01 junho 2017

Reserva Naval - Morto em Combate a 2 de Junho de 1973


António Bernardino Apolónio Piteira
(1947-1973)


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 1 de Dezembro de 2009)





Foi o único Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa - Reserva Naval, morto em combate no período em que decorreu a Guerra do Ultramar nos três teatros de África, em Angola, Moçambique ou Guiné.

Recordado por quantos com ele iniciaram a caminhada na Armada, em 18 de Fevereiro de 1971, António Piteira integrou a Classe de Fuzileiros do 18.º CFORN.

A circunstância de ter sido acontecimento único na História da Reserva Naval, seria motivo suficiente para invocar a memória desse triste facto, mas a personalidade invulgarmente simples e simpática de António Piteira, agigantava-se pela desinteressada camaradagem e amizade manifestadas em permanente alegria de viver, marcando profundamente quem o conheceu ou com ele privou de perto.

Natural da freguesia da Quinta do Jogo, do concelho de Arraiolos, onde nasceu em 11 de Outubro de 1947, era filho de Balbina Rita Apolónio e de Augusto da Silva Piteira.

Deu os primeiros passos, no ensino, nas Escolas da região e por aí se manteve até ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

A entrada na Escola Naval interrompeu-lhe a vida académica, iniciando-o numa nova fase a que se entregou com contagiante entusiasmo, marcando camaradas e guindando-se a figura de relevo na Amizade, a mais nobre virtude da vida.

Promovido a Aspirante FZ RN em 13 de Outubro de 1971, frequentou o curso de Fuzileiro e foi destacado para Angola, onde chegou a 18 de Setembro do ano seguinte, com o posto de STEN, assumindo o comando do 3.º Pelotão da Companhia N.º 1 de Fuzileiros.

No dia 2 de Junho de 1973, pelas oito horas da manhã, integrado numa coluna de viaturas do Destacamento do Zambeze, em missão de serviço à Lumbala, foi alvo de uma emboscada inimiga. Dessa emboscada, ocorrida na Picada entre Lumbala e Chilombo, a cerca de dez quilómetros desta última localidade, resultou a morte de António Piteira.




O Destacamento do Zambeze e a picada de Lumbala para o Chilombo



Na passagem do 30º aniversário da sua morte em 2003, a simplicidade das palavras de Adelino Couto Rodrigues da Silva, camarada de curso e também fuzileiro, foi elucidativa:

“...Recordo-o com eterna saudade e grande emoção. Afirmo ter sido um privilégio conhecê-lo e usufruir da oportunidade de com ele privar e dele me ter tornado amigo. Tinha grande vontade de viver e o destino pregou-lhe uma partida.
Este mundo louco tem destas coisas.
Até sempre, camarada amigo. Um dia vamos encontrar-nos e retomar as nossas conversas, estupidamente interrompidas...”


António Piteira, ainda hoje mantém entre amigos a camaradas um sentimento de tristeza e perda que perdura depois de decorrido tão longo período, ficando indefectivelmente ligado à História da Reserva Naval e da Marinha como mais uma jovem vida ceifada numa guerra que não olhou a quem arrebatou ao nosso convívio.




Também na «Sala Reserva Naval da Escola Naval», a memória de António Piteira está nobremente representada e, anualmente, é atribuído um Prémio com o seu nome, ao Cadete que, de entre os seus pares, por votação secreta e universal de todos os alunos daquela Instituição manifestar, ao longo de quatro anos e de forma mais significativa, as virtudes que se reconheciam ao homenageado – Altruísmo, Camaradagem, Generosidade, Solidariedade e Simpatia.


Fontes:
Texto e imagens de Manuel Lema Santos, 1TEN RN (lic), 8º CEORN;

mls

2 comentários:

Manel disse...

Estive aqui , pendo que 3 meses.

Foi duro. Também presto a minha homenagem e a todos que sofreram.

Agora é tudo desconhecido para quem nos governa. Até a própria Pátria , se ainda existir , nos vai desconhecer , um dia

Cunha Leão disse...

Francisco da Cunha Leão

Também fui Oficial Fuzileiro, mas na Guiné, 1968 - 1970, e presto homenagem a este Oficial, com o mais profundo sentimento.
Igualmente presto homenagem a todos quantos combateram, e com frequencia, em situações muito adversas, nas 3 frentes de combate.
Concordo em absoluto com o comentário do Manuel.
Conha Leão - 2ºTen. Fuzileiro