18 março 2018

Bissau - Memória de «Nuno Tristão»


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 1 de Dezembro de 2010)


Nuno Tristão – Primeiro navegador europeu a atingir a actual Guiné-Bissau


No seguimento do anterior artigo publicado, evocamos agora Nuno Tristão, outra figura ímpar na história dos descobrimentos e da exploração da costa africana, uma vez ter sido o primeiro navegador europeu conhecido a atingir o território da actual Guiné-Bissau.




Na foto acima, em Bissau (1966), a estátua de Nuno Tristão, implantada no início da então Av. da República, de costas para a Praça do Império e para o Palácio do Governador, virada para o cais do Pijiguiti, estuário do Geba e para o Mar.

Sempre o Mar!...

Na perpendicular fica a Av. Marginal sendo que, para quem está de costas para o cais e para o rio, terá para o lado direito a Ponte-Cais, Fortaleza de S. José da Amura e ex-Pelicano e, para o lado esquerdo, as Instalações Navais de Bissau (INAB). Era, como outros, um quase obrigatório percurso na zona comercial em áreas adjacentes ao porto.

À esquerda, é visível o edifício da Casa Gouveia, hoje Armazéns do Povo. À direita, a parte arborizada corresponde à esplanada do Café Bento também vulgarmente conhecida como “5.ª Rep”. Quem se não lembra deste “pseudónimo”? Avistam-se ainda as duas torres da Sé de Bissau, ex-libris da cidade.






Numa abordagem de simples retalhos, alijando alargados considerandos próprios de historiadores, terá sentido recordar alguns pormenores do dia-a-dia da época. Era bem o caso da moeda corrente, o escudo, cuja representação facial das notas de cinquenta e cem escudos ostentavam a efígie daquele navegador.






Na época, os escudos cediam a denominação a “pesos”, passando a notas de cinquenta ou cem pesos. Quem não recorda, na linguagem corrente, em vez de “muito caro” ouvir “manga de pesos” ou “manga de patacão”?




Também aqui, no Continente, em 1987, foi emitida uma moeda comemorativa com o valor facial de cem escudos, na tiragem de um milhão de exemplares, da autoria dos escultores Isabel Carriço e Fernando Branco. Evocando Nuno Tristão, naturalmente.




Fazendo parte do Dispositivo Naval da Marinha, algumas vezes por curtos períodos, esteve ali estacionada por diversas vezes a fragata «Nuno Tristão» - F 332, da mesma classe da fragata «Diogo Gomes».

Naquele território terá desempenhado missões de 24Out62 a 11Dez62 e 09Dez64 a 08Abr66. No decorrer do primeiro trimestre de 1964 apoiou e participou na que foi considerada a maior acção militar de toda a Guerra do Ultramar, a Operação <“Tridente”. Não há conhecimento de que algum oficial da Reserva Naval tenha pertencido à guarnição da fragata «Nuno Tristão».







Guiné - A fragata «Nuno Tristão» atracada ao NH «Pedro Nunes»




Nuno Tristão(? — costa de África, 1446?) foi um navegador português do século XV, explorador e mercador de escravos na costa ocidental africana. Foi o primeiro europeu que se sabe ter atingido o território da actual Guiné Bissau, iniciando entre os portugueses e os povos daquela região um relacionamento comercial e colonial que se prolongaria até 1974.
Em 1441, Nuno Tristão e Antão Gonçalves foram enviados pelo Infante D. Henrique com a missão de explorar a costa ocidental da África a sul do Cabo Branco. Integrando um mouro que actuava como intérprete, Tristão, a expedição liderada por Nuno Tristão ultrapassou aquele Cabo, à altura o ponto mais meridional atingido pelos exploradores europeus, e durante dois anos permaneceu nas águas do noroeste africano, avançando até ao Golfo de Arguim, na actual costa da Mauritânia, onde adquiriram 28 escravos.
Em 1445 navegou até à região da Guiné, encontrando uma terra, que, em contraste com as regiões desérticas a norte, existiam muitas palmeiras e outras árvores e os campos pareciam férteis. Em 1446 Nuno Tristão desembarcou nas proximidades da actual cidade de Bissau, iniciando uma presença portuguesa na região que se prolongaria por quase 500 anos.
Nuno Tristão foi morto em data desconhecida, provavelmente no ano de 1446, durante um assalto destinado à captura de escravos, ocorrido na costa africana, cerca de 320 km a sul do Cabo Verde.





Após o final da guerra, a república da Guiné-Bissau sofreu das normais vicissitudes resultantes da alteração de regimes políticos por via dos conflitos armados, e foram vários, com adaptação da sociedade civil a transformações sociais profundas, marcadas pela necessidade de eliminar quaisquer vestígios físicos, históricos ou arquitectónicos, nascidos durante a vigência ou pela mão de outro regime anterior considerado hostil.




2007 - Em Vila Cacheu, a estátua de Nuno Tristão abandonada no exterior do forte

Lá, também como cá, ou em qualquer outro local de convulsões sociais, a memória histórica não é susceptível de ser apagada por mera vontade de momento, mesmo que compreensivelmente alicerçada em recentes feridas de guerra, abertas de ambos os lados e ainda por sarar.



2008 - Em Vila Cacheu, desta feita dentro do forte, Nuno Tristão parece necessitar de apoio, encostado às ameias

Sobreviveram pessoas, relatos, documentação e registos que darão, em devido tempo, lugar a pesquisa e investigação, cabendo a sociólogos e historiadores a construção de uma História dinâmica, sem hermetismos autocráticos




Fontes:
Texto do autor do blogue; Bibliografia do Dicionário de Navios & relação de Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, 2006; Fotos do Arquivo de Marinha, Dr. Carlos Silva (ex-Furriel Mil, CCaç 2548) e Foto-Serra, Bissau; Imprensa Nacional, Casa da Moeda.


mls

4 comentários:

ASP disse...

Que interessante!
Como guineense, fico feliz em conhecer este pedaço da história da Guiné-Bissau, que já foi um país muito mais bonito do que é hoje.

Quiçá volte a ser...
Obrigado por partilhar!

anónimo disse...

É muito triste ver uma personalidade histórica de importância desprezada. Guiné-Bissau tem que buscar novamente as suas heróicas raízes cristãs e restaurá-las.

A mentalidade de hoje quer apagar a história gloriosa do passado. Cuidado...

anónimo disse...

Deve ser por este motivo... enfim:

http://ascendensblog.blogspot.pt/2013/04/o-resgate-dos-escravos-e-outros-bens.html

Carlos Alberto disse...

Meu caro Manel
O café do Bento era também conhecido,em determinada altura , como o Hospital Principal de Bissau, dado o elevada número de médicos que ali se reuniam diariamente, número esse só excedido pelo dos industriais da graxa e pelo dos industriais da mancarra .
Abraço amigo do E. Gomes