e material, inverteu rumo com dificuldade devido à escassa largura do rio, já no regresso, foi novamente atacada, de ambas as vezes sem consequências.

As condições de permanência ali eram, só por si, extremamente agrestes. A amplitude de marés e o início da estação das chuvas obrigavam a que o pessoal se mantivesse empoleirado na vegetação com metro meio de altura de água na preia-mar.

No dia 5, a impossibilidade de posicionar botes na proximidade de Kadigné e as informações negativas recolhidas de um prisioneiro sobre eventual tráfego do PAIGC na zona levaram, no conjunto, a cancelar a operação e adiá-la para dia 15, montando o mesmo dispositivo.

Desta feita, com tornados eminentes, as condições tornaram-se ainda piores e o navio de apoio, a LFP “Canopus”, via-se em palpos de aranha para aguentar a mareta sem garrar. Alpoim Calvão decidiu-se pela retirada.

A LDM 306 recolheu o exausto pessoal confinado ao ilhéu do rio Nhafuane e, depois de uma difícil manobra de inversão, iniciou o percurso ascendente. Ainda bem longe da foz, com tempo e bem preparado, o inimigo tinha posicionado em ambas as margens um corredor de fogo superior a duas milhas, com armamento ligeiro, metralhadoras pesadas e morteiro.

A guarnição da LDM e reforços, reagiram prontamente com todo o armamento disponível conseguindo ultrapasssar com êxito a zona de morte mas sofrendo a lancha 58 impates.




STEN RN Abel Fernando Machado de Oliveira - 5.º CEORN
Medalha da Cruz de Guerra de 3.ª classe


O STEN FZE RN Abel Fernando Machado de Oliveira foi atingido por um estilhaço, ficando gravemente ferido na cabeça o que obrigou à sua evacuação. Veio a ser agraciado com a Medalha da Cruz de Guerra de 3.ª classe.


As operações naquela zona foram suspensas e, apenas cinco anos depois, se regressou operacionalmente àquela área.


Foi Comandante do DFE 8 o 1TEN Guilherme Almor de Alpoim Calvão, seu Imediato o 2TEN José Manuel Malhão Pereira e 3.º Oficial o STEN FZE RN Abel Machado de Oliveira. Este último, ferido em combate, veio a ser substituído pelo 2TEN RN FZE José Luis Couceiro;

Comandava a CF3 o 1TEN Alexandre de Carvalho Wandschneider, era seu Imediato o 1TEN Fernando Bernardino Pinto, ambos dos QP's e os restantes oficiais, os 2TEN FZ RN Manuel Hernâni Barros Gomes de Vallera, 2TEN FZ RN António Fernando Salgado Soares e 2TEN FZ RN Bernardino António Dias de Oliveira, todos do 5.º CEORN, além do STEN MN Fernando Benedito Andres;

Comandava a LFG «Dragão» a 1TEN José Alberto Lopes Carvalheira e era seu Imediato o 2TEN RN Godofredo dos Santos Marques dos Reis;

Comandava a LFP «Canopus» o 2TEN RN Luis Pinto Fernandes Sequeira do 4º CEORN;

Fontes:
Fuzileiros - Factos e Feitos na Guerra de África 1961/74 - Guiné, Luis Sanches de Baêna, 2006; texto compilado de "De Conakry ao M.D.L.P.", Editorial Intervenção, Alpoim Calvão, 1976; fotos de arquivo do autor do blogue; pormenores da Carta da Província da Guiné, Ministério do Ultramar, 1961; Arquivo da Marinha; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Ordem da Armada 1.ª Série n.º 33 de 17.7.1964;


mls

12 fevereiro 2021

Ainda o Tancroal no rio Cacheu - Operações "Antares" e "Alpheratz" a 27 de Janeiro de 1968


Duas semanas depois os Fuzileiros regressaram ao local.



Duas semanas depois da emboscada do PAIGC à LFG «Lira» no Tancroal, em 13 de Janeiro de 1968, a Marinha voltou ao local com 2 Destacamentos de Fuzileiros Especiais em 27 de Janeiro desse mesmo mês. Com os Destacamentos de Fuzileiros Especiais - DFE12 embarcado na LFG «Lira» e o DFE10 embarcado na LFG «Hidra» organizando as Operações "Antares" e "Alpheratz" tipo batidas e varrendo toda a área.



Fontes:
Textos compilados a partir de documentação do arquivo de Marinha (COLOREDO e CDMGuiné) com imagens de arquivo do autor do blogue;


mls

08 fevereiro 2021

Moçambique - A Marinha em Porto Amélia nos anos 60/70


Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090621






Fontes:

Texto do autor do blogue compilado e corrigido a partir de «Setenta e Cinco Anos no Mar - Lanchas», Comissão Cultural de Marinha, 2006; Ordem da Armada; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa,1992;



Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

06 fevereiro 2021

Moçambique - Marinha em Porto Amélia (I)

Reserva Naval em Porto Amélia - Pemba
LFP-Lanchas de Fiscalização Pequenas «Sirius»-P1154 e «Vega»-P1155

Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090318/20200119





Fontes:

Texto do autor do blogue compilado e corrigido a partir de «Setenta e Cinco Anos no Mar - Lanchas», Comissão Cultural de Marinha, 2006; Ordem da Armada; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa,1992;



Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto