(Post reformulado a partir de outro já publicado em 29 de Novembro de 2010)
Diogo Gomes - A incontornável memória de um navegador
Bissau, 1967 - Em cima, o monumento a Diogo Gomes, no enfiamento da ponte-cais, ao lado do CDMG e, em baixo, o mesmo monumento fotografado de uma outra perspectiva, e em tempo anterior (1966)
Diogo Gomes foi uma figura incontornável na epopeia das campanhas e descobrimentos portugueses em África. Evocado dessa simples forma, sempre teve representado na monumentalidade de Bissau, com expressiva visibilidade no enfiamento da ponte-cais da cidade, posicionado lateralmente junto ao edifício do Comando da Defesa Marítima da Guiné – antigo e actual Edifício das Alfândegas.
Ao longo dos anos, integrou a memória histórica de populações daquele território - actual República da Guiné-Bissau - e de quem ali esteve como militar em qualquer um dos ramos das Forças Armadas, enquanto durou o conflito de 1962 a 1975, toda a navegação comercial e de cabotagem, batelões e pessoal da estiva, transportes de tropas, simples passageiros em trânsito ou veraneantes.
Bastava, para issso, a habitual passeata ribeirinha na busca da proximidade portuária junto ao rio Geba, zona comercial na proximidade da Av. Marginal, ponte-cais de Bissau, cais do Pijiguiti, instalações da Alfândega ou Forte da Amura, especialmente para a Marinha que ali desenvolvia toda a sua actividade operacional no Edifício do Comando, Guarnições de Unidades Navais, Destacamentos ou Companhias de Fuzileiros, Instalações Navais de Bissau (INAB) e Serviço de Assistência Oficinal (SAO).
Da própria Marinha, estacionou naquele teatro por três vezes, em comissão, a fragata com o nome do navegador, F 331 - «Diogo Gomes». A primeira em 01Fev62 durante cerca de oito meses com intervalo de um mês em Cabo Verde, a segunda em 1963 tendo ali permanecido dois meses e a terceira em Fevereiro/Março de 1966, tendo visitado a Guiné e Cabo Verde.
Naquele navio prestou serviço o 2TEN RN Luis Filipe do Cruzeiro Gonçalves Penedo, do 5.º CEORN, o único oficial da Reserva Naval de que há conhecimento confirmado ter pertencido à guarnição daquela unidade naval, desde 12Jun63 e, suposto, até ao final do tempo de serviço em 1965.
Diogo Gomes (14?? – c. 1502), também referido como Diogo Gomes de Sintra, foi um navegador e explorador português.
Biografia
Foi moço de câmara do Infante D. Henrique, por ele enviado em expedições de descobrimento à costa ocidental da África. Em 1440 foi nomeado colector das alfândegas reais. Das viagens que efectuou, participou, com Gil Eanes e Lançarote de Freitas da expedição militar de 1445 à ilha de Tider, perto do cabo Branco.
Nomeado escrivão da carreagem real (12 de Junho de 1451), seguiu prestando serviços em simultâneo tanto ao Infante quanto à Coroa.
Como referiu Teixeira da Mota, Diogo Gomes navegou em 1456 até à embocadura do rio Grande, canal do Geba. No regresso subiu o rio Gâmbia até Cantor, em busca de informações sobre o comércio do ouro e das rotas que ligavam as regiões auríferas do Senegal, do Alto Níger e do entreposto comercial de Tombuctu às rotas saarianas que desembocavam no litoral marroquino.
Durante esta expedição, Diogo Gomes capitaneava uma esquadra de três navios. Possivelmente no seu regresso tocou o arquipélago de Cabo Verde, cujo descobrimento reclama para si, na companhia do italiano António da Noli. Ainda antes da morte do Infante D. Henrique (1460), regressou à costa africana onde explorou o rio de Barbacins (Salum).
Após o falecimento do Infante estreitou-se a sua ligação com a Corte, adquirindo o título de cavaleiro. Em 1463 exercia o cargo de escudeiro de Afonso V de Portugal. Exerceu o cargo de almoxarife de Sintra, de 28 de Outubro de 1459 até 1480, tendo exercido ainda as de juiz dos "Feitos das Coutadas, das Caças e Montarias" de Sintra (25 de Março de 1466) cargo que acumulou com o de juiz das Sisas da vila de Colares (confirmado em 5 de Março de 1482).
Embora não se saiba ao certo em que ano faleceu, existe o registo de um pagamento que a sua viúva fez pela sua alma, em 1502.
Nota:
Outros autores atribuem-lhe o descobrimento de uma das ilhas de Cabo Verde no dia de São Vicente (22 de Janeiro) em 1462. Na altura seria escudeiro do infante D. Fernando.
Bibliografia:
MOTA, Avelino Teixeira da. "Diogo Gomes, Primeiro Grande Explorador do Gâmbia (1456)". in: Actas da 2ª Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, Lisboa, 1950, pp. 309-317.
SINTRA, Diogo Gomes de. Descobrimento Primeiro da Guiné (estudo preliminar, edição crítica, tradução, notas e comentário de Aires A. Nascimento. Introdução histórica de Henrique Pinto Rema). Lisboa: Edições Colibri, 2002. 174 pp.
Após o final da guerra, a república da Guiné-Bissau sofreu das normais vicissitudes resultantes da alteração de regimes políticos por via dos conflitos armados, e foram vários, com adaptação da sociedade civil a transformações sociais profundas, marcadas pela necessidade de eliminar quaisquer vestígios físicos, históricos ou arquitectónicos, nascidos durante a vigência ou pela mão de outro regime anterior considerado hostil.
Lá, também como cá, ou em qualquer outro local de convulsões sociais, a memória histórica não é susceptível de ser apagada por mera vontade de momento, mesmo que compreensivelmente alicerçada em recentes feridas de guerra, abertas de ambos os lados e ainda por sarar.
Sobreviveram pessoas, relatos, documentação e registos que darão, em devido tempo, lugar a pesquisa e investigação, cabendo a sociólogos e historiadores a construção de uma História dinâmica, sem hermetismos autocráticos.
Ao longo dos anos, integrou a memória histórica de populações daquele território - actual República da Guiné-Bissau - e de quem ali esteve como militar em qualquer um dos ramos das Forças Armadas, enquanto durou o conflito de 1962 a 1975, toda a navegação comercial e de cabotagem, batelões e pessoal da estiva, transportes de tropas, simples passageiros em trânsito ou veraneantes.
Bastava, para issso, a habitual passeata ribeirinha na busca da proximidade portuária junto ao rio Geba, zona comercial na proximidade da Av. Marginal, ponte-cais de Bissau, cais do Pijiguiti, instalações da Alfândega ou Forte da Amura, especialmente para a Marinha que ali desenvolvia toda a sua actividade operacional no Edifício do Comando, Guarnições de Unidades Navais, Destacamentos ou Companhias de Fuzileiros, Instalações Navais de Bissau (INAB) e Serviço de Assistência Oficinal (SAO).
Imagens da fragata «Diogo Gomes» a navegar
Da própria Marinha, estacionou naquele teatro por três vezes, em comissão, a fragata com o nome do navegador, F 331 - «Diogo Gomes». A primeira em 01Fev62 durante cerca de oito meses com intervalo de um mês em Cabo Verde, a segunda em 1963 tendo ali permanecido dois meses e a terceira em Fevereiro/Março de 1966, tendo visitado a Guiné e Cabo Verde.
Naquele navio prestou serviço o 2TEN RN Luis Filipe do Cruzeiro Gonçalves Penedo, do 5.º CEORN, o único oficial da Reserva Naval de que há conhecimento confirmado ter pertencido à guarnição daquela unidade naval, desde 12Jun63 e, suposto, até ao final do tempo de serviço em 1965.
Diogo Gomes (14?? – c. 1502), também referido como Diogo Gomes de Sintra, foi um navegador e explorador português.
Biografia
Foi moço de câmara do Infante D. Henrique, por ele enviado em expedições de descobrimento à costa ocidental da África. Em 1440 foi nomeado colector das alfândegas reais. Das viagens que efectuou, participou, com Gil Eanes e Lançarote de Freitas da expedição militar de 1445 à ilha de Tider, perto do cabo Branco.
Nomeado escrivão da carreagem real (12 de Junho de 1451), seguiu prestando serviços em simultâneo tanto ao Infante quanto à Coroa.
Como referiu Teixeira da Mota, Diogo Gomes navegou em 1456 até à embocadura do rio Grande, canal do Geba. No regresso subiu o rio Gâmbia até Cantor, em busca de informações sobre o comércio do ouro e das rotas que ligavam as regiões auríferas do Senegal, do Alto Níger e do entreposto comercial de Tombuctu às rotas saarianas que desembocavam no litoral marroquino.
Durante esta expedição, Diogo Gomes capitaneava uma esquadra de três navios. Possivelmente no seu regresso tocou o arquipélago de Cabo Verde, cujo descobrimento reclama para si, na companhia do italiano António da Noli. Ainda antes da morte do Infante D. Henrique (1460), regressou à costa africana onde explorou o rio de Barbacins (Salum).
Após o falecimento do Infante estreitou-se a sua ligação com a Corte, adquirindo o título de cavaleiro. Em 1463 exercia o cargo de escudeiro de Afonso V de Portugal. Exerceu o cargo de almoxarife de Sintra, de 28 de Outubro de 1459 até 1480, tendo exercido ainda as de juiz dos "Feitos das Coutadas, das Caças e Montarias" de Sintra (25 de Março de 1466) cargo que acumulou com o de juiz das Sisas da vila de Colares (confirmado em 5 de Março de 1482).
Embora não se saiba ao certo em que ano faleceu, existe o registo de um pagamento que a sua viúva fez pela sua alma, em 1502.
Nota:
Outros autores atribuem-lhe o descobrimento de uma das ilhas de Cabo Verde no dia de São Vicente (22 de Janeiro) em 1462. Na altura seria escudeiro do infante D. Fernando.
Estátua de Diogo Gomes, Praia, Cabo Verde (Autor - CorreiaPM).
Bibliografia:
MOTA, Avelino Teixeira da. "Diogo Gomes, Primeiro Grande Explorador do Gâmbia (1456)". in: Actas da 2ª Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, Lisboa, 1950, pp. 309-317.
SINTRA, Diogo Gomes de. Descobrimento Primeiro da Guiné (estudo preliminar, edição crítica, tradução, notas e comentário de Aires A. Nascimento. Introdução histórica de Henrique Pinto Rema). Lisboa: Edições Colibri, 2002. 174 pp.
Após o final da guerra, a república da Guiné-Bissau sofreu das normais vicissitudes resultantes da alteração de regimes políticos por via dos conflitos armados, e foram vários, com adaptação da sociedade civil a transformações sociais profundas, marcadas pela necessidade de eliminar quaisquer vestígios físicos, históricos ou arquitectónicos, nascidos durante a vigência ou pela mão de outro regime anterior considerado hostil.
2007 - Em Vila Cacheu, a estátua de Diogo Gomes abandonada no exterior do forte.
Lá, também como cá, ou em qualquer outro local de convulsões sociais, a memória histórica não é susceptível de ser apagada por mera vontade de momento, mesmo que compreensivelmente alicerçada em recentes feridas de guerra, abertas de ambos os lados e ainda por sarar.
2008 - Em Vila Cacheu, agora dentro do forte, Diogo Gomes parece agora contemplar um horizonte perdido no tempo.
Sobreviveram pessoas, relatos, documentação e registos que darão, em devido tempo, lugar a pesquisa e investigação, cabendo a sociólogos e historiadores a construção de uma História dinâmica, sem hermetismos autocráticos.
Fontes:
Texto do autor do blogue, compilado a partir de: Dicionário de Navios & Relação de Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, 2006; Lista da Armada; fotos do Arquivo de Marinha, Carlos Fernando Dias Souto, Carlos Silva (ex-Furriel Mil, CCaç 2548), Postal 91 (Foto-Serra, Bissau).
Texto do autor do blogue, compilado a partir de: Dicionário de Navios & Relação de Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, 2006; Lista da Armada; fotos do Arquivo de Marinha, Carlos Fernando Dias Souto, Carlos Silva (ex-Furriel Mil, CCaç 2548), Postal 91 (Foto-Serra, Bissau).
mls
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