27 maio 2018

Entrega de Condecorações à Reserva Naval no dia 11 de Fevereiro de 2000


Nota prévia do autor do blogue:

Este "post" reproduz na íntegra o artigo publicado na Revista n.º 11 da "AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval" de Abril de 2000. Refere uma cerimónia simbólica, havida em 11 de Fevereiro de 2000 na Biblioteca do Estado-Maior da Armada, presidida pelo Superintendente do Serviço de Pessoal, à época o Vice-Almirante José Manuel Castanho Paes.

Agraciados com a Medalha de Mérito Militar de 3.ª Classe:

2TEN RN Luis Alberto Neves Cordeiro, 3.º CEORN, Angola, LFP «Fomalhaut»;
2TEN RN Pedro Norton dos Reis, 3.º CEORN, Angola, LFP «Pollux»;
2TEN RN Rui Horácio da Silva Pires, 3.º CEORN, Angola, LFP «Espiga»;
STEN FZ RN António Luis Marinho de Castro, 8.º CEORN, Angola, CF 1;

Agraciados com a Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas:

2TEN RN José Martins Figueira, 4.º CEORN, Guiné, CDMGuiné;
2TEN RN Rogério Bordalo da Rocha, 8.º CEORN, Angola, LFP «Fomalhaut»;
2TEN RN José Vieira de Sá, 11.º CFORN, Angola, LFP «Fomalhaut»;
2TEN MN RN Ricardo Migães de Campos, 11.º CFORN, Moçambique, CF 4;
2TEN RN José Rasquilha de Abreu, 15.º CFORN, Angola, LFP «Fomalhaut»;
2TEN RN António Gravata Filipe, 17.º CFORN, Angola, LFP «Pollux»;
2TEN RN Francisco Cascabulho Tomé, 17.º CFORN, Moçambique, LFP «Saturno»;
2TEN RN Herculano Marques Ferreira, 18.º CFORN, Angola, LFP «Fomalhaut»;
2TEN RN Carlos Magalhâes Oliveira, 21.º CFORN, Angola, LFP «Fomalhaut»;
2TEN RN António José de Oliveira Brás, 23.º CFORN, Angola, LFP «Rigel»;




Entrega de Condecorações à Reserva Naval no dia 11 de Fevereiro de 2000




Em cima o grupo dos condecorados e, em baixo,
o Vice-Almirante José Manuel Castanho Paes proferindo a sua alocução





Na Biblioteca do Estado-Maior da Armada, presidida pelo Vice-Almirante José Manuel Castanho Paes, Superintendente do Serviço do Pessoal, teve lugar no passado dia 11 de Fevereiro, a cerimónia de entrega de condecorações a 14 Oficiais da Reserva Naval a quem as mesmas tinham sido concedidas em épocas remotas e cuja publicação em Ordens do Dia à Armada de então, oficializara.

Da relação constavam 4 Medalhas de Mérito Militar de 3ª Classe, atribuídas em 1964 aos 2º Tenentes Luís Alberto Neves Cordeiro, Pedro Norton dos Reis e Rui da Silva Pires, do 3º CEORN e, em 1968, a António Luís Marinho de Castro (8º), e 10 Medalhas das Campanhas das Forças Armadas, atribuídas em 1964 a José Martins Figueira (4º), em 1968 a Rogério Bordalo da Rocha (8º), em 1970 a José Vieira de Sá (11º) e a Ricardo Migães de Campos (11º), em 1972 a José Rasquilha de Abreu (15º), em 1974 a António Gravata Filipe (17º), Francisco Cascabulho Tomé (17º) e HerculanoMarques Ferreira (18º) e, em 1976, a Carlos Magalhães Oliveira (21º) e a António José de Oliveira Brás (23º).

Evocada pelo Vice Almirante Castanho Paes a memória de Francisco Cascabulho Tomé, entretanto falecido, foi guardado um minuto de silêncio, tendo a condecoração sido entregue a seu filho Francisco Tomé.




Entrega da condecoração a Francisco Tomé em representação de seu pai

As palavras de Alfredo Lemos Damião, pela AORN, realçaram o simbolismo da cerimónia e o significado da passagem dos RN pela Marinha, mesmo em circunstâncias difíceis, sem cuidar de recompensas. O facto de muitos dos agraciados se encontrarem na situação de licenciados quando a publicação em OA se verificou, originou o desconhecimento da concessão das respectivas medalhas.

Em nome dos condecorados, António José de Oliveira Brás, último Comandante do NRP «Rigel», uma das lanchas da classe Bellatrix em serviço em Angola, cumprindo por praxe o “direito ao mais moderno usar da palavra”, em sentido improviso agradeceu à Marinha a cerimónia e recordou a figura do Vice-Almirante Jaime Barata Botelho, Vice-CEMA, recentemente falecido, que fora o seu último Comandante em Angola e a quem o ligavam laços de muita amizade, nascida nessa época de comissão e continuada em Lisboa, ao longo de váriosanos.




António Oliveira Brás agradecendo, em nome dos condecorados

O Vice Almirante Jaime Barata Botelho, que a Marinha recorda com muita saudade, foi também para a Reserva Naval, desde sempre e mais recentemente para a AORN, quer como Director do ISNG, quer no Estado-Maior da Armada, um Amigo Grande.

Diversos oficiais de Marinha associaram-se à cerimónia, que contou ainda com familiares e amigos dos condecorados.

Na ocasião, o Vice-Almirante Castanho Paes dirigiu aos presentes as seguintes palavras: «É para mim uma grande honra e é também com muito prazer que o faço, presidir em nome do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, a esta cerimónia de entrega de condecorações a ex-oficiais da nossa saudosa Reserva Naval. E digo “saudosa Reserva Naval”, não só por referência ao passado, ao considerar a reconhecida utilidade e mérito que a sua existência trouxe à Marinha, designadamente numa época em que o País passou pelas conhecidas dificuldades políticas e sociais que caracterizaram a situação nacional durante as campanhas ultramarinas e período subsequente, mas também por referência ao próprio presente.




Herculano Marques Ferreira recebendo a sua medalha

E refiro o presente, porque no exercício das minhas funções de Superintendente dos Serviços do Pessoal, não raras vezes me tem ocorrido a ideia de quão vantajoso seria para o funcionamento da Marinha de hoje fazer ressuscitar a Reserva Naval. É que no actual quadro de funcionamento de recursos e vocações escassas com que a Marinha se defronta, face ao que crescentemente lhe tem vindo a ser exigido, dispôr-se com as facilidades de então de um válido corpo de oficiais, capaz de suprir as lacunas conjunturais dos seus quadros permanentes e, oferecendo-lhe ainda as mais valias resultantes de um alargado relacionamento com potenciais dirigentes, das mais diversas actividades e sectores da vida nacional, seria sem dúvida, como o foi no passado, um benefício de valor inestimável.

Contudo, as organizações com responsabilidades públicas não podem viver de sonhos mas sim da realidade e, nesta óptica, não estou aqui para falar das dificuldades da Marinha, mas antes de mais para saldar uma dívida dela para com um conjunto dos seus servidores que lhe dedicou um período significativo das suas próprias vidas. Um período que acarretou certamente sacrifícios pessoais para muitos mas que foi, em maior ou menor medida, compensado pela vivência de uma experiência humana, social e profissional certamente enriquecedora.




Neves Cordeiro, Silva Pires, Cmdte Rui Pires dos Santos e Pedro Norton Reis

É com certeza porque não consideraram o período do serviço prestado na Marinha como tempo perdido, que os Senhores Tenentes da Reserva Naval, que dentro de momentos vão ser condecorados, decidiram aqui comparecer. Por outro lado, gostaria de lembrar que, para além de nesta cerimónia me ter cabido a honra de representar o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, me sinto também de certa forma como representante dos comandantes, directores ou chefes que, por razões que seria agora despropositado tentar justificar, vos não puderam impôr pessoal e oportunamente, as condecorações que merecidamente lhes foram concedidas. Porém, como mais vale tarde que nunca, bem hajam pelo vosso empenho em querer receber estas simbólicas recordações de um passado que de todo não quiseram esquecer.

Por fim, aproveito a oportunidade para pessoalmente felicitar a AORN por esta feliz iniciativa, a qual se insere no conjunto de acertados rumos que tem vindo a prosseguir na viagem que se propôs realizar. Bons ventos continuem a acompanhá-la, são os meus sinceros votos.Não queria terminar sem uma referência muito especial ao nosso camarada Dr. Francisco Cascabulho Tomé que, por fatalidade do destino já não pode estar aqui connosco senão em pensamento. A sua manifesta vontade de comparecer nesta cerimónia, apesar de já gravemente doente, não pode deixar de nos comover, pelo que revela em termos da sua estatura moral, mesmo para aqueles que, como eu, não tiveram a oportunidade de o conhecer.

À sua família, que teve a coragem de partilhar este momento connosco, apresento as sentidas condolências do Almirante Chefe do Estado Maior da Armada e as minhas condolências pessoais, pedindo a todos os presentes o favor de me acompanharem num minuto de silêncio em sua honrada memória.»




Comentários finais do autor do blogue:

Entre 1958 e 1975 tiveram lugar na Escola Naval 25 cursos de Oficiais da Reserva Naval, num total de 1.712 oficiais daquele Quadro de Complemento, distribuídos pelas várias classes de oficiais até então criadas.

No decorrer daquele período, especialmente depois de ter eclodido a Guerra do Ultramar, foram destacados para missões de serviço nos vários teatros de conflito entre LFG – Lanchas de Fiscalização Grandes, LDG – Lanchas de Desembarque Grandes, LFP – Lanchas de Fiscalização Pequenas, DFE – Destacamentos de Fuzileiros Especiais, CF – Companhias de Fuzileiros e Unidades e Serviços em terra:

Guiné: 254 oficiais;
Angola: 264 oficiais;
Moçambique: 217 oficiais;
Cabo Verde: 35 oficiais;
Macau: 1 oficial;
Timor: 2 oficiais;

A este total de 773 oficiais haverá ainda que adicionar as comissões efectuadas em unidades navais de maior porte, tais como navios-patrulhas, navios hidrográficos, fragatas, corvetas, destroyers, etc., de que não será muito fácil efectuar pesquisa ou controlo rigoroso e exaustivo. De forma proximada, quase um milhar de oficiais da Reserva Naval terão efectuado comissões de serviço no período da Guerra do Ultramar em Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, Macau e também Timor.

Naquela cerimónia, organizada pela AORN sob proposta do seu Secretário-Geral de então, José Augusto Paes Pires de Lima do 4.º CEORN, ele próprio tendo desempenhado as funções de comandante da LFP «Fomalhaut», qual o critério de selecção e escolha que permitiu concluir ser aquele conjunto representativo de quase um milhar de oficiais da Reserva Naval que, com toda a justiça, teriam direito a serem condecorados da mesma forma que 10 dos 14 galardoados com a Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas?

Considerando indiscutível o elevado espírito que presidiu à organização da cerimónia ainda que reduzido a um mero simbolismo institucional - na impossibilidade de estarem presentes todos os oficiais com direito a condecoração por legislação própria - como se explica uma selecção em que, dos 14 oficiais da Reserva Naval presentes, 11 tenham desempenhado missões como Comandantes de LFP – Lanchas de Fiscalização Pequenas? Mais estreito ainda na selecção parece ser o critério de que, dos 11 oficiais acima referidos, 6 deles terem sido comandantes da LFP «Fomalhaut».

Não teria sido possível uma amostragem mais representativa e alargada entre quase um milhar de Oficiais da Reserva Naval distribuídos pelas diferentes classes e tendo desempenhado funções noutras unidades navais ou ainda em unidades e serviços em terra, seleccionados dos vários teatros em que decorreu a Guerra do Ultramar?

Como alguns que ali estiveram presentes ou representados por familiares, muitos outros já não se encontravam entre nós, impedidos pelo destino último de poderem partilhar aquele momento de elevação com a Instituição e Camaradas, o que também lhes ficou devido.




Fontes:
Texto e fotos de arquivo do autor do blogue, ao tempo já publicadas na Revista n.º 11 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, Abril 2000, em artigo redigido por José Pires de Lima, 4.º CEORN, Secretário-Geral da AORN e também ele, antigo comandante da LFP «Fomalhaut»; Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas - LFP, 16º VOL, Comissão Cultural de Marinha, 2005;


mls

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