04 junho 2019

Mansôa, 1973 - Cecília Supico Pinto (Cilinha)


(Post reformulado a partir de outros já publicados em 4 de Julho de 2012)


Guiné, 1973 - A Presidente do Movimento Nacional Feminino em Mansôa




Guiné, 1973 - Em cima, Cecília Supico Pinto (Cilinha) no aquartelamento de Mansôa e, em baixo, aspecto geral daquela unidade militar




Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto (Lisboa, 30 de Maio de 1921 — 25 de Maio de 2011), conhecida popularmente como Cilinha, foi a criadora e presidente do Movimento Nacional Feminino, uma organização de mulheres que durante a guerra colonial prestou apoio moral e material aos militares portugueses.

Nesse cargo atingiu grande popularidade e uma considerável influência política junto de Oliveira Salazar e das elites do Estado Novo. Visitou as tropas em África e promoveu múltiplas iniciativas mediáticas para angariação de fundos.

Em Janeiro de 2008, foi publicada uma biografia de Cecília Supico Pinto, da autoria de Sílvia Espírito Santo*.


*Sílvia Espírito Santo, Cecília Supico Pinto - O Rosto do Movimento Nacional Feminino. Lisboa : Esfera dos Livros, 2008 (ISBN 9789896260903).




Apoio Moral

O início da luta armada dos movimentos nacionalistas nas colónias portuguesas apanhou as Forças Armadas não só impreparadas técnica e operacionalmente para fazer face à guerra, trazida pelos mesmos ventos que sopravam desde o final dos anos 40 nas colónias do outros países europeus, como ainda sem disporem de enquadramento legislativo nem de meios institucionalizados, mesmo rudimentares, de apoio a militares em situação de guerra.

Não existia legislação prevista para regular os casos de morte e ferimento em combate, nem muito menos, para o apoio às famílias dos mobilizados. Face a este vazio em que não se previam situações especiais decorrentes da guerra, da morte à incapacidade, da pensão de sangue à trasladação dos corpos, do aprisionamento ou captura de militares em operações ao pagamento de vencimentos, da distribuição de correspondência às licenças de férias…, a primeira resposta de apoio do governo aos militares e familiares, manifestou-se através da criação do Movimento Nacional Feminino (MNF), e a secção feminina da Cruz Vermelha (CVP). Foram as organizações que procuraram suprir essas falhas, desempenhando ainda um papel importante como mobilizadores e catalisadores ideológicos da sociedade e das mulheres em particular.

Ambos foram presididos por senhoras da alta burguesia mais afecta ao regime. Cecília Suplico Pinto, a figura emblemática do MNF e esposa do antigo ministro da economia de Salazar, seu conselheiro, decidiu criar o seu movimento no dia de anos de Salazar.

A secção feminina da Cruz Vermelha teve como figura tutelar Amélia Pitta e Cunha, esposa de Paulo Cunha, antigo ministro dos negócios estrangeiros de Salazar, e no seu núcleo inicial encontravam-se Margarida Fernandes Tomás de Morais.

As duas organizações que além de apoiar o regime de Salazar, promoviam ainda várias actividades em conjunto. Pouco a pouco foram-se separando, ocupando-se de áreas de assistência diferentes e exteriorizando atitudes distintas, de acordo com as suas personalidades das suas dirigentes: o MNF sempre exuberante, com Cecília Suplico Pinto, e a CVP de acordo com a personalidade de Amélia Pitta e Cunha.

O MNF passou a dedicar-se prioritariamente ao apoio moral e social dos militares e suas famílias, muitas vezes através de acções populares a que não faltavam o cunho da demagogia, mas que em muitos casos se revelaram eficazes na resolução de problemas dos jovens e dos seus agregados familiares face à burocracia e ao desconhecimento das situações decorrentes da guerra.

Ao MNF se deve o lançamento dos aerogramas, alcunhados de “bate-estradas”, que constituíram o meio mais difundido de correspondência entre os militares e as famílias. Destes aerogramas foram, cujo o fornecimento e transporte era gratuito para os militares, estima-se, impressos cerca de 300 milhões. Das actividades do MNF destacaram-se a organização de visitas de artistas aos teatros de operações, as ofertas de Natal, com o envio de lembranças, discos, bolas de futebol, isqueiros, etc.. Deve-se ainda ao MNF a promoção da troca de correspondência entre os soldados e as madrinhas de guerra.

A organização do MNF foi estruturada, assentando na figura de Cecília Pinto e no apoio que lhe foi dado por Salazar, tendo vivido da adesão mais ou menos entusiástica das cerca de 80000 mulheres que a ele pertenciam. Este movimento dispunha de direcção central e de delegações em Portugal e nas colónias. Eram estas delegações que promoviam o trabalho de rotina de apoio aos militares e que se tornam mais visíveis por ocasião de Cecília Pinto.

O Movimento Nacional Feminino, dirigiu a acção para os militares activos nos teatros de operações; a secção da Cruz Vermelha Portuguesa dedicou-se principalmente ao apoio aos militares feridos e estropiados, cujo número aumentava e para os quais não havia sistema nem de recuperação nem legislação aplicável. Os dois movimentos aproveitaram as boas relações das suas dirigentes com o apoio do regime para incentivar a publicação de leis e normas correctoras de erros e injustiças administrativas, entre as quais se contava a alteração à situação dos feridos em combate, conseguindo que estes não perdessem direito aos vencimentos e aos subsídios de campanha quando evacuados para os hospitais centrais; a revisão das pensões dos deficientes militares, que era regulada ainda pelas normas da 1ª Guerra Mundial; o apoio às famílias dos mortos, que permitindo que os corpos dos mortos fossem trasladados para as terras de origem destes, sem qualquer custo para as famílias; e ainda a legislação de apoio aos militares estudantes.


In “Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra”



Fontes:
Texto coligido de http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Supico_Pinto; texto "apoio moral", com a devida vénia, em http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=socguerr/; imagem gentilmente cedida pelo Alferes Miliciano Ranger Manuel Nuno Ferreira, BCaç 4612/72, Guiné, Mansôa, 1973.


mls

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