22 fevereiro 2018

Reserva Naval na classe "Cacine"- Parte III


Os navios-patrulha classe «Cacine»-Parte III

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 27 de Junho de 2010)

«Geba», «Zaire», «Zambeze», «Limpopo» e «Save»








Navio-patrulha «Geba» - P 1145


Construído nos Estaleiros Navais do Mondego na Figueira da Foz, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 20 de Novembro de 1970. Em 15 de Dezembro largou para experiência de máquinas e calibração do radiogoniómetro ao largo de Cascais, tendo regressado à Base Naval de Lisboa, depois de ter navegado cerca de 8 horas.

Depois de efectuar o treino da guarnição, manteve-se em missões ao serviço de fiscalização da pesca, especialmente na Zona Norte com várias estadias nos portos de Viana do Castelo, Leixões e Figueira da Foz.

Nos anos seguintes de vida operacional, foram-lhe atribuídas diversas comissões de serviço SAR, quer nos Açores quer na Madeira, com escalas em diversos portos.

Manteve sempre grande actividade intercalando alguns fabricos com missões SAR e outras missões no Continente, marcadamente na fiscalização da pesca, colaboração em salvamentos e exercícios diversos.

Em Outubro de 1985 mantinha-se no efectivo dos navios da Armada.

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN José Barrera Matos Lima, 16.º CFORN, desde 20.11.1970;
2TEN RN José de Araújo Guedes, 16.º CFORN, desde 18.11.1971;
2TEN RN Décio Mário Baganha Fernandes, 20.º CFORN, desde 14.10.1972;
2TEN RN Vicente Manuel de Castro Apolinário, 22.º CFORN, desde 02.10.1973;
2TEN TE RN António Jorge Flores Vasques, 24.º CFORN, desde 02.10.1974;
2TEN TE RN José Celso Queiroz Tavares Mascarenhas, 25.º CFORN, desde 04.11.1975;





Navio-patrulha «Zaire» - P 1146

Construído nos Estaleiros Navais do Mondego na Figueira da Foz, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 22 de Dezembro de 1971. Em 29 de Janeiro largou para experiência de máquinas e embarque de munições, tendo regressado posteriormente à Base Naval de Lisboa, depois de 11 horas de navegação.

Depois de efectuar o treino da guarnição, manteve-se em missões ao serviço de fiscalização da pesca, especialmente na Zona Norte com várias estadias nos portos de Viana do Castelo, Leixões e Figueira da Foz.

Nos anos seguintes de vida operacional, foram-lhe atribuídas diversas comissões de serviço SAR, quer nos Açores quer na Madeira, com escalas em diversos portos.

Manteve sempre grande actividade intercalando alguns fabricos com missões SAR e outras missões no Continente, marcadamente na fiscalização da pesca, colaboração em salvamentos e exercícios diversos.

Em Outubro de 1985 mantinha-se no efectivo dos navios da Armada.

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN Eugénio Costa Ferreira Marques, 20.º CFORN, desde 14.10.1972;
2TEN RN José Manuel Proença Cameira, 20.º CFORN, desde 14.10.1972;
2TEN RN José Miguel de Azambuja Cardoso Ayres, 22.º CFORN, desde 02.10.1973;
2TEN RN Manuel Carlos de Azevedo e Melo, 24.º CFORN, desde 01.10.1974;
2TEN TE RN Artur de Jesus Barros Nobre, 24.º CFORN, desde 02.10.1974;
2TEN TE RN Joaquim Pereira de Oliveira, 25.º CFORN, desde 27.09.1975;





Navio-patrulha «Zambeze» - P 1147

Construído nos Estaleiros Navais do Mondego na Figueira da Foz, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 20 de Julho de 1972.

Depois de efectuar o treino da guarnição, no decorrer do ano de 1973, manteve-se em missões ao serviço de fiscalização da pesca, quer na Zona Norte quer na Zona Sul, com várias estadias em diversos portos do Continente e com algumas reparações efectuadas no Arsenal do Alfeite.

Em 14 de Novembro largou com destino a Cabo Verde no cumprimento de uma comissão de serviço no Ultramar, fazendo escala na Madeira. Depois de várias avarias e escalar as Canárias com destino a Bissau regressou novamente àquelas ilhas por efeito do mau tempo e de avarias.

Manteve-se em Cabo Verde, desempenhando várias missões inter-ilhas, quer de transporte quer de fiscalização e apoio logístico. Em 24 de Abril de 1974 largou de Palmeira para Bissau, tendo aportado a Caió cerca de 36 horas depois e no dia seguinte a Bissau.

Realizou na Guiné uma curta comissão desempenhando várias missões no rio Cacine entre 27 de Abril e 10 de Maio, incluindo o patrulhamento da costa e fiscalização da pesca. Regressou depois a Cabo Verde - Porto Grande onde chegou no dia 12 de Maio. Passou à situação de inoperacional e manteve-se em reparações até ao final do ano.

No início de 1975, depois do adestramento da guarnição e de vários exercícios, deixou Cabo Verde e regressou ao Continente, com escala pelas Canárias e Funchal, atracando na Base Naval de Lisboa no dia 25.

Nos anos seguintes de vida operacional, foram-lhe atribuídas diversas comissões de serviço SAR, quer nos Açores quer na Madeira, com escalas em diversos portos.

Em Outubro de 1985 mantinha-se no efectivo dos navios da Armada na situação de desarmamento e guarnição especial.

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN Januário Armando Neves Correia, 17.º CFORN, desde 01.08.1972;
2TEN RN Joaquim José Tição Teixeira Sampaio, 20.º CFORN, desde 14.10.1972;
2TEN RN José Manuel de Lemos Gonçalves da Costa, 22.º CFORN, desde 02.10.1973;
2TEN TE RN Domingos José Nunes da Rocha, 25.º CFORN, desde 03.07.1975;
2TEN TE RN José Lúcio Amaral de Almeida, 24.º CFORN, desde 23.09.1975;





Navio-patrulha «Limpopo» - P 1160

Construído no Arsenal do Alfeite, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 9 de Abril de 1973.

Depois de efectuar o treino da guarnição, manteve-se em missões ao serviço de fiscalização da pesca, quer na Zona Norte quer na Zona Sul, com várias estadias em diversos portos do Continente e com algumas reparações efectuadas no Arsenal do Alfeite.

Nos anos seguintes de vida operacional, foram-lhe atribuídas diversas comissões de serviço SAR, quer nos Açores quer na Madeira, com escalas em diversos portos.

Em Outubro de 1985 mantinha-se no efectivo dos navios da Armada.

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN Vasco Torres Graça dos Santos, 19.º CFORN, desde 09.04.1973;
2TEN RN Francisco Ramos da Silva Gomes, 23.º CFORN, desde 25.06.1974;





Navio-patrulha «Save» - P 1161

Construído no Arsenal do Alfeite, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 31 de Outubro de 1973.

Depois de efectuar o treino da guarnição, manteve-se em missões ao serviço de fiscalização da pesca, quer na Zona Norte quer na Zona Sul, com várias estadias em diversos portos do Continente e com algumas reparações efectuadas no Arsenal do Alfeite.

No princípio de Abril de 1976, em serviço normal de fiscalização foi abalroado por um navio não identificado a cerca de 2 milhas da Ponta de Sagres, sofrendo um importante rombo. A lamentar a morte de um elemento da guarnição e ferimentos ligeiros em mais dois. O navio-patrulha «Limpopo» que entretanto tinha acorrido ao local, juntamente com várias outras embarcações na zona, rebocou o «Save» para Portimão.

Ao longo dos anos de vida operacional, foram-lhe atribuídas diversas comissões de serviço SAR, quer nos Açores quer na Madeira, com escalas em diversos portos.

Em Outubro de 1985 mantinha-se no efectivo dos navios da Armada.

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN Abílio Simões de Oliveira Pinheiro, 22.º CFORN, desde 31.10.1973;
2TEN RN David Caldeira Ferreira, 20.º CFORN, desde 13.12.1973;
2TEN TE RN Paulo Augusto Amaral Gomes, 24.º CFORN, desde 16.10.1974;
2TEN RN João de Almeida Moreira Queiroz, 24.º CFORN, desde 12.11.1975;


Fontes:
Texto compilado pelo autor do blogue com imagens da Revista da Armada; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Setenta e Cinco Anos no Mar, Comissão Cultural da Marinha 10.º e 15.º Vols, 1999/2004; Ordem da Armada;


mls

18 fevereiro 2018

Reserva Naval na classe «Cacine»- Parte II


Os navios-patrulha classe «Cacine»-Parte II

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 23 de Junho de 2010)

«Cacine», «Cunene», «Mandovi», «Rovuma» e «Quanza»








Navio-patrulha «Cacine» - P 1140


Construído no Arsenal do Alfeite, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 6 de Maio de 1969. Em 2 de Agosto, em conjunto com o «Cunene» rumou a Luanda, onde atracou no dia 25 depois de escalar o Porto Grande de S. Vicente de Cabo Verde, Bissau e S. Tomé.

Manteve-se em Angola até Agosto de 1973, tendo efectuado então várias vezes o percurso de ida e volta a S. Tomé, regressando a Luanda no princípio de Dezembro e permanecendo naquele território a totalidade do ano de 1974.

A 3 de Fevereiro de 1975, finda a comissão de serviço e na companhia do «Mandovi», regressou a Portugal, depois de escalar S. Tomé, S. Vicente, Gran Canária e Madeira, atracando na BNL no dia 25. Depois dessa data, efectuou diversas comissões SAR nos Açores e na Madeira. Mantém-se no efectivo dos navios da Armada.

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN José Maria Palma Nobre Franco, 13.º CFORN, desde 7.5.69;
2TEN RN Carlos Augusto Mendes Alves, 17.º CFORN , desde 3.5.71;
2TEN RN João Manuel da Silveira Malheiro Távora, 22.º CFORN, desde 16.10.73*;
2TEN TE RN Vasco de Melo, 25.º CFORN, desde 21.5.75;


* Substituiu com urgência, em 16.10.73, o 2TEN RN Armando Henrique Prazeres Machado, 21.º CFORN, nomeado para desempenhar as funções de docente da cadeira de Matemática na Escola Naval - informação fornecida pelo Comandante Manuel Pinto Machado que, à data, desempenhava as funções de comandante do navio-patrulha «Cacine».






Navio-patrulha «Cunene» - P 1141

Construído no Arsenal do Alfeite, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 6 de Junho de 1969. Em 2 de Agosto, em conjunto com o navio-patrulha «Cacine» rumou a Luanda, onde atracou no dia 25 depois de escalar o Porto Grande de S. Vicente de Cabo Verde, Bissau e S. Tomé.

Apenas em Junho de 1973 voltou a S. Tomé regressando a Luanda no final de Agosto. Passou o ano de 1974 em Angola, efectuando nova comissão em S. Tomé e Princípe entre Setembro e Novembro daquele ano.

Em 25 de Fevereiro de 1975, finda a comissão de serviço e na companhia do «Rovuma», regressou a Portugal. Depois de escalar S. Tomé, S. Vicente, Gran Canária e Madeira, atracou na BNL no dia 16 de Março.

Efectuou diversas comissões SAR nos Açores e na Madeira, tendo passado ao estado de desarmamento em 31.07.2001 e foi abatido ao efectivo dos navios da Armada em 15.11.2006 (portaria 1822 de 8.11.2006).

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN Álvaro Babiano Costa e Moura, 13.º CFORN, desde 6.9.69;
2TEN RN João Luis Gomes Durão, 14.º CFORN, desde 23.8.70 (vindo do Rovuma);
2TEN RN Rui Alberto Antunes Pais dos Santos, 17.º CFORN, desde 4.5.71;
2TEN RN José dos Remédios Dias Gonçalves, 18.º CFORN, desde 28.10.71;
2TEN RN Henrique Joaquim Gomes, 21.º CFORN, desde 16.5.73;
2TEN RN Emílio Manuel da Mata Pereira, 22.º CFORN, desde 15.10.73;





Navio-patrulha «Mandovi» - P 1142

Construído no Arsenal do Alfeite, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 2 de Setembro de 1969. Em 15 de Setembro rumou a Angola, escalando o Porto Grande de S. Vicente de Cabo Verde, Bissau e S. Tomé onde fundeou no dia 31. Em 3 de Novembro, na companhia da LFG «Centauro», partiram para Luanda onde atracaram no dia 5 de Novembro.

No final de Setembro de 1973, efectuou uma outra ida a S. Tomé, regressando a Luanda no princípio de Março do ano seguinte. A 3 de Fevereiro de 1975, finda a comissão de serviço e na companhia do navio-patrulha «Cacine», regressou ao Continente. Depois de escalar S. Tomé, S. Vicente, Gran Canária e Madeira, atracou na BNL no dia 25 do mesmo mês.

Efectuou diversas comissões SAR nos Açores e na Madeira. Passou ao estado de desarmamento em 3.1.1996 e foi abatido ao efectivo dos navios da Armada em 20.3.2002 (portaria 632/02 de 20.12.2002).

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN Fernando Manuel da Conceição Correia, 13.º CFORN, desde 15.10.69;
2TEN RN Álvaro Jaime Neves da Silva, 17,º CFORN, desde 4.5.71;
2TEN RN Manuel Eduardo Costa e Almeida Vasques, 21.º CFORN, desde 16.5.73;





Navio-patrulha «Rovuma» - P 1143

Construído no Arsenal do Alfeite, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 14 de Novembro de 1969. Em 5 de Fevereiro de 1970 rumou a Luanda, onde atracou no dia 4 de Março depois de escalar o Porto Grande de S. Vicente de Cabo Verde, Bissau e S. Tomé.

Entre 7 e 26 de Junho de 1974 esteve em S. Tomé, onde voltou novamente a permanecer entre 28 de Junho e 12 de Setembro do mesmo ano. Em 25 de Fevereiro de 1975, na companhia do navio-patrulha «Cunene», regressou a Portugal tendo atracado em Lisboa no dia 16 de Março.

Efectuou diversas comissões SAR nos Açores e na Madeira. No dia 15 de Março de 1999 atracou na Base Naval de Lisboa pela última vez. Passou ao estado de desarmamento em 29.2.2000 e foi abatido ao efectivo dos navios da Armada em 1.8.2003.

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN João Luis Gomes Durão, 14.º CFORN, desde 11.12.69;
2TEN RN Carlos Eduardo Couto da Cunha Dias, 18.º CFORN, desde 28.10.71;
2TEN RN António Fernando de Brito Castilho Dias, 22.º CFORN, desde 5.2.74;
2TEN TE RN Victor Manuel Oliveira Santos Ferreira, 25.º CFORN, desde 6.10.75;





Navio-patrulha «Quanza» - P 1144

Construído nos Estaleiros Navais do Mondego, foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 4 de Junho de 1970. Em 1 de Setembro de 1970 largou com destino a Cabo Verde, tendo chegado a Porto Grande de S. Vicente onde permaneceu até Junho de 1973.

No dia 20 daquele mês partiu com destino a Bissau onde chegou a 27, ficando naquele território a efectuar comissão. Entre 4 de Fevereiro e 14 de Março do ano seguinte esteve ausente da Guiné, novamente em Cabo Verde, após o que regressou a Bissau. Em 14 de Outubro regressou ao Continente, escalou Cabo Verde e atracou na BNL em 2 de Novembro.

Efectuou diversas comissões SAR nos Açores e na Madeira. Mantém-se no efectivo dos navios da Armada.

Oficiais da Reserva Naval que ali desempenharam missões, até 1975, como oficiais da guarnição:

2TEN RN Carlos Alberto de Albuquerque Neves Costa, 15.º CFORN, desde 4.6.70;
2TEN RN Vitor Correia Guimarães, 18.º CFORN, desde 31.10.71;
2TEN RN António Manuel Mendonça Guerreiro, 22.º CFORN, desde 16.10.73;
2TEN RN António Carlos de Queiroz Vilela Bouça, 24.º CFORN, desde 2.12.74;
2TEN TE RN Lídio Marques Fernandes, 24.º CFORN, desde 3.9.75;
2TEN TE RN António Manuel Ribeiro Araújo, 25.º CFORN, desde 9.11.75;


(continua)

Fontes:
Texto compilado pelo autor do blogue com imagens da Revista da Armada; Setenta e Cinco Anos no Mar, Comissão Cultural da Marinha 10.º e 15.º Vols, 1999/2004; Ordem da Armada;


mls

15 fevereiro 2018

LFP "Albufeira" - P 1157


Os Oficiais da Reserva Naval na LFP «Albufeira» - P 1157

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 15 de Março de 2011)




A LFP «Albufeira» a navegar no porto de Leixões


Construída nos estaleiros do Arsenal do Alfeite e a segunda da classe «Alvor», com as mesmas características gerais, foi aumentada ao efectivo dos navios da Armada no dia 9 de Junho de 1967 tendo sido atribuída ao Instituto Hidrográfico.

Por esse facto e após o período de adestramento da guarnição, permaneceu no Arsenal do Alfeite para montagem do equipamento electrónico de sondagem até 11 de Agosto desse ano. Iniciou serviço hidrográfico da zona costeira continental a partir desse mês. Ocasionalmente e até 1970, efectuou serviços de fiscalização da pesca na costa algarvia.

Em 21 de Setembro de 1972 foi superiormente decidido atribuir o navio ao Comando de Defesa Marítima de Timor. Por esse facto, subiu o plano inclinado do Arsenal do Alfeite onde foi pintado de branco, tendo sido retirada a peça Oerlikon e passando a designar-se por «Tibar».

Embarcou em 25 de Fevereiro de 1973 no navio holandês «Batjan» com destino a Timor, onde chegou a 8 de Abril, sendo atribuída àquele Comando de Defesa Marítima, provisoriamente em serviço de policiamento marítimo. Dadas as características do navio, a sua utilização esteve limitada pela não existência quer de portos de abrigo quer de pontos de apoio para reabastecimento na costa sul.




Timor - A LFP «Tibar» navega ao largo de Dili

Esses condicionamentos levaram a que a acção do navio incidisse especialmente na costa norte, nomeadamente na Ilha de Ataúro no enclave de Oe-cusse, zonas que, pela sua situação geográfica, se encontravam isoladas da restante província.

Dentro das limitações da lancha, foi prestado todo o apoio e colaboração possíveis no transporte de pessoal e de material militar, sempre que solicitado.

Em 23 de Abril de 1973, numa das viagens entre Dili e Ataúro, já junto desta ilha, sofreu avaria dos motores (o motor de arranque do motor principal de bombordo encontrava-se queimado), o que obrigou a que o navio ficasse inoperacional, devido aos fracos recursos oficinais a nível de sobressalentes.

Só voltou a navegar em Outubro desse ano, colaborando com uma barcaça de Timor num embarque, efectuado a seis milhas a oeste de Dili, de trinta e cinco chineses de Hong-Kong e dezasseis indonésios do navio «Norse Lion» que foram transportados para terra e entregues às autoridades sanitárias, a fim de serem assistidos.

Eram náufragos do navio «Anne Fortune» que tivera um incêndio a bordo quando navegava para Hong-Kong e que tinham sido recolhidos pelo «Norse Lion». Em 6 de Abril de 1974 voltou a prestar auxílio a náufragos, desta feita de uma embarcação indonésia que se encontrava sem vento e à deriva há cinco dias, sem água potável. Encontrava-se a cerca de 35 milhas da Ilha de Ataúro e transportava cento e sete pessoas.

Foi rebocada para a ilha onde todos os ocupantes foram assistidos. Em 26 de Agosto de 1975 participou no transporte das Autoridades Portuguesas do porto de Dili para a Ilha de Ataúro, tendo sido o último navio português a largar do cais de Dili, em cujas proximidades combatiam já as forças timorenses rivais. Seguiu para Kupang para reabastecimento no Timor indonésio, em 29 de Agosto. Encontrou grandes dificuldades no retorno que só se deu em 5 de Setembro para a Ilha de Ataúro.

Durante todo o período em que esteve operacional foram comandantes da LFP «Albufeira» os seguintes oficiais:

Reserva Marítima:

2TEN RM Gil da Costa, 24Jun67/04Nov68;

Quadro Permanente:

2TEN Orlando Luís Saavedra Temes de Oliveira, 04Nov68/12Nov69;

Reserva Naval:

2TEN RN Fernando Magalhães do Amaral Neto, 12.º CFORN, 12Nov69/15Jul70;
2TEN RN João José Carvalho Ghira, 15.º CFORN, 15Jul70/26Oou70;
2TEN RN José Filipe de Melo Castro Guedes, 16.º CFORN, 26Out70/24Out72;
2TEN RN Vasco Torres Graça dos Santos, 19.º CFORN, 24Out72/08Abr73;




Fernando do Amaral Neto-12.º CFORN, José Castro Guedes-16.º CFORN
e Vasco Graça dos Santos-19.º CFORN


Para a permanência do navio em Timor a lotação não previa um oficial pelo que o cargo de Comandante acumulou com o Comandante do Comando de Defesa Marítima de Timor.

Já com o nome de LFP «Tibar» foram ainda comandantes daquela LFP os seguintes oficiais:

Quadro Permanente:

CTEN Manuel Arsénio Velho Pacheco de Medeiros, 08Abr73/29Set73;
CTEN José Luís Ferreira Leiria Pinto, 29Set73/08Out75;

Depois de mais de 8 anos de bons serviços e horas de navegação indeterminadas, foi abatida ao efectivo dos navios da Armada em 8 de Outubro de 1975.


Navios da mesma classe:
LFP «Alvor», LFP «Albufeira» e LFP «Alzejur”.

Fontes:
Dicionário de Navios, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha – 2006; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP’s), 16º VOL, 2005, com fotos de arquivo do autor do blogue - Arquivo de Marinha e Revista da Armada;


mls

10 fevereiro 2018

Reserva Naval na Classe «Cacine»- Parte I


Os navios-patrulha classe «Cacine»-Parte I

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 19 de Junho de 2010)


Desta vez, em vez de abordar directamente um descritivo sobre a normal integração de oficiais da Reserva Naval nas guarnições dos navios da classe Cacine, entendo ter sentido tecer algumas considerações prévias.

São observações meramente pessoais e, como tal, subjectivas. Talvez devam ser consideradas como meras conjecturas filosóficas de um antigo oficial da Reserva Naval que desempenhou as funções de oficial imediato da LFG «Orion», na Guiné.

O decorrer do tempo tem vindo a criar-me uma acrescida predisposição para estabelecer comparativos entre os dois tipos de unidades navais e questionar algumas vertentes de menor entendimento pessoal. Congratular-me-ei com algum interesse que possa vir a despertar em quem integra, ou integrou, guarnições em navios-patrulha da classe «Cacine».



O navio-patrulha «Cacine» a navegar

Em 1975, com o final da Guerra do Ultramar, houve como que um súbito desaparecimento de uma classe inteira de navios – os dez navios da classe «Argos». Duas delas, as LFG «Cassiopeia» e «Sagitário», muito degradadas e já algo canibalizadas, foram afundadas na Guiné, 104 milhas a oeste de Bissau.

Com as LFG «Lira» e «Orion» a navegar, as LFG «Argos», LFG «Dragão» e LFG «Hidra» rebocadas pelo «Schultz Xavier» e ainda as LDG «Alfange» e LDG «Ariete», todas estas unidades integradas na que foi apelidada de “Incrível Armada – Missão de Reboque”, foram escoltadas pela corveta «António Enes» até Angola. Ali foram entregues, desarmadas e abatidas, juntando-se às que lá estavam, as LFG «Pégaso» e LFG «Centauro» ou lá foram ter mais tarde, como a LFG «Escorpião».

Não houve adaptação progressiva ao envelhecimento das unidades atracadas, com desarmamento gradual por fases e abate progressivo numa rotineira habituação visual típica de uma base naval em que, mais dia menos dia, acabariam como sucata num ferro velho.

Dos navios–patrulha da classe «Cacine» foram fabricadas dez unidades, sucessores naturais das LFG – Lanchas de Fiscalização Grandes da Classe «Argos», com igual número de unidades produzidas, arquitectura de construção muito semelhante e com as quais mantiveram ainda uma larga coexistência no tempo. Não cá, mas em África, sobretudo em Angola.



A LFG «Escorpião» a navegar nas águas de Cabo Verde

Excepção para a Guiné, onde os navios-patrulha «Quanza» e «Zambeze» efectuaram curtas comissões. O primeiro, entre Julho de 1973 e Outubro de 1974 com uma curta interrupção em que esteve em Cabo Verde. Regressou depois ao Continente. O segundo, em 24 de Abril de 1974 ali rumou tendo participado em diversas missões em Cacine, patrulhamento na costa e fiscalização da pesca. Em Maio regressou a Cabo Verde e ali permaneceu até regressar a Portugal em Fevereiro de 1975.

A primeira destas unidades, com aquele nome, foi aumentada ao efectivo em 6 de Maio de 1969. Era então Comandante Naval do Continente e da Base Naval de Lisboa o Vice-Almirante Ferrer Caeiro. Embora não recorde a cerimónia, foram muitas ao longo de dois anos, onde estive presente. Penso que terei estado no Arsenal do Alfeite uma vez que fui ajudante de ordens daquele oficial general durante aquele período de tempo.

Não tenho conhecimento do critério que presidiu à escolha e atribuição de nomes aos navios da classe «Cacine» mas, uma vez seleccionado o de rios das ex-províncias ultramarinas, eu teria escolhido um nome do mais emblemático teatro de guerra – a Guiné, de onde elegeria o Cacheu, por tudo quanto aquele curso de água significou, durante uma dúzia de anos, para todo o dispositivo naval da Marinha.

Existindo ao tempo, ainda no efectivo, uma corveta com o nome Cacheu, esse facto tornaria impeditiva a sua utilização. Parece-me excessivamente fácil optar por Cacine em segunda escolha talvez porque, depois do Cacheu, não havia outra alternativa válida na minha perspectiva de "utente” de uma LFG –Lancha de Fiscalização Grande, naquele cenário.




O navio-patrulha «Quanza» em S. Vicente de Cabo Verde

Justificam-no as muitas horas por nós ali navegadas, as arriscadas idas a Cameconde, as marcas dos ferros em quase todos os pontos do rio que permitiam fundear, um aquartelamento e povoação com o mesmo nome que sempre encontraram na Marinha o apoio para rechaçar as morteiradas da margem oposta, a ponta Campeane no Quitafine com a sinistra península de Canefaque, onde os ameaçadores “Canhões de Navarone” visavam frequentemente, de Cassumba e Cassantene, a entrada da barra do rio, obrigando a demandar a barra norte e com ocultação de luzes.

Começa a ser frequente tropeçar em quem não saiba o que é, e onde é, o rio Cacine, ou qualquer outro dos nomes escolhidos para os dez navios-patrulhas mas, para as guarnições das LFG, LDG, LFP, LDM, LDP, DFE e CF, de algumas fragatas, corvetas e navios hidrográficos, as águas daquele rio da Guiné e também dos outros cursos de água, guardam vivências únicas, povoando ainda hoje memórias históricas de factos ocorridos há quase meio século.

Raciocínio análogo se aplica para Angola, Moçambique, S. Tomé, Cabo Verde e Índia. A sequência de nomes de rios é natural. «Geba», ainda na Guiné, «Cunene», «Quanza» e «Zaire» em Angola, «Rovuma», «Zambeze», «Limpopo» e «Save» em Moçambique e «Mandovi» na Índia, ainda que não seja esta a ordem correcta por que foram aumentados ao efectivo dos navios da Armada aquele conjunto de unidades navais.

Ficarão para a história as atribulações da ortografia do nome do navio «Quanza» que, desde antes do aumento ao efectivo, tem sido de permanente controvérsia. Para quem pretenda um esclarecimento complementar, mesmo em locais de comunicação oficial, não será fácil rectificar ou ratificar quer "Quanza" quer "Cuanza". Afinal sempre são palavras homófonas e, para quem ouve, não existe qualquer diferença. Pessoalmente fico-me por "Quanza", como sempre escrevi.

Para navios de concepção tão semelhante aos da classe «Argos», nos planos de construção naval, nas características gerais, no armamento, nos equipamentos e máquinas propulsoras, sobressaem, nas diferenças, os cerca de seis metros adicionais do comprimento, fora a fora.



Guiné - A LFG «Orion» no rio Cacheu

Para missões idênticas e desempenhadas nos mesmos cenários e onde ainda coexistiram ambas as classes, caso específico de Angola, não será tão linear quanto isso, compreender o porquê da inclusão de mais um oficial, dois sargentos e três praças na guarnição.

Na Guiné, parece-me estar fora de causa qualquer comparativo no esforço exigido às guarnições, pelo tempo de permanência quer a bordadas quer em postos de combate, ou até à especial dificuldade das condições de navegação em muitos pontos do território. Não seria então escassa a guarnição das LFG «Argos»?

Frequentemente, quando são abordadas como tema as LFG da classe «Argos» a amplitude de conhecimento apenas chega com facilidade até às novas Lanchas de Fiscalização Rápidas «Argos». Mais remotamente, a confusão com a classe «Cacine» é inevitável. Convenientemente exposta, talvez uma miniatura em madeira de uma LFG «Argos», existente no Museu da Marinha e que já visualizei, pudesse auxiliar a memória histórica daquela época.


(continua)

Fontes:
Texto compilado peloo autor do blogue com imagens da Revista da Armada; Setenta e Cinco Anos no Mar, Comissão Cultural da Marinha 10.º e 15.º Vols, 1999/2004; Ordem Da Armada, 1.ª Série;


mls

07 fevereiro 2018

Guiné, LFP «Aljezur» - P 1158


Os Oficiais da Reserva Naval na LFP «Aljezur» - P 1158

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 10 de Março de 2011)




Guiné - A LFP «Aljezur» a navegar


Construída nos estaleiros do Arsenal do Alfeite e a terceira da classe «Alvor», com as mesmas características gerais, foi aumentada ao efectivo dos navios da Armada no dia 18 de Janeiro de 1968 e entregue ao primeiro oficial a exercer o comando nesse mesmo dia.

Durante os anos de 1968 e 1969, até Maio deste último, desempenhou missões de fiscalização da pesca ao longo da costa algarvia e de apoio a navios hidrográficos. Rumou então à BNL na companhia da LFP «Alvor».

No Arsenal do Alfeite efectuou algumas transformações consideradas necessárias, designadamente o reforço do casco com chapa balística e a montagem de um lançador de foguetes de 37 mm.




Guiné - Máquinas a vante toda a força ou fundeada

Foi transportada para a Guiné a bordo do NM «Ambrizete» juntamente com a LFP «Alvor». Saiu de Lisboa em 3 de Setembro de 1969 e desembarcou em Bissau em 9 de Setembro desse mês, ficando atribuída à Esquadrilha de Lanchas da Guiné.

Iniciou missões de patrulha e fiscalização no rio Grande de Buba em 19 de Novembro de 1969. Efectuou diversas missões de escolta, transporte de material e de pessoal, de apoio a combóios de embarcações nos diversos rios da Guiné e de apoio ao navio hidrográfico «Pedro Nunes» no levantamento hidrográfico do rio Mansoa.

Em Julho de 1970, na sequência de fiscalização e patrulha do rio Cacheu, entre a foz do rio Armada e Canjaja, em apoio de emboscadas com botes efectuadas pelos DFE 7 e DFE 12, foi atacada da margem norte com morteiros e armamento ligeiro. A lancha ripostou com lança-foguetes, Oerlikon e MG 42 regressando a Bissau no dia seguinte com problemas nos veios. Mais tarde, depois de reparada a avaria, voltou à zona, tendo efectuado fogo de reconhecimento sobre áreas suspeitas sem que o inimigo se tenha revelado.

Durante todo o período em que esteve operacional foram comandantes da LFP «Aljezur» os seguintes oficiais:




José Joaquim de Sousa Ferreira Martins, 8.º CEORN, o primeiro comandante daquela unidade naval

Reserva Naval:

2TEN RN José Joaquim de Sousa Ferreira Martins, 8.º CEORN, 18Jan68/15Jul70;
2TEN RN João José Carvalho Ghira, 15.º CFORN, 15Jul70/27Mar71;
2TEN RN Carlos Manuel Martins Brites Moita, 14.º CFORN, 27Mar71/05Abr71;
2TEN RN João José Carvalho Ghira, 15.º CFORN, 05Abr71/21Ago71;
2TEN RN Carlos Manuel Martins Brites Moita, 14.º CFORN, 21Ago71/01Set71;
2TEN RN João José Carvalho Ghira, 15.º CFORN, 01Set71/10Fev72;

Quadros Permanentes:

CTEN Jorge Manuel da Conceição Ramos, 10Fev72/17Out73;
CTEN José Carlos Faria da Conceição, 17Out73/07Set74;

Durante a sua vida operacional, participou em diversas operações: "Via Láctea", "Volta Brandal", "Sol Nascente", "Quarto Minguante", "Guarda Patrão", "Lua Nova", "Verga Latina", "Quarto Crescente", "Primeiro Remo", "Mastro Grande", "Sol Poente" e "Vela Grande".




Guiné - A guarnição da LFP «Aljezur» em registo de família

A partir de 4 de Agosto de 1974 ficou inoperativa com problemas na instalação eléctrica. Depois de mais de 6 anos de bons serviços e quase 4.700 horas de navegação, foi abatida ao efectivo dos navios da Armada em 7 de Setembro de 1974.

Navios da mesma classe:

LFP «Alvor», LFP «Albufeira» e LFP «Aljezur”.


Fontes:
Dicionário de Navios, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha – 2006; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP’s), 16º VOL, 2005, com fotos de arquivo do autor do blogue - Arquivo de Marinha e Revista da Armada;


mls

03 fevereiro 2018

Reserva Naval, 8.º CEORN, 1965 - Cartas trocadas


Paulo Henrique Lowndes Marques e Augusto de Athayde Soares de Albergaria, foram dois integrantes do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que, em condições e cenários diversos, no longínquo ano de 1967, cumpriram o seu tempo de serviço militar na Marinha.
Ingressaram na Escola Naval em 9.10.1965 e foram promovidos a Aspirante a Oficial em 29.4.1966. Licenciados no posto de 2.º Tenente em 1968, regressaram à vida civil.
Ambos do meu curso da Reserva Naval, o 8.º CEORN, já deixaram os dois o nosso convívio. Mais uma vez aqui lhes presto um saudoso preito de homenagem.




Em Angola, o primeiro e, em Lisboa, o segundo, foram os autores de uma troca de correspondência que reflecte estados de espírito bem diferentes, um e outro com curiosas observações que, sem qualquer comentário, a Revista n.º 10, Dez2000 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, deu a conhecer passados que foram 33 anos.




Paulo Lowndes Marques (8º CEORN)
(21.8.1941 - 1.1.2011)


Angola, 1 de Março de 1967

Meu Caro Augusto,

Eis-me em pleno Rio Zaire, a uns 70 Km da foz deste grande rio. Comando um Posto denominado Macala, numa zona do rio onde este estreita. Não só vejo perfeitamente a outra margem, como distingo uma pequena aldeia e, indistintamente, as pessoas que nela se movimentam.

Contam-me os meus libidinosos fuzileiros que lá se encontra uma albina, o que algo excita os latinos deste lado, embora, francamente, a distância não o justifique. Mas no centro de África como em Pigalle, a imaginação é tudo!

O rio embora aqui estreito, como disse, parece ser mais profundo do que o Mediterrâneo! O Zaire é rio internacional até penetrar no Congo Kinshasa e o porto de Matadi é pois servido por este "canal" meu vizinho.

Tenho cerca de 35 homens (e não, helas, mulheres – quanto tempo demorará para o bom exemplo de Israel chegar aqui?) sob o meu comando. Tenho ordens por escrito segundo as quais este posto não se pode render.

Se for atacado, tenho a obrigação de morrer gloriosamente com tudo e todos. Medito muitas vezes (até porque há muito tempo para meditar) no dilema de um militar jovem e subalterno há seis anos (1961) na fronteira de Gôa.

Durante semanas o inimigo aumentou a pressão psicológica através da rádio e de óbvia concentração de tropas em frente do equivalente deste posto com o vai-vem de camionetas, a chegada de artilharia, o treino diário de cada vez mais homens, a prática dos morteiros. E eu com os meus trinta homens, por certo com armamento muito inferior.

Vem a madrugada do ataque – na última escuridão da noite ouviria (mantendo o paralelo com a minha situação) o barulho das Lanchas arrancando os seus motores, os primeiros morteiros caindo, tentando calcular o alcance certo.




Posto de Fuzileiros da Quissanga em 1967

Eu enviaria uma mensagem com prioridade para a minha chefia hierárquica e descobriria que eles, os meus chefes, já lá não estavam! Já tinham decampado, ou se rendido, ou sei lá?

E ali estava eu com as minhas ordens escritas, irredutíveis e patrióticas e os meus chefes desaparecidos! Julgo, sinceramente, que este abandono dos subordinados constitui a acusação mais grave aos comandos militares em Gôa quando da invasão.

Há bons e honrados precedentes históricos para ignorar e desobedecer ao poder político. O almirante russo que desobedecendo a ordens, ordenou a rendição geral na batalha de Tsuchima, por exemplo.

Enfim, estou a divagar. O rio corre com enorme força. Na época das chuvas chega a fazer sete milhas por hora. Se se sobrevoar a foz, o Zaire entra como um grande soco castanho no estômago do Atlântico Sul. Tenho cerca de 20 Km de rio à minha guarda.

Por vezes aparece uma mensagem alarmista – vem um corpo de um branco morto levado pelo rio. Além do desagradável que me escuso de te descrever (o que faz, por vezes, só darmos o alarme quando o dito já está no território do posto vizinho) o "branco" é invariavelmente um negro, pois a pigmentação escura descolora com a imersão prolongada – (para a tua sabedoria anatómica).

De resto muitas, algo rotineiras patrulhas. Por vezes (não nesta zona), há incidentes com pescadores furtivos que vêem a este lado. Nada mais. Não há guerra. Os crocodilos são bem mais perigosos, embora tenham muito mais medo de nós, que nós deles.

É claro que esta guerra mole e algo podre tem os seus perigos. A complacência e a rotina levam ao descuido e é então que um ataque ocorre. Em Nóqui, a montante de onde estou, o aeroporto fica distanciado uns quilómetros do quartel da tropa. Passaram os meses e sempre nada, as medidas prudentes de escolta e cuidados dos primeiros tempos foram-se diluindo no calor, na rotina e no abandalhamento. Depois veio o ataque e emboscada cuidadosamente preparados, deixando sete mortos!

Enfim!...O Posto da Macala é bonito, com flores trepadeiras cuidadas, buganvílias e vistas panorâmicas. Há muito tempo nas mãos. Leio muito. Finalmente li a "Guerra e Paz" de capa a capa.

É da lógica militar que um pelotão de trinta homens só tem dez para, de facto, ocupar em patrulhas. Sentinelas, cozinhas, reparação de botes, etc., etc., consomem a mão-de-obra. É de questionar se a "fixação" de militares, afinal treinados para actividades de maior intervenção, será a melhor forma de os aproveitar. Porque não trazer navios patrulha e lanchas a navegar neste rio como "postos flutuantes", usando assim todos os fuzileiros para patrulhar?

Recordo com saudade a nossa viagem a Cabo Verde, Açores e Madeira. Do pó e areia em São Vicente (os dois clubes de golf – um português, outro inglês – os "greens" algo castanhos!), do cenário lunar de Santo Antão, dum lado e do outro do verde tropical no fundo dos vales, da perdida fotografia do Raul Ventura numa repartição esquecida e do magnifico Café Mussolini. Não sei se visitaste o famoso Tarrafal. O Luandino Vieira que se recusava, com dignidade, diga-se em abono da verdade, a encontrar o "olhar" dos visitantes.




Escola Naval - Paulo Marques assina o Livro de Honra no decorrer de um encontro
entre elementos do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval,
a convite do Comando daquela Instituição


E após o mau tempo e embates do mar à saída de Cabo Verde, a súbita e quase mágica visão do verde dos Açores. Bem se percebe a psicologia do Canto IX dos Lusíadas, embora, mais uma vez, helas, sem a substância do Canto tão querido dos escolares portugueses. E as nossas deambulações na Madeira, culminando com o civilizado chá no Reeds.

É curioso como uma farda nos solidariza. Enfim, percebi a lógica de uma farda de colégio. A farda e, em verdade, a proximidade de perigo que, na prática, só me recordo dos exames na Faculdade, período onde todos éramos amigos e nos conhecíamos de perto. Tu, bom aluno, decerto nunca experimentaste o receio do chumbo, mas acredita que, como dizia o Dr. Johnson sobre alguém que vai ser enforcado no dia seguinte, que "concentra a mente por forma admirável". Mas novamente divago.

Li algures e em tempos, que "a guerra é uma experiência de grandes períodos de ócio e maçada, intercalados por súbitos momentos de medo intenso, sem nada pelo meio". Confesso, conforme disse, que até agora tive bem mais medo de exames do que propriamente experiências de guerra.

Em verdade te diz este fuzileiro distante que te abraça com amizade.

«Paulo»




Uma patrulha de Fuzileiros no Rio Zaire






Augusto Athayde (8º CEORN)
(4.4.1941 - 25.2.2014)



Lisboa, 15 de Março de 1967

Caríssimo Paulo,

Muito obrigado pela tua carta de 1 deste mês, como sempre cheia de interesse pelos factos narrados e reflexões feitas. Ainda bem que os teus riscos de guerra não são os piores! Adiro por inteiro ao que dizes sobre o inconcebível abandono dos subordinados pelos chefes. Espero veementemente que tal nunca te venha a suceder!

De qualquer forma pergunto-me sempre: como irá tudo isto acabar? Mal, muito provavelmente… A paz celestial dos nossos primeiros anos, vividos nestes palmos de terra esquecidos e intactos durante a pior convulsão que a humanidade conheceu e de todos os seus horrores… vai bem longe.

Afinal os males das guerras só viriam a atingir a nossa geração mais tarde (sem, reconheça-se, as dimensões apocalípticas de Hiroshima e outros desastres indiscritíveis...) Mesmo assim, todos teríamos desejado entrar na idade adulta de outra forma… E eu estou-me a queixar "de barriga cheia".

A "minha guerra" na "nau de pedra" é...de papel e lápis. A Repartição de Justiça (é certo esmagada de trabalho) inclui: um Capitão de Mar-e-Guerra, um Tenente do Serviço Geral, um Sargento e três Marinheiros. E, é claro, os dois juristas da Reserva Naval: o Rui Machete e eu.

O serviço corresponde, como saberás, em receber Autos (toneladas de Autos), levantados pelas Unidades, estudá-los e, num bonito papel amarelo, emitir uma informação distinguindo entre o que é infracção disciplinar, (faltas que serão punidas pelo Almirante Superintendente, ao abrigo do RDM) e o que é crime, caso em que os Autos seguem para o tribunal de Marinha. Sem esquecer que há situações nas quais se acumulam infracções disciplinares com crimes e outros – mais raros – em que, depois do Auto bem examinado, se tem de concluir não haver nem uma coisa nem outra.

Já somos todos amigos, dentro desta sala pombalina, dividida por tabique e com janela para um pátio. Por baixo dessa janela existe um aparelho de "ar condicionado" que, – fazendo enorme ruído sem produzir nem calor nem frio – se considera que terá a função de nos impedir de esquecer o das máquinas dos navios...

O tema a que bem aludes da "ausência feminina" em Macala… leva-me, por associação de ideias, a contar que aqui, na Repartição de Justiça há, por vezes, visitas extremamente pitorescas e que eu, como "o mais novo" devo atender. Invariavelmente uma megera "à la portugaise", obesa, perna gorda, hálito pestilento e pêlo na venta, vem acompanhar uma mulherona nova (que receio já tenha dormido com metade da Armada...) para reclamar contra a lentidão do processo em que o grumete ou marinheiro X é acusado de ter estuprado a segunda.

A megera faz as despesas da gritaria, "Vocês estão é todos feitos uns com os outros! E olhe que a mim homens nunca me meteram medo, óviu! Nem fardas!!" (etc., etc.) Isto acompanhado de grandes punhadas no tórax (dela!). Eu tento fazê-la falar mais baixo: “olhe que está ali o senhor Comandante”

- “Pois que esteja. Quero lá saberi! O que vocês querem todos sei eu! (etc.,)!”

Finalmente invoca o testemunho da estuprada."Oh filha conta lá como é que aquele filho de puta te levou ao engano!” E a matulona: "Olhe, eu ia pr'a casa com uma pequena amiga e ali do outro lado (do Terreiro do Paço), vem ele por trás, encosta-se a nós, e vai logo pondo as mãos. Bem..., o senhor está a entender... E diz: Oh filhas: vocês são bem boas. Se se lavassem bem – (censurado) – todas!“ Etc., etc. Mantenho uma cara digna (com dificuldade) e asseguro que podem confiar na Justiça. A Repartição toda abafa (mal) o riso. Lá as vou acompanhando para fora. Penso, sinceramente, que qualquer dia quem leva uns socos sou eu! O que ainda não terá ocorrido devido à minha visível corpulência... Enfim, nota para a vasta temática "a mulher e a Armada"...

Uma curiosidade jurídica: descobri, no Código de Justiça Militar que, ao contrário do que nos tinham ensinado na Faculdade, a pena de morte ainda está em vigor neste país, para certos crimes militares, especialmente graves. Perguntarás: mas quando se aplica? Resposta: nunca! Como só poderia ser aplicada a autores de crimes cometidos em teatro de guerra, a "brandura dos nossos costumes" e, penso eu – principalmente razões políticas, levaram o Governo a considerar que as operações no Ultramar...são de polícia!...e não de guerra! logo...não há teatro de guerra...

Antes assim! Por esta vez, ao menos, houve o bom senso de não agravar um descontentamento que (as gerações mais velhas não se dão conta) vai crescendo imparavelmente. Que efeitos provocará esse descontentamento? Os mais variados, de certo. Bons, ou muitos bons, se ele for a alavanca, no futuro, de um grande espírito de reforma, justa, tolerante, feita em liberdade e equilíbrio. Maus, ou muito maus, se se desembocar nalguma grande ruptura revolucionária, ideológica e arrasadora.




Escola Naval - Augusto de Athaide assina o Livro de Honra no decorrer de um encontro
entre elementos do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval,
a convite do Comando daquela Instituição


Enfim, não divaguemos…

Mas o menos que se pode dizer é que o futuro, para a nossa geração, é incerto. Só me parece evidente que o "modelo" actual não pode subsistir indefinidamente: ou evolui ou acaba...

Mas, passemos a coisas "menos pesadas". A longa batalha para pagar as dívidas dos meus pais, continua. Felizmente, aos poucos, e através dos episódios mais variados, vou avançando para o grande objectivo de se pagar tudo mesmo ficando sem nada mas de "cara lavada".

Agora, Paulo caríssimo: este é que é o verdadeiro curso de Direito!! Acho que até devia pagar por um mergulho assim nas realidades do Direito sobre as quais a Faculdade pouco ou nada nos disse! (Pagar? Mais ainda? Livra!!)
Afinal este é um "assunto pesado". Pesado também e, cada vez mais, está o meu filho Augusto. Parece alegre e esperto… (Olhos de Pai...) Oxalá "as fadas" tenham visitado o seu berço...

Em que mundo viverá quando tiver a nossa idade? Espero que faça a Marinha! (Cada vez mais aprecio esta instituição de rigor, seriedade, trabalho, ambiente civilizado. Penso que representa algo de, infelizmente, raro em Portugal).

(Ou, quando tiver a idade que hoje temos, o Augusto já só poderá optar pela...Marinha soviética?) Não posso ficar a escrever o resto da tarde...em cima destes Autos...porque acabo por chamar a atenção do senhor Tenente!!

Mas apetecia-me recordar também a nossa inesquecível viagem. Tocas nos pontos fundamentais. Lembras-te do momento em que, do convés da lancha que nos levou do Mindelo a Santo Antão, entre risos e solavancos, avistámos à chegada, pintada no exterior da pequena doca, em grandes letras, a célebre frase "havemos de chorar os mortos se os vivos o não merecerem"...

Nada mais dissonante naqueles confins do mundo, na paisagem desértica daquela ilha, ainda por cima em paz absoluta, do que aqueles dizeres "épicos"… inutilmente virados para um imenso mar vazio...

Recordámos, como recordarás, a célebre tirada mussoloniana pintada nos mais remotos recantos dos desertos da Líbia e da Abissinia - "Molti n'mici molto onore"...(Não sei se se escrevia assim). E o "Café Mussolini", na Costa Oeste de Santo Antão? Dizes bem: é um nome… inesperado... Alguma vez se conseguirá descobrir a sua origem?

Termino no terraço do "Reid's" e no grande momento, que evocas tão bem, daquele "chá" civilizado, com o grande fim de dia sobre o Funchal. Uma grande recordação, de certo vitalícia. Entre tantas outras boas que essa viagem deixou!

Voltando ao presente: cuidado com a "paz podre"!! Não te "descuides"!! Mas escreve sempre!

O maior abraço do Augusto

PS - Não conseguirás filar a pele de uns crocodilos, para uma pasta para ti e uma carteira que alguma menina certamente apreciaria muitíssimo? Umas caçadas bem se integrariam na insólita (e, para mim, falsa...), frase de Malraux: " Les guerres sont les vacances de la vie".




Fontes:
Fotos de arquivo e compilação do autor do blogue a partir de artigo publicado no n.º 12 da revista da AORN- Associação dos Oficiais da Reserva Naval, Dezembro 2000;


mls