05 agosto 2018

Guiné, 1966-Lancha de Fiscalização Grande no rio Cacine


Registo no “Diário Náutico” de uma LFG - Lancha de Fiscalização Grande

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 7 de Junho de 2006)




Em cima, mapa do rio Cacine e, em baixo, a LFG "Orion" a navegar




Noite fechada, na ponte da LFG – Lancha de Fiscalização Grande, radar em cima, o oficial apresta-se para fundear o navio na foz do rio Imberém, a montante do aquartelamento de Cacine, na margem esquerda do rio.

Maré na vazante, lancha a navegar para montante, pessoal de “quarto“ atento nos postos, mestre na proa, ao guincho.

Em sequência rotineira, mãos nos comandos das máquinas da ponte, reduz para máquinas avante devagar. Quase de seguida, pequena pausa e pára as máquinas.

O marinheiro do leme aguenta o rumo, o navio desliza as derradeiras jardas contra a corrente até quase se imobilizar.

Da ponte são dadas instruções para ser largada a amarra. Ouve-se o barulho metálico das quarteladas que deslizam no escovém e o ferro que mergulha na água.

Entretanto o navio imobiliza-se, lentamente descai e o ferro unha no fundo lodoso.

Volta à faina, navio fundeado.

Pessoal e lancha entorpedecidos na imensidão temporal de um cruzeiro, entre um suspender de ferro, navegar acima e abaixo por tempo indeterminado, o fundear de novo.

Quartos uns iguais aos outros, ora para montante ora para juzante, horas de fiscalização a cumprir

Na margem, as luzes do aquartelamento de Cacine bruxuleiam no cacimbo da noite e, mais longe, por cima do arvoredo a mancha luminosa das luzes da Cacoca e Gadamael, os dois aquartelamentois mais próximos.

O registo do diário náutico, páginas vazias de imaginação, o pensamento longe, a mão que se arrasta em cima do calhamaço, rabiscando o que nunca há-de ser lido, quem sabe?




Esboços no Diário Náutico de uma LFG - Lancha de Fiscalização Grande

Por vezes, durante o dia, o PAIGC, da Ponta Canabém, da outra na margem do rio, frente ao aquartelamento de Cacine, entende "participar nas festas" com morteiradas e uma ou outra rajada de metralhadora pesada na direcção do aquartelamento. Sempre sem consequências, por curtas na distância, mas o objectivo é mesmo incomodar.

Em alguns casos a LFG presente suspendia ferro e, reduzindo a distância, fazia questão de retribuir de perto o cumprimento com as peças de 40 mm, calando o inimigo.

Neste caso, nada de notável a registar. O regresso ao silêncio, ficam os esboços e o pessoal de quarto em serviço.


Fontes:
Texto de Manuel Lema Santos, 8.º CEORN, compilado e editado por mls; extracto do mapa do rio Cacine da "Carta da Porvíncia da Guiné", Ministério do Ultramar, 1961; fotos de arquivo do autor do blogue com cedência do Arquivo de Marinha e do Alf Mil João Alves Martins, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69;


mls

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