21 março 2019

Reserva Naval em navios-tanques ou navios de apoio logístico


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 13 de Abril de 2012)

Reserva Naval em navios-tanques ou navios de apoio logístico


Desde o início da publicação destes esboços de memória histórica que utilizamos a expressão de Navios Reserva Naval, aplicando-a a unidades navais que, em tempo, tenham servido de suporte a formação e instrução práticas dos cursos de formação de Oficiais da Reserva Naval em embarques de fim-de-semana, treino ou nas viagens de instrução no final dos cursos.

Mais tarde, já como oficiais da Reserva Naval, esta classificação de cariz marcadamente afectivo e familiar, nunca com qualquer suporte institucional além da aceitação tolerante, foi alargada aos navios em que desempenharam missões como oficiais da Marinha de Guerra Portuguesa e que, ao tempo, abrangeram a quase totalidade do dispositivo naval existente.

Entre 1958 e 1975, período temporal que inclui os conflitos em África, terão mesmo sido raras as unidades navais que não integraram na guarnição oficiais daquela classe.

Assim, avisos, contratorpedeiros, fragatas, navios auxiliares, navios-escola, navios hidrográficos, corvetas, navios-patrulhas, draga-minas, lanchas de fiscalização grandes, pequenas e de desembarque, formam uma amostragem digna de registo.

Destaque especial para as LFG – Lanchas de Fiscalização Grandes, LDG - Lanchas de Desembarque Grandes onde desempenharam as funções de Oficiais Imediatos ou ainda as LFP – Lanchas de Fiscalização Pequenas, em que exerceram o cargo de Comandantes. Naqueles tipos de unidades, aqueles cargos foram desempenhados na sua quase totalidade por oficiais da Reserva Naval.

Entre 1976 e 1992, terá havido alguma continuidade no desempenho de missões similares ainda que com redução progressiva, fruto do abate de vários tipos de navios (LFG, LFP e LDG) consequência do final da Guerra do Ultramar, com forte retracção do dispositivo naval, redefinição de vocações próprias e atribuição de prioridades operacionais específicas.

A partir daquele último ano, considerado como marcando a extinção da Reserva Naval, palco do último curso realizado, o 2.º CFORN TE 1991/92, com promoção a Aspirantes em Maio de 1992 e que apenas incluiu Especialistas, não deverá ser possível encontrar oficiais da Reserva Naval embarcados. Contudo, apenas com pesquisa adequada até agora não efectuada, será possível garantir de forma mais rigorosa aquela afirmação.

Para os navios-tanques/navios de apoio logístico, já detalhadamente descritos em diversas publicações e lugares na Internet, a abordagem será reduzida, considerando-os apenas sob a perspectiva de terem sido ou não navios Reserva Naval. Dentro desse conceito, tem cabimento considerar os navios «Sam Brás», «S. Gabriel», «Bérrio» e ainda, complementarmente, o «S. Miguel» e o «S. Rafael».


NAL «Sam Brás» A523





Construído no Arsenal do Alfeite e aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 13-11-1942 foi transformado em navio de apoio logístico em 27-12-1965. Largou para Moçambique em 12-2-1970, regressou a Portugal e a partir de 5-9-1975 foi para Vila Franca de Xira, onde serviu como ponto de alojamento e desdobramento da Escola de Máquinas no Grupo n.º 1 de Escolas da Armada.

Foi abatido ao efectivo em 18-2-1980.




Desempenharam funções no NRP «Sam Brás», em Moçambique, os seguinte oficiais da Reserva Naval:

2TEN RN Rui Moura da Silva, 12º CFORN, 1970/72;
2TEN AN RN António de Paiva e Silva, 13º CFORN, 1970/72;
2TEN RN José Miguel Bourbon de Sequeira Braga, 16º CFORN, 1970/72;
2TEN AN RN Jorge Manuel Vieira Jordão, 23º CFORN, 1974/75;


NA «S. Gabriel» A5206





Construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 27-3-1963. Efectuou a primeira viagem entre Lisboa e Curaçao em Maio de 1973, a que se seguiram numerosas jornadas entre Lisboa e Luanda, com escalas na Guiné, Cabo Verde e S. Tomé. Também com alguma regularidade aportou a Maracaíbo e outros portos venezuelanos.

Apenas por uma única vez, em 1969, esteve em Lourenço Marques e, em 1975, deu importante apoio ao processo de descolonização angolano, especialmente no transpoerte de milhares de refugiados e militares para Luanda, durante os meses de Setembro e Outubro de 1975. No dia 10-11-1975, poucas horas antes da proclamação da independência de Angola deixou Luanda, rumo a Lisboa.

Após 1975, foram alteradas substancialmente as missões do navio, tendo participado em exercícios, muitas vezes integrado em forças navais nacionais e internacionais.

Foi abatido ao efectivo dos navios da Armada em 14-7-1995.

Desempenharam funções no NRP «S. Gabriel» os seguinte oficiais da Reserva Naval:

2TEN MN RN Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos, 8.º CEORN, 1966/67;
2TEN RN António José do Carmo Silva, 17.º CFORN, 1971/72;
2TEN RN João Manuel Nogueira Mendes Simões, 17.º CFORN, 1971/73;
2TEN RN Armando Manuel Dinis Correia, 20.º CFORN, 1973/74;
2TEN RN Joaquim da Silva Azevedo Costa, 24.º CFORN, 1974/75;


NA «Bérrio» A5210




Este navio reabastecedor de esquadra foi construído nos estaleiros Swan Hunter, em Hebburn-on-Tyne, tendo sido lançado à água no dia 11-11-1969. Entrou ao serviço da Royal Fleet Auxiliary no dia 15-7-1970, com o nome de «Blue Rover» A270, tendo participado no bloqueio naval realizado ao porto da Beira pela Marinha Inglesa a partir de 1966 e no conflito das Falkland de 1982, onde actuou nos teatros operacionais da Geórgia do Sul e de San Carlos.

Adquirido pelo Governo Português, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em Portsmouth, no dia 31-3-1993. Entrou em Lisboa pela primeira vez no dia 25-5-1993 e foi o primeiro navio da Marinha Portuguesa que incluiu militares do sexo feminino na sua guarnição normal.

Em Setembro de 1995 esteve no Mar Adriático empenhado na operação “Sharp Guard” e tem participado regularmente em exercícios navais. Actualmente ainda ao serviço da Armada.

Nenhum oficial da Reserva Naval deverá ter pertencido à guarnição desta unidade naval.





NA «S. Miguel» A5208


Construído em 1962 nos estaleiros Howaldtswerke, em Kiel, por encomenda da Companhia Nacional de Navegação, foi baptizado com o nome «Cabo Verde». Operou como cargueiro e navegou na carreira de África até 1974 e, depois, nas ligações entre a África, Europa e América do Norte. A sua última viagem comercial foi entre Bissau e Lisboa, onde chegou em 19-9-1985.

Adquirido pela Marinha, foi incorporado no efectivo dos navios da Armada em 8-11-1985 como navio de apoio logístico. Passou a efectuar missões desse tipo nos Açores, Madeira e também duas outras missões específicas aos Estados Unidos e Moçambique.

Em 1991, foi o único navio português na Guerra do Golfo, ao efectuar duas missões logísticas entre Portsmouth e Aljubail, na Arábia Saudita.




Em 20-12-1993 foi abatido ao efectivo dos navios da Armada. Posteriormente veio a ser afundado ao largo da costa continental portuguesa com munições obsoletas que pertenciam à Região Militar de Lisboa, tendo explodido durante essa arriscada operação.

Não há conhecimento de algum oficial da Reserva Naval tenha pertencido à guarnição deste navio entre 1985 e 1993, facto que apenas poderá ser confirmado com pesquisa adequada.


NA «S. Rafael» A5214


Foi anteriormente o navio de apoio a mergulhadores «Medusa», que foi classificado como navio de apoio logístico em 27-12-1965. Em 2-2-1972 passou ao estado de desarmamento e em 7-1-1976 foi abatido aos navios da Armada. Nos seus registos, não consta ter navegado alguma vez. Nenhum oficial da Reserva Naval pertenceu à guarnição desta unidade naval.




Fontes:
Texto e imagens de arquivo do autor do blogue; cedências diversas do Arquivo de Marinha e Revista da Armada; Dicionário de Navios & Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha, 2006.


mls

1 comentário:

mls disse...

Comentário enviado pelo CMG José António Ruivo, 21.º CFORN

No "Sam Brás", navegou para Aruba e Curaçau o já então 2TEN RN Manuel António de Paiva Pinto, 1.º CEORN, como chefe do serviço de navegação. O ASP RN José Pires de Lima, 4.º CEORN, foi seu adjunto quando o destacaram para este navio em 1962, primeiro navio e que navegou como Aspirante em 1962.

Paiva Pinto fez cerca de 5 viagens. O Comandante era o CFR António Lopes Marques, o Imediato o 1TEN Manuel da Silva Rodrigues (aviador), o Chefe de Máquinas o 1TEN Quitério de Brito e o administrativo, o 1TEN AN Vila de Brito.

Em 1966, o 2TEN RN José Pires de Lima, 4.º CEORN, foi destacado para o "S. Gabriel" como Chefe do Serviço de Comunicações e Artilharia e nele viajou até ao porto de venezuelano de Maracaíbo, em que o Chefe do Serviço de Máquinas era o actual CALM Roque Martins. O Comandante era o CMG Augusto dos Santos Vieira, o Imediato era o CTEN Jorge Teles, o administrativo o 2TEN Rogélio Palma Rodrigues, o navegador o GM Fernando Santos Lourenço e o electrotécnico o 1TEN Diogo Pupo dos Santos.