29 dezembro 2023

Reserva Naval e Liceu Normal de Pedro Nunes, turma B, 5.º ano, 1952 - Comemoração aos 81 anos de idade da maioria dos alunos daquela turma

Post reformulado a partir de outro já publicado em 14 de Dezembro de 2017

Naquela altura, ano de 2017, então aos 75 anos de idade, a mesma turma...




Aos 75 anos de idade - a já mítica Turma B do 5.º Ano dp «Lyceu Central de Pedro Nunes», num almoço convívio de Natal onde, dos nove elementos referidos como tendo passado pela Marinha - Quadros Permanentes ou Reserva Naval, estiveram presentes seis deles



Em cima, 1928, o «Lyceu Central de Pedro Nunes» na Avenida Álvares Cabral
depois de transferido da Lapa e, em baixo, anos depois,
a escadaria com o painel de azulejos de Liceu Normal de Pedro Nunes





Por muito estranha que pareça esta correlação, tem todo o sentido para alguns oficiais da Reserva Naval que nasceram no ano da graça de 1942. E não só, porque extrapolando este raciocínio para cada ano anterior ou posterior serão muitos mais, até ao limite de 1.712, totalidade dos oficiais dos 25 cursos havidos na Escola Naval entre 1958 e 1975.

Como o oficial da Reserva Naval mais antigo na idade, do 1.º CEORN, nasceu em 1932 e o equivalente mais moderno, igualmente na idade, do 25.º CFORN, nasceu em 1952, desde 2002 que existem e irão continuar a ser mencionados, anualmente e até 2023, oficiais da Reserva Naval, agora com 81 anos.

Do total dos 1.712 garbosos cadetes, 135 nasceram naquele ano de 1942, distribuindo-se entre o 6.º CEORN com 5 elementos e o 20.º CFORN com 1 elemento. Especial incidência nos 8.º CEORN, 9.º CFORN e 11.º CFORN, respectivamente com 22, 25 e 28 elementos.

Fora desta lógica consertada encontra-se o 10.º CFORN que apenas teve 9 elementos com esse ano de nascimento, talvez por se tratar de um curso bastante mais reduzido com 38 cadetes alistados, contra os 68, 69 e 75 dos cursos mais acima referidos.

Compreensível concentração se atendermos a que nos idos anos 66, 67 e 68, a maioria desses Companheiros e Camaradas de jornada, completavam 24 a 26 anos e, portanto, encontrar-se-iam em fase de conclusão ou teriam mesmo concluído os seus estudos universitários.

O cumprimento do Serviço Militar Obrigatório era um horizonte inevitável e a Guerra do Ultramar aguardava a grande maioria. Sendo opção própria a escolha da Armada como Ramo das FAs para o desempenho de mais essa etapa, foi acima de tudo a própria Instituição que seleccionou entre todos os que a ela concorreram, contrariamente a boatos menos inocentes.

Tal como em muitas outras efemérides que comemoram este ano 80 anos, também aquela rapaziada completa os mesmos percorridos anos de idade, ao serviço da portuguesa cidadania. Com a acrescida mais-valia de terem servido na Marinha de Guerra Portuguesa - Quadros Permanentes ou Reserva Naval ou, apenas num caso específico, na Marinha Alemã.

Porquê a abordagem ao Liceu Normal de Pedro Nunes?

Depois de um percurso no ensino primário ou equivalente que a todos tocou surge, para parte deles, no percurso desse rumo de oito décadas percorridas, o Liceu Normal de Pedro Nunes. Certamente terá sucedido idêntica situação para qualquer outro aluno com qualquer Liceu diferente. Para aquele fluiam, especificamente, estudantes de bairros tão heterogéneos como Campo de Ourique, Estrela, Lapa, Rato, S. Bento e de vários outros locais.

Naquele liceu, 1952 foi o primeiro ano de entrada de uma certa turma, comum até ao quinto ano, considerada agora pelos que a integraram o já carismático 5.º B do Liceu Normal Pedro Nunes. De forma permanente e sistemática, mantêm entre todos uma saudável relação de convívio num almoço mensal.

Reunem-se os que o entendem e podem estar presentes, recordando liceu, mestres, pessoal auxiliar e colegas. Comentam-se gagues humorísticos, tiques de professores, cenas de bairro, jogos de matraquilhos, cinema em sessões contínuas e tantos outros relatos mais possíveis.

Notável o espírito de todos os que mantêm viva esta chama de amizade e companheirismo que, de alguma forma, se estende também pelo Mar, uma vez que o registo fotográfico do conjunto dos elementos da turma que se exibe, integra nove Companheiros mas também Camaradas que passaram pela Marinha/Reserva Naval ou mesmo Marinha Alemã.




A Turma B inicial, 5.º Ano, Liceu Normal de Pedro Nunes onde, além da maioria dos elementos da turma, figura também o Professor Pequito da disciplina de Inglês que, mais tarde, veio a ser também Reitor do Liceu de Bissau.

Assinalados:

1 - Manuel França e Silva, 9.º CFORN;
2 - Mário Orlando Bernardo, 9.º CFORN;
3 - Manuel Serpa Leitão, QPs;
4 - Martinho Pereira Coutinho, 8.º CEORN;
5 - Rui Moura da Silva, 12.º CFORN;
6 - Luis Mota e Silva, QPs;
7 - Fernando Martins Varandas, 7.º CEORN;
8 - Manuel Lema Santos, 8.º CEORN;
9 - Heinz Bach, Marinha Alemã;

Imperioso que se transmita que as considerações feitas para o ano de 1942, desfasadas no calendário do tempo para montante ou para juzante, se aplicam a qualquer outro ano, turma, grupo ou estabelecimento de ensino, de forma mais ou menos marcada e equivalente.

Certamente, parte da herança de uma geração completa na qual, convenhamos, 81 anos sempre representam umas respeitáveis setenta e cinco experiências anuais vividas, agora acrescidas de outras 6. Afinal, foi também a minha turma do Liceu Normal de Pedro Nunes.

Neste já não muito curto trajecto de vida, quis o destino que alguns, sempre demasiados, fossem tolhidos precocemente pelo embarque último.

Lembrá-los-emos sempre.




Fontes:
Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; texto e imagens do autor do blogue; imagem publicada de Martinho Pereira Coutinho;


mls

09 dezembro 2023

Guiné, 1971 - Mensagem de Natal da LFG «Sagitário» (I)


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 8Nov2010/24Dez2017/24Dez2018/29Dez2019/19Dez2020)

Rio Cacheu, Mensagem de Natal da LFG «Sagitário» P 1131





Acredito, e suponho não estar só, que o Natal se expressa muito mais no espírito com que se está a completar a caminhada de mais um ano do que na celebração de uma efeméride com data previamente marcada.

Crença que igualmente partilho na renovada esperança de que um Ano Novo venha retirar do nosso rumo alguns escolhos especialmente ameaçadores, permitindo-nos prosseguir a Viagem com Paz, Saúde e Amor.

Na vitória do Humanismo, desprezado em guerras por inimigos com rosto, dizimando civis, mulheres e crianças, recusando trocar as armas pelo diálogo e cessar-fogo, poupando vidas e bens.

Nas Crianças, que nele acreditam para todo o sempre.

Na Família e na Reconciliação, na Alegria do Reencontro, no Amor e na Amizade, no aconchego do Abraço e também no são Convívio, que certamente iremos poder reviver em breve.

Na Partilha e Apoio possíveis aos os que lá não conseguem chegar sózinhos.

No Recolhimento e na Esperança de que chegue aos que o não têm mesmo de todo.

Na Lembrança e na Memória daqueles que, por ausência ou também pelo destino último, não podem estar presentes.

Natal foi e será sempre!

Mesmo na Guiné e também no rio Cacheu onde, a guarnição da LFG «Sagitário», em 1971, em missão de patrulha e fiscalização na zona de Ganturé-Bigene, numa expressão primorosa de esperança, boa disposição e humor, encontrou numa pernada de tarrafo, reverencialmente inclinada para o efeito, a melhor estação dos CTT para afixar a universal mensagem.

Para que muitos Outros pudessem ter Natal!


Fontes:
Texto do autor do blogue, com imagem de arquivo gentilmente cedida pelo então comandante da LFG «Sagitário», 1TEN Adelino Rodrigues da Costa;


mls

16 janeiro 2023

Reserva Naval 1958-1992





Nota do autor do blogue:

Desde 2006 que entendi publicar regularmente alguns retalhos da História da Marinha - Reserva Naval, em que aquela classe de Oficiais teve primordial importância na segunda metade do século XX, muito por virtude da Guerra do Ultramar. Ao longo dos anos a Marinha acabou por formar quase 4.000 oficiais da Reserva Naval. Mais exactamente 1712 entre 1958-1975, conforme Anuário da Reserva Naval da autoria dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado e outros 1886 entre 1976-1992, conforme Anuário da Reserva Naval referente àquele período e da autoria de Manuel Lema Santos, antigo oficial da Reserva Naval, licenciado no posto de 1TEN RN em 1972, regressando nesse ano à vida civil.

Expresso aqui o meu profundo agradecimento à Instituição Marinha, nomeadamente ao Arquivo de Marinha, Biblioteca da Marinha, Revista da Armada e Museu de Marinha que me permitiram consultar, compilar e coligir muita da documentação que estruturou um blogue simples, ainda que pretendendo exibi-lo publicamente com um mínimo de qualidade histórica.

Não posso deixar de acrescentar um agradecimento aos inúmeros apoios que tive de Camaradas com documentação e imagens cedidas, sem os quais não me teria sido possível alcançar este objectivo, modesto mas determinado por forma a manter algum rigor histórico. Um último obrigado a todos os que, com comentários ou pessoalmente, me incentivaram por qualquer forma à continuação ao longo do tempo.

No outro lado da margem os que gostam de brilhar plagiando o trabalho de outrém, sem sequer se preocuparem com a qualidade da cópia ou as referências de origem. Felizmente foram muito poucos e sem expressão.

Por cansaço natural e um olhar familiar que me permita ainda tentar zelar pelo futuro de filhos e netas com natural apreensão, entendi suspender a publicação do blogue pessoal www.reservanaval.blogspot.com com um natural e sentido pedido de desculpas àqueles que me seguiram ao longo dos anos, para os quais manterei sempre a minha disponibilidade.




A Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa encarnou, para todos os Oficiais que por lá desfilaram, muito mais do que uma forma, dita civilizada, de cumprimento do serviço militar obrigatório.

Ao tempo, uma opção pessoal possível num percurso universitário completo ou em vias de o ser, passagem obrigatória no rumo de vida traçado, ao serviço da cidadania e do país onde nasceram.

Diria melhor e mais correctamente, da Pátria.

A evasão temporária ao amplexo paternalista, algum inconformismo e a necessidade inadiável de transpor aquela linha no horizonte terão sido algumas das motivações.

Outras tantas, eventualmente condicionadas por aspectos pessoais, profissionais, familiares e também económicos.

De um lado, incertezas, anseios, dúvidas tumultuosas, sentimentos contraditórios e algumas perspectivas goradas, mas também natural confiança e esperança.

Do outro, o salto no desconhecido, arrojado mas sonhador, a aventura e o desejo de bem cumprir.

Se para muitos configurou uma escolha alternativa enquanto no desempenho de um dever cívico, para outros terá representado uma ponte provisória para a vida profissional.

Ainda para alguns, em menor número, mas mais tarde a própria carreira profissional.

Escola Naval, viagem de instrução e juramento de bandeira marcaram, em sucessão, formação académica e humana, camaradagem e também crescimento.

Em cenários de guerra como Moçambique, Angola e Guiné, mas igualmente em S. Tomé, Cabo Verde e no Continente, quase quatro mil Oficiais da Reserva Naval desempenharam funções ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa.

A navegar ou em terra, como oficiais de guarnição ou nos fuzileiros, todos fazendo parte do transbordante testemunho de solidariedade, generosidade e convívio partilhado com as Unidades e Serviços onde permaneceram.

Ombreando com militares e camaradas de outros ramos das Forças Armadas.

Ganhando acrescido sentido de responsabilidade e maturidade.

Grangeando pelo cumprimento, pelo exemplo e pela dedicação, a amizade, admiração, respeito e camaradagem de superiores, subordinados e também das populações com que contactaram.

Na memória que o tempo não apaga, esfumam-se relatos, acontecimentos, documentos, registos, afinal História.

História da Reserva Naval e da Marinha de Guerra que lhe deu origem.

No espírito Reserva Naval, um passado comum a preservar.

Uma palavra para todos aqueles que nos deixaram prematuramente, chamados para a última viagem.

Estarão sempre connosco!




Manuel Lema Santos
1TEN RN 1965/1972
Guiné, LFG "Orion" 1966/1968;
Comando Naval do Continente, 1968/1970;
Estado-Maior da Armada, 1970/1972

03 novembro 2022

1958/2022 - Relembrando os 64 anos da Reserva Naval


“A Marinha e a Reserva Naval, uma aliança que perdura”

(Post actualizado a partir de outro já publicado em 12 Agosto de 2018)






Decorreram em 11 de Agosto passado 64 anos sobre o ingresso na Escola Naval do 1.º CEORN – Cursos Especial de Oficiais da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa.

Naquele dia do mês de Agosto de 1958, 20 cadetes candidatos a oficiais daquele Quadro de Complemento deram inicío a um primeiro ciclo de 25 cursos, realizados entre 1958 e 1975, num total de 1.712 universitários oriundos de vários estabelecimentos escolares e formações.




Em cima, a "Casa da Balança" nas Instalações Centrais da Marinha onde foi descerrada a placa e,
em baixo, vista geral do edifício das ICM, junto da "Doca da Caldeira"




Interrompidos no ano de 1975, no decorrer do qual nenhum cuirso foi levado a cabo, foram reatados em 1976. Até Maio de 1992 foram então concluídos mais 78 cursos, repartidos entre a Escola Naval e a Escola de Fuzileiros, num total de 1.886 cadetes, igualmente candidatos a oficiais da Reserva Naval.

Em 25 de Julho de 2005, com a presença do Chefe do Estado-Maior da Armada, o Presidente da Assembleia Geral da Associação dos Oficiais da Reserva Naval e várias outras individualidades, foi descerrada na Casa da Balança - Instalações Centrais de Marinha uma placa evocativa do cinquentenário da criação da Reserva Naval.




A placa comemorativa da efeméride

E bem serviram sem cuidar recompensa!

Ao longo de vários anos tenho aqui publicado múltiplos artigos sobre o tema, pelo que referirei algumas datas e acontecimentos que considero marcantes, interpretação que pode ser sempre classificada de subjectiva, pelas escolhas pessoais.

Contudo todas elas me parecem relevantes na evolução da preservação de memórias históricas da Reserva Naval, Marinha e da respectiva Associação.

Assim foram publicados e podem ser acedidos pelos respectivos links:

7 de Outubro de 2016




14 de Outubro de 2016




5 de Novembro de 2016




9 de Dezembro de 2016




1 de Junho de 2017




20 de Janeiro de 2018




25 de Maio de 2000 (revista n.º 12 da AORN)




20 de Maio de 2001 (revista n.º 13 da AORN)



Fontes:
Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Revistas da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, números 12-Dez2000 e 13-Dez2001; texto e fotos de arquivo do autor do blogue com fotos de arquivo do autor do blogue - Arquivo de Marinha e Revista da Armada; actualização de links relacionados;


mls

18 setembro 2022

Casa da Balança - Marinha


Requalificação de um local de referência da Marinha


A Casa da Balança








«Divisa patriótica da Marinha «A PÁTRIA HONRAE QUE A PÁTRIA VOS CONTEMPLA»






Travessia aérea do Atlântico Sul, iniciada em 30 de Março de 1922 em Lisboa e terminada a 17 de Junho no Rio de Janeiro - Brasil






Oficiais da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa, divididos na formação entre Escola Naval e Escola de Fuzileiros, com 1.712 oficiais (1958-1975) e mais 1.886 oficiais (1976-1992) oriundos das várias universidades portuguesas.






Outras referências históricas









Fontes:

Imagens de arquivo do espólio pessoal do autor do blogue fotografadas em 20150628; texto compilado e adaptado a partir da Revista da Armada n.º 494, página 23, sob o título "Casa da Balança-Uma Requalificação Esperada;

mls

12 setembro 2022

Primeira visita da rainha Isabel II de Inglaterra a Portugal - 16 de Fevereiro de 1957


Chegada da rainha Isabel II à Base Aérea do Montijo (BA6)



Momento da chegada da rainha Isabel II de Inglaterra à Base Aérea do Montijo (BA6), por ocasião da primeira visita que efectuou a Portugal.

Acompanhada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Cunha, em representação do Governo português, é recebida pelas mais altas individualidades militares dos 3 ramos das Forças Armadas, pelo comando da Base Aérea e ainda pelo embaixador de Portugal em Londres, Pedro Teotónio Pereira.



Nota do autor do blogue

A publicação da foto acima foi possível por gentil cedência pessoal do Vice-Almirante Francisco Ferrer Caeiro - na foto o segundo da direita para esquerda - que entre 10 de Março de 1958 e 20 de Maio de 1960 desempenhou as funções de comandante da Base Aérea do Montijo (BA6) de que foi o último comandante naval, ainda no posto de Capitão-de-mar-e-guerra. Após aquela data foi exonerado do comando e a BA6 transitou para a FAP - Força Aérea Portuguesa. Entre Agosto de 1968 e Maio de 1970 desempenhei as funções de ajudante de ordens daquele oficial-general, então Comandante Naval do Continente e da Base Naval de Lisboa.




Fontes:
Texto e foto do autor do blogue com apontamentos compilados de:
https://osetubalense.com/ultimas/2022/09/09/a-historica-visita-de-isabel-ii-que-entrou-em-terras-lusas-por-setubal/

mls

03 setembro 2022

Mensagens de Natal – Guiné, 31 de Dezembro de 1967


Mensagens de Natal de militares da Força Aérea e da Marinha de Guerra Portuguesa a prestarem serviço na colónia da Guiné


Nota do autor do blogue

No texto abaixo - de minha inteira responsabilidade - apenas me limitei a retocar pormenores do texto acrescentando algum conhecimento, mas mantendo presente o alerta de «RTP arquivos» de que aquele resumo analítico contém erros e imprecisões devido a restrições técnicas;

00:00 - Aviões "Harvard T6" da Força Aérea Portuguesa descolam da base aérea de Bissalanca; imagens de aulas de formação/instrução a pilotos aviadores; mensagens de Natal de pilotos da Força Aérea Portuguesa e Paraquedistas.

01:50 - Mensagens de Natal de vários pilotos da esquadrilha "Os Roncos" a dirigirem-se para os aviões e a descolarem; grupo de paraquedistas a prepararem o embarque em aeronaves; mensagens de Natal de paraquedistas; início de missão com planos de vários aviões e helicópteros na descolagem; embarque de militares num helicóptero "Alouette III" e mensagens para familiares; largada de paraquedistas a partir de aeronaves.

08:50 - Alferes enfermeira paraquedista, Ana Maria Barros, envia mensagem de Natal para familiares e amigos de Esposende; mensagens de Natal de militares da Força Aérea Portuguesa, intercaladas com planos de paraquedistas a embarcarem em helicópteros "Alouette III".

10:18 - Helicóptero "Alouette III" sobrevoa uma unidade naval LFP-Lancha de Fiscalização Pequena da Marinha de Guerra Portuguesa, a navegar junto à costa; é feita a aproximação a outra unidade naval de maior porte, a LFG "Hidra", Lancha de Fiscalização Grande - P376, à qual vai atracar; a bordo, planos de vários marinheiros da guarniçãoo da LFG "Hidra" que deixam mensagens de Natal às familias, incluindo o oficial imediato.

16:15 - Entrada do INAB - Instalações Navais de Bissau - portaria; o médico de serviço agradece à RTP por permitir o envio de mensagens de Natal dos doentes às famílias; o enfermeiro encarregado da enfermaria do CDMGuiné envia igualmente mensagem à família.

18:35 - Na ponte-cais de Bissau a LFG "Cassiopeia" - P373 efectua a aproximação ao cais onde vai atracar à LFG »Orion» já ali acostada; no final de uma operação, o DFE3-Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 3, regressa à Base Naval em Bissau, desembarcando daquela unidade naval; vários elementos do Destacamento dirigem mensagens de Natal às famílias; o Comandante da Unidade, em nome pessoal e também em nome de todos os militares da Unidade, dirige uma mensagem de Natal aos familiares e amigos, com votos de um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de venturas.

mls




(RTP Arquivos)



Fontes:
Foto, texto e filme partilhados a partir de «https://arquivos.rtp.pt/conteudos/mensagens-de-natal-guine-1967-4/; em 31 de Dezembro de 1967 o autor do blogue estava presente em Bissau, como Oficial Imediato da LFG «Orion», reconhecendo vários militares que desfilam nas mensagens de Natal;

mls

06 julho 2022

LDG «Bacamarte» vs Lanchas de Desembarque Grandes


Sintese histórica das LDG - Lanchas de Desembarque Grandes

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 21 Outubro 2011/15 Setembro 2018)






Fontes:

Texto e fotos de arquivo do autor do blogue, Arquivo de Marinha, Revista da Armada e cortesia de Emídio Aragão Teixeira, 8.º CEORN (LDG «Bacamarte»); Setenta e Cinco Anos No Mar, LDGs, 17.º VOL, Comissão Cultural de Marinha, 2006;

mls

Guiné, 1965/1974 - Lanchas de Desembarque Grandes e o "granel" nos transportes logísticos


Lanchas de Desembarque Grandes e o "granel" nos transportes logísticos

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 20 Maio 2012/22 Abril 2019)






Fontes:

Imagens do Arquivo de Marinha e Museu de Marinha cedidas ao autor do blogue; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada; Carta da Província da Guiné do Centro de Geografia do Ultramar, 1961

mls

20 junho 2022

Guiné, anos 60/70 - Marinha e Logística


As LDG - Lanchas de Desembarque Grandes na estratégia logística da Guiné

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 30 Julho 2009/6 Abril 2020)






Fontes:

Imagens do Arquivo de Marinha e Museu de Marinha cedidas ao autor do blogue; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada; Carta da Província da Guiné do Centro de Geografia do Ultramar, 1961

mls

16 junho 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte VII


LDG «Bacamarte»

Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090510/20170215






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

13 junho 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte VI


LDG «Alabarda»

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 8 Maio 2009/12 Fevereiro 2017)






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

03 junho 2022

Ainda a LDG “Bombarda” - LDG 201


O enigma da LDG «Bombarda» - LDG 201, vs LDG 105, vs LDG 205 (?....)

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 24 Janeiro 2009/22 Dezembro 2016)






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte V


LDG «Bombarda»

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090124/20161222






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

29 maio 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte IV


LDG «Montante»

Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090204/20161211






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

27 maio 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte III


LDG «Cimitarra»

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 24 Janeiro 2009/6 Dezembro 2016)






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

24 maio 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte II


LDG «Ariete»

Post reformulado a partir de outro já publicado 20090113/20161202






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

22 maio 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte I


LDG «Alfange»

Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090113/20161129






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

16 maio 2022

Reserva Naval… os números!




Transcrição de alguns excertos efectuados do capítulo "Síntese de 25 CFORN" de "O Anuário da Reserva Naval, 1958-1975" da autoria dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado:

........início de transcrição....................

“...O Decreto-Lei nº. 41.399 de 26/11/57 que criou a Reserva Naval, previa que o seu pessoal seria convocado por ordem de mobilização total ou parcial ou, em casos especiais de interesse público, por determinação do Governo, pela pasta da Marinha, sendo os seus elementos enquadrados por pessoal do activo nas lotações das unidades e serviços.

Porém, em poucos anos, o espírito da referida lei foi ultrapassado pelas circunstâncias.

A partir de 1961, as crescentes necessidades da Marinha em pessoal e em material, bem como a diversificada natureza das missões que lhe competiam nos diferentes teatros operacionais, obrigaram a profundas adaptações estruturais...”

............

"...Foram essas centenas de oficiais que, ombreando em dedicação e profissionalismo com os Oficiais do Quadro Permanente, permitiram o normal cumprimento das múltiplas missões exigidas à Marinha até 1974...”

............

"...Esta maciça presença de Oficiais RN nas mais diversas unidades e serviços da Armada revela a importância quantitativa e a influência qualitativa que a Reserva Naval teve na Marinha e nos seus hábitos..."

........fim de transcrição....................


De 1958 a 1974, num crescendo de necessidade em Oficiais, a Marinha, de uma incorporação anual, a partir de 1967 passou a efectuar duas, iniciadas com os 10.º e 11.º CFORN (38+75 cadetes) e atingindo um pico de admissões em 1973 com o 22.º e 23.º CFORN (100+81 cadetes) repetido em 1974 com os 24.º e 25.º CFORN (95+86 cadetes).

Estes números não deixam lugar a quaisquer dúvidas e, tomando como modelo os 16.º e 17.º CFORN’s de 1970, dos 63+103 cadetes incorporados e considerando todas as Classes, destacaram para prestarem serviço em Unidades ou Serviços de além-mar, cerca de 57% dos Oficiais da Reserva Naval que juraram bandeira.

Noutro âmbito e ainda significativamente mais expressivos, são estes valores percentuais apenas na classe de Fuzileiros, registando as maiores taxas de participação de oficiais da Reserva Naval, comparativamente à totalidade de Oficiais, quer dos Quadros Permanentes quer da Reserva Naval, que integravam o Comando daquele tipo de Unidades em Angola, Moçambique e Guiné.

Num total de 63 Destacamentos de Fuzileiros Especiais distribuídos por aqueles teatros operacionais, da totalidade de 139 oficiais neles integrados, 82 eram Oficiais RN (56%) e, mesmo dos 57 dos Quadros Permanentes que comandaram os DFE, mais de uma dezena tinham desempenhado missões anteriores como oficiais da Reserva Naval e vieram a optar pelo ingresso no QP.

Maior acuidade ainda no tocante às Companhias de Fuzileiros em que, das 45 Unidades que nos mesmos teatros operacionais estacionaram, considerando incluídos os Pelotões Independentes e de Reforço (também em Cabo Verde), 217 dos 328 Oficiais (66%) que integraram o Comando das Companhias pertenciam à Reserva Naval. De entre estes últimos, 11 pertenciam à Classe de Médicos Navais e alguns Comandantes daquelas unidades eram igualmente oriundos da Reserva Naval.

Ainda numa outra perspectiva, em finais daquele ano de 1974, do total de Oficiais que prestavam serviço na Armada, 24% pertenciam à Reserva Naval e, considerando apenas os Oficiais subalternos, essa percentagem aumentava para 40%.

........início de transcrição....................

“...Este contributo adicional de juventude, necessariamente que influenciou a Marinha, os seus hábitos, as suas mentalidades e até a sua forma de actuar...”

...Foram 1712 cidadãos que a Marinha teve o privilégio de acolher e de com eles conviver. Foram 1712 marinheiros que à margem do sextante ou do fuzil, a Marinha ajudou a preparar para uma vida diferente. A Marinha recorda-os e este trabalho é também uma homenagem que os seus autores lhes prestam...”

........final de transcrição....................


A Reserva Naval continuou até ao ano de 1992, embora com outras condições na admissão, mais adequadas e adaptadas a uma tão estudada como necessária redução do dispositivo, vindo a ser progressivamente substituída pelo regime de contratação, não sem que, ao longo de mais de três décadas, 3.598 Oficiais da Reserva Naval dos mais variados quadrantes de formação universitária tenham desfilado pela Marinha de Guerra Portuguesa.


Fontes:
Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, 1992; Anuário da Reserva Naval 1976-1992, Manuel Lema Santos, 2011; foto de arquivo autor do blogue;


mls

08 abril 2022

Guiné - A Linha do Cacheu


Guiné - A Linha do Cacheu e os combóios que por lá circulavam

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 16 de Abril de 2010/08 de Agosto de 2017)




Retomo aqui no blogue, com inteira actualidade e justiça, o artigo do Amigo e Camarada da Reserva Naval Elísio Pires Carmona, do 15.º CFORN, por ele redigido e então publicado nas revistas números 14 e 15 da Associação dos Oficiais da Reserva Naval, em 2003. Tão bem tece analogias entre linhas, combóios e rios da Guiné, que não resisti à tentação do acrescento humorístico da imagem acima, além de outros comentários soltos que entendi oportuno efectuar, a condizer com o relato original onde acrescentei algumas imagens.
Espero tolerância porque fui um dos que também lá estive e neles andei, com "passe" conferido pela Marinha... De quando em vez, nas margens, apareciam os pica-bilhetes com vários tipos de instrumentação para o efeito.
mls




“(...) só quem lá esteve é que sabe do que é que estou a falar...”


Ora, estou a falar do texto do José Manuel da Costa Bual numa das revistas da Associação publicadas. Estou a falar da Linha do Cacheu: linha de carris feitos de água barrenta pelos quais transitavam, uma vez por mês, combóios que tinham por locomotivas LDM´s e Batelões em vez de Vagões.



O mapa da Guiné, mostrando, ao centro, o rio Geba (Bissau) e, a norte,
o rio Cacheu em toda a sua extensão, até Farim (clique para ver ampliado)

Aliás como a Linha de Catió ou a Linha de Bedanda, permita­-se-­me a redundância. Sei do que fala. Porque também por lá passei. Porque também vivi as mesmas emoções...

Penso que tem razão de ser a sugestão deixada, na altura, numa Assembleia Geral da Associação: o nosso testemunho alimentará a nossa memória colectiva e contribuirá também, sem constrangimentos, para ajudar a fazer a História.

A tarefa que me propus então foi a de contar, rebuscando do fundo do meu baú, (já ouvi isto num sítio qualquer) memórias que, curiosamente, permanecendo tão vivas me dão a sensação, ao recordá­-las, de que estão a acontecer. De resto, como transparece cristalinamente do trabalho do Costa Bual. Mesmo tendo passado cerca de 40 anos...




Bissau - Do lado de dentro da ponte-cais, lado a lado, várias LDM's amarram de proa ao cais

A Linha do Cacheu começava, como todas as Linhas, em Bissau. Justamente na Ponte-cais. Era de lá que saíam as LDM-lanchas de Desembarque Médias, normalmente duas, por vezes três, Geba abaixo, rumo a Vila Cacheu. Mas o combóio, esse, só se constituía e assumia verdadeiramente a sua pomposa designação naquela localidade. Na qual se concentravam os Batelões a escoltar. O comandante, nós, seguíamos normalmente por via aérea, no pequeno Rallye – a nossa avioneta.




Vila Cacheu - O interior do forte, vendo-se o monumento ao Infante D. Henrique de que existiam várias réplicas naquele território.

Esta linha tinha, por assim dizer, um Ramal: o de Bissum. No regresso de Farim as lanchas aguardavam, na passagem de São Vicente – onde a estrada de Bissau, João Landim, Bula, Ingoré se interrompia, cortada pelo magnífico Cacheu – pela chegada de novos batelões.

Fundeavam, durante o dia, no meio do rio; amarravam­-se ao tarrafo durante a noite, dissolvidas na penumbra, por mor das coisas.




Ingoré - Em cima, uma bolanha junto da povoação e, em baixo, a estrada para o Ingorezinho.



As LDM eram, se houver alguém que não saiba, modestas lanchas de desembarque, armadas com uma Oerlikon (já não me recordo se se escreve assim) e duas MG 42 à proa, uma em cada um dos bordos, com uma equipagem constituída por um Cabo Manobra – o Patrão da lancha – um Telegrafista, dois Fogueiros e dois Artilheiros. Nos combóios, a tripulação era reforçada com meia secção de fuzileiros – mais seis elementos.

Os comandantes destas tremendas flotilhas – os Nimitzes, os Yamamotos, os..., éramos nós, mais a dar, algumas vezes, para Lafites, Drakes,... como se verá ao longo destas estórias.

Ah!, e faziam-­se bons petiscos a bordo, que metiam, algumas vezes, ostras fresquinhas pescadas, nomeadamente, no Rio Grande de São Domingos, mas também, no sul, no próprio Cobade.

Feita esta introdução, porque sobre o resto já contou, e bem, o Bual, passarei às peripécias vividas lá p'rós lados do Cacheu.




O rio Cacheu, consoante a hora do dia e o estado do tempo, proporcionava registos fotográficos ímpares



O “Calado”

O Calado era o patrão duma das LDM, no ano de 1971. Foi com o Calado que fiz o meu primeiro combóio, em Fevereiro. Deveria ter ido em Janeiro, com o Januário, para aprender o caminho, como era costume. Mas, numa partida (brincadeira) de “basquetebol”, num dos dias anteriores, no terreiro sobranceiro às nossas instalações, nas INAB-Instalações Navais de Bissau, onde havia umas tabelas e umas marcações meio sumidas no alcatrão, atropelado pelo Benjamim, dei cabo do braço.

Infelizmente, nesse combóio, o Januário, à pesca com granada, em Ganturé, ficou marcado pela explosão daquela em que tinha agarrado: granada de armadilha, explodiu logo que abriu a mão...




Rio Cacheu - Batelões atracados em Ganturé (Bigene)

Mas voltando ao combóio, vale dizer que a subida até Farim decorreu sem história. Apenas os olhos se arregalaram perante tamanho desconhecido, tanta grandeza. Aquele Tarrafo, alicerces mergulhados na água, na maré cheia, aquele Verde imenso, o Passaredo... e os pontos de referência que íamos guardando intuitivamente sem esforço: a foz do Rio Grande de São Domingos e mais acima a do Cabói, Jolmete, São Vicente – o rio a estreitar – a foz do Armada, as clareiras de Barro e de Maca e, finalmente, a 1ª estação, Ganturé, já ao fim do dia, e onde, por esta razão, costumávamos pernoitar.

Na manhã seguinte, com o dia a clarear, fazíamo­-nos rumo a Farim, com os mesmos cuidados, a mesma atenção e o mesmo deslumbramento, deixando sucessivamente para trás as clareiras do Sambuiá e do Tancroal, Binta e, por fim, FARIM. Em Farim, o rio era curiosamente largo.




Rio Cacheu - Magnífico por-de-sol, próximo de Ganturé

Para lá do mais a cidade tinha outras duas curiosidades: uma magnífica piscina, com café e esplanada, e a Geninha, a filha do Madeireiro mais representativo, cortejada por levadas de furriéis, alferes e até alguns distintos Tenentes da Marinha. O jantar, na primeira noite, era em casa dela. Pela minha banda ainda lá comi um, à boleia do Sousa Dias.

(Já agora, os nomes, nestas minhas crónicas (?), só por casualidade é que têm representação real...)

À Geninha vi­-a mais uma vez, em Bissau, pelo Carnaval de 72. Acho que se tinha cansado de Farim. Acompanhava o Varela, noite alta, à procura de um casaco, salvo erro, que por certo não lhe serviria para nada, já que fazia quase dois de mim em altura. Estremunhados, com o barulho, viemos dois à porta: eu e o Abreu, por sinal ambos em trajes tão menores que nos pareceu ridículo pedirem­-nos, àquela hora, um casaco.

Estávamos, se a memória não me atraiçoa, uns dez dias em Farim. Dias que davam para conversar muito, para ler muito, para bons petiscos bem regados a vinho misturado com cerveja, refrescada com umas pedras de gelo retiradas do frigorífico, ou arca congeladora, ou lá o que era aquilo que havia a bordo e funcionava a petróleo, para tomar banho no rio e fazer umas piruetas com o Zebro II. A nossa comida, a dos fuzileiros, era normalmente guardada em arcas térmicas onde a carne era congelada em gelo bem atacado. Íamos comendo por cima.




Farim, 1966 - A povoação fotografada da LFG "Orion", fundeada a meio da enseada fronteira.

Ah!, e jantávamos cedo, por volta das 18 horas, aproveitando os últimos fulgores do dia. As noites... As noites, em Fevereiro, eram bem agradáveis. Não fossem as melgas, que descobriam o mais ínfimo dos buraquitos no mosquiteiro para entrar sem cerimónia a perguntar insistentemente “precisas de mim, precisas de mim...” e ainda agora dormiríamos a sono solto...

Mas então, e o Calado? O Calado só aparece, permita­-se-­me a repetição, no Ramal de Bissum.

Um dia de espera em São Vicente, pelos batelões, passada a carga dos batelões para as lanchas, na ocasião apenas duas, lá fomos nós Armada adentro. Verdade se diga que a fama do rio, a sua estreiteza e as curvas muito arrematadas e “sem inclinação”, não davam motivos para grandes confianças.

A atenção redobrava: um dos artilheiros no “canhão”, outro artilheiro e um dos fogueiros nas MG's, dois fuzileiros no tejadilho da casa do leme com a “basooka”, o telegrafista no rádio e nós, os restantes, todos o mais compostos que era possível. Na altura, era-­nos dado ver ainda a vegetação das margens calcinada pelo muito fogo com que tinha sido massacrada em tempos anteriores. E uma ou outra clareira, vegetação esfuziante lá ao fundo, com um ou outro crocodilo aquecendo­-se ao sol.




Rio Cacheu - De S. Vicente a Vila Cacheu numa LDM.

Bissum não tinha Porto, nem ponte-cais – aquelas docas feitas de cibes, mergulhados no leito lodoso e pranchas de madeira pregadas com cavilhas. As lanchas abicavam na margem, baixavam a porta e a carga era descarregada pela população para as Berliet do Exército. Nunca saí da lancha para ver a aldeia ou o aquartelamento: nunca tive curiosidade para tanto, nem sei se algum dos nossos camaradas a terá tido.

Pois foi na abicagem que apareceu o Calado. Tão Calado tinha andado antes que mal tinha dado por ele. “Ó sr. Tenente, como é que quer que eu abique?” Acho que nem ouvi bem. “Ó sr. Tenente, desculpe lá, mas como é que quer que eu abique?” Acordei surpreendido pela pergunta e recordo­-me de ter dito mais ou menos isto, de rajada: “Ó Calado, não sei, disso sabe você, faça o melhor que souber, se houver problemas cá estarei para assumir as minhas responsabilidades, mas faça o melhor que souber”. E abicou.

Aproximava­-se, entretanto, a outra lancha, pilotada pelo Popeye – enorme, espadaúdo, barbudo e cachimbudo como a conhecida figura, dado à boa pinga e ao mulherio, mas ainda periquito nas lides da governação das LDM's. E o Calado voltou a interpelar­-me, agora com um pedido bem mais lógico: “Ó sr. Tenente, o meu camarada ainda é novo nestas andanças, agradeço­-lhe que lhe diga que abique a estibordo (bom, por baixo...); não terá problemas”. E não teve.

Sentado à mesa, instalada entre a cabine e a Oerlikon, enquanto assistia à descarga, o Calado arranjou coragem para me dizer “Ó sr. Tenente, desculpe lá a minha pergunta de há bocado, mas há combóios em que os seus camaradas nos dizem como querem que manobremos...”

Comprometo-­me, longa que vai esta lenga­-lenga, a contar em próxima estória a importância que o Calado teve, pelo senso e sabedoria – e muita era – para o sucesso dos meus combóios.

Presto-­lhe a minha homenagem, ao Popeye – nunca lhe conheci outro nome – ao Teixeira e a todos os outros com quem percorri os principais cursos da Guiné durante os 21 meses da minha comissão.

O “Directo” do Cacheu – Farim

Cada combóio era um combóio. Quero com isto dizer, que todos tinham ingredientes suficientes para que nunca se estabelecesse qualquer rotina, para lá das normais tarefas do governo e da segurança, que uns, valha a verdade, respeitavam mais do que outros.

Nunca troquei impressões com os meus camaradas sobre combóios. Acho que nunca ninguém me perguntou, nem eu perguntei: Correu tudo bem? O facto de partir e voltar, 15 dias depois, mais dia menos dia, era suficiente. Manifestávamos a nossa alegria, muitas vezes discretamente, e pronto. O Ordmove era cumprido... Era? Era, era cumprido. Mas...

Mas, no directo Cacheu - Farim não foi. Nem para cima, a caminho de Farim, nem para baixo, rumo à passagem de S.Vicente. Tendo chegado a Vila Cacheu por volta das 15 horas, com tempo para saudar os camaradas do DFE e dar umas voltas pelo burgo, no caminho de regresso às LDM cruzei-me com o Calado.




Cacheu - O antigo Aquartelamento do Cacheu (1966), mais tarde Messe dos Oficiais Fuzileiros (1969);
actualmente Casa do Governador da Região do Cacheu.

Ó senhor tenente! A que horas é a saída amanhã? Uns segundos de silêncio, embaraçosos, que o Ordmove até era confidencial (?)... logo interrompidos, também com algum embaraço, pelo Patrão:

Ó senhor tenente, fica só entre nós. Sabe, é que quem programa os combóios, com base nos elementos disponíveis, nem sempre conhece bem a realidade. Nós que passamos aqui a vida, ganhamos outras referências que nos ajudam bastante e que nos levam a fazer as coisas à nossa maneira. Respeitando sempre o essencial. Na lancha explico-lhe...

E explicou. Ordmove em cima da mesa e a Tabela das Marés aberta na página certa, eis os ingredientes para a 2ª lição – a 1ª tinha sido, lembram-­se, em Bissau, no 1º combóio. A maré começa a virar às 06:00 da manhã. Significa que às 05:00 está quase parada, ou mesmo parada. Se sairmos por essa hora, a crista da onda vai apanhar-nos já acima a montante, claro, de Jolmete, o que faz que andemos mais depressa.

Está decidido, Calado! Foi assim que, por volta das 04:30, motores a trabalhar e duas buzinadelas sonoras, puseram toda a gente de pé em três tempos e a andar, antes que pelo menos na outra lancha – e o Popey também devia ter consultado a Tabela e feito os seus cálculos – tivessem tempo de questionar a sua surpresa: Já?




Panorâmica geral de Ganturé (Bigene) com o rio Cacheu ao fundo

Às 15:00, com duas horas de avanço sobre o horário previsto, deixámos batelões em Ganturé e, gasto o tempo suficiente para os cumprimentos da ordem, aos camaradas residentes, ala que se faz tarde a caminho de Binta, onde ficaram mais dois batelões e, sem detença, rumo a Farim, já o Sol a baixar significativamente no horizonte.

Aportámos à Cidade Fim de Linha, pelas 21:00 horas, já que no troço final, com a maré a inverter o ciclo, a marcha se foi tornando lenta. Soube mais tarde que no Estado-Maior, onde pontificavam, entre outros, pelo menos na logística – patentes às malvas, o Almeida Carvalho, o Jorge Soares, o Aguillar e o Beato, este do meu CFORN, – se interrogaram, meio baralhados, ao receberem a obrigatória MENSAGEM DE CHEGADA, identificada com um nome inglês que já esqueci“ (...) não era para chegar amanhã de manhã?...”




Farim - O murete adjacente ao cais, as conhecidas acácias e a LDG «Alfange»
abicada para descarga e carga


Claro que a partir daqui, nos meus combóios, passou a ser respeitado apenas o envio da Hora de Chegada ao Destino, nunca batendo certo com o referido na Carta de Movimento, – vulgo Ordmove – como é óbvio.

Tive oportunidade, ainda neste combóio, de o justificar. É que, sem que alguém dos presentes, mais do que eu próprio, imaginava eu, soubesse da hora da saída, a meio da manhã apareceu um indivíduo negro a perguntar-­me a hora da partida. Que tinha um motor...avaria reparada... para enviar, aproveitando a boleia, já nem sei para onde.

Claro que dei ordem de andamento com a antecipação de duas horas, depois de me ter certificado de que tudo estava aprontado – “a DEPART” essa, foi enviada à hora justa...




Elísio Alfredo Pires Carmona
2TEN FZ RN
15.º CFORN


Fontes:
Texto compilado e actualizado pelo autor do blogue, a partir do publicado nas revistas números 13 da 14 - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, Dez2001 e Jun2002; fotos e imagens de Manuel Lema Santos (8º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval), Alberto Lema Santos (Alferes médico do BCaç 1933), Abel de Melo e Sousa (DFE1 72/74 - CFR Ref) e Carta da Província da Guiné - Ministério do Ultramar - Centro de Geografia do Ultramar, 1961;

mls



1 comentário:

Carlos Silva disse...
Amigo, está espectacular. Guiné é Guiné e o resto é paisagem. A minha próxima viagem à Guiné será contigo ao leme, num yate, barcaça ou LFG para navegar nessa linha do Cacheu e de outros rios. Assim, para além de passar a conhecer a Guiné a partir dos rios, sempre há uma possibilidade de ultrapassar os golpes, pois teremos uma oportunidade de ancorar para apanhar e comer umas ostras do tarrafe. Vê lá se aparecem camaradas da Marinha que queiram participar numa odisseia destas com um tipo do exército. Já tenho alguma experiência em navegar de LDM, jangadas e pirogas para atravessar o rio Cacheu em vários locais, mas principalmente entre o K3 e Farim e não coloquei a bóia ao pescoço.
Com um grande abraço
Carlos Silva

16 Abril de 2010, 12:58