15 abril 2019

Guiné, 1968 - Visita Presidencial à Guiné no paquete N/M «Funchal»


(Post reformulado a partir de outros já publicados em 29 de Agosto e 7 de Novembro de 2006)

N/M «Funchal» em "Visita Presidencial" à Guiné de 2 a 7 de Fevereiro




Em cima, o N/M «Funchal» atracado na ponte-cais, com iluminação de gala e, em baixo,
fotografado a partir da LFG «Orion» sendo igualmente visível a FF »Almirante Pereira da Silva»





Em 2 de Fevereiro de 1968, visível para trás, já atracado na ponte-cais em Bissau, o N/M «Funchal» que transportou o Presidente da República de então, Almirante Américo Tomás, bem como toda a sua comitiva, na viagem que efectuou a Cabo Verde e à Guiné, tendo permanecido neste último território de 2 a 7 daquele mês.

Participaram em escoltas diversas as LFG «Lira» e LFG «Orion», além de outras unidades navais que, quer na chegada a 2 de Fevereiro quer na partida a 7 do mesmo mês, acompanharam o navio presidencial entre a bóia do Caió-Bissau e vice-versa.

Durante o périplo presidencial fez igualmente parte da comitiva a fragata «Almirante Pereira da Silva», navio que escoltou o N/M «Funchal» durante toda a viagem, sob o comando do CFR Mário Esteves Brinca.




Em cima, o N/M «Funchal» atracado na ponte-cais, sempre engalanado,
e, em baixo, fotografado da LFG «Lira» quando era sobrevoado por uma esquadrilhas de helicópteros




Nos cinco dias que o N/M «Funchal» permaneceu em Bissau, foram levadas a cabo múltiplas realizações destinadas a comemorar a efeméride que incluiu no programa oficial, além de outros cerimónias e espectáculos, desfiles militares e exibição de grupos oriundos de várias etnias, nos arruamentos e praças da cidade.

Mais tarde, a 7 do mesmo mês e na largada do N/M «Funchal», entre Bissau e a bóia do Caió, repetir-se-ia o cenário, desta vez também com a LFG «Cassiopeia».

Alguns oficiais imediatos das LFG - Lanchas de Fiscalização Grandes, nesses dias estacionadas em Bissau e outros oficiais à margem da participação nos festejos, para lá de funções permanentemente desempenhadas por inerência do cargo, foram chamados a prestar serviços adicionais como oficial de serviço à ponte-cais de Bissau, garantindo a segurança em conjunto com uma equipa de mergulhadores-sapadores.




Em cima, o N/M «Funchal» numa interessante perspectiva obtida da LFG «Sagitário» e,
em baixo, anverso e verso da medalha comemorativa da vista presidencial




Dispunham para o efeito, além da habitual guarda à ponte-cais de uma esquadra de de fuzileiros comandada por um Sargento.

No final, pelo desempenho da missão a contento, como tantos outros militares, foram agraciados com uma medalha comemorativa profusamente distribuída.




N/M «Funchal» - Resenha Histórica

Foi construído pelo estaleiro Helsingør Skipsværft A/S, na Dinamarca, por encomenda da Empresa Insulana de Navegação, com projecto de Rogério de Oliveira. Foi o maior navio de passageiros construído na Dinamarca à data da sua entrega em Outubro de 1961, tendo sido lançado ao mar a 10 de Fevereiro de 1961. Tinha então como função a ligação marítima regular entre Lisboa e as ilhas dos Açores, da Madeira e das Canárias, efectuando mensalmente duas viagens consecutivas com o itinerário Lisboa-Funchal-Tenerife-Funchal-Lisboa seguidas de uma viagem aos Açores via Funchal.

Integrava na década de 1960 uma importante frota de navios e passageiros portugueses constituída à época por mais de vinte navios, com destaque para os navios "N/T Infante Dom Henrique","N/T Santa Maria", "N/T Vera Cruz" e "N/T Príncipe Perfeito", os quatro maiores paquetes portugueses, abatidos em 2004, 1973 e 2001, respectivamente.

Foi nele que, à época do presidente Américo Tomás, foram transportados os restos mortais de Pedro IV de Portugal para o Brasil, sob escolta militar (1972).

No início da década de 1970 tendo o tráfego aéreo superado as viagens marítimas, em 1972 decidiu-se remotorizar o navio, substituindo as turbinas a vapor de origem por dois motores Diesel, e alterando os alojamentos e espaços públicos para classe única para utilização em cruzeiros turísticos internacionais. Pouco se alterou então o seu desenho exterior, mas após 1985 foram sendo efectuadas alterações graduais nomeadamente o prolongamento do convés "Promenade", então estendido até à popa. Internamente, as suas duas turbinas a vapor foram substituídas por motores a diesel.

No ano seguinte, 1974, a Insulana fundiu-se com a Companhia Colonial de Navegação, dando origem à CTM - Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, de Lisboa, passando o "Funchal" ser propriedade da Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos. Em 1975 encontrava-se desactivado em Lisboa, tendo sido identificado pelo empresário grego George Potamianos, que o apresentou a uma empresa sueca de navegação que o fretou e explorou por dez anos, até que a Arcalia Shipping - The Great Warwick Co. Inc, do Panamá, daquele empresário, o adquiriu, em hasta pública, da massa falida da CTM (1985).

Após aquisição pelo armador Potamianos foi registado no Panamá, em 1985, sofrendo sucessivos melhoramentos e modernizações, tendo voltado ao serviço em Dezembro de 1985.

O FUNCHAL terminou o seu último cruzeiro em Lisboa a 16 de Setembro de 2010 e foi retirado do serviço para modernização a efectuar no cais da Matinha em Lisboa, mas devido à conjuntura económica adversa, em Julho de 2011, esses trabalhos estimados em 15 milhões de Euros foram suspensos.

A entrada em vigor, a partir de 1 de outubro de 2010, de novas exigências da Convenção SOLAS 2010 para a salvaguarda da vida humana no mar obrigou a algumas alterações de natureza técnica a bordo do "Funchal", nomeadamente a substituição de materiais combustíveis. Aproveitando essa intervenção o armador decidiu proceder a uma completa actualização dos alojamentos e espaços para passageiros, por forma a torná-lo ainda mais apetecível.

Estava previsto para Julho de 2011 o regresso do navio ao mercado dos cruzeiros com duas viagens a partir de Lisboa que iriam comemorar os 50 anos da viagem inaugural em 1961.

Constituiu até essa altura o navio mais famoso da companhia Classic International Cruises, que contava ainda com os navios Princess Danae, Arion, Princess Daphne e Athena, todos a navegar sob bandeira portuguesa (registo da Madeira).

No entanto, por dificuldades económicas a Classic International Cruises de Lisboa foi encerrada em Novembro de 2012, passando o navio para a posse da principal entidade credora, o Montepio Geral. O "Funchal" permaneceu imobilizado em Lisboa desde 16 de Setembro de 2010 até Fevereiro de 2013.

Em Fevereiro de 2013, juntamente com mais 3 navios, foi adquirido por um investidor português, a "Portuscale Cruises". Depois de sofrer profundas remodelações voltou poder navegar em Agosto de 2013.

A 1 de Agosto de 2013 foi apresentado, após remodelação profunda, que incluiu uma pintura inspirada na original da Empresa Insulana.

A 22 de Agosto de 2013 o navio voltou a navegar, como propriedade da Portuscale Cruises, mas ficou retido no porto de Gotemburgo, Suécia devido a deficiências técnicas detectadas aquando de uma inspecção pelas autoridades, antes do que seria a sua viagem re-inaugural.[1] Efectuou o último cruzeiro ao serviço da PORTUSCALE CRUISES de 28 de Dezembro de 2014 a 2 de Janeiro de 2015 e encontra-se desde essa data imobilizado em Lisboa, tendo o programa de cruzeiros previsto para 2015 sido cancelado a 12 de Fevereiro de 2015.

Foi vendido em 5 de Dezembro de 2018 por £3,9 milhões, um décimo do valor gasto na renovação do navio, para ser hotel de festa flutuante entre Liverpool e as Ilhas Baleares.


Fontes:
Texto e imagens de N/M «Funchal» em http://pt.wikipedia.org/wiki/Funchal_%28paquete%29; texto e imagens do "post" de arquivo do autor do blogue com cedências parciais dos comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Carlos Dias Souto;


mls

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