31 maio 2020

20.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, Fev1972


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 21 de Agosto de 2010/6 de Março de 2018)



Listagem completa do 20.º CFORN.




Escola Naval – Classe de Marinha do 20.º CFORN


Foi o primeiro curso realizado no ano de 1972 que, a exemplo de anos anteriores, seria assinalado pela incorporação de dois cursos de formação de oficiais da Reserva Naval.

O 20.º CFORN foi alistado em 24 de Fevereiro de 1972 e concluiu-se a 11 de Outubro do mesmo ano. Foram incorporados 85 cadetes assim distribuídos pelas várias classes: 23 cadetes na classe de Marinha, 1 cadete na classe de Engenheiros Construtores Navais, 1 cadete na classe de Farmacêuticos Navais, 26 cadetes na classe de Fuzileiros e 34 cadetes na classe de Técnicos Especialistas.




Em cima: Manuel Duarte de Oliveira–LFP «Arcturus», Décio Mário Baganha Fernandes–LFP «Marte», João José Galhardas Vermelho–LFP «Espiga» e Joaquim José Tição Teixeira Sampaio–LFP «Saturno»
Em baixo: Jorge Manuel de Moura Teles–LFP «Altair», José Manuel Proença Cameira–LFP «Urano» e Manuel António da Costa e Silva–LFP «Pollux»




Comandava a Escola Naval o Contra-Almirante Pedro Fragoso de Matos e foi Director de Instrução o Capitão de Mar-e-Guerra Eugénio Eduardo da Silva Gameiro.



O Contra-Almirante Pedro Fragoso de Matos, Comandante da Escola Naval
e o Director de Instrução, Capitão de Mar-e-Guerra Eugénio Eduardo da Silva Gameiro

No final do período de instrução, o Prémio “Reserva Naval” foi entregue ao cadete da classe de Técnicos Especialistas, José João Reis de Matos Silva. Este prémio destinava-se a galardoar o aluno com classificação mais elevada no conjunto da frequência escolar e da apreciação de carácter militar.




Cadete TE RN José João Reis de Matos Silva, Prémio Reserva Naval.

Durante o ano de 1972, para a prossecução do plano de modernização da Marinha, conjuntamente com a necessidade de reforçar os meios navais empenhados na Guerra do Ultramar, foram aumentados ao efectivo dos navios da Armada a LF «Sabre», o navio balizador «Schultz Xavier», o navio-patrulha «Zambeze» e o navio hidrográfico «Almeida Carvalho». Em 1973, vieram ainda reforçar aquele dispositivo os navios-patrulha «Limpopo» e «Save».

No decorrer do mesmo ano de 1972, foram abatidos ao efectivo as fragatas «Álvares Cabral» e «D. Francisco de Almeida» e as LFP «Canopus», LFP «Deneb» e LFP «Algol» e, em 1973, seguiram idêntico destino a corveta «Cacheu», o draga-minas «Pico» e a fragata «Vasco da Gama».




Em cima o navio-patrulha «Limpopo» e, em baixo, o navio-patrulha «Save»


Muitos oficiais da Reserva Naval desempenharam missões e viriam a fazê-lo nestes navios, quer nos entretanto abatidos quer nos aumentados ao efectivo, todos eles tendo representando um papel relevante na História da Reserva Naval.

Houve uma normal mobilização dos elementos deste curso como Comandantes, Oficiais Imediatos de navios, Oficiais de Guarnição, integrando Companhias e Destacamentos de Fuzileiros ou Unidades e Serviços em terra, tendo sido designados para prestar serviço em África, ou Continente e Ilhas, os seguintes oficiais:



Guiné (11 Oficiais):

2TEN RN António José Geraldo Taborda, LDG «Bombarda»;
2TEN RN Arnaldo Alves Dias da Silva, Comando de Defesa Marítima da Guiné;
2TEN ECN RN José Paulo Ferreira Saraiva Cabral, Comando de Defesa Marítima da Guiné;
2TEN TE RN José Manuel Martins Borges de Almeida, Comando de Defesa Marítima da Guiné;
2TEN RN Carlos Manuel Duarte de Oliveira, LFP «Arcturus»;
2TEN RN José Amaro Marques Nunes, LFG «Dragão»;
2TEN FZE RN Abel Ivo de Melo Sousa, DFE 1;
2TEN FZE RN Vicente Cabral, DFE 1;
2TEN FZE RN Cândido Alexandre Lucas, DFE 21;
2TEN FZE RN João Manso Maia de Carvalho, DFE 8;
2TEN FZE RN José Pedro Soares de Albergaria Corte Real, DFE 4;

Em Abril de 1972 o PAIGC volta a flagelar, desta vez a cidade de Bolama, durante cerca de dez minutos com foguetões de 122 mm.

A partir de Julho foi lançada uma grande operação na zona do Cubisseco e Pobreza com a finalidade de ali instalar uma base que viria a ser denominada como “Tabanca Nova da Armada”. A região passou a ser sistematicamente flagelada, os resultados obtidos não surtiram os efeitos desejados e o aquartelamento foi desactivado em Novembro.




Guiné, 20Set72 – A LFG «Hidra» apoia uma operação no Cubisseco

Numa entrevista ao jornal do Cairo, Amílcar Cabral declara que “num futuro próximo anunciaria a criação de um novo Estado e que a luta pela libertação nacional do povo da Guiné-Bissau era amplamente apoiada pela opinião pública progressista mundial”. Afirmou também que o PAIGC fora reconhecido como representante legítimo do povo da Guiné-Bissau por muitas organizações internacionais.

Pelas 22:30 horas do dia 20 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral é assassinado à porta da sua residência em Conacry, num crime atribuído “convenientemente” á PIDE/DGS por uma opinião pública internacional acicatada pelos países africanos. Aristides Pereira assume funções como chefe interino do PAIGC.




1965 – Interessante foto da capa de um Caderno Escolar do PAIGC

No mês de Março surgem no teatro de operações da Guiné os mísseis terra-ar Strella os quais, tendo como alvo as aeronaves, surtem um tremendo efeito negativo na FAP e, consequentemente, nas operações militares.

A 25 de Março foi abatido um Fiat G-91 no Cantanhês, pilotado pelo TEN Pessoa que se ejectou com sucesso e, três dias depois, na região de Madina do Boé uma parelha de Fiats G-91 é atacada com arma desconhecida. Um dos pilotos, 2º Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, TCor Brito ao picar para tentar identificar o alvo foi atingido, ficando desfeito e morrendo o piloto. O seu "asa" conseguiu regressar à base.

Na primeira semana de Abril um T6 é abatido por um míssil Strella e despenhou-se causando a morte ao piloto. No dia 6 é novamente abatido um DO 27 onde o Major Mariz Martins, comandante do COP 3, efectuava um reconhecimento visual (RVIS), não havendo sobreviventes.

Em 8 de Maio é iniciada pelo PAIGC uma violenta ofensiva contra Guidage, junto à fronteira do Senegal. Em 11 de Maio grupos de combate dos DFE 1 e DFE 4 são enviados para o reforço da defesa daquele aquartelamento, sofrendo uma baixa no dia 13.




No dia 18 de Maio, comandado por João Bernardo “Nino” Vieira o inimigo desencadeia uma violenta ofensiva contra Guileje, localidade no sul da Guiné que, situada num ponto vital da rota de abastecimento do PAIGC, sem acesso por via fluvial, ficava completamente isolada.

De 18 a 22 de Julho decorre o 2.º Congreso do PAIGC que fez a revisão geral dos estatutos elegendo Aristides Pereira como secretário-geral afirmando ser intenção do PAIGC proclamar a independência, constituir um governo e criar estruturas administrativas.

Em 6 de Agosto, o General Spínola regressa à Metrópole e é exonerado do seu Comando, sendo substituído a 28 do mesmo mês pelo general Bettencourt Rodrigues como Governador-Geral e Comandante-Chefe.




1972 – O Ministro da Defesa Nacional e o Almirante Moura da Fonseca, CDMG, visitam o Centro de Transmissões da Estação Radionaval no Gueto Bandim (ainda em construção).

No mês de Outubro, mais uma vez os aliados americanos jogam a sua cartada no cenário internacional. O Senado proíbe a Administração de conceder a Portugal qualquer ajuda que permita a manutenção do “Regime Colonial”. Por sua vez, nesse mesmo mês, o Governo Português concede autorização aos EUA para utilizarem a Base das Lajes, nos Açores, como escala de apoio a Israel na guerra do Yom Kippur.

Em Dezembro já a confiança nos aéreos se tinha restabelecido e, conhecida a estratégia a utilizar para minimizar o efeito dos mísseis Strella, recomeçaram os voos com alguma normalidade, embora com redobrados cuidados.



Cabo Verde (1 Oficial):

2TEN TE RN Domingos Martins de Araújo Santos, Comando Naval de Cabo Verde;



Angola (20 Oficiais):

2TEN RN Décio Mário Baganha Fernandes, LFP «Marte»;
2TEN RN Francisco Manuel Craveiro Duarte, Comando Naval de Angola;
2TEN TE RN António Henrique Rodrigues Maximiano, Comando Naval de Angola;
2TEN RN Francisco Neves Gomes, LFP «Rigel»;
2TEN RN João José Galhardas Vermelho, LFP «Espiga»;
2TEN RN Jorge Manuel de Moura Vieira Teles, LFP «Altair»;
2TEN RN Manuel António da Costa e Silva, LFP «Pollux»;
2TEN FZ RN Alberto José dos Santos Marques Cavaco, CF 6;
2TEN FZ RN António Alberto Correia Fernandes, CF 6;
2TEN FZ RN João Alberto Pires Carmona, CF 6;
2TEN FZ RN António Afonso Aguiar Mamede, CF 10;
2TEN FZ RN Duarte Rodrigo Cardoso Belard da Fonseca, CF 10;
2TEN FZE RN António Jacinto Branco Vasconcelos Raposo, DFE 2;
2TEN FZE RN José Manuel Albuquerque de Alvaleide, DFE 2;
2TEN FZE RN Carlos Alberto Maia Teixeira, DFE 6;
2TEN FZE RN João Henriques Martins Dias, DFE 6;
2TEN FZE RN Sérgio Tavares de Almeida, DFE 6;
2TEN FZ RN Humberto da Silva Ramos Rodrigues, CF 4;
2TEN FZ RN Jorge Alberto Vieira Ferraz Pinto, CF 4;
2TEN FZE RN Luís António Rodrigues de Queirós, DFE 10;

A República do Congo continuava a apoiar o movimento político-subversivo FNLA-GRAE com larga visibilidade exterior. Por ocasião de uma visita do presidente Mobutu foi salientada a contribuição congolesa e senegalesa para «extirpar da terra africana todas as práticas aviltantes e de sujeição do homem africano.

A Zâmbia mantinha com Portugal um tom político de fria hostilidade, acusando o nosso país de estar a impor um bloqueio ao escoamento das suas exportações através do porto da Beira. Contrariando as declarações de intenção de uma política de boa vizinhança e de não ingerência interna nos assuntos de outras nações, o governo da Kaunda apoia os movimentos subversivos do MPLA e também da UNITA.




Duas perspectivas aéreas de Santo António do Zaire;



Em Dezembro de 1972 a situação internacional era caracterizada por um evidente esforço por parte dos países africanos no sentido de alcançarem um maior progresso geral, recebendo para o efeito auxílio estrangeiro tanto do bloco ocidental como do bloco comunista, o que permitia aos países mais industrializados (França, Grã-Bretanha, Estados Unidos da América, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e República Popular da China) manter intacto o peso da sua influência em África.

No campo económico os países africanos continuavam dependentes não só das exportações das suas matérias-primas para os países industrializados mas também da importação de capitais e equipamentos, essenciais para alcançarem uma relativa independência económica.






A fita tradicional da LFP «Altair» e, em baixo, o mesmo navio em fabricos

A unidade africana revelava então uma apreciável coesão, mostrando-se unânime quer em condenar Portugal, Rodésia e República da África do Sul quer em aprovar resoluções com vista a provocar o seu isolamento no contexto internacional.

As acções armadas inimigas no teatro de Angola tinham vindo a diminuir francamente no ano de 1972 em relação ao ano anterior, salvo ligeiro crescimento no recurso à colocação de engenhos explosivos. No enclave de Cabinda a situação encontrava-se calma sem iniciativa de acções bélicas, o mesmo se passando tanto no norte como na frente leste. Somente o Cuango revelava ligeiro aumento de actividade.




A bordo da LFP «Altair», em Angola, em baixo e da esquerda para a direita:
1 – 2TEN RN Francisco Manuel Craveiro Duarte, 2 – 2TEN TE RN António Henrique Rodrigues Maximiano, 4 – 2TEN RN Jorge Manuel de Moura Teles (comandante) e respectiva senhora (3)


O dia 2 de Junho de 1973 ficou assinalado por um brutal incidente que ficou assinalado como um trágico marco da guerra dos Fuzileiros, em geral, e da Reserva Naval, em particular. Uma pequena coluna de duas viaturas que se deslocara do Chilombo à Lumbala para ir buscar correio, foi violentamente emboscada num percurso onde não havia histórico de actividades hostis.

A acção causou 3 mortos e um ferido aos fuzileiros do pelotão da CF 1 que se encontrava no Chilombo a apoiar o DFE 10. Um dos mortos, o STEN FZ RN António Bernardino Apolónio Piteira, oficial da Reserva Naval, do 18.º CFORN, foi o único oficial da Marinha de Guerra morto em combate durante os 13 anos de guerra




STEN FZ RN António Bernardino Apolónio Piteira.

A ofensiva internacional contra Portugal e os países do sul de África, acentuava-se no final de 1973. O encerramento da 28.ª sessão da Assembleia Geral da ONU marcou pela posição anti-portuguesa, ao aceitar a alegada independência da Guiné como acto consumado e indiscutível, definindo Portugal como potência ocupante e ilegal.



Moçambique (10 Oficiais):

2TEN RN Joaquim José Ramos Reis Santos, LDG «Cimitarra»;
2TEN RN Joaquim José Tição Teixeira Sampaio, LFP «Saturno»;
2TEN RN José Manuel Proença Cameira, LFP «Urano»;
2TEN FZE RN António Guilherme Berbereia Ribeiro Moniz, DFE 9;
2TEN FZE RN Carlos Manuel Alves Martins, DFE 5;
2TEN FZ RN Eduardo Augusto de Oliveira Pereira Machado, CF 11;
2TEN FZ RN João Manuel Pereira Forjaz de Sampaio, CF 11;
2TEN FZE RN Joaquim Maria Feijó, DFE 11;
2TEN FZE RN José Bernardo Ferreira, DFE 11;
2TEN TE RN Carlos Francisco de Oliveira Lopes do Rego, Comando Naval de Moçambique.

O cenário internacional sofre entretanto significativa evolução: a Inglaterra assina um acordo que concede a independência à sua antiga colónia da Rodésia, permitindo no entanto a continuação da supremacia branca no país liderado por Ian Smith, facto que foi fortemente contestado pelos “nacionalistas” negros da Rodésia e de todo o Continente africano. No entanto, a Grã-Bretanha continua a manter uma fragata no Canal de Moçambique, apoiada por um navio auxiliar, controlando o acesso aos portos da Beira.

Enquanto isso, os países originários das antigas colónias europeias mantêm forte investida junto da opinião pública mundial contra a presença portuguesa em África e fazem aprovar na ONU em 28 de Setembro de 1972 uma moção que propõe a admissão de delegados de organizações terroristas como observadores da Comissão de Descolonização. Portugal protesta, afirmando não participar nos trabalhos da ONU onde estivessem presentes representantes daquelas organizações. Posição idêntica é tomada pela África do Sul.



LDG «Cimitarra» em Porto Amélia vendo-se ao lado a LFG «Dragão» com a LFP «Antares» atracada de braço dado

Logo no início de 1973 a ONU anunciou que iria realizar em Oslo, entre 9 e 14 de Abril, uma conferência internacional sobre o colonialismo e ao apartheid, no qual no qual iriam participar ale de representantes dos órgãos pemanentes daquela organização, representantes de nove movimentos de libertação africanos. A tal anúncio foi dada enorme relevância pela imprensa mundial. Simultaneamente, grupos anti-colonialistas e contra o apartheid preparavam uma campanha com reuniões na Alemanha, Noruega, Holanda, Suiça e ainda em Londres.

No estrangeiro, continuavam a levantar-se cada vez mais vozes contra Portugal, quer por parte dos países quer mesmo por organizações não governamentais. Em Março, foi a Organização Internacional de Aeronáutica Civil que aprovou, em sessão relaizada na sua sede em Nova Iorque, uma moção que afastava Portugal das suas reuniões. A aprovação foi obtida por maioria com votos favoráveis dos países africanos e asiáticos, e os votos contrários dos EUA, Nova Zelândia e a maior parte dos países europeus.

Por esta altura, a Dinamarca, Finlândia e Suécia sugeriram a colocação de uma força militar à disposição da ONU, pronta a deslocar-se para qualquer parte do mundo.



Continente, Ilhas e Outras Unidades (43 Oficiais):

2TEN RN Ângelo Manuel Geraldo de Queiroz da Fonseca, LF »Dourada»;
2TEN RN António Manuel Viana Moço, Estado-Maior da Armada;
2TEN RN José António Ferreira Ribeiro Pinto, Estado-Maior da Armada;
2TEN TE RN Artur José Dias Viana Fernandes, Estado-Maior da Armada;
2TEN TE RN Júlio Maggiolly Novais, Estado-Maior da Armada;
2TEN RN Armando Manuel Dinis Correia, navio-auxiliar «S. Gabriel»;
2TEN RN Avelino Duarte Alves, Comando Naval do Continente;
2TEN RN David Caldeira Ferreira, navio-patrulha «Save»;
2TEN RN Emídio António Martins dos Santos, Grupo N.º 1 de Escolas da Armada;
2TEN TE RN Carlos Alberto Pereira Correia, Grupo N.º 1 de Escolas da Armada;
2TEN TE RN Luís Filipe Requicha Ferreira, Grupo N.º 1 de Escolas da Armada;
2TEN RN Eugénio Costa Ferreira Marques, navio-patrulha «Zaire»;
2TEN RN João Manuel Freire da Cruz Garcia, aviso «Afonso de Albuquerque»;
2TEN RN José Eduardo Dinis de Carvalho, Direcção do Serviço de Pessoal – 1.ª Rep.;
2TEN FN RN João Manuel Lopes Borges Lavinha, Hospital da Marinha;
2TEN FZ RN António Augusto de Barahona Fernandes Almeida, Escola de Fuzileiros;
2TEN TE RN João Mendonça Pires da Rosa, Escola de Fuzileiros;
2TEN FZ RN Reinaldo da Costa Campos Coelho, Força de Fuzileiros do Continente;
2TEN TE RN Francisco Alberto Arruda Carneiro da Costa, Força de Fuzileiros do Continente;
2TEN TE RN José António dos Reis Martinez, Força de Fuzileiros do Continente;
2TEN TE RN Álvaro Joaquim de Sousa Álvares Quintela,
2TEN TE RN Carlos Manuel Ferreira Ribeiro Pinto, Grupo N.º 2 de Escolas da Armada (EA);
2TEN TE RN José Avelino Abreu Aguiar, Grupo N.º 2 de Escolas da Armada (EA);
2TEN TE RN António Joaquim Curto Capelo, Fábrica Nacional de Cordoaria;
2TEN TE RN António José de Morais Tavares Pires, DSEC;
2TEN TE RN Jorge Joaquim Pacheco Coelho de Oliveira, DSEC;
2TEN TE RN Bernardino Luís Machado Vaz, Chefia do Serviço de Justiça;
2TEN TE RN Luís Manuel Monteiro Galvão Teles, Chefia do Serviço de Justiça;
2TEN TE RN Carlos Maria de Sá Nogueira Guedes de Amorim, Direcção de Infra-Estruturas Navais;
2TEN TE RN José João Reis de Matos Silva, Direcção de Infra-Estruturas Navais;
2TEN TE RN José Thomaz Froes da Veiga Frade, Direcção de Infra-Estruturas Navais;
2TEN TE RN Eduardo Luís Blichermicht Ducla Soares, Instituto Hidrográfico;
2TEN TE RN Jaime Duarte de Lemos Pinto, Instituto Hidrográfico;
2TEN TE RN José António Vieira Vassalo Pereira, Instituto Hidrográfico;
2TEN TE RN José dos Santos Dinis, Instituto Hidrográfico;
2TEN TE RN Luís Virgílio de Brito Pereira Frazão, Instituto Hidrográfico;
2TEN TE RN Luís Fernando Marques Mendes, Instituto Hidrográfico;
2TEN TE RN Francisco Alberto Ramos Leitão, Direcção do Serviço de Educação Física;
2TEN TE RN João Henrique Oliveira Duarte, Direcção do Serviço de Educação Física;
2TEN TE RN José Manuel Pereira da Costa Branco, Direcção do Serviço de Educação Física;
2TEN TE RN Luís Manuel Ramos da Silva Vidigal, Direcção do Serviço de Administração Naval;
2TEN TE RN Mário Crisóstomo de Andrade, Direcção do Serviço de Abastecimento;
2TEN TE RN Milton José Pacheco dos Reis Estevens, Museu de Marinha;

Os oficiais pertencentes ao 20.º CFORN começaram a ser licenciados a partir de 11 de Outubro de 1974. Ingressaram nos Quadros Permanentes os 2TEN FZ RN João Alberto Pires Carmona e 2TEN FZ RN Abel Ivo de Melo Ferreira Sousa.




Fontes:
Texto do autor do blogue, compilado a partir de: Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Dicionário de Navios e Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha, 2006; Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, 1961/1974, Luis Sanches de Baêna, 2006; Arquivo de Marinha; Revista da Armada; Fotos do 20.º CFORN, cedência de Jorge Moura Teles; outras fotos de arquivo do autor do blogue com cedências de origens diversas;

mls

29 maio 2020

Imediatos da LFG “Orion” na classe “Cacine”


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 28 de Junho de 2010)





Fontes:
Texto compilado pelo autor do blogue com imagens da Revista da Armada; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Setenta e Cinco Anos no Mar, Comissão Cultural da Marinha 10.º e 15.º Vols, 1999/2004; Ordem da Armada;


mls

27 maio 2020

LFP "Albufeira" - P 1157


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 28 de Junho de 2010)





Fontes:
Dicionário de Navios, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha – 2006; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP’s), 16º VOL, 2005, com fotos de arquivo do autor do blogue - Arquivo de Marinha e Revista da Armada;


mls

25 maio 2020

O Combóio de Bissum


Guiné, rio Cacheu - Os combóios navais para Bissum





As LDM repousavam há já dois dias nas paragens da Passagem de S. Vicente. Era aqui que morria o Combóio a Farim. De dia a juzante da dita, fundeadas, braço dado, e à noite a montante, abrigadas na sombra acolhedora do tarrafo que bordejava a bolanha do outro lado, um nadita acima do ponto em que nascia a estrada que ligava a Ingoré, ao tempo desactivada.

Nesse interim, enquanto os batelões iam chegando ao ritmo rançoso dos seus barulhentos motores, que os anunciavam a milhas, a marujada, sem excepção, o que quer dizer que o comando também bastas vezes se associava, passava o dia entretido em brincadeiras que a água suscitava, os mergulhos, mas também a preparação das refeições, o correio para a família e amadas que ajudavam a preencher o santo dia.

A noite, essa era acordada, de quando em quando, pela voz em surdina das rendições das sentinelas, os gritos da passarada nocturnal e as palmadas disparadas na direcção da insuportável mosquitada que nos rondava ao som insistente dos seus apelos “precisas de mim, precisas de mim…”.

Reunida toda a esquadra havia que sacar do ORDMOVE e dar-lhe seguimento: passar a carga, batelão a batelão, para as LDM, manobra acompanhada pelo Cabo do exército responsável e, uma vez carregadas, zarpar pelo estreito e sinuoso «Rio Armada», tão sinuoso que as LDM não se protegiam uma à outra na maior parte dos "esses" do rio, tudo a postos para o que desse e viesse, o Patrão ao leme, um artilheiro na peça e o outro numa das MG42, um fogueiro atento ao roncar dos notores e o outro na MG42 do outro bordo, o telegrafista sentado à frente do rádio, ao lado do Patrão, no tejadilho da cabine de pilotagem o "basookeiro" e o ajudante com a arma respectiva, a basooka, todos cientes de que a atenção era a regra mestra até à rampa de abicagem na perpendicular ao aquartelamento do Exército, ali mãos dadas com a Tabanca. O Exército assegurava, nas imediações, por terra, a segurança do Combóio.

Na preparação para a abicagem, o Calado que por sinal nem falava muito, o que condizia com o apelido, questionou o Tenente com um respeitoso “Sr. Tenente, como quer que abique?”, que deixou o oficial um pouco desconcertado, a coçar a cabeça e a cogitar no “como quer que abique?”, reagindo instantes depois com um “ó homem, disso sabe você, faça o melhor que souber, que se alguma coisa correr menos bem cá estaremos para assumir”.




Bissum – Tabanca
Fotos em http://guine-bissum.blogspot.pt/ - Alf Mil Aníbal Magalhães


Realmente, aquilo foi como quem diz, ”limpar o cu a um menino”. Mas as coisas ainda não estavam sossegadas, porque logo que a LDM se calou, um novo apelo veio do Patrão: “Sr. Tenente, sabe, o Popeye”, – era a alcunha do outro Patrão, que fazia jus na sua imponente figura, espadaúdo, barba a condizer, cachimbo à maneira, cópia quase perfeita da entusiasmante figura da Banda Desenhada, ao epíteto com que o mimosearam –, “é novo nestas andanças, vem pela primeira vez e ainda não domina bem estas correntes e marés, digamos assim, que as havia mesmo, pelo que agradeço, então, que seja o senhor a indicar-lhe que abique a juzante da nossa Lancha, bem ditas a coisas «do lado de baixo», que não terá dificuldades na manobra”.

Silenciosamente o Tenente deslocou-se à ré e com uma sinalética simples e adequada às circunstâncias, usando mais o braço e a mão em vez da voz, que se perderia no meio do ronronar dos motores, indicou ao Popeye onde abicar, que fez saber que tinha entendido com uma espaçada abanadela de cabeça, com um sim três vezes acima e abaixo, perceptível pelas descontinuadas fumigações das cachimbadas. Concluída a manobra sem incidentes o Tenente veio sentar-se na mesa situada entre a Cabine de Pilotagem e a Peça, atento às tarefas de descarga da carga das LDM, na companhia do Patrão.

Permaneceram uns instantes calados até que o Calado, nova¬mente, resolveu falar:

– Sr. Tenente, desculpe ter perguntado, há bocado, como queria que abicasse…

– Ó Calado, fiquei surprendido, sim, aqueles instantes, mas é que não sabia mesmo o que devia de mandar fazer. Por isso, olhe, foi assim, saiu aquele “faça o melhor que souber”…

– Sabe, Sr. Tenente, já tem havido camaradas seus que se põem a dizer-nos como devemos de fazer, e às vezes andamos para aqui a rapar até acertar, e é porque acertamos nós… Mais uma vez, desculpe…

E voltou o silêncio, com o Tenente atento ao movimento humano, novidade para ele, dos homens da população de Bissum, num vai e vem entre as lanchas e as viaturas do aquartelamento, transbordando a carga que as LDM prestimosamente tinham levado. Concluída a operação, máquinas a funcionar, duas businadelas de despedida, gratos os militares pelos mantimentos, ala que se faz tarde, que havia que aproveitar ao máximo a força da corrente para mais depressa dizer adeus ao Armada.

Que, diga-se de passagem, tinha o seu encanto, o tarrafo que bordejava a água calcinado de combates anteriores, lá ao fundo, nas clareiras, a orla verdejante da mata, um crocodilo que, incomodado no seu solário, se levanta no seu vagar para mergulhar no seu ambiente, curva e contracurva num não despegar até ao abraço ao Cacheu.

E novamente S. Vicente, um abrandar de todas as tensões, e um hurraaa! de missão cumprida. Desceram os fuzileiros e a basooka do tejadilho da Cabine, abandonadas as MG42 dos bordos a vante, a Oerlikon em posição de descanso apontando a um inimigo imaginário no alto dos céus, o rádio sossegado nos bip bip bip, máquinas a todo o “vapor”, era assim que se dizia, que o único com trabalho garantido era mesmo o Patrão. Todos, tripulação e escoltas já só viam e sonhavam com Bissau, ainda tão longe.




Bissum – Transporte de tropas em LDM no rio Cacheu

Todos,… bem,… todos menos o Patrão por força das suas funções e o Tenente. Como? Pois, é que por alturas de Jolmete o bom do Calado resolveu falar para desinquietar outra vez o Oficial:

– Sr. Tenente, desculpe, pode chegar aqui à Cabine?

O Tenente deixou os restantes navegantes e aproximou-se da janela de pilotagem.

– Não, Senhor Tenente, é aqui, aqui mesmo junto a mim…

Com um ar circunspecto, bem visível nas rugas da testa, lá foi o bom do Tenente com ar de quem pergunta “mas o que é que vem aí agora?”.

Então foi assim:

– Senhor Tenente, o Senhor pôs-me à vontade em Bissum. Uns melhor e outros pior, na verdade quem sabe destas manobras somos nós. Maaass,… suspensão para encher o peito – sabe, nunca se sabe, mas pode acontecer um dia ter o Senhor de dizer mesmo como se faz, por virem todos, como o Popeye, pela primeira vez. E poderá um dia, oxalá nunca aconteça, ter de ser o senhor a deitar mão ao leme…

O Tenente escutava, longe de imaginar o que estava para chegar...

– Está a ver aquela mancha meio arenosa no meio do tarrafo? Ora agarre aqui no volante, – o leme, claro – eu vou aqui, não tenha medo, e experimente abicar lá. Vamos fazê-lo com a ajuda das máquinas, que se controlam, como sabe, com estes dois manípulos. Vá, afrouxe, vamos devagar, a corrente ainda está a descer, deixe descair a Lancha um pouco abaixo do ponto, isso, assim, vá, dê um pouco de máquina de bombordo, a da esquerda, isso…

E o Tenente abicou, com ajuda, mas abicou. Repetiram a manobra, perante o espanto dos tripulantes da outra Lancha, a do Popeye, que reduziu a velocidade intrigado com a agitação.

– Está a ver, nem é difícil…

O Tenente não dizia nada, e ainda não tinha acordado bem da lição quando de rajada vem novo ataque.

– Então e imaginemos que é atacado e tem de manobrar rapidamente, sair da linha de fogo e tem de fazer um pião? Ora deixe-me mostrar como é…

E mostrou.

– Viu? Então agora faça lá o Senhor…


Marinheiro E*
*O Marinheiro “E”, de todos já conhecido, é o Sócio Originário n.º 1542, Oficial FZ RN que integrou os efectivos da CF 11 e que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné nos anos 1971/1972.





Curso do rio Cacheu entre a foz e o rio Armada (a laranja) com a localização de Bissum


Fontes:
Com a devida vénia, texto compilado a partir de artigo já publicado na Revista "O Desembarque" n.º 29 da Associação de Fuzileiros em http://www.associacaofuzileiros.pt/


mls

22 maio 2020

Guiné 1970/72, Fuzileiros e LDM - Lanchas de Desembarque Médias – Parte II


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 24 de Novembro de 2010)

Intimidades entre uma Companhia de Fuzileiros (CF 11) e as Lanchas de Desembarque Médias no teatro operacional da Guiné

Parte II

Os combóios de Catió

Exigiam cuidados redobrados. Recebido o ORDMOVE era certo e sabido que, vinte minutos depois de estudado, lá estava na sala do Estado-Maior a solicitar meia dúzia de botes e outros tantos motores na ponte-cais de Bissau.

Por uma vez, aconteceu que vinte minutos depois estava de novo a exigir mais seis botes e seis motores.

Os primeiros botes estavam todos furados e, quanto aos motores, não funcionou nenhum. Da segunda remessa alguns ainda foram devolvidos. Resultado final de seis botes novinhos em folha e também o mesmo número de motores novos. Funcionavam todos! Ainda hoje persiste a pergunta de porquê tão pouco cuidado nos meios essenciais para o cumprimento destas missões? No caso de surgirem problemas quem assumiria a responsabilidade?

É que aconteceu, num dos combóios, quando nos aprontávamos para carregar os nossos materiais logísticos, armas e mantimentos, encontrar cada LDM com uma BERLIET no “Poço”. Era impossível acomodarmo-nos e, pior ainda, defendermo-nos. Um salto ao Estado-Maior e uma explicação: “Tinha de as levar, porque tinha sido assumido o compromisso de as transportar até Catió, onde faziam muita falta”.

– “Ah, e quem assumiu o compromisso?”, depois de informado, solicitei apenas que fosse redigida uma declaração na qual quem tinha assumido o frete se responsabilizasse pela segurança do combóio. Como era evidente, aconteceu uma recusa.

– “Está a gozar comigo?”, informei que esperava, no Cais, que a situação fosse solucionada e retirei-me com o “Determina mais alguma coisa?” da praxe.




Guiné - Mapa da região de Catió

As BERLIET seguiram para Catió, realmente, mas a bordo de batelões. Para gáudio dos oficiais do Batalhão de Catió, informados de que o oficial do combóio se tinha recusado a levar as viaturas…

Que fé dá o relatório destes acontecimentos? “NIL” (nada ou zero). Ao quarto relatório devolvido, igual aos anteriores, informei que tinha percebido, finalmente, o que se desejava e inscrevi, em todos os items, a célebre “NIL”.

Mas os trabalhos não terminaram aqui. Dado que a partida foi atrasada cinco horas – às 16:00, soube depois, ainda no Estado-Maior alguém perguntava se sempre tinha saído ou não... - tivemos de fundear na Ponta dos Escravos, e fazermo-nos ao caminho, de manhã, duas horas mais cedo para o encontro com os meios aéreos de apoio, na foz do Cobade.




A Oerlikon, (para a fotografia), podendo distinguir-se, ao fundo, um dos T6 do apoio aos Comboios do Sul, a Catió e a Bedanda – mas a fotografia pretendia, mesmo, era apanhar o mosquito.

Mal habituados, poupava-lhes três quartos de hora no tempo de apoio, - por ser largo no seu curso inferior, o Cobade oferecia boas condiçoes de defesa e eu adiantava caminho -, os T6 questionaram o Estado-Maior sobre a razão de, desta vez, o apoio ter demorado o dobro do tempo do costume.




Em cima, escolta de botes aos combóios do sul, no rio Cagopere, afluente do Cobade que dá acesso ao porto interior de Catió, e, em baixo, aquele porto na baixa-mar



E lá vem nova chamada ao Estado-Maior:

“Porquê?”

– “Ah, estão equivocados, porque prestaram o apoio que tinham de prestar.”

– “Como?”

– “Muito fácil, a que horas o iniciaram e a que horas o ORDMOVE o previa?”

– “Olha…?!”

Mas, é claro, no relatório nada consta… Como podem os investigadores tirar conclusões correctas? Ficarão, sempre, pela aproximação...




Em cima, chegada a Catió. Podem também distinguir-se ainda o artilheiro e o "basookeiro", cada um no seu posto e, em baixo, descomprimindo




Rendição do Rendição do Batalhão de Catió

Neste combóio para sul participaram três LDM, houve um “rendez-vous” (encontro) com a LDG “Montante” na foz do rio Cumbijã, idas com escala e descarga de pessoal e material a Cabedú e, para montante, em Cufar.

Era especialmente impressionante a viagem ao aquartelamento de Cabedú localidade no rio Lade, afluente da margem esquerda do Cumbijã, quase junto à foz no extremo sul do Cantanhês, onde estava estacionado um pelotão do Batalhão, com um mais do que exíguo porto onde, na preia-mar, não era nítido o curso do braço de água.

Uma semana depois, novo rendez-vous com a LDG “Bombarda” na foz do Cobade. Em virtude da noite tempestuosa o encontro com aquela unidade naval foi atrasado duas horas.

Com o tempo de maré limitado, subi ao tombadilho da LDG "Bombarda". Dei, para grande surpresa minha, com um Tenente-Coronel e um Major, ambos ajoelhados a enrolar um dos clássicos colchões pneumáticos em uso na época.

Toquei no ombro do Senhor Coronel, que olhou para mim – ainda mais surpreendido, porquanto o meu uniforme, (passe a redundância, já passaram 37 anos e posso confessá-lo) resumia-se ao dólmen do camuflado, sem galões, um panamá de praia aos quadradinhos pretos e brancos, um calção preto de ginástica usado nas futeboladas de 5 e as botas de lona.

Comuniquei-lhe: – Sr. Coronel, estamos atrasados 2 horas em relação à partida, por isso temos três quartos de hora para passar as bagagens para cada uma das LDM – abeirámo-nos do “Poço” da LDG e concretizei o quê e as lanchas respectivas. O homem, totalmente confundido, lá se resolveu à terceira insistência e sem hesitar, a dar as suas indicações, sem saber quem era o interlocutor a dar-lhe instruções. Acrescentei que, antes de o pessoal embarcar, teria de dar algumas indicações que tinham de ser escrupulosamente cumpridas.

Em meia hora estava todo o material dentro das LDM, o que revelou uma grande eficácia. Determinei então, depois de o referido senhor, acompanhado de um Major sorridente, ter anunciado que eu próprio iria falar, o seguinte:

1. Se houvesse guerra ela seria travada apenas por nós.

2. Por isso, toda a gente tinha de ir abrigada no “Poço” das LDM.

3. Para evitar surpresas e acidentes, culatras atrás, carregador fora da G3 e câmara sem qualquer munição.

Largou a primeira LDM, largou a segunda e pedi então aos Senhores Tenente-Coronel e Major que descessem para a terceira. Desci então para o bote que me aguardava e segui para me juntar à primeira. Como o tempo entretanto já aquecera, o dólmen já se tinha tornado num empecilho e já tinha sido despedido. Belo fardamento, não acham?…

À chegada a Catió já me tinha composto, mais ou menos, porque tinha vestido o calção azul da ordem e tinha colocado o respectivo boné. Esqueci-me, todavia, da camisa e dos respectivos galões.

O bom do homem passou a viagem a perguntar ao Patrão da LDM e aos restantes elementos da Marinha quem era eu. Sem que tivessem ordem para isso, levaram o tempo todo a responder, simplesmente, “é o comandante”.
Quando a LDM que o transportava abicou, com o cais cheio dos velhos e dos novos que já se lhes tinham juntado em festa, o Senhor Coronel, empoleirado na porta da LDM, travava com os braços alguém que se lhe pudesse adiantar.

Uma vez pés em terra, apenas se preocupou em encontrar-me no meio da multidão para me agradecer a belíssima viagem até ao seu destino, sem ligar a qualquer dos surpreendidos camaradas presentes.

Nota final: aos que aguardavam no cais dei um quarto de hora para descarregarem os respectivos materiais. Descarregaram os deles e os nossos. E obrigaram-nos a voltar atrás, já o combóio se aproximava da foz do rio Cagopere…




Em Abril de 1967, um avião Harvard T6 sobrevoa o rio Cumbijã, no decorrer da protecção a um combóio da lanchas e batelões


A vida a bordo das LDM

Não era de hotel de primeira classe, mas naquelas idades…

Bem, instalávamos as arcas congeladoras, atacadas com os mantimentos, normalmente carne de vaca e de frango, os fogões Hipólito a petróleo, que davam para fazer bons petiscos, os tachos, claro, de alumínio, - agora há tachos bem melhores...-, os nossos sacos, os nossos colchões e as nossas redes mosquiteiras, no “Poço”.

As redes mosquiteiras eram relativamente eficazes e protegiam-nos das três variedades de mosquitos existentes: Uma primeira vaga de batedores (davam connosco), a segunda de sapadores que descobriam as entradas mal tapadas e a terceira vaga, lá pela meia-noite, era constituída pelos sugadores. Com estes travávamos boas batalhas durante a noite, por vezes durante a noite inteira.

No regresso de todos estes combóios, para norte ou para sul, baixada a guarda, os botes lançavam-se às ostras presas no tarrafo, quer no rio Cobade, quer no Rio Grande de S. Domingos, afluente do Cacheu. E acontecia uma festa de forte camaradagem entre a escolta de Fuzileiros e as guarnições das LDM...




Elísio Pires Carmona
2TEN FZ RN
15.º CFORN


(final)

Fontes:
Texto compilado a partir de artigo e imagens cedidos pelo 2TEN FZ RN Elísio Pires Carmona, 15.º CFORN; restantes imagens de arquivo do autor ou cedidas pela Revista da Armada, Arquivo da Marinha, CAlm Joel Pascoal e CFR Abel de Melo e Sousa.


mls

20 maio 2020

Guiné 1970/72, Fuzileiros e LDM - Lanchas de Desembarque Médias – Parte I


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 21 de Novembro de 2010)


Nota do autor do blogue
:

Por ocasião do Congresso dos 50 Anos da Reserva Naval, decorrido de 2 a 5 de Outubro de 2008, em Aveiro, foram efectuadas variadas comunicações aos presentes, abordados por diferentes personalidades e versando temática diversificada.

Sem que a peça abaixo publicada, enviada por um camarada da Reserva Naval, represente qualquer apreciação diferenciada sobre o objectivo, fases e intervenções do evento então levado a cabo, Marinha, Reserva Naval, Guiné, Cacheu, LDM’s e Fuzileiros representam sempre renovadas oportunidades para abordagem de memórias históricas.

Inesgotáveis no tema, nos locais, nas acções e nos intervenientes.

Também na estranha mística com que sempre olhei e respeitei o Cacheu , de que ainda hoje perdura a imagem de uma sinuosa e rítmica dança da navegação, ora a bombordo ora a estibordo, arcadas de tarrafo frondoso e reverente, tímida protecção de unidades, pessoas e bens, interrompida ocasionalmente por clareiras imprevisivelmente armadilhadas.

Em quatro anos que separaram ali a minha passagem da do 2TEN FZ RN Elísio Alfredo Pires Carmona, poucas alterações significativas terá havido. Salvo, claro, a agudização crescente de um conflito sem solução à vista. Melhor do que eu, aquele meu camarada da Reserva Naval, percorre estes caminhos num texto simultaneamente crítico e esclarecido.

mls



Intimidades entre uma Companhia de Fuzileiros (CF 11) e as Lanchas de Desembarque Médias no teatro operacional da Guiné

(Parte I)




No rio Cacheu, em segundo plano um batelão navegando para montante

Entendi redigir este documento assim intitulado como um desafio, sublinhando o elevado tributo que aquelas unidades navais pagaram durante todo o tempo em que decorreu a Guerra Colonial.

Tomei esta decisão enquanto então oficial de uma Companhia de Fuzileiros, a CF11. Não pretendendo ser especialmente conhecedor da temática LDM, mas não sendo meu timbre recusar desafios, propus-me, salvaguardando a questão desta leitura se tornar uma verdadeira seca, falar do que foi a minha experiência, tantas vezes as LDM foram o meu abrigo.

Posto este ponto prévio, permitam agora que me apresente, digamos que sob a forma de breve ficha pessoal:

De meu nome Elísio Alfredo Pires Carmona - 2TEN FZ RN Pires Carmona -, pertenci ao 15.º CFORN, concluído em 04-09-69, efectuei uma comissão na Guiné, CF11, de 30.12.70 a 06.10.72, aliás com um muito engraçado e “sui generis” início, que exigiu duas partidas: a primeira, a 10.12.70, abortada, a bordo do NRP «S. Gabriel» (*), e a segunda, a 30.12.70, no NM «Rita Maria», com escalas em Leixões, Funchal e S. Vicente de Cabo Verde, antes de chegar a Bissau, no dia 09.01.71. O final do Serviço Militar chegou em 01.01.73.


A Guiné



Ena!...era assim a Guiné? Não, não era sempre assim. Aliás, ainda continuará a ser, na generalidade, uma boa parte assim. Por isso as melhores estradas ainda continuarão a ser os seus rios e braços de mar.



Mas era também esta calma – no cais de Farim



Também estes fins de tarde, ainda em Farim…



E estes, fundeados na Ponta dos Escravos, no sul…


Vida das Companhias de Fuzileiros na Guiné

Integravam o dispositivo operacional da Marinha na Guiné duas Companhias de Fuzileiros (CF). Normalmente, alternavam a sua actividade entre:

1. Períodos de serviço interno, sedeados em Bissau com serviços de guarda atribuídos, fundamentalmente às INAB – Instalações Navais de Bissau e ao Edifício do Comando.




Em cima, vista aérea das Instalações Navais de Bissau - INAB e, em baixo, o edifício do Comando de Defesa Marítima da Guiné.



2. Períodos de serviço externo, com um pelotão da Companhia em Ganturé, comandado por um oficial, que era responsável pelos serviços de guarda da Base, podendo eventualmente apoiar operações dos Destacamentos, com uma secção de morteiros e 3 oficiais em Bissau, destacados para os combóios navais a Farim, Bissum, Catió e Bedanda. O oficial Imediato da Companhia também participava nos combóios.

A Companhia de Fuzileiros, durante este período, prestava ainda serviços de escolta, ao nível de esquadra, em fiscalização ou reforço na escolta de batelões, em zonas de menor perigo, especialmente no rio Geba, nas proximidades de Bissau.

E é nos períodos de serviço externo que se encaixam as LDM na vida dos Oficiais Fuzileiros. Especialmente adaptadas às exigências da guerra na Guiné, suficientemente versáteis, podiam executar tarefas de fiscalização e patrulha no rio Cacheu durante cerca de um mês.

Ali davam apoio a embarques e desembarques dos Destacamentos de Fuzileiros nos rios, e não só. Escoltavam combóios e ainda transportavam militares e mercadorias a aquartelamentos do Exército que, neste contexto, quer pela sua localização quer pelas condições de acesso, inviabilizavam o recurso aos batelões. Era frequente, sobretudo nos combóios a Bissum e a Catió, dar boleia a elementos da população.


Breve descritivo de uma LDM – Lancha de Desembarque Média

Haverá algum militar que tenha estado na Guiné que não saiba o que é uma LDM – Lancha de Desembarque Média?



A LDM 302 navegando no Cacheu, junto ao tarrafo da margem. A – Poço(resguardado com chapa balística); B – Peça Oerlinkon; C – Tarrafo; D – Casa do leme; E – Bote de borracha; F – Porta de abater; G – WC.

Bem, são pequenas unidades navais que, em vez de proa têm uma “porta que rebate”, para permitir cargas e descargas de pessoas e mercadorias com a LDM “abicada” em terra. A zona das cargas, “o poço” , tem duas metralhadoras MG42, montadas uma em cada bordo, a vante.

No convés e frente à cabina, estava montada num reparo circular uma metralhadora anti-aérea Oerlikon de 20 mm e, mais à frente, por cima da cobertura do poço, havia um bote pneumático Zebro II. Junto à cabine de navegação e comando, ou melhor, casa do leme e comando das máquinas, havia ainda uma mesa para as refeições, justamente colocada frente à janela.

A casa de banho (WC), com esse nome (?), era simplesmente inexistente. Não passava de um simulacro - uma caixa metálica aberta - que permitia as necessidades básicas de forma simplificada.

A guarnição era constituída pelo Patrão, um Cabo de Manobra, um Telegrafista, 2 Artilheiros e 2 Fogueiros. Havia um permanente e grande companheirismo entre toda a guarnição que se alargava, durante a realização dos combóios, à escolta de Fuzileiros.


No Cacheu



Na imagem de cima, a caminho de Bissum, no trajecto entre a passagem de S. Vicente e a Foz do rio Armada, onde as coisas podiam realmente complicar-se. Notória, ainda, a descontracção do pessoal. Pode distinguir-se perfeitamente a capacidade de fogo da LDM com o armamento visível: a Oerlikon, com o cano ainda na vertical, a “basooka” em cima da cabina e uma das MG 42.



Nesta imagem de pormenor a LDM mantem-se ainda amarrada ao tarrafo, esperando a vinda da maré e a hora estipulada no "ORDMOVE".


"ORDMOVE"

Nas imagens seguintes, é possível verificar que todas as informações necessárias para a execução de todos os trabalhos eram definidas pelo "ORDMOVE":

Constituição do combóio e lanchas de apoio;
Comando, pessoal da Companhia de Fuzileiros e local de posse do comando;
Batelões, carga e locais de destino;
Articulação com forças de apoio;
Transporte de pessoal e cuidados a observar;













Nota
:

Nos combóios a Farim, ao oficial era poupada a viagem em LDM a partir de Bissau. Era transportado até Vila Cacheu, na avioneta da Marinha, um Auster Rallye, azul claro.


Cada operação tinha sempre como epílogo o respectivo relatório. Mas quem quiser escrever, com verdade, a história para a qual este relato pode ser uma fraca contribuição, não se poderá cingir aos arquivos. A verdadeira história está com as pessoas. É preciso ouvi-las contar o que lhes foi vedado escrever nos documentos criados para o efeito. Porquê?

Conveniências…

Alguns dos comboios do Cacheu até foram bem divertidos. Por exemplo, o "ORDMOVE" de um deles previa, e bem, que a carga a transportar para Bissum fosse levada até S.Vicente, ao contrário do que sempre acontecia, recorrendo a combóio de viaturas militares. Em S. Vicente as lanchas abicaram e começaram a receber a carga das "GMC" e das "BERLIET".

Previam-se quatro subidas do rio Armada (de que ninguém gostava), só que, às tantas, entre as indicações que os meus olhos liam e a carga que faltava, com um bocadito de esforço e com a água a bordejar, por cima, a linha de água inscrita nos flutuadores (depósitos de água) das LDM, consultados os Patrões, arriscámos fazer uma única viagem.




Padrão aos Descobrimentos em Vila Cacheu - "Por mares nunca dantes navegados..."

Dois meses depois fui chamado ao Estado-Maior. O oficial que fazia o controlo das operações, pelo menos destas, questionou-me sobre o facto de não ter feito as quatro viagens da praxe. Que não, tinha feito apenas uma.

“Porquê, perguntei?”

– “Então o Exército tem razão…

Caíu alguma carga ao rio?”

– “Não, nem uma única caixinha…”

O que aconteceu então? Ah!…, o responsável pela carga tinha traficado, entre Bissau e S.Vicente, quase todo o material que era suposto transportarmos para Bissum. Tinha-se desculpado com o oficial do combóio. A maior parte da carga tinha caído ao rio. Teve azar…

Mas no combóio seguinte as coisas foram ainda mais engraçadas. Como a subida do rio Armada, pelo menos naquela fase, tinha ganho algum sossêgo, resolveram (quem seria?) que as LDM escoltariam os próprios batelões até Bissum.

Chegada a hora da partida recusaram-se a avançar. “Que não entravam no Armada.” Seguiu-se uma troca longa de mensagens com Bissau seguidas de sessões de persuasão dos patrões dos batelões. “Que não, que não saíam dali.”




Ganturé - Em cima, um Land-Rover e a Messe e, em baixo, um abrigo. Hoje, tudo arrasado"



A quarta mensagem de Bissau dizia, preto no branco, que decidisse por mim. Foi o que quis ouvir, ler, sei lá... Lanchas a juzante de todos os batelões, expectantes, porque as lanchas aparentemente iam embora, meia volta, Oerlikons apontadas às ditas embarcações e, braço estendido, à boa moda Bonapartista, digo eu, "Todos à minha frente..." E foi um ver se te avias pelo rio Armada acima.

Mas agora,... talvez logo a seguir,... é claro que foi um risco que se correu escusadamente. Era já noite escura quando deixámos Bissum, guiados pela lua e pelas margens. Só que desta vez não se perdeu carga alguma...




Elísio Pires Carmona
2TEN FZ RN
15.º CFORN

(continua)

Fontes:
Texto compilado a partir de artigo e imagens cedidos pelo 2TEN FZ RN Elísio Pires Carmona, 15.º CFORN; restantes imagens de arquivo do autor cedidas pela Revista da Armada, Arquivo da Marinha, CAlm Joel Pascoal e CFR Abel de Melo e Sousa.


mls