30 março 2018

Bissau - Memória de Honório Barreto


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 5 de Janeiro de 2011)

Honório Pereira Barreto - Governador da Guiné


No seguimento de anteriores publicações, evocamos agora Honório Barreto, figura política que merece destaque na consolidação do percurso histórico da Guiné numa alongada primeira metade do século XIX, ainda que seja frequente e historicamente apelidado de vilão e controverso.

Nascido em Cacheu no dia 24 de Abril de 1813, filho de mãe guineense e pai cabo-verdiano, ascendeu três vezes em períodos diferentes e por mérito próprio ao posto de Administrador, ao tempo a hierarquia máxima daquela então Província.




Em cima, em grande plano, o monumento a «Honório Barreto» e, em baixo, vista geral da praça com o seu nome vendo-se por detrás o «Hotel Portugal»



Pese embora aquela região de África ter sido palco de intensas lutas e comércio de escravos, este último de forma obscura também por ele mantido, as fronteiras da Guiné foram marcadas e delimitadas muito por mérito daquele político e militar que, pela suas qualidades de dirigente, se opôs com determinação e eficácia à ganância inglesa. Não fora a sua visão estratégica e tenacidade, a Guiné teria hoje fronteiras bem mais reduzidas.




Bissau - Avenida Carvalho Viegas desembocando ao fundo na praça Honório Barreto

A partir de 1800, a Inglaterra começara a exercer influência na Guiné, reivindicando a tutela da ilha de Bolama, arquipélago dos Bijagós, Buba e todo o litoral costeiro. Destaca-se nesta altura a figura do guineense Honório Barreto, provedor do Cacheu em 1834, o qual teve uma acção notável à frente do governo daquela Província.

Em 1870, com arbitragem do presidente dos EUA, Ulysses Grant, a Inglaterra abandona as pretensões sobre Bolama e zonas adjacentes e, em Maio de 1886, são delimitadas as fronteiras entre a Guiné Portuguesa e a África Ocidental Francesa, passando a região de Casamança para o controlo da França, por troca com a região de Quitafine, no sul do território (Cacine).




Bissau - Vista aérea do Liceu Honório Barreto (fotografado por volta de 1960)

A região de Casamança, hoje território senegalês e talvez a região mais rica daquele país pertencia então à Guiné. Apesar dos esforços pessoais, avisos e apelos feitos por Honório Barreto às autoridades portuguesas, inércia, displicência e hábitos herdados da escravatura, acabaram por determinar a entrega à França, sem consternação e de uma forma vassala e feudatária, da região hoje mais rica do Senegal.

Não escamoteando a sua origem marcadamente nativa, Honório Barreto bateu-se, assumidamente e de forma ímpar, pelo Império português, assumindo postura de grande estadista o que lhe valeu honrarias e condecorações, considerando-se ele próprio como um português da Guiné. Em 1853 cobriu-se de glória na grande sublevação da etnia dos papeis de Bissau, tal como, em 1856, na campanha contra os nagos.




Em cima: A exemplo de outras figuras históricas, também Honório Barreto deu lugar à emissão de moeda com a sua efigie, neste caso as notas de mil escudos (1000 «pesos») do Banco Nacional Ultramarino, em 30 de Abril de 1964, de acordo com os Decretos-Lei 39221 e 44891. Em baixo: Selo comemorativo do centenário da sua morte



Promovido a Tenente-Coronel de Artilharia de segunda linha, foi também galardoado com o grau de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada. Só muito mais tarde, aquele cargo passou a denominar-se de Governador, honra que lhe foi atribuída no ano da sua morte, ocorrida em 26.4.1859.




A homenagem do Governo Português na lápide fúnebre que encima a sua campa

Fazendo parte do Dispositivo Naval da Marinha, sempre por curtos períodos, esteve ali estacionada por diversas vezes a corveta «Honório Barreto» – F 485. Naquele território terá desempenhado missões de 03Ago/17Ago, 13Set/01Out e 28Out/13Nov de 1973, 23Jan/04Fev e 04Jul/24Jul de 1974.




Em cima: A corveta «Honório Barreto» fundeada frente ao cais de Bissau em 1974 e, em baixo, a navegar em 1982



Não há conhecimento de que algum oficial da Reserva Naval tenha pertencido à guarnição da corveta «Honório Barreto».



Após o final da guerra, a República da Guiné-Bissau sofreu das normais vicissitudes resultantes da alteração de regimes políticos por via dos conflitos armados, e foram vários, com adaptação da sociedade civil a transformações sociais profundas, marcadas pela necessidade de eliminar quaisquer vestígios físicos, históricos ou arquitectónicos, nascidos durante a vigência ou pela mão de outro regime anterior considerado hostil.

Lá, também como cá, ou em qualquer outro local de convulsões sociais, a memória histórica não é susceptível de ser apagada por mera vontade de momento, mesmo que compreensivelmente alicerçada em recentes feridas de guerra, abertas de ambos os lados e ainda por sarar.




Em Vila Cacheu, 2007/2008 - Nestes dois anos, no exterior e no interior da Fortaleza, respectivamente, imagens do busto de «Honório Barreto», parte do monumento desmantelado

Sobreviveram pessoas, relatos, documentação e registos que darão, em devido tempo, lugar a pesquisa e investigação, cabendo a sociólogos e historiadores a construção de uma História dinâmica, sem hermetismos autocráticos




Fontes:
Texto do autor do blogue, compilado a partir de http://historiaguine.com.sapo.pt/; Setenta e Cinco Anos no Mar, 8.º Vol, 1993, Comissão Cultural da Marinha; http://mecckwamenkrumah.blogspot.com/; fotos de Dr. Carlos Silva (Furriel Mil, CCaç 2548) , Bilhetes Postais n.º 129/130, Colecção Guiné Portuguesa - Foto-Serra, Bissau; Imprensa Nacional, Casa da Moeda; cortesia do Instituto de Investigação Cientifica Tropical, Arquivo Histórico Ultramarino, http://actd.iict.pt/; Revista da Armada; http://www.coins-and-banknotes.com/Banknotes-World/World-Banknotes/Portuguese-Guinea/Portuguese-Guinea-Honorio-Barreto-at-right-cleaned-and-prep-43a-1964-F-1000.html; http://img15.imageshack.us/i/gui0620a.jpg/.


mls

18 março 2018

Bissau - Memória de «Nuno Tristão»


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 1 de Dezembro de 2010)


Nuno Tristão – Primeiro navegador europeu a atingir a actual Guiné-Bissau


No seguimento do anterior artigo publicado, evocamos agora Nuno Tristão, outra figura ímpar na história dos descobrimentos e da exploração da costa africana, uma vez ter sido o primeiro navegador europeu conhecido a atingir o território da actual Guiné-Bissau.




Na foto acima, em Bissau (1966), a estátua de Nuno Tristão, implantada no início da então Av. da República, de costas para a Praça do Império e para o Palácio do Governador, virada para o cais do Pijiguiti, estuário do Geba e para o Mar.

Sempre o Mar!...

Na perpendicular fica a Av. Marginal sendo que, para quem está de costas para o cais e para o rio, terá para o lado direito a Ponte-Cais, Fortaleza de S. José da Amura e ex-Pelicano e, para o lado esquerdo, as Instalações Navais de Bissau (INAB). Era, como outros, um quase obrigatório percurso na zona comercial em áreas adjacentes ao porto.

À esquerda, é visível o edifício da Casa Gouveia, hoje Armazéns do Povo. À direita, a parte arborizada corresponde à esplanada do Café Bento também vulgarmente conhecida como “5.ª Rep”. Quem se não lembra deste “pseudónimo”? Avistam-se ainda as duas torres da Sé de Bissau, ex-libris da cidade.






Numa abordagem de simples retalhos, alijando alargados considerandos próprios de historiadores, terá sentido recordar alguns pormenores do dia-a-dia da época. Era bem o caso da moeda corrente, o escudo, cuja representação facial das notas de cinquenta e cem escudos ostentavam a efígie daquele navegador.






Na época, os escudos cediam a denominação a “pesos”, passando a notas de cinquenta ou cem pesos. Quem não recorda, na linguagem corrente, em vez de “muito caro” ouvir “manga de pesos” ou “manga de patacão”?




Também aqui, no Continente, em 1987, foi emitida uma moeda comemorativa com o valor facial de cem escudos, na tiragem de um milhão de exemplares, da autoria dos escultores Isabel Carriço e Fernando Branco. Evocando Nuno Tristão, naturalmente.




Fazendo parte do Dispositivo Naval da Marinha, algumas vezes por curtos períodos, esteve ali estacionada por diversas vezes a fragata «Nuno Tristão» - F 332, da mesma classe da fragata «Diogo Gomes».

Naquele território terá desempenhado missões de 24Out62 a 11Dez62 e 09Dez64 a 08Abr66. No decorrer do primeiro trimestre de 1964 apoiou e participou na que foi considerada a maior acção militar de toda a Guerra do Ultramar, a Operação <“Tridente”. Não há conhecimento de que algum oficial da Reserva Naval tenha pertencido à guarnição da fragata «Nuno Tristão».







Guiné - A fragata «Nuno Tristão» atracada ao NH «Pedro Nunes»




Nuno Tristão(? — costa de África, 1446?) foi um navegador português do século XV, explorador e mercador de escravos na costa ocidental africana. Foi o primeiro europeu que se sabe ter atingido o território da actual Guiné Bissau, iniciando entre os portugueses e os povos daquela região um relacionamento comercial e colonial que se prolongaria até 1974.
Em 1441, Nuno Tristão e Antão Gonçalves foram enviados pelo Infante D. Henrique com a missão de explorar a costa ocidental da África a sul do Cabo Branco. Integrando um mouro que actuava como intérprete, Tristão, a expedição liderada por Nuno Tristão ultrapassou aquele Cabo, à altura o ponto mais meridional atingido pelos exploradores europeus, e durante dois anos permaneceu nas águas do noroeste africano, avançando até ao Golfo de Arguim, na actual costa da Mauritânia, onde adquiriram 28 escravos.
Em 1445 navegou até à região da Guiné, encontrando uma terra, que, em contraste com as regiões desérticas a norte, existiam muitas palmeiras e outras árvores e os campos pareciam férteis. Em 1446 Nuno Tristão desembarcou nas proximidades da actual cidade de Bissau, iniciando uma presença portuguesa na região que se prolongaria por quase 500 anos.
Nuno Tristão foi morto em data desconhecida, provavelmente no ano de 1446, durante um assalto destinado à captura de escravos, ocorrido na costa africana, cerca de 320 km a sul do Cabo Verde.





Após o final da guerra, a república da Guiné-Bissau sofreu das normais vicissitudes resultantes da alteração de regimes políticos por via dos conflitos armados, e foram vários, com adaptação da sociedade civil a transformações sociais profundas, marcadas pela necessidade de eliminar quaisquer vestígios físicos, históricos ou arquitectónicos, nascidos durante a vigência ou pela mão de outro regime anterior considerado hostil.




2007 - Em Vila Cacheu, a estátua de Nuno Tristão abandonada no exterior do forte

Lá, também como cá, ou em qualquer outro local de convulsões sociais, a memória histórica não é susceptível de ser apagada por mera vontade de momento, mesmo que compreensivelmente alicerçada em recentes feridas de guerra, abertas de ambos os lados e ainda por sarar.



2008 - Em Vila Cacheu, desta feita dentro do forte, Nuno Tristão parece necessitar de apoio, encostado às ameias

Sobreviveram pessoas, relatos, documentação e registos que darão, em devido tempo, lugar a pesquisa e investigação, cabendo a sociólogos e historiadores a construção de uma História dinâmica, sem hermetismos autocráticos




Fontes:
Texto do autor do blogue; Bibliografia do Dicionário de Navios & relação de Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, 2006; Fotos do Arquivo de Marinha, Dr. Carlos Silva (ex-Furriel Mil, CCaç 2548) e Foto-Serra, Bissau; Imprensa Nacional, Casa da Moeda.


mls

15 março 2018

Bissau - Memória de «Diogo Gomes»


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 29 de Novembro de 2010)


Diogo Gomes - A incontornável memória de um navegador




Bissau, 1967 - Em cima, o monumento a Diogo Gomes, no enfiamento da ponte-cais, ao lado do CDMG e, em baixo, o mesmo monumento fotografado de uma outra perspectiva, e em tempo anterior (1966)



Diogo Gomes foi uma figura incontornável na epopeia das campanhas e descobrimentos portugueses em África. Evocado dessa simples forma, sempre teve representado na monumentalidade de Bissau, com expressiva visibilidade no enfiamento da ponte-cais da cidade, posicionado lateralmente junto ao edifício do Comando da Defesa Marítima da Guiné – antigo e actual Edifício das Alfândegas.

Ao longo dos anos, integrou a memória histórica de populações daquele território - actual República da Guiné-Bissau - e de quem ali esteve como militar em qualquer um dos ramos das Forças Armadas, enquanto durou o conflito de 1962 a 1975, toda a navegação comercial e de cabotagem, batelões e pessoal da estiva, transportes de tropas, simples passageiros em trânsito ou veraneantes.

Bastava, para issso, a habitual passeata ribeirinha na busca da proximidade portuária junto ao rio Geba, zona comercial na proximidade da Av. Marginal, ponte-cais de Bissau, cais do Pijiguiti, instalações da Alfândega ou Forte da Amura, especialmente para a Marinha que ali desenvolvia toda a sua actividade operacional no Edifício do Comando, Guarnições de Unidades Navais, Destacamentos ou Companhias de Fuzileiros, Instalações Navais de Bissau (INAB) e Serviço de Assistência Oficinal (SAO).




Imagens da fragata «Diogo Gomes» a navegar



Da própria Marinha, estacionou naquele teatro por três vezes, em comissão, a fragata com o nome do navegador, F 331 - «Diogo Gomes». A primeira em 01Fev62 durante cerca de oito meses com intervalo de um mês em Cabo Verde, a segunda em 1963 tendo ali permanecido dois meses e a terceira em Fevereiro/Março de 1966, tendo visitado a Guiné e Cabo Verde.

Naquele navio prestou serviço o 2TEN RN Luis Filipe do Cruzeiro Gonçalves Penedo, do 5.º CEORN, o único oficial da Reserva Naval de que há conhecimento confirmado ter pertencido à guarnição daquela unidade naval, desde 12Jun63 e, suposto, até ao final do tempo de serviço em 1965.




Diogo Gomes (14?? – c. 1502), também referido como Diogo Gomes de Sintra, foi um navegador e explorador português.

Biografia

Foi moço de câmara do Infante D. Henrique, por ele enviado em expedições de descobrimento à costa ocidental da África. Em 1440 foi nomeado colector das alfândegas reais. Das viagens que efectuou, participou, com Gil Eanes e Lançarote de Freitas da expedição militar de 1445 à ilha de Tider, perto do cabo Branco.
Nomeado escrivão da carreagem real (12 de Junho de 1451), seguiu prestando serviços em simultâneo tanto ao Infante quanto à Coroa.
Como referiu Teixeira da Mota, Diogo Gomes navegou em 1456 até à embocadura do rio Grande, canal do Geba. No regresso subiu o rio Gâmbia até Cantor, em busca de informações sobre o comércio do ouro e das rotas que ligavam as regiões auríferas do Senegal, do Alto Níger e do entreposto comercial de Tombuctu às rotas saarianas que desembocavam no litoral marroquino.
Durante esta expedição, Diogo Gomes capitaneava uma esquadra de três navios. Possivelmente no seu regresso tocou o arquipélago de Cabo Verde, cujo descobrimento reclama para si, na companhia do italiano António da Noli. Ainda antes da morte do Infante D. Henrique (1460), regressou à costa africana onde explorou o rio de Barbacins (Salum).
Após o falecimento do Infante estreitou-se a sua ligação com a Corte, adquirindo o título de cavaleiro. Em 1463 exercia o cargo de escudeiro de Afonso V de Portugal. Exerceu o cargo de almoxarife de Sintra, de 28 de Outubro de 1459 até 1480, tendo exercido ainda as de juiz dos "Feitos das Coutadas, das Caças e Montarias" de Sintra (25 de Março de 1466) cargo que acumulou com o de juiz das Sisas da vila de Colares (confirmado em 5 de Março de 1482).
Embora não se saiba ao certo em que ano faleceu, existe o registo de um pagamento que a sua viúva fez pela sua alma, em 1502.

Nota:

Outros autores atribuem-lhe o descobrimento de uma das ilhas de Cabo Verde no dia de São Vicente (22 de Janeiro) em 1462. Na altura seria escudeiro do infante D. Fernando.







Estátua de Diogo Gomes, Praia, Cabo Verde (Autor - CorreiaPM).


Bibliografia:

MOTA, Avelino Teixeira da. "Diogo Gomes, Primeiro Grande Explorador do Gâmbia (1456)". in: Actas da 2ª Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, Lisboa, 1950, pp. 309-317.
SINTRA, Diogo Gomes de. Descobrimento Primeiro da Guiné (estudo preliminar, edição crítica, tradução, notas e comentário de Aires A. Nascimento. Introdução histórica de Henrique Pinto Rema). Lisboa: Edições Colibri, 2002. 174 pp.





Após o final da guerra, a república da Guiné-Bissau sofreu das normais vicissitudes resultantes da alteração de regimes políticos por via dos conflitos armados, e foram vários, com adaptação da sociedade civil a transformações sociais profundas, marcadas pela necessidade de eliminar quaisquer vestígios físicos, históricos ou arquitectónicos, nascidos durante a vigência ou pela mão de outro regime anterior considerado hostil.




2007 - Em Vila Cacheu, a estátua de Diogo Gomes abandonada no exterior do forte.

Lá, também como cá, ou em qualquer outro local de convulsões sociais, a memória histórica não é susceptível de ser apagada por mera vontade de momento, mesmo que compreensivelmente alicerçada em recentes feridas de guerra, abertas de ambos os lados e ainda por sarar.



2008 - Em Vila Cacheu, agora dentro do forte, Diogo Gomes parece agora contemplar um horizonte perdido no tempo.

Sobreviveram pessoas, relatos, documentação e registos que darão, em devido tempo, lugar a pesquisa e investigação, cabendo a sociólogos e historiadores a construção de uma História dinâmica, sem hermetismos autocráticos.



Fontes:
Texto do autor do blogue, compilado a partir de: Dicionário de Navios & Relação de Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, 2006; Lista da Armada; fotos do Arquivo de Marinha, Carlos Fernando Dias Souto, Carlos Silva (ex-Furriel Mil, CCaç 2548), Postal 91 (Foto-Serra, Bissau).


mls

01 março 2018

Imediatos da LFG “Orion” na classe “Cacine”


Imediatos da LFG «Orion» na classe «Cacine»


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 28 de Junho de 2010)


Os 2TEN RN José Zulmiro de Sousa Barbosa e 2TEN RN António Fernando de Brito Castilho Dias foram ambos oficiais da Reserva Naval, o primeiro do 24.º CFORN e o segundo do 22.º CFORN.

Julgava eu que, pelos meus sempre insuficientes canhenhos históricos, o José Zulmiro Barbosa teria sido o último a desempenhar as funções de oficial Imediato da LFG «Orion» depois de, em 23.12.74, ter aportado a Luanda a “Incrível Armada”.

Assim não terá sido uma vez que o António Castilho Dias, antes de regressarem os dois a Portugal e se bem que numa curta passagem, ainda desempenhou igualmente as mesmas funções a partir de 25.2.75.

Ambos estiveram em navios-patrulha da classe «Cacine» mas, melhor que espraiar para aqui teorias, será transcrever algumas mensagens que tive o prazer de trocar com o José Zulmiro Barbosa.




Em 2010.04.14, José Zulmiro Barbosa, em comunicação sobre "Imediatos da LFG «Orion» na classe “Cacine” disse:

Caro Lema Santos,

Tenho acompanhado com crescente interesse o seu/nosso blogue.
Fui imediato da «Orion», tendo integrado a “Incrível Armada” que, como sabe, chegou a Luanda em 23.12.74.
Em Luanda passei para o Rovuma por troca com outro camarada da RN, Castilho Dias, tendo regressado a Lisboa, onde chegámos a 16 de Março de 1975. Depois fui ainda imediato dos navios-patrulha «Mandovi» e «Geba».
Envio-lhe umas fotos da Base Naval de Luanda, onde se pode ver a LFG «Orion» em fabricos, o «Rovuma» atracado na muralha e uma panorâmica geral com várias lanchas.
Claro que pode fazer o que entender com elas.
Estou na expectativa de ver algumas notas no blogue sobre o «meu» 24.º CFORN, uma vez que penso que terá acesso a documentação para tal.
Um abraço e obrigado pelo seu magnífico trabalho.
Até breve,
José Zulmiro Barbosa





Luanda - Aspecto da base naval sendo visível a LDG «Alabarda» atracada com 2 LFP de braço dado e, do outro lado do cais, várias LFG amarradas;



Em 2010.04.14, mls, em comunicação sobre "Imediatos da LFG «Orion» na classe «Cacine» respondeu:

Caro José Zulmiro Barbosa,

Em primeiro lugar o meu agradecimento pelo cumprimento. Será um prazer ser contactado por um camarada e, para mais, Imediato da LFG «Orion"»!
Temo não poder corresponder a tão elevadas expectativas, porque estou numa de remador "a solo" o que se vai tornando cada vez mais complicado.
Vai para meia dúzia de anos que iniciei esta cruzada complementar e gostava de prosseguir, uma vez que acabar nunca acaba. A História é dinâmica e resta sempre algo para acrescentar.
Mas, não perdendo tempo, em épocas diferentes, fomos camaradas na «Orion» e aquela LFG como ponto comum é muito importante! Espero que comungues - quebro aqui o formalismo - da mesma ideia.
Começo por te fazer um desafio. Divulga o «blogue» em camaradas com que tenhas contacto, tenta arranjar fotos do curso, de passe ou de episódios diversos, para se poder efectuar um resumo do 24.º CFORN em condições.
E desse como de outro qualquer. Do 13.º CFORN para a frente não disponho de quase nenhum material pelo que ilustrar o resumo devidamente vai ser mais complicado. O acesso aos arquivos é muito limitado ou mesmo fechado, mesmo a fotos da época porque estão anexas ao processo pessoal.
Tenho o relato oficial completo da Incrível Armada que, aliás, já li e reli várias vezes. Tenho imenso material pesquisado das LFG classe «Argos», já digitalizado e compilado mas não me chega o tempo para tudo.
Fico por aqui, apenas para não armar nenhuma confusão nas tuas ideias mas também a aguardar notícias tuas para continuarmos o diálogo. Deixo-te os meus contactos abaixo e agradeço-te as fotos que enviaste. Voltaremos a falar nisso.
Abraço amigo,
mls




Em 2010.10.25, José Zulmiro Barbosa, em comunicação sobre "Imediatos da LFG «Orion» na classe «Cacine» respondeu:

Caro Lema Santos,

No último “post” sobre a classe «Cacine» , verifico com surpresa que, tendo embora sido 3º oficial do Rovuma (por troca com o 2TEN RN Castilho Dias, que passou para a «Orion»), em Fevereiro e Março de 1975 (viagem Luanda –Lisboa), não apareço na relação de oficiais RN que prestaram serviço no navio-patrulha «Rovuma».
Da mesma forma , tendo sido 3º oficial e imediato do «Mandovi» (por troca com o 2TEN RN Manuel Almeida Vasques, que passou para o «Rovuma»), de Abril de 1975 a Dezembro de 1975, também não consto da relação respectiva.
No navio-patrulha Mandovi, de prevenção e atracado em Leixões, vivi as eleições de 25 de Abril de 1975 para a Constituinte na companhia do 1TEN Cajarabille, comandante à data; atracado na BNL, também de prevenção, vivi o “golpe” de 25 de Novembro de 75, substituindo o comandante (1TEN Tomás Coelho, que tinha rendido o 1TEN Cajarabille), que estava de férias.
De Dezembro de 1975 a Fevereiro de 1976, data em que fui licenciado, fui imediato do Geba. Porventura também não existirão registos.
Estranho, apesar da confusão na época ser grande... (verão quente de 75, golpes e contragolpes, etc).
Conto voltar ao assunto.
Um abraço e até breve.
José Zulmiro Barbosa


Luanda - O navio- patrulha "Rovuma" atracado na muralha e uma LFG encostada de braço dado.



Em 2010.06.25, mls, em comunicação sobre "Imediatos da LFG «Orion» na classe «Cacine» respondeu:

Caro José Zulmiro Barbosa,

Para mim, é sempre extremamente agradável ouvir pessoas do outro lado da linha que lêem e estão atentas. Antigos camaradas ainda melhor, mas é raro. Basta observar os comentários que vão aparecendo "online".
Tudo o que na altura disse mantém-se e, naturalmente, tenho algumas dificuldades em acelerar o andamento, a sós. Mesmo para história dos cursos, depois das mensagens que trocámos, apesar de um apelo feito pela Associação e por mim, apenas arranjámos uma foto de curso do 16.º CFORN... até ao 25.º CFORN, o último.
O único suporte existente para tentar localizar as Unidades ou Serviços onde prestavam serviço oficiais RN era, e a partir de 1978 nem isso, a Lista da Armada. Esta publicação referia as situações relativas a 31 de Dezembro de cada ano e ali figurava apenas a data inicial de destacamento para a Unidade.
Como tal, algum movimento a meio do ano, não mantido até 31 de Dezembro não figuraria, o que explica todas essa ausências de informação. Para mim, oficialmente, o 2TEN RN José Zulmiro da Silva Barbosa, do 24.º CFORN, aparece como oficial Imediato da LFG «Orion» em 31.12.74 (desde 21.11.74) e em 1975 já nem aparece em lado nenhum na Lista da Armada!
O 2TEN RN António Castilho Dias, do 22.º CFORN, em 31.12.73 aparece no navio-patrulha «Maio» (desde 1.10.73), em 31.12.74 no navio-patrulha «Rovuma» (desde 5.2.74) e em 1975 não aparece igualmente em lado nenhum.
Para mim, verdadeira surpresa terá sido o Castilho Dias ter sido também imediato da «Orion», ainda que apenas de passagem. A partir daqui tudo é confusão e granel. Aliás, as trocas de situações, algo frequentes, em navios estacionados na Base Naval de Lisboa nunca permitiram registos actualizados.
Outros dados poderão ser obtidos na Repartição de Alcântara, em consulta do processo individual e, compreensivelmente, apenas pelo próprio. As guarnições de navios também têm classificação reservada e não podem ser consultadas.
De seguida conto publicar o que oficialmente existe sobre os restantes 5 navios-patrulhas da classe «Cacine». Claro que estará igualmente incompleto na informação...
As fotos estão guardadas e arrepiou-me o estado da LFG «Orion». Aproveito para te enviar uma outra foto da nossa LFG, quase diria do bom tempo daquele navio. Nova, a estrear, saída do Alfeite e em frente à Praça do Comércio, antes de ir para a Guiné.
Fico a aguardar a tuas opiniões/sugestões.
Abraço amigo,
mls





Em cima, em Angola, 1974, o aspecto desolador da LFG «Orion» em fabricos (?) e, em baixo, a mesma LFG fundeada frente ao Terreiro do Paço, em 1964, antes de rumar à Guiné





Em 2010.10.25, José Zulmiro Barbosa, em comunicação sobre "Imediatos da LFG «Orion» na classe «Cacine» respondeu:

Caro Lema Santos,

Está explicado.Já em tempos pedi uma certidão para obtenção da carta de patrão de alto mar, e de facto a descrição do meu serviço militar só referia a LF «Corvina» (meu primeiro navio) e acabava na LFG «Orion»...
Já agora pergunto-te onde poderei consultar a Lista da Armada. Online?.
Vou tentar escrever algo que possa ter interesse para o blogue.
Obrigado pela bonita foto. No meu tempo as lanchas da Guiné eram pintadas de verde.
Um abraço,
JZB





Guiné, rio Cacheu - A LFP «Aldebaran» vestida de um estranho verde



Em 2010.06.25, mls, em comunicação sobre "Imediatos da LFG «Orion» na classe «Cacine» respondeu:

Caro José Zulmiro Barbosa,

Consultas "online" penso que não conseguirás nada. Estão todas disponíveis mas no Arquivo Central de Marinha, na Fábrica Nacional de Cordoaria, na Junqueira. A partir de 1978, figuram apenas com números informáticos, sem situações profissionais e têm muitas gralhas.
Efeitos do tempo...ou do mau tempo? Quem tenha paciência - muita - pode procurar as Ordens da Armada ou da Direcção do Serviço de Pessoal, uma a uma, e encontra os movimentos todos. Bela perspectiva!
Mesmo assim, sendo um documento público, a partir de 2003 existe apenas em suporte digital e, como documento Intranet, é interno, não estando disponível ao público, a não ser que permitam uma vistazita de olhos num terminal dum computador. Que o país está diferente, está, mas para melhor ou para pior?
Deixo-te o repto de escreveres meia dúzia de linhas para as fotos de Angola e para algum apoio que necessites.
Julgo que a cor cinza esverdeado que me habituei a ver nos navios da Marinha de Guerra, por motivos que desconheço iniciou, na época, um processo de alteração de cor, claramente visível na Guiné em algumas das unidades navais.
Propositadamente ou não, certamente de gosto duvidoso, tanto que assim continua a não ser. Talvez a ideia fosse simular uma espécie de camuflado com o tarrafo. Quem sabe?
Já agora um pedido: Tens foto de curso do 24.º CFORN? Até ao final do ano também vai figurar um resumo, no blogue e na página. Também vou publicar alguns filmes, nomeadamente de Angola.
Abraço,
mls




Fontes:
Texto compilado pelo autor do blogue com imagens da Revista da Armada; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Setenta e Cinco Anos no Mar, Comissão Cultural da Marinha 10.º e 15.º Vols, 1999/2004; Ordem da Armada;


mls