09 junho 2019

10 de Junho - Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas


Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa e o Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 17 de Junho de 2010)





Estive presente em várias cerimónias oficiais, noutras integrei simples convívios de Camaradas e em mais umas quantas participei como mero assistente ou até fotógrafo voluntário.

Como Oficial da Reserva Naval e antigo Combatente na Guiné, continuarei a reter na memória o dia 10 de Junho como o expoente máximo anual das cerimónias evocativas de factos, histórias e feitos que guindavam, ao podium das medalhas e condecorações, personalidades de todos os quadrantes sociais.




Homenageados publicamente por mérito pessoal, encontravam nas artes, nas letras, nas ciências, na cultura em geral ou até no simples exercício da cidadania uma forma de expressão superior.

O próprio serviço militar, obrigatório ao tempo, passou a enquadrar maioritariamente aquelas cerimónias, por via de uma guerra mantida em diversas frentes durante treze anos.

A efeméride, de cariz marcadamente militar, evocava heróis que, defendendo a Pátria, se distinguiram ou tombaram por actos de bravura, coragem e sacrifício justificativos da homenagem.

Na Praça do Comércio e em muitos outros locais do País, perfilavam-se os militares a distinguir, de diversos Postos e Ramos das Forças Armadas. Também presentes viúvas, filhos, irmãos, pais ou familiares daqueles que, caídos ao serviço da cidadania que com a vida defenderam, tinham deles herdado a representação.




Com a extinção dos conflitos além-mar e o consequente redimensionamento, as Forças Armadas foram sendo adaptadas a outro tipo de missões, pretendendo-se continuarem a representar o garante da Soberania Nacional, assumir os Compromissos Internacionais e Missões de Paz, dando cumprimento às tarefas que lhes passaram a estar cometidas no apoio à sociedade civil.

O escoar do tempo, sempre cúmplice do esfumar lento do sofrimento, encontrou na ausência de vontade política o melhor aliado para fazer esquecer, aos vivos, o direito a lembrar e perpetuar a memória dos mortos.

Para com os diminuídos físicos e todos os outros que, apenas na aparência, regressaram incólumes, a solidariedade manifestada na reparação de injustiças e no direito ao reconhecimento de serviços prestados ao País, parte integrante da História, tem sido assaz escassa durante todos estes anos.

A construção do Monumento aos Combatentes do Ultramar, junto à Torre de Belém, paradigma da homenagem aos militares portugueses, veio culminar num conjunto de medidas, para as quais várias organizações de Antigos Combatentes conseguiram apoio institucional e político, após porfiadas diligências.




Consagrado agora como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o dia 10 de Junho vai enquadrar também a XXVI Homenagem Nacional "Aos Combatentes do Ultramar Português".

Cedo e durante toda a manhã, a efeméride faz naturalmente convergir muitos Antigos Combatentes, familiares e público em geral para os diversos locais onde vão tendo lugar as cerimónias oficiais, nomeadamente para Belém.

Ainda que marcadas nuns casos pela simples presença, noutros são frequentemente visíveis as cabeças encimadas por bóinas de Fuzileiros, Paraquedistas, Comandos ou simples Militares, algumas nas cabeças dos netos.

Não falta habitualmente quem empunhe bandeiras e guiões de unidades, em representação de Associações dos mais diversos lugares, medalhas no peito, reencontros marcados também.




Com um ar de festa moderado, e em sucessão, tem lugar uma cerimónia religiosa inicial, os toques de clarim, um minuto de silêncio pelos mortos em combate, as palavras exaltando a homenagem, deposição de ramos de flores, o desfile, muita emoção e recolhimento.

A culminar o encerramento, como habitualmente, desfiles de Unidades dos três Ramos da Forças Armadas, Veteranos e ainda a possibilidade de participação num almoço convívio, preparado e servido igualmente no local.






Com especial e actual significado, aqui transcrevo algumas passagens da comunicação proferida pelo Dr. António Barreto, na sessão solene comemorativa do Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas em 10 de Junho de 2010, na cidade de Faro, por nomeação do então Presidente da República, Prof. Anibal Cavaco Silva. Palavras notáveis as de António Barreto, na comunicação como Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações, que merece leitura, reflexão e divulgação.

Terá acolhimento especial pelos muitos militares que então viveram a Guerra do Ultramar. Abaixo a transcrição de alguns excertos do texto que, no final, se disponibiliza integralmente em formato "pdf".

“…Os soldados cumprem as suas missões por diversos motivos. Por dever. Por convicção. Por obrigação inescapável. Por desempenho profissional. Por sentido patriótico, político ou moral. Só cada um, em sua consciência, conhece as razões verdadeiras. Mas há sempre um vínculo, invisível seja ele, que o liga aos outros, à comunidade local ou nacional, ao Estado. É sempre em nome dessa comunidade que o soldado combate…”
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“…Um antigo combatente não pode nem deve ser tratado de colonialista, fascista, democrata ou revolucionário de acordo com conveniências ou interesses menores. A sua origem, a sua classe social, a sua etnia, as suas crenças ou a sua forma de vínculo às Forças Armadas são, a este propósito, indiferentes: foram, simplesmente, soldados portugueses…”
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“…Portugal não trata bem os seus antigos combatentes, sobreviventes, feridos ou mortos. É certo que há, aqui e ali, expressão de gratidão ou respeito, numa unidade, numa autarquia, numa instituição, numa lei ou numa localidade. Mas, em termos gerais e permanentes, o esquecimento ou a indiferença são superiores. Sobretudo por omissão do Estado. Dos aspectos materiais aos familiares, passando pelos espirituais e políticos, o Estado cumpre mal o seu dever de respeito perante aqueles a quem tudo se exigiu…”




Durante o período em que decorreu a Guerra do Ultramar, o 2TEN FZ RN António Bernardino Apolónio Piteira foi o único oficial da Marinha de Guerra Portuguesa que morreu em combate. Foi em Angola, numa emboscada a 2 de Junho do ano de 1973 e pertenceu à Reserva Naval, integrado no 18.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, Classe de Fuzileiros.





Em cima, a placa de homenagem ao STEN FZ RN António Piteira, na sala Reserva Naval da Escola Naval e, em baixo, o pormenor da inscrição local no Memorial de Belém onde figura o nome do oficial morto em combate (Angola, 1973).





Fontes:
Fotos e texto do arquivo pessoal do autor do blogue;


mls

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