Um Reserva Naval com Esperança renovada numa pandemia terminada...
Nesta fase do nosso percurso de vida tudo nos parece muito negro.
Pessoalmente, utilizando linguagem de Fuzileiro na Marinha, vou ensaiando umas nomadizações entre a sala de jantar, o quarto ou a cozinha, mas não saio do perímetro da unidade há mais de um mês, salvo uma surtida ao supermercado da esquina para comprar umas rações de combate.
Será mesmo linguagem de fuzileiro?
Talvez não, mais de antigo combatente que julgo termos sido todos os que penaram lá na Guiné, mas também em Angola ou Moçambique, a brincar às escondidas com o PAIGC ou amigalhaços de outros teatros de conflito.
Julgo que ali o jogo era bastante mais frontal, por vezes a dar para o torto quando menos se esperava, com algumas evacuações para o hospital ou, bem pior, para o Velho Continente, sabe Deus em que condições e para que moradia...os caixotes também eram em madeira.
Verdade seja que, entre passear num andar de cimento armado alternando a cozinha com a sala de jantar ou fechado dois anos num navio, qual lata de sardinhas como eram as lanchas em que navegávamos protegendo outros e defendendo a soberania portuguesa naquelas terras, fossem elas LFG, LFP, LDG, LDM ou LDP, nem representa grande diferença.
Aqui ainda temos algum apoio familiar, mas então lá, no outro lado do mundo, só nos fazia mesmo companhia a família militar.
Bem, depois ao virar da esquina, que é como quem diz uma curva do rio Cacheu, do Cumbijã ou noutro qualquer percurso de norte a sul, podíamos topar com os nossos anfitriões do PAIGC, sempre hospitaleiros...dassseeee!, a treinar na carreira de tiro, para o que utilizavam a orla da mata visando o rio e as lanchas, treinando tiro ao alvo para ajuizar da qualidade da chapa balística montada nas lanchas, testando a máscara de protecção.
Para isso dispunham de equipamento diversificado que do canhangulo no início, ao armamento ligeiro (AL), metralhadora pesada (MP), canhão s/recuo (CS/R) ou o mortífero RPG 7, valia tudo.
E, meu, Deus que efeito o deste último brinquedo, no final já mesmo adicionado pelos sofisticados mísseis.
Lá, sabíamos quem era o inimigo, onde normalmente se acoitava e que armamento contra nós utilizava. De forma idêntica, podíamos combatê-lo e dispúnhamos de armamemnto eficaz.
Agora o desconhecimento é quase total e tudo podem ser armadilhas, desde o simples respirar, à conversa ou a acabar no espirro.
O punho da porta da escada, o botão do elevador, notas ou moedas, enfim um mundo completo de picadas minadas para os mais incautos.
Cuidem-se, porque não sabemos o quê, onde, como, porquê e quando.
Sobretudo não saiam do vosso aquartelamento e quando sairem protejam-se de acordo com as normas da DGS-Direcção Geral de Saúde.
Esperança renovada em pandemia terminada!
MLS
1TEN RN, 1965-1972
Guiné, LFG «Orion» 66/68
LFG/LFP - Lancha de Fiscalização Grande/Pequena
LDG/LDM/LDP – Lancha de Desembarque Grande/Média/Pequena
Em 20200417 Alegria Faustino, Furriel Enfermeiro, 3.ª Comp.Bat.4514, Guidage e Jemberem comentou:
Excelente! Sigamos o que aprendemos: ordem, disciplina, obediência, reabastecimento e aprovisionamento da dispensa, racionamento comedido naquilo que comemos e bebemos, tudo com rigor militar. Duas saídas ao hiper, uma volta ao perímetro da vila, de automóvel, sem parar e de novo a casa até ao dia seguinte. Uma das vantagens da desertificação da raia transmontana nordestina é dar uma volta à vila e não encontrar ninguém, mesmo durante o ano e nesta nova era de confinamento.
Minha filha, enfermeira, faz turnos de 14 horas, dia sim, dia não, no Centro de Saúde local, na área Covidd 19, protegida com viseira, máscara, touca, luvas e bata. O concelho tem seis casos, um deles, já recuperado. Não há sinais de infectados, nem nos lares, nem na Misericórdia local e suas respostas sociais. Como a ti, confinado, a Guiné está presente, assim como o que teve de bom e positivo para todos nós, ao lado das memórias mais tristes e pesadas que recordamos diariamente.
Esqueci de referir que o meu genro, GNR, faz três turnos seguidos de 12 horas, com o descanso que se impõe, seguindo o estabelecido pelo seu Comando, equipado com viseira e máscara.
Um abraço, camarada, amigo e marinheiro.
MLS respondeu:
Honrosos exemplos familiares!
Um abraço, camarada, amigo e veterano...
Excelente! Sigamos o que aprendemos: ordem, disciplina, obediência, reabastecimento e aprovisionamento da dispensa, racionamento comedido naquilo que comemos e bebemos, tudo com rigor militar. Duas saídas ao hiper, uma volta ao perímetro da vila, de automóvel, sem parar e de novo a casa até ao dia seguinte. Uma das vantagens da desertificação da raia transmontana nordestina é dar uma volta à vila e não encontrar ninguém, mesmo durante o ano e nesta nova era de confinamento.
Minha filha, enfermeira, faz turnos de 14 horas, dia sim, dia não, no Centro de Saúde local, na área Covidd 19, protegida com viseira, máscara, touca, luvas e bata. O concelho tem seis casos, um deles, já recuperado. Não há sinais de infectados, nem nos lares, nem na Misericórdia local e suas respostas sociais. Como a ti, confinado, a Guiné está presente, assim como o que teve de bom e positivo para todos nós, ao lado das memórias mais tristes e pesadas que recordamos diariamente.
Esqueci de referir que o meu genro, GNR, faz três turnos seguidos de 12 horas, com o descanso que se impõe, seguindo o estabelecido pelo seu Comando, equipado com viseira e máscara.
Um abraço, camarada, amigo e marinheiro.
MLS respondeu:
Honrosos exemplos familiares!
Um abraço, camarada, amigo e veterano...
Fontes:
Texto e foto de arquivo do autor do blogue;
Texto e foto de arquivo do autor do blogue;
mls
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