16 setembro 2017

1970 - A Marinha em Angola, Fuzileiros no Zaire, Parte I

Sentinelas do Rio – Fuzileiros no rio Zaire

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 23 de Setembro de 2009)





O rio Zaire, fronteira natural de Angola, com fortes correntes de 4 a 8 nós, foi sempre utilizado pelos terroristas para as infiltrações no território. Ao longo das 90 milhas de margem fronteiriça, cabia à Marinha, com um dispositivo naval de Lanchas e Fuzileiros a fiscalização de margens e múltiplos canais.

No pequeno trecho filmado que se apresenta, os fuzileiros embarcam na fragata «Vasco da Gama» que larga das Instalações Navais das Ilha do Cabo (INIC) em Luanda, com armas e bagagens, rumo ao norte, numa viagem que os levará aos diferentes postos de vigilância do rio Zaire.

Depois do transbordo para uma LDM – Lancha de Desembarque Média, esta unidade continuará para montante do rio, rendendo nos diferentes postos os camaradas que completaram as suas missões: Quissanga, Pedra do Feitiço, Puelo, Macala e Tridente.

Ao longo do percurso são visíveis os vestígios gravados no tempo pelas guarnições que ali passaram: “Cais construído pelo Destacamento n.º 11 FZE – os Rangers, Maio de 1965”.

Mais a montante “Homenagem dos que partem aos que ficam na defesa das fronteiras de Portugal eterno – Destacamento n.º 6 FZE”, num obelisco ali construído. No posto do Tridente também os sinais da passagem do DFE 13.

Foram dezenas os oficiais da Reserva Naval que ali cumpriram as suas missões em Unidades Navais, quer em Fragatas, LFG ou LFP, quer em Destacamentos ou Companhias de Fuzileiros. A própria fragata «Vasco da Gama» é também disso um testemunho com a passagem do 2TEN RN Luis Lourenço Soares de Albergaria Ambar, 5.º CEORN que, desde 27.10.63 pertenceu à guarnição daquela unidade naval que, mais tarde, cumpriu uma comissão em Angola de Agosto de 1964 a Abril de 1966. O navio era comandado pelo então CFR Rui Ferreira Molarinho do Carmo.

O filme dirá respeito a uma outra comissão da fragata «Vasco da Gama» em Angola, de Maio de 1970 a Agosto de 1970, sob o comando do CFR António de J.B.B. de Carvalho. Haverá certamente testemunhos que o confirmem ou rectifiquem em caso de lapso.




Locução de Júlio Isidro.



Fontes:
Cópia de filme editado pelo autor ao blogue a partir de retalhos gentilmente cedidos pela Escola de Fuzileiros, a partir de película rodada, ao tempo, com a colaboração da Marinha; Fuzileiros-Factos e Feitos na Guerra de África, 1961/1974, Angola, Luis Sanches de Baêna, Comissão Cultural de Marinha, 2006; fotos de arquivo do autor;


mls

02 setembro 2017

Guine 1970, DFE 21 (Parte I) - Destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos e Reserva Naval

DFE 21 - O primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais da «Série 20»

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 23 de Maio de 2010)

Parte I





“….Enquadrando-se na política do Comando-Chefe das Forças Armadas na Guiné, em 21 de Abril a Marinha activou o primeiro destacamento de Fuzileiros Africanos na Guiné, o DFE 21.

Para ingressar nos quadros de Fuzileiros Especiais Africanos do Comando de Defesa Marítima da Guiné foram seleccionados 150 dos 900 voluntários que se apresentaram para servir nas forças especiais na Marinha.




Bolama - Centro de Preparação de Fuzileiros

A adesão maciça de pessoal é facilmente entendível já que era ronco ser Fuzileiro Especial e ganhava-se manga de patacão.

Na selecção de pessoal foi dada preferência aos assalariados do Comando de Defesa Marítima, dos Serviços de Marinha, guias das Unidades de Fuzileiros, impedidos das câmaras dos navios e das messes de oficiais, pessoal na generalidade familiarizado com a vida na Marinha.

Também foram admitidos estivadores e pessoal que já cumprira o serviço militar em companhias de milícias ou caçadores nativos.
Não pois preocupação de maior em seleccionar indivíduos em conformidade com o seu chão ou etnia, erro esse que foi logo detectado e corrigido posteriormente na formação do DFE 22.




Bolama - Caserna do Centro de Instrução

Foi ocupado um barracão em Bolama que, com umas apressadas adaptações passou a servir simultaneamente de coberta, sala de aula, refeitório, etc. Baseada nos planos de curso em vigor na Escola de Fuzileiros foi ministrada uma instrução acelerada e, de certo modo, improvisada.

Os oficiais e sargentos bem como alguns cabos e marinheiros eram metropolitanos, rendendo-se individualmente no final de cada comissão. A Escola de Formação de Fuzileiros então instalada passou a ser designada por “Centro de Instrução”. Para comandar a nova Unidade foi nomeado o 1TEN FZE Raul Eugénio Dias da Cunha e Silva…”


Este Destacamentos de Fuzileiros Especiais, o DFE 21, viria a tornar-se uma das Unidades de maior protagonismo na Guiné, entre 1970 e 1974. De especial relevo e importância para a estratégia de guerra então prosseguida, assumiu projecção histórica com a participação na Operação “Mar Verde”.




Um pormenor da preparação do DFE 21

O comando do DFE 21 integrou maioritariamente Oficiais da Reserva Naval sendo que, dos 14 oficiais que por lá passaram ao longo dos anos, 12 pertenceram àquela classe.

Ainda que dois daqueles oficiais, caso dos Comandantes do Destacamento, tenham ingressado nos Quadros Permanentes, também foram originários da Reserva Naval.




Fontes:
Filme editado pelo autor do blogue a partir de retalhos de filme cedidos gentilmente pela Escola de Fuzileiros, a partir de película rodada na época pelos Serviços Cartográficos do Exército em colaboração com a Marinha; extracto de texto de Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, 1961/1974, Crónica dos feitos da Guiné, Luís Sanches de Baêna, Comissão Cultural de Marinha, 2006; fotos cedidas pelo Arquivo de Marinha.


mls