16 fevereiro 2022

"Os perigos de uma única História" e a Reserva Naval


"Os perigos de uma única História" - Reserva Naval vs AORN

(Post republicado a partir de outro já inserido em 7 de Fevereiro de 2016)

"...Uma história única cria estereótipos. E o problema com os esteótipos não é eles serem mentira, é serem incompletos. Fazem com que uma história se torne na única história ... A consequência da história única é isto: rouba a dignidade às pessoas..."
Chimamanda Ngozi Adichie





Há tempos atrás, deparei na caixa de correio com um texto da conferencista Chimamanda Ngozi Adichie, escritora nigeriana de nacionalidade, reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras anglófonas que está a atrair, com sucesso, uma nova geração de leitores de literatura africana e que aconselho vivamente a ler. Não satisfeito com uma primeira leitura transversal menos atenta, voltei a ler, reli novamente e repeti ainda uma última vez.



Fixando-me apenas na analogia, vou deixar de lado quer o tema visado que a conferencista aborda de forma tão simples como acutilante, quer a forma e espírito com que o fez. Confinar-me-ei a uma marcada identificação com a ali tão bem reafirmada aversão cultural à construção estereotipada de modelos de uma única história.

Uma única história, repetida e divulgada sistematicamente sempre da mesma forma, retira a possibilidade de lhe acrescentar outras mais-valias, suportadas num contraditório dinâmico de uma possível segunda versão. Versão que complete uma história que se deseja de consenso alargado, alicerçada em testemunhos de factos e acontecimentos relatados pelos que a viveram e nela participaram.

Mas afinal que tem a ver este meu deambular sobre o perigo de uma única história com Reserva Naval vs AORN? A Reserva Naval compreende um universo constituído por uma classe de oficiais que pertenceram à Marinha de Guerra Portuguesa, naquela qualidade e enquadrados na e sob a responsabilidade da casa-mãe, a Armada.

A AORN–Associação dos Oficiais da Reserva Naval foi e será apenas uma associação constituída por sócios que terão sido ou não oficiais da Reserva Naval, de acordo com os estatutos daquela e que a ela tenham aderido mediante o pagamento de uma quotização numa das diversas classificações estatutárias de "admissibilidade de sócio" previstas.

Será obrigatório acrescentar que a condição sócio originário apenas poderá ser atribuída a um antigo Oficial da Reserva Naval de acordo com o estabelecido no "...Artigo Quinto dos Estatutos - Dos Associados , UM, alínea a): Todos os que tenham servido como Oficiais, na Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa, criada pelo Dec.-Lei nº 41399 de 26 de Novembro de 1957..."

Pode afirmar-se com propriedade que houve 3.598 oficiais da Reserva Naval da Marinha de Guerra. Entre 1958 e 1975 a Escola Naval formou 1.712 oficiais em 25 cursos das mais variadas classes. Entre 1976 e 1992 esse número foi acrescentado de mais 1.886 novos oficiais, correspondentes a 943 cadetes integrados em 41 cursos realizados da Escola Naval e a outros tantos 943 cadetes, em 37 cursos levados a cabo na Escola de Fuzileiros.

Dos 1.712 oficiais dos primeiros 25 cursos, cerca de 50% terão sido mobilizados para as mais diversas funções e missões na então Guerra do Ultramar/Guerra Colonial, nos teatros de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. Como notas curiosas, em Macau também prestou serviço um oficial e até mesmo em Timor desempenharam missões outros 2 oficiais da Reserva Naval.

Foram missões e serviços de complexidade variável, alguns deles de elevado risco, onde tiveram cabimento a nomeação para comandos e outras missões em unidades navais ou de fuzileiros, desde simples acções de fiscalização e patrulha até ao combate, em transportes, apoios, escoltas e também ainda servindo em unidades ou serviços em terra, ombreando com oficiais dos Quadros Permanentes e dos outros Ramos das Forças Armadas.

A AORN é a única associação existente que, desde 1995, ano da sua fundação, representa aquele conjunto de oficiais, enquanto sócios. No decorrer do tempo de vida da associação, ao longo de vários mandatos directivos têm sido diversos os "avisos à navegação", relativos a um percurso que parece estar a revelar-se escasso na prossecução dos princípios estatutários por que se deveria reger a colectividade e os objectivos a atingir.

Poderá a história da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa e dos seus 3.598 oficiais que por ela desfilaram vir um dia a ser devidamente salvaguardada, no espaço e no tempo, por espólios diversos constituídos por documentos, imagens, relatos e testemunhos, deixados à guarda da AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval, na qualidade de sua fiel depositária?

Terá a AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval ganho a confiança da Instituição Marinha - Armada - e de um conjunto significativo de antigos oficiais da Reserva Naval, sócios e outros associados, para que lhe venha a ser conferido o pleno direito de exercer essa qualidade de representante única e fiel depositária de tão importante memória histórica?

Pessoalmente, julgo que não! Parece-me razoável que pairem muitas dúvidas por esclarecer. O inexorável relógio do tempo, estreitando cada vez mais o horizonte de sobrevivência da AORN ao último Reserva Naval vivo ditará, ou não, da veracidade desta minha inqualificável profecia de Velho do Restelo.

Assumo que, integrado no conjunto das responsabilidades partilhadas, não terei tido a capacidade, eu próprio, de “levar a carta a Garcia” enquanto sócio e colaborador até meados do ano de 2004. Também depois, apenas como colaborador externo até ao final do ano de 2014, com o espírito Reserva Naval de que me orgulho de estar permanentemente imbuído.

Ter-me-á faltado certamente engenho e arte para debater objectivos e temas com os meus pares ou terei aceite demasiadas vezes a condição de remetido ao silêncio nas reuniões de trabalho e acções em que participei e foram muitas.


Em qualquer caso, continuarei a ser detentor da inalienável qualidade adquirida de antigo oficial da Reserva Naval da classe de Marinha do 8.º CEORN. Foi um privilégio pessoal e uma mais-valia académica, profissional e humana a que, orgulhosamente, posso acrescentar a invulgar situação de ter sido licenciado no posto de 1.º tenente, em 1972, por efeito do prolongamento voluntário do tempo de serviço prestado na Marinha.

Ao longo destes últimos anos terei ganho motivação suficiente para me manter a rabiscar num modesto blogue pessoal iniciado em 2006, a título meramente pessoal, farrapos de memórias Reserva Naval, expressando livremente opiniões, publicando relatos, imagens e documentos ou simplesmente divulgando notícias que considerei de interesse cultural.

Para esta dimensão, sem pretensões, ultrapassada a encorajadora fasquia de 311.000 visitas, ainda que no decorrer do tempo o silêncio nos comentários tenha sido maioritariamente ensurdecedor, os aspectos positivos foram suficientes para que mantenha afastada a ideia de abandono, no sentido de desistência da minha visão escrita de retalhos das memórias Reserva Naval.

Em consciência, profissionalmente distante de um perfil de historiador ou sociólogo, creio ter atingido um tempo de balanço neste meu exercício pessoal, forçado pela minha própria participação Reserva Naval e vontade de concluir um projecto idealizado já há alguns anos. Pelo caminho, foi muito o tempo dispendido ao sabor de algum mau tempo, vagas alterosas e diversas correntes, a que aliei uma tendência desmedida para alargar o âmbito do projecto inicial e também muita inexperiência da forma como lidar com temas de tal complexidade.

Existe uma subtil tendência para avaliar de forma grosseira, com leveza e ausência de conhecimento, a disponibilidade, meios necessários e tempo dedicado a pesquisa, recolha, compilação, tratamento e publicação de documentação de memórias históricas. É frequente a classificação do trabalho de quem mete mãos à obra como efectuado em tempo de lazer ou ainda como possível devido à disponibilidade de tempo de quem o faz.

Em vez de valorizar, motivando quem constrói, subalterniza-se diminuindo a qualidade da construção ou, bem pior, ignorando a construção. Terá o caminho percorrido desde 1997 sido feito no respeito por instituições e pessoas? Certamente que houve da minha parte esse cuidado que procurarei continuar a trilhar, mas tal não será impeditivo de manifestar desacordos pontuais sempre que se justificarem.

É tempo de não se correr também o perigo de uma única história da Reserva Naval e o articulado neste texto, sob aquele título, será por mim futuramente abordado com diferentes perspectivas, como que regressando a uma anterior rota, temporariamente abandonada devido a “marés e ventos desfavoráveis”.

Na qualidade de não sócio, encerro estes comentários com estas reflexões:

A Reserva Naval com génese num projecto de dimensão nacional na casa-mãe Marinha de Guerra Portuguesa completa este ano de 2016 o 59.º Aniversário;

O 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que integrou 68 cadetes e a que eu próprio pertenci, foi alistado na Escola Naval em 9 de Outubro de 1965, completando no mesmo ano de 2015, meio século de ingresso na Instituição. Terá havido da parte da AORN a preocupação de organizar e/ou apoiar qualquer tipo de encontro/convívio, habitual em iniciativas relativas a efemérides de cursos Reserva Naval? Se teve lugar alguma realização, em que qualidade e dimensão foi levada a cabo com a Escola Naval, a Instituição que acolheu aquele curso da Reserva Naval?

A Associação dos Oficiais da Reserva Naval comemorou no ano transacto o seu "20.º aniversário AORN", optando por abandonar um anterior percurso de vários anos de comemoração do "Dia da Reserva Naval" em que se apelava ao universo de Oficiais Reserva Naval, em vez de apenas "Sócios da AORN e convidados".

Porque me parecem invertidos valores e prioridades?

Da mesma forma que acima se critica o inexplicável, também se cumprimenta a Direcção da AORN pelo regresso este ano, ainda que parcialmente, a um anterior figurino expresso na comunicação prévia efectuada:

"...As Comemorações estarão abertas a todos os Camaradas que prestaram serviço na Marinha e respectivos acompanhantes, estendendo-se, deste modo, a toda a Reserva Naval...".


Manuel Lema Santos, 8.º CEORN
1.º TEN RN 1965-72 (lic)
Guiné, LFG "Orion" 1966-68
Comando Naval do Continente, 1968-70
EMA, 1970-72

Fontes:
Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa Manuel Pinto Machado, Lisboa 1992; Anuário da Reserva Naval 1976-1992, Manuel Lema Santos, Lisboa, 2011; Foto do arquivo pessoal do autor, gentil cedência da Escola Naval;



mls

12 fevereiro 2022

Livro "O Quarto da Alva" e “Oficiais milicianos (?) da Reserva Naval”


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 3 de Novembro de 2016)




O livro “O Quarto da Alva” tem como autor um oficial dos Quadros Permanentes da Armada e foi editado pela “Âncora Editores”. Integrou o Curso Oliveira e Carmo da Escola Naval que terminou, simultaneamente, com o 8.º CEORN – Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que, em 9 de Outubro de 1965, alistou 68 cadetes.

Relata aquela obra um conjunto de memórias pessoais referentes ao período de 1966 a 1975. Depois do autor terminar o curso da Escola Naval, efectuou ainda o curso de Fuzileiro Especial e foi integrado no posto de Guarda-Marinha como 3.º oficial no DFE 8 em Moçambique – Lago Niassa (Metangula, Cobué e Cabo Delgado).

Terminada aquela comissão, depois de uma curta estadia no regresso, embarca no NRP “Nuno Tristão” para a Guiné, como oficial de navegação e, a partir de 1970, passa a fazer parte da Missão Hidrográfica de Angola.

Em nenhuma ocasião do meu tempo de vida na Marinha recordo de me ter cruzado com a personalidade em causa. Nem na Guiné (1966-1968), nem no Grupo n.º 1 de Escolas da Armada (escassos meses), nem no Comando Naval do Continente (1968-1970) e nem no Estado-Maior da Armada (1970-1972). Talvez possa ter existido algum cruzamento fugaz e recente no Clube Militar Naval ou na Escola de Fuzileiros, onde o livro foi apresentado, mas apenas a nível de conhecimento à distância.

Não adquiri a obra mas foi-me cedida a título de empréstimo. Li-a de fio a pavio. Para lá de não ter qualquer observação a fazer quanto a qualidade literária e temas relatados de inspiração pessoal, militar ou até de ficção – bastante em minha opinião - encontro-me no direito de exprimir o meu marcado desagrado quanto às múltiplas e sistemáticas apreciações feitas pelo autor à forma como se refere aos oficiais da Reserva Naval.


Começo por informar que, pessoalmente, nunca em todo o meu tempo de permanência na Marinha de Guerra Portuguesa ouvi aplicar, em qualquer circunstância, o termo miliciano a um oficial, sargento ou praça daquela Instituição. Como “filhos da escola”, ouvi classificar muitos ou quase todos mas, miliciano, acrescentado a um léxico de termos náuticos ou navais, assume ser mesmo um étimo de grande e aberrante criatividade.

Logo no início da obra, durante a frequência do curso de Fuzileiro Especial, a partir de 23 de Março de 1967, escreve o autor:

“...Não havia qualquer oficial miliciano da Reserva Naval neste Curso de Fuzileiro Especial...”

Mais à frente na página 21, já em Moçambique volta à carga:

“...Agora ali, isolado no Cobué praticamente sem navegar, ou mais propriamente, navegando apenas na qualidade de “tropa transportada no lago” e sobretudo quando seguíamos para mais uma operação, sentia então uma inconfessável inveja de outros oficiais, quase todos milicianos, e que ali estavam paulatinamente a comandar as lanchas de fiscalização. As nossas missões eram de tal forma diferentes e contrastantes, que enquanto de um lado estavam esses compelidos milicianos na missão de comando de uma unidade naval, do outro lado estaríamos nós, enquanto oficiais de um Destacamento de Fuzileiros, a residir naquele horrível aquartelamento ...”

Mais à frente, a partir 3.ª feira, 24 de Março, na página 22:

“... Ainda que a responsabilidade e o risco da missão de comandar um grupo de homens em situações de combate fosse porventura a mais impressiva incumbência que naquele tempo se poderia exigir a um militar, bem ao contrário dessa nossa atribuição, os comandantes das lanchas não corriam riscos de guerra, eram mais bem remunerados e estavam numa missão muitíssimo mais cómoda, para a qual supostamente, quer pelos tirocínios realizados, quer pela formação académica naval, estaríamos mais preparados.

Já a bordo do Império notara esta outra curiosidade, embora de sinal contrário:

As nove Companhias do Exército eram todas comandadas por capitães milicianos, dos quais o juiz Neves Costa era o decano, enquanto apenas a unidade de Fuzileiros Especiais da Marinha era comandado por um oficial do Quadro Permanente. Verificava-se assim que no vasto conjunto de mais de sessenta oficiais que compunham aquelas forças ali embarcadas, apenas quatro oficiais eram dos Quadros Permanentes das Forças Armadas, nós os três da Marinha e o Alferes Glória Alves da Companhia de Comandos. Enquanto a Marinha privilegiava alguns oficiais milicianos, confiando-lhes naquele cenário do Lago Niassa uma missão menos desgastante, olhando então aquela amostra embarcada no Império, a intenção parecia inversa no Exército, o que provavelmente terá sido, naquele tempo de guerra, apenas uma situação de excepção, talvez só isso....”

Continua na página 46:

“...Já bem acordado...tive a grata surpresa da chegada da LF «Castor», que saira logo de madrugada de Metangula, comandada pelo Cabral Fernandes, um oficial miliciano que interrompera o curso de engenheiro agrónomo e cumpria o serviço militar na Marinha, na qual também vinha o meu amigo Guilherme Allen. Camarada de curso da Escola Naval e ainda do mesmo curso de Fuzileiro Especial....”

mls - não condiz com o relato do Comando da LFP “Castor”

Ainda na página 46:

“...Mal o tinha sabido, partiria logo para o Cobué ao nosso encontro na Lancha «Marte», comandada pelo subtenente Manuel Abecassis, e apareceria assim de surpresa para nos felicitar apenas algumas horas depois de termos enviado a mensagem...”

mls - O Manuel Abecassis já era então 2TEN RN desde 29.4.66

Ao primeiro de Abril, página 50:

“...Nesta operação participava a totalidade do nosso Destacamento, embarcada na lancha Mercúrio, comandada pelo 2.º tenente Torres Sobral, o único comandante de lancha que não era miliciano. A pequena unidade ia carregadíssima...”

mls - não condiz com o relato do próprio Comando da LFP “Mercúrio”

Continua em Setembro de 1967, página 96:

“...Contava e ainda reconta o Cabral Fernandes, com essa particularidade comum a muitos oficiais milicianos da Reserva Naval que cumpriram comissões nas três zonas de campanha em África...”

Depois de concluída a comissão, já em fase de substituição pelo DFE 9 mas ainda no Niassa, página 99:

“...O primeiro-tenente Joaquim Barreiros acabara de chegar ao Lago para chefiar a esquadrilha de lanchas e presidia nesse dia à mesa onde os oficiais subalternos se preparavam para mais um dos invariáveis repastos, quando se deu o impensável. Vinha aquele «maçarico» de mais um sofisticado gabinete de algum Almirante Superintendente ou de uma Divisão do Estado-Maior...”

mls - de meu conhecimento a referência está feita ao hoje CAlm Joaquim Espadinha Galo

Sobre a chegada do médico, Dr. Noivo, na página 115:

“...Logo à chegada, ainda na pista de terra batida, alguns oficiais em serviço na Base, a maioria milicianos da Reserva Naval, tinham aproveitado a oportunidade para simular um exercício de reacção...”

Pela primeira vez, parece haver tratamento adequado, na página 116:

“...pelo que ainda antes do Bastos e do Serra regressarem de Lisboa , se apresentou para cumprir os cerca de dez meses em falta para o fim da comissão, o Subtenente Fuzileiro da Reserva Naval, Armando Santos Martins. Em meados de Janeiro, já com a Unidade recomposta e face à minha lesão, com ele a «jogar» no meu lugar...”

mls - Alguma consideração especial por se tratar de um oficial do mesmo Destacamento, substituto do autor ou por ter dedicado uma poesia à Unidade?

Ou ainda na página 129:

“...certificação que o havia de habilitar a ir pilotar um avião Dornier que prestava serviço em Metangula, oferta à Marinha da empresa Lusalite, propriedade da família do Manuel Abecassis, um oficial da Reserva Naval que comandava uma das lanchas do Lago Niassa, a “Júpiter”...”

mls - Deferência especial por ter em conta a oferta à Marinha?

Novamente na página 191:

“...Ao regressar a Moçambique, reencontrara na Escola de Fuzileiros o Frederico Rebelo (8.º CEORN), oficial miliciano da Reserva Naval, também chegado de uma longa comissão do leste de Angola...”

mls - O 2TEN FZ RN Frederico da Luz Rebelo, já falecido, oficial da Reserva Naval do mesmo curso que eu, 8.º CEORN, mereceria mais correcta referência, até tendo em conta o relacionamento de amizade havido com o autor.

Ainda na página 206:

“...No entanto, num certo dia em que eu entrava despreocupadamente num café onde era assíduo frequentador, ouviu da boca do João Reis, um subtenente miliciano que regressara há pouco do Lago Niassa...”

Notas finais:

“O Anuário da Reserva Naval 1958 - 1975”, Lisboa, 1992, é uma co-autoria dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, ambos do mesmo curso do autor de “O Quarto da Alva”, o curso Oliveira e Carmo da Escola Naval. Ao longo de 144 páginas esplana de forma clara, objectiva e pormenorizada, a necessidade que a Marinha teve de recorrer às Universidades para preencher a insuficiência de quadros de oficiais subalternos, exigência resultante do alargamento imposto pelo conflito armado que o país enfrentou então - a Guerra do Ultramar.

– Para quem leu aquele Anuário, correu os olhos pela listagem e ficou a conhecer a história resumida dos 1.712 Oficiais da Reserva Naval que integraram 25 cursos entre 1958 e 1975, tem sérias dificuldades em identificar algum deles como sendo um dos referidos ao longo das mais de três centenas de páginas, mais ou menos romanceadas de “O Quarto da Alva”, num modelo de escrita que, nas múltiplas referências à classe de Oficiais da Reserva Naval, se mostra leviano, depreciativo, subalternizante e até revelando pouco respeito pela própria Instituição onde, Personalidades de outro nível Cultural e Hierárquico, definiram as escolhas para a classe da Reserva Naval e o porquê dessas escolhas.




In "Wikipédia" Milícia (do latim militia) corresponde a uma designação genérica das organizações militares ou paramilitares, ou de qualquer organização que apresente grande grau de actuação. Stricto sensu, o termo refere-se a organizações compostas por cidadãos comuns armados (apelidados de milicianos), ou com poder de polícia que, em princípio, não integram as forças armadas ou a polícia de um país. As milícias podem ser organizações oficiais mantidas parcialmente com recursos do Estado e em parceria com organizações de carácter privado, muitas vezes de legalidade duvidosa. Podem ter objetivos públicos de defesa nacional ou de segurança interna, ou podem actuar na defesa de interesses particulares, com objectivos políticos e monetários. São ainda consideradas milícias todas as organizações da administração pública terceirizada e que possuam estatuto militar, não pertencendo no entanto às Forças Armadas de um país, isto é, ao Exército, Marinha de Guerra ou à Força Aérea.

Fontes:
Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; O Quarto da Alva, Raul Patrício Leitão, Âncora Editores;

mls