03 novembro 2022

1958/2022 - Relembrando os 64 anos da Reserva Naval


“A Marinha e a Reserva Naval, uma aliança que perdura”

(Post actualizado a partir de outro já publicado em 12 Agosto de 2018)






Decorreram em 11 de Agosto passado 64 anos sobre o ingresso na Escola Naval do 1.º CEORN – Cursos Especial de Oficiais da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa.

Naquele dia do mês de Agosto de 1958, 20 cadetes candidatos a oficiais daquele Quadro de Complemento deram inicío a um primeiro ciclo de 25 cursos, realizados entre 1958 e 1975, num total de 1.712 universitários oriundos de vários estabelecimentos escolares e formações.




Em cima, a "Casa da Balança" nas Instalações Centrais da Marinha onde foi descerrada a placa e,
em baixo, vista geral do edifício das ICM, junto da "Doca da Caldeira"




Interrompidos no ano de 1975, no decorrer do qual nenhum cuirso foi levado a cabo, foram reatados em 1976. Até Maio de 1992 foram então concluídos mais 78 cursos, repartidos entre a Escola Naval e a Escola de Fuzileiros, num total de 1.886 cadetes, igualmente candidatos a oficiais da Reserva Naval.

Em 25 de Julho de 2005, com a presença do Chefe do Estado-Maior da Armada, o Presidente da Assembleia Geral da Associação dos Oficiais da Reserva Naval e várias outras individualidades, foi descerrada na Casa da Balança - Instalações Centrais de Marinha uma placa evocativa do cinquentenário da criação da Reserva Naval.




A placa comemorativa da efeméride

E bem serviram sem cuidar recompensa!

Ao longo de vários anos tenho aqui publicado múltiplos artigos sobre o tema, pelo que referirei algumas datas e acontecimentos que considero marcantes, interpretação que pode ser sempre classificada de subjectiva, pelas escolhas pessoais.

Contudo todas elas me parecem relevantes na evolução da preservação de memórias históricas da Reserva Naval, Marinha e da respectiva Associação.

Assim foram publicados e podem ser acedidos pelos respectivos links:

7 de Outubro de 2016




14 de Outubro de 2016




5 de Novembro de 2016




9 de Dezembro de 2016




1 de Junho de 2017




20 de Janeiro de 2018




25 de Maio de 2000 (revista n.º 12 da AORN)




20 de Maio de 2001 (revista n.º 13 da AORN)



Fontes:
Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Revistas da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, números 12-Dez2000 e 13-Dez2001; texto e fotos de arquivo do autor do blogue com fotos de arquivo do autor do blogue - Arquivo de Marinha e Revista da Armada; actualização de links relacionados;


mls

18 setembro 2022

Casa da Balança - Marinha


Requalificação de um local de referência da Marinha


A Casa da Balança








«Divisa patriótica da Marinha «A PÁTRIA HONRAE QUE A PÁTRIA VOS CONTEMPLA»






Travessia aérea do Atlântico Sul, iniciada em 30 de Março de 1922 em Lisboa e terminada a 17 de Junho no Rio de Janeiro - Brasil






Oficiais da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa, divididos na formação entre Escola Naval e Escola de Fuzileiros, com 1.712 oficiais (1958-1975) e mais 1.886 oficiais (1976-1992) oriundos das várias universidades portuguesas.






Outras referências históricas









Fontes:

Imagens de arquivo do espólio pessoal do autor do blogue fotografadas em 20150628; texto compilado e adaptado a partir da Revista da Armada n.º 494, página 23, sob o título "Casa da Balança-Uma Requalificação Esperada;

mls

12 setembro 2022

Primeira visita da rainha Isabel II de Inglaterra a Portugal - 16 de Fevereiro de 1957


Chegada da rainha Isabel II à Base Aérea do Montijo (BA6)



Momento da chegada da rainha Isabel II de Inglaterra à Base Aérea do Montijo (BA6), por ocasião da primeira visita que efectuou a Portugal.

Acompanhada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Cunha, em representação do Governo português, é recebida pelas mais altas individualidades militares dos 3 ramos das Forças Armadas, pelo comando da Base Aérea e ainda pelo embaixador de Portugal em Londres, Pedro Teotónio Pereira.



Nota do autor do blogue

A publicação da foto acima foi possível por gentil cedência pessoal do Vice-Almirante Francisco Ferrer Caeiro - na foto o segundo da direita para esquerda - que entre 10 de Março de 1958 e 20 de Maio de 1960 desempenhou as funções de comandante da Base Aérea do Montijo (BA6) de que foi o último comandante naval, ainda no posto de Capitão-de-mar-e-guerra. Após aquela data foi exonerado do comando e a BA6 transitou para a FAP - Força Aérea Portuguesa. Entre Agosto de 1968 e Maio de 1970 desempenhei as funções de ajudante de ordens daquele oficial-general, então Comandante Naval do Continente e da Base Naval de Lisboa.




Fontes:
Texto e foto do autor do blogue com apontamentos compilados de:
https://osetubalense.com/ultimas/2022/09/09/a-historica-visita-de-isabel-ii-que-entrou-em-terras-lusas-por-setubal/

mls

03 setembro 2022

Mensagens de Natal – Guiné, 31 de Dezembro de 1967


Mensagens de Natal de militares da Força Aérea e da Marinha de Guerra Portuguesa a prestarem serviço na colónia da Guiné


Nota do autor do blogue

No texto abaixo - de minha inteira responsabilidade - apenas me limitei a retocar pormenores do texto acrescentando algum conhecimento, mas mantendo presente o alerta de «RTP arquivos» de que aquele resumo analítico contém erros e imprecisões devido a restrições técnicas;

00:00 - Aviões "Harvard T6" da Força Aérea Portuguesa descolam da base aérea de Bissalanca; imagens de aulas de formação/instrução a pilotos aviadores; mensagens de Natal de pilotos da Força Aérea Portuguesa e Paraquedistas.

01:50 - Mensagens de Natal de vários pilotos da esquadrilha "Os Roncos" a dirigirem-se para os aviões e a descolarem; grupo de paraquedistas a prepararem o embarque em aeronaves; mensagens de Natal de paraquedistas; início de missão com planos de vários aviões e helicópteros na descolagem; embarque de militares num helicóptero "Alouette III" e mensagens para familiares; largada de paraquedistas a partir de aeronaves.

08:50 - Alferes enfermeira paraquedista, Ana Maria Barros, envia mensagem de Natal para familiares e amigos de Esposende; mensagens de Natal de militares da Força Aérea Portuguesa, intercaladas com planos de paraquedistas a embarcarem em helicópteros "Alouette III".

10:18 - Helicóptero "Alouette III" sobrevoa uma unidade naval LFP-Lancha de Fiscalização Pequena da Marinha de Guerra Portuguesa, a navegar junto à costa; é feita a aproximação a outra unidade naval de maior porte, a LFG "Hidra", Lancha de Fiscalização Grande - P376, à qual vai atracar; a bordo, planos de vários marinheiros da guarniçãoo da LFG "Hidra" que deixam mensagens de Natal às familias, incluindo o oficial imediato.

16:15 - Entrada do INAB - Instalações Navais de Bissau - portaria; o médico de serviço agradece à RTP por permitir o envio de mensagens de Natal dos doentes às famílias; o enfermeiro encarregado da enfermaria do CDMGuiné envia igualmente mensagem à família.

18:35 - Na ponte-cais de Bissau a LFG "Cassiopeia" - P373 efectua a aproximação ao cais onde vai atracar à LFG »Orion» já ali acostada; no final de uma operação, o DFE3-Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 3, regressa à Base Naval em Bissau, desembarcando daquela unidade naval; vários elementos do Destacamento dirigem mensagens de Natal às famílias; o Comandante da Unidade, em nome pessoal e também em nome de todos os militares da Unidade, dirige uma mensagem de Natal aos familiares e amigos, com votos de um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de venturas.

mls




(RTP Arquivos)



Fontes:
Foto, texto e filme partilhados a partir de «https://arquivos.rtp.pt/conteudos/mensagens-de-natal-guine-1967-4/; em 31 de Dezembro de 1967 o autor do blogue estava presente em Bissau, como Oficial Imediato da LFG «Orion», reconhecendo vários militares que desfilam nas mensagens de Natal;

mls

06 julho 2022

LDG «Bacamarte» vs Lanchas de Desembarque Grandes


Sintese histórica das LDG - Lanchas de Desembarque Grandes

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 21 Outubro 2011/15 Setembro 2018)






Fontes:

Texto e fotos de arquivo do autor do blogue, Arquivo de Marinha, Revista da Armada e cortesia de Emídio Aragão Teixeira, 8.º CEORN (LDG «Bacamarte»); Setenta e Cinco Anos No Mar, LDGs, 17.º VOL, Comissão Cultural de Marinha, 2006;

mls

Guiné, 1965/1974 - Lanchas de Desembarque Grandes e o "granel" nos transportes logísticos


Lanchas de Desembarque Grandes e o "granel" nos transportes logísticos

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 20 Maio 2012/22 Abril 2019)






Fontes:

Imagens do Arquivo de Marinha e Museu de Marinha cedidas ao autor do blogue; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada; Carta da Província da Guiné do Centro de Geografia do Ultramar, 1961

mls

20 junho 2022

Guiné, anos 60/70 - Marinha e Logística


As LDG - Lanchas de Desembarque Grandes na estratégia logística da Guiné

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 30 Julho 2009/6 Abril 2020)






Fontes:

Imagens do Arquivo de Marinha e Museu de Marinha cedidas ao autor do blogue; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada; Carta da Província da Guiné do Centro de Geografia do Ultramar, 1961

mls

16 junho 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte VII


LDG «Bacamarte»

Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090510/20170215






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

13 junho 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte VI


LDG «Alabarda»

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 8 Maio 2009/12 Fevereiro 2017)






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

03 junho 2022

Ainda a LDG “Bombarda” - LDG 201


O enigma da LDG «Bombarda» - LDG 201, vs LDG 105, vs LDG 205 (?....)

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 24 Janeiro 2009/22 Dezembro 2016)






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte V


LDG «Bombarda»

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090124/20161222






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

29 maio 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte IV


LDG «Montante»

Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090204/20161211






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

27 maio 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte III


LDG «Cimitarra»

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 24 Janeiro 2009/6 Dezembro 2016)






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

24 maio 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte II


LDG «Ariete»

Post reformulado a partir de outro já publicado 20090113/20161202






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

22 maio 2022

Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, Parte I


LDG «Alfange»

Post reformulado a partir de outro já publicado em 20090113/20161129






Fontes:

Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; texto do autor do blogue, compilado e corrigido a partir do publicado em "Setenta e Cinco Anos no Mar" - Comissão Cultural de Marinha, 17.º Vol, 2006; Revista da Armada; Lista da Armada;

mls

16 maio 2022

Reserva Naval… os números!




Transcrição de alguns excertos efectuados do capítulo "Síntese de 25 CFORN" de "O Anuário da Reserva Naval, 1958-1975" da autoria dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado:

........início de transcrição....................

“...O Decreto-Lei nº. 41.399 de 26/11/57 que criou a Reserva Naval, previa que o seu pessoal seria convocado por ordem de mobilização total ou parcial ou, em casos especiais de interesse público, por determinação do Governo, pela pasta da Marinha, sendo os seus elementos enquadrados por pessoal do activo nas lotações das unidades e serviços.

Porém, em poucos anos, o espírito da referida lei foi ultrapassado pelas circunstâncias.

A partir de 1961, as crescentes necessidades da Marinha em pessoal e em material, bem como a diversificada natureza das missões que lhe competiam nos diferentes teatros operacionais, obrigaram a profundas adaptações estruturais...”

............

"...Foram essas centenas de oficiais que, ombreando em dedicação e profissionalismo com os Oficiais do Quadro Permanente, permitiram o normal cumprimento das múltiplas missões exigidas à Marinha até 1974...”

............

"...Esta maciça presença de Oficiais RN nas mais diversas unidades e serviços da Armada revela a importância quantitativa e a influência qualitativa que a Reserva Naval teve na Marinha e nos seus hábitos..."

........fim de transcrição....................


De 1958 a 1974, num crescendo de necessidade em Oficiais, a Marinha, de uma incorporação anual, a partir de 1967 passou a efectuar duas, iniciadas com os 10.º e 11.º CFORN (38+75 cadetes) e atingindo um pico de admissões em 1973 com o 22.º e 23.º CFORN (100+81 cadetes) repetido em 1974 com os 24.º e 25.º CFORN (95+86 cadetes).

Estes números não deixam lugar a quaisquer dúvidas e, tomando como modelo os 16.º e 17.º CFORN’s de 1970, dos 63+103 cadetes incorporados e considerando todas as Classes, destacaram para prestarem serviço em Unidades ou Serviços de além-mar, cerca de 57% dos Oficiais da Reserva Naval que juraram bandeira.

Noutro âmbito e ainda significativamente mais expressivos, são estes valores percentuais apenas na classe de Fuzileiros, registando as maiores taxas de participação de oficiais da Reserva Naval, comparativamente à totalidade de Oficiais, quer dos Quadros Permanentes quer da Reserva Naval, que integravam o Comando daquele tipo de Unidades em Angola, Moçambique e Guiné.

Num total de 63 Destacamentos de Fuzileiros Especiais distribuídos por aqueles teatros operacionais, da totalidade de 139 oficiais neles integrados, 82 eram Oficiais RN (56%) e, mesmo dos 57 dos Quadros Permanentes que comandaram os DFE, mais de uma dezena tinham desempenhado missões anteriores como oficiais da Reserva Naval e vieram a optar pelo ingresso no QP.

Maior acuidade ainda no tocante às Companhias de Fuzileiros em que, das 45 Unidades que nos mesmos teatros operacionais estacionaram, considerando incluídos os Pelotões Independentes e de Reforço (também em Cabo Verde), 217 dos 328 Oficiais (66%) que integraram o Comando das Companhias pertenciam à Reserva Naval. De entre estes últimos, 11 pertenciam à Classe de Médicos Navais e alguns Comandantes daquelas unidades eram igualmente oriundos da Reserva Naval.

Ainda numa outra perspectiva, em finais daquele ano de 1974, do total de Oficiais que prestavam serviço na Armada, 24% pertenciam à Reserva Naval e, considerando apenas os Oficiais subalternos, essa percentagem aumentava para 40%.

........início de transcrição....................

“...Este contributo adicional de juventude, necessariamente que influenciou a Marinha, os seus hábitos, as suas mentalidades e até a sua forma de actuar...”

...Foram 1712 cidadãos que a Marinha teve o privilégio de acolher e de com eles conviver. Foram 1712 marinheiros que à margem do sextante ou do fuzil, a Marinha ajudou a preparar para uma vida diferente. A Marinha recorda-os e este trabalho é também uma homenagem que os seus autores lhes prestam...”

........final de transcrição....................


A Reserva Naval continuou até ao ano de 1992, embora com outras condições na admissão, mais adequadas e adaptadas a uma tão estudada como necessária redução do dispositivo, vindo a ser progressivamente substituída pelo regime de contratação, não sem que, ao longo de mais de três décadas, 3.598 Oficiais da Reserva Naval dos mais variados quadrantes de formação universitária tenham desfilado pela Marinha de Guerra Portuguesa.


Fontes:
Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, 1992; Anuário da Reserva Naval 1976-1992, Manuel Lema Santos, 2011; foto de arquivo autor do blogue;


mls

08 abril 2022

Guiné - A Linha do Cacheu


Guiné - A Linha do Cacheu e os combóios que por lá circulavam

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 16 de Abril de 2010/08 de Agosto de 2017)




Retomo aqui no blogue, com inteira actualidade e justiça, o artigo do Amigo e Camarada da Reserva Naval Elísio Pires Carmona, do 15.º CFORN, por ele redigido e então publicado nas revistas números 14 e 15 da Associação dos Oficiais da Reserva Naval, em 2003. Tão bem tece analogias entre linhas, combóios e rios da Guiné, que não resisti à tentação do acrescento humorístico da imagem acima, além de outros comentários soltos que entendi oportuno efectuar, a condizer com o relato original onde acrescentei algumas imagens.
Espero tolerância porque fui um dos que também lá estive e neles andei, com "passe" conferido pela Marinha... De quando em vez, nas margens, apareciam os pica-bilhetes com vários tipos de instrumentação para o efeito.
mls




“(...) só quem lá esteve é que sabe do que é que estou a falar...”


Ora, estou a falar do texto do José Manuel da Costa Bual numa das revistas da Associação publicadas. Estou a falar da Linha do Cacheu: linha de carris feitos de água barrenta pelos quais transitavam, uma vez por mês, combóios que tinham por locomotivas LDM´s e Batelões em vez de Vagões.



O mapa da Guiné, mostrando, ao centro, o rio Geba (Bissau) e, a norte,
o rio Cacheu em toda a sua extensão, até Farim (clique para ver ampliado)

Aliás como a Linha de Catió ou a Linha de Bedanda, permita­-se-­me a redundância. Sei do que fala. Porque também por lá passei. Porque também vivi as mesmas emoções...

Penso que tem razão de ser a sugestão deixada, na altura, numa Assembleia Geral da Associação: o nosso testemunho alimentará a nossa memória colectiva e contribuirá também, sem constrangimentos, para ajudar a fazer a História.

A tarefa que me propus então foi a de contar, rebuscando do fundo do meu baú, (já ouvi isto num sítio qualquer) memórias que, curiosamente, permanecendo tão vivas me dão a sensação, ao recordá­-las, de que estão a acontecer. De resto, como transparece cristalinamente do trabalho do Costa Bual. Mesmo tendo passado cerca de 40 anos...




Bissau - Do lado de dentro da ponte-cais, lado a lado, várias LDM's amarram de proa ao cais

A Linha do Cacheu começava, como todas as Linhas, em Bissau. Justamente na Ponte-cais. Era de lá que saíam as LDM-lanchas de Desembarque Médias, normalmente duas, por vezes três, Geba abaixo, rumo a Vila Cacheu. Mas o combóio, esse, só se constituía e assumia verdadeiramente a sua pomposa designação naquela localidade. Na qual se concentravam os Batelões a escoltar. O comandante, nós, seguíamos normalmente por via aérea, no pequeno Rallye – a nossa avioneta.




Vila Cacheu - O interior do forte, vendo-se o monumento ao Infante D. Henrique de que existiam várias réplicas naquele território.

Esta linha tinha, por assim dizer, um Ramal: o de Bissum. No regresso de Farim as lanchas aguardavam, na passagem de São Vicente – onde a estrada de Bissau, João Landim, Bula, Ingoré se interrompia, cortada pelo magnífico Cacheu – pela chegada de novos batelões.

Fundeavam, durante o dia, no meio do rio; amarravam­-se ao tarrafo durante a noite, dissolvidas na penumbra, por mor das coisas.




Ingoré - Em cima, uma bolanha junto da povoação e, em baixo, a estrada para o Ingorezinho.



As LDM eram, se houver alguém que não saiba, modestas lanchas de desembarque, armadas com uma Oerlikon (já não me recordo se se escreve assim) e duas MG 42 à proa, uma em cada um dos bordos, com uma equipagem constituída por um Cabo Manobra – o Patrão da lancha – um Telegrafista, dois Fogueiros e dois Artilheiros. Nos combóios, a tripulação era reforçada com meia secção de fuzileiros – mais seis elementos.

Os comandantes destas tremendas flotilhas – os Nimitzes, os Yamamotos, os..., éramos nós, mais a dar, algumas vezes, para Lafites, Drakes,... como se verá ao longo destas estórias.

Ah!, e faziam-­se bons petiscos a bordo, que metiam, algumas vezes, ostras fresquinhas pescadas, nomeadamente, no Rio Grande de São Domingos, mas também, no sul, no próprio Cobade.

Feita esta introdução, porque sobre o resto já contou, e bem, o Bual, passarei às peripécias vividas lá p'rós lados do Cacheu.




O rio Cacheu, consoante a hora do dia e o estado do tempo, proporcionava registos fotográficos ímpares



O “Calado”

O Calado era o patrão duma das LDM, no ano de 1971. Foi com o Calado que fiz o meu primeiro combóio, em Fevereiro. Deveria ter ido em Janeiro, com o Januário, para aprender o caminho, como era costume. Mas, numa partida (brincadeira) de “basquetebol”, num dos dias anteriores, no terreiro sobranceiro às nossas instalações, nas INAB-Instalações Navais de Bissau, onde havia umas tabelas e umas marcações meio sumidas no alcatrão, atropelado pelo Benjamim, dei cabo do braço.

Infelizmente, nesse combóio, o Januário, à pesca com granada, em Ganturé, ficou marcado pela explosão daquela em que tinha agarrado: granada de armadilha, explodiu logo que abriu a mão...




Rio Cacheu - Batelões atracados em Ganturé (Bigene)

Mas voltando ao combóio, vale dizer que a subida até Farim decorreu sem história. Apenas os olhos se arregalaram perante tamanho desconhecido, tanta grandeza. Aquele Tarrafo, alicerces mergulhados na água, na maré cheia, aquele Verde imenso, o Passaredo... e os pontos de referência que íamos guardando intuitivamente sem esforço: a foz do Rio Grande de São Domingos e mais acima a do Cabói, Jolmete, São Vicente – o rio a estreitar – a foz do Armada, as clareiras de Barro e de Maca e, finalmente, a 1ª estação, Ganturé, já ao fim do dia, e onde, por esta razão, costumávamos pernoitar.

Na manhã seguinte, com o dia a clarear, fazíamo­-nos rumo a Farim, com os mesmos cuidados, a mesma atenção e o mesmo deslumbramento, deixando sucessivamente para trás as clareiras do Sambuiá e do Tancroal, Binta e, por fim, FARIM. Em Farim, o rio era curiosamente largo.




Rio Cacheu - Magnífico por-de-sol, próximo de Ganturé

Para lá do mais a cidade tinha outras duas curiosidades: uma magnífica piscina, com café e esplanada, e a Geninha, a filha do Madeireiro mais representativo, cortejada por levadas de furriéis, alferes e até alguns distintos Tenentes da Marinha. O jantar, na primeira noite, era em casa dela. Pela minha banda ainda lá comi um, à boleia do Sousa Dias.

(Já agora, os nomes, nestas minhas crónicas (?), só por casualidade é que têm representação real...)

À Geninha vi­-a mais uma vez, em Bissau, pelo Carnaval de 72. Acho que se tinha cansado de Farim. Acompanhava o Varela, noite alta, à procura de um casaco, salvo erro, que por certo não lhe serviria para nada, já que fazia quase dois de mim em altura. Estremunhados, com o barulho, viemos dois à porta: eu e o Abreu, por sinal ambos em trajes tão menores que nos pareceu ridículo pedirem­-nos, àquela hora, um casaco.

Estávamos, se a memória não me atraiçoa, uns dez dias em Farim. Dias que davam para conversar muito, para ler muito, para bons petiscos bem regados a vinho misturado com cerveja, refrescada com umas pedras de gelo retiradas do frigorífico, ou arca congeladora, ou lá o que era aquilo que havia a bordo e funcionava a petróleo, para tomar banho no rio e fazer umas piruetas com o Zebro II. A nossa comida, a dos fuzileiros, era normalmente guardada em arcas térmicas onde a carne era congelada em gelo bem atacado. Íamos comendo por cima.




Farim, 1966 - A povoação fotografada da LFG "Orion", fundeada a meio da enseada fronteira.

Ah!, e jantávamos cedo, por volta das 18 horas, aproveitando os últimos fulgores do dia. As noites... As noites, em Fevereiro, eram bem agradáveis. Não fossem as melgas, que descobriam o mais ínfimo dos buraquitos no mosquiteiro para entrar sem cerimónia a perguntar insistentemente “precisas de mim, precisas de mim...” e ainda agora dormiríamos a sono solto...

Mas então, e o Calado? O Calado só aparece, permita­-se-­me a repetição, no Ramal de Bissum.

Um dia de espera em São Vicente, pelos batelões, passada a carga dos batelões para as lanchas, na ocasião apenas duas, lá fomos nós Armada adentro. Verdade se diga que a fama do rio, a sua estreiteza e as curvas muito arrematadas e “sem inclinação”, não davam motivos para grandes confianças.

A atenção redobrava: um dos artilheiros no “canhão”, outro artilheiro e um dos fogueiros nas MG's, dois fuzileiros no tejadilho da casa do leme com a “basooka”, o telegrafista no rádio e nós, os restantes, todos o mais compostos que era possível. Na altura, era-­nos dado ver ainda a vegetação das margens calcinada pelo muito fogo com que tinha sido massacrada em tempos anteriores. E uma ou outra clareira, vegetação esfuziante lá ao fundo, com um ou outro crocodilo aquecendo­-se ao sol.




Rio Cacheu - De S. Vicente a Vila Cacheu numa LDM.

Bissum não tinha Porto, nem ponte-cais – aquelas docas feitas de cibes, mergulhados no leito lodoso e pranchas de madeira pregadas com cavilhas. As lanchas abicavam na margem, baixavam a porta e a carga era descarregada pela população para as Berliet do Exército. Nunca saí da lancha para ver a aldeia ou o aquartelamento: nunca tive curiosidade para tanto, nem sei se algum dos nossos camaradas a terá tido.

Pois foi na abicagem que apareceu o Calado. Tão Calado tinha andado antes que mal tinha dado por ele. “Ó sr. Tenente, como é que quer que eu abique?” Acho que nem ouvi bem. “Ó sr. Tenente, desculpe lá, mas como é que quer que eu abique?” Acordei surpreendido pela pergunta e recordo­-me de ter dito mais ou menos isto, de rajada: “Ó Calado, não sei, disso sabe você, faça o melhor que souber, se houver problemas cá estarei para assumir as minhas responsabilidades, mas faça o melhor que souber”. E abicou.

Aproximava­-se, entretanto, a outra lancha, pilotada pelo Popeye – enorme, espadaúdo, barbudo e cachimbudo como a conhecida figura, dado à boa pinga e ao mulherio, mas ainda periquito nas lides da governação das LDM's. E o Calado voltou a interpelar­-me, agora com um pedido bem mais lógico: “Ó sr. Tenente, o meu camarada ainda é novo nestas andanças, agradeço­-lhe que lhe diga que abique a estibordo (bom, por baixo...); não terá problemas”. E não teve.

Sentado à mesa, instalada entre a cabine e a Oerlikon, enquanto assistia à descarga, o Calado arranjou coragem para me dizer “Ó sr. Tenente, desculpe lá a minha pergunta de há bocado, mas há combóios em que os seus camaradas nos dizem como querem que manobremos...”

Comprometo-­me, longa que vai esta lenga­-lenga, a contar em próxima estória a importância que o Calado teve, pelo senso e sabedoria – e muita era – para o sucesso dos meus combóios.

Presto-­lhe a minha homenagem, ao Popeye – nunca lhe conheci outro nome – ao Teixeira e a todos os outros com quem percorri os principais cursos da Guiné durante os 21 meses da minha comissão.

O “Directo” do Cacheu – Farim

Cada combóio era um combóio. Quero com isto dizer, que todos tinham ingredientes suficientes para que nunca se estabelecesse qualquer rotina, para lá das normais tarefas do governo e da segurança, que uns, valha a verdade, respeitavam mais do que outros.

Nunca troquei impressões com os meus camaradas sobre combóios. Acho que nunca ninguém me perguntou, nem eu perguntei: Correu tudo bem? O facto de partir e voltar, 15 dias depois, mais dia menos dia, era suficiente. Manifestávamos a nossa alegria, muitas vezes discretamente, e pronto. O Ordmove era cumprido... Era? Era, era cumprido. Mas...

Mas, no directo Cacheu - Farim não foi. Nem para cima, a caminho de Farim, nem para baixo, rumo à passagem de S.Vicente. Tendo chegado a Vila Cacheu por volta das 15 horas, com tempo para saudar os camaradas do DFE e dar umas voltas pelo burgo, no caminho de regresso às LDM cruzei-me com o Calado.




Cacheu - O antigo Aquartelamento do Cacheu (1966), mais tarde Messe dos Oficiais Fuzileiros (1969);
actualmente Casa do Governador da Região do Cacheu.

Ó senhor tenente! A que horas é a saída amanhã? Uns segundos de silêncio, embaraçosos, que o Ordmove até era confidencial (?)... logo interrompidos, também com algum embaraço, pelo Patrão:

Ó senhor tenente, fica só entre nós. Sabe, é que quem programa os combóios, com base nos elementos disponíveis, nem sempre conhece bem a realidade. Nós que passamos aqui a vida, ganhamos outras referências que nos ajudam bastante e que nos levam a fazer as coisas à nossa maneira. Respeitando sempre o essencial. Na lancha explico-lhe...

E explicou. Ordmove em cima da mesa e a Tabela das Marés aberta na página certa, eis os ingredientes para a 2ª lição – a 1ª tinha sido, lembram-­se, em Bissau, no 1º combóio. A maré começa a virar às 06:00 da manhã. Significa que às 05:00 está quase parada, ou mesmo parada. Se sairmos por essa hora, a crista da onda vai apanhar-nos já acima a montante, claro, de Jolmete, o que faz que andemos mais depressa.

Está decidido, Calado! Foi assim que, por volta das 04:30, motores a trabalhar e duas buzinadelas sonoras, puseram toda a gente de pé em três tempos e a andar, antes que pelo menos na outra lancha – e o Popey também devia ter consultado a Tabela e feito os seus cálculos – tivessem tempo de questionar a sua surpresa: Já?




Panorâmica geral de Ganturé (Bigene) com o rio Cacheu ao fundo

Às 15:00, com duas horas de avanço sobre o horário previsto, deixámos batelões em Ganturé e, gasto o tempo suficiente para os cumprimentos da ordem, aos camaradas residentes, ala que se faz tarde a caminho de Binta, onde ficaram mais dois batelões e, sem detença, rumo a Farim, já o Sol a baixar significativamente no horizonte.

Aportámos à Cidade Fim de Linha, pelas 21:00 horas, já que no troço final, com a maré a inverter o ciclo, a marcha se foi tornando lenta. Soube mais tarde que no Estado-Maior, onde pontificavam, entre outros, pelo menos na logística – patentes às malvas, o Almeida Carvalho, o Jorge Soares, o Aguillar e o Beato, este do meu CFORN, – se interrogaram, meio baralhados, ao receberem a obrigatória MENSAGEM DE CHEGADA, identificada com um nome inglês que já esqueci“ (...) não era para chegar amanhã de manhã?...”




Farim - O murete adjacente ao cais, as conhecidas acácias e a LDG «Alfange»
abicada para descarga e carga


Claro que a partir daqui, nos meus combóios, passou a ser respeitado apenas o envio da Hora de Chegada ao Destino, nunca batendo certo com o referido na Carta de Movimento, – vulgo Ordmove – como é óbvio.

Tive oportunidade, ainda neste combóio, de o justificar. É que, sem que alguém dos presentes, mais do que eu próprio, imaginava eu, soubesse da hora da saída, a meio da manhã apareceu um indivíduo negro a perguntar-­me a hora da partida. Que tinha um motor...avaria reparada... para enviar, aproveitando a boleia, já nem sei para onde.

Claro que dei ordem de andamento com a antecipação de duas horas, depois de me ter certificado de que tudo estava aprontado – “a DEPART” essa, foi enviada à hora justa...




Elísio Alfredo Pires Carmona
2TEN FZ RN
15.º CFORN


Fontes:
Texto compilado e actualizado pelo autor do blogue, a partir do publicado nas revistas números 13 da 14 - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, Dez2001 e Jun2002; fotos e imagens de Manuel Lema Santos (8º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval), Alberto Lema Santos (Alferes médico do BCaç 1933), Abel de Melo e Sousa (DFE1 72/74 - CFR Ref) e Carta da Província da Guiné - Ministério do Ultramar - Centro de Geografia do Ultramar, 1961;

mls



1 comentário:

Carlos Silva disse...
Amigo, está espectacular. Guiné é Guiné e o resto é paisagem. A minha próxima viagem à Guiné será contigo ao leme, num yate, barcaça ou LFG para navegar nessa linha do Cacheu e de outros rios. Assim, para além de passar a conhecer a Guiné a partir dos rios, sempre há uma possibilidade de ultrapassar os golpes, pois teremos uma oportunidade de ancorar para apanhar e comer umas ostras do tarrafe. Vê lá se aparecem camaradas da Marinha que queiram participar numa odisseia destas com um tipo do exército. Já tenho alguma experiência em navegar de LDM, jangadas e pirogas para atravessar o rio Cacheu em vários locais, mas principalmente entre o K3 e Farim e não coloquei a bóia ao pescoço.
Com um grande abraço
Carlos Silva

16 Abril de 2010, 12:58

03 abril 2022

LFP «Dom Aleixo» - P1148 e LFP «Dom Jeremias» - P1149


Os Oficiais da Reserva Naval nas LFP «Dom Aleixo» e LFP «Dom Jeremias»

(Reformulação a partir de posts já publicados:
LFP «Dom Aleixo» em 20180808/20110608 e LFP «Dom Jeremias» em 20180810/20110613

Nota prévia:

Sobre o artigo publicado na Revista da Armada n.º 571 - Março 2022, página 29, sob o título "Estórias - Missão em Cabo Verde" entendi deixar os seguintes esclarecimentos:

– As Lanchas de Fiscalização Pequenas LFP «Dom Aleixo» - P1148 e LFP «Dom Jeremias» - P1149, ainda que com dificuldades de ordem técnica diversa, foram a navegar por meios próprios para Cabo Verde, acompanhadas pela FF «Diogo Gomes»;

– Na imagem de topo de página que ilustra o artigo - sem qualquer crítica ao ilustrador - figuram as LFP «Bellatrix» - P363 e LFP «Deneb» - P365 que estiveram todo o tempo de vida operacional na Guiné, essas sim, transportadas para aquele teatro operacional num navio cargueiro;

– Foi a Corveta «Jacinto Cândido» - F476 que acompanhou o regresso a Lisboa daquelas duas LFP - Lanchas de Ficalização Pequenas no regresso a Portugal, ainda que na mesma ilustração figure a corveta «João Coutinho»;

Fonte: Setenta e Cinco Anos no Mar, 16.º Vol, 2005, Comissão Cultural de Marinha.









Fontes:
Dicionário de Navios & Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha – 2006; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP’s), 16º VOL, 2005, com fotos de arquivo do autor do blogue - Arquivo de Marinha e Revista da Armada;


mls

16 fevereiro 2022

"Os perigos de uma única História" e a Reserva Naval


"Os perigos de uma única História" - Reserva Naval vs AORN

(Post republicado a partir de outro já inserido em 7 de Fevereiro de 2016)

"...Uma história única cria estereótipos. E o problema com os esteótipos não é eles serem mentira, é serem incompletos. Fazem com que uma história se torne na única história ... A consequência da história única é isto: rouba a dignidade às pessoas..."
Chimamanda Ngozi Adichie





Há tempos atrás, deparei na caixa de correio com um texto da conferencista Chimamanda Ngozi Adichie, escritora nigeriana de nacionalidade, reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras anglófonas que está a atrair, com sucesso, uma nova geração de leitores de literatura africana e que aconselho vivamente a ler. Não satisfeito com uma primeira leitura transversal menos atenta, voltei a ler, reli novamente e repeti ainda uma última vez.



Fixando-me apenas na analogia, vou deixar de lado quer o tema visado que a conferencista aborda de forma tão simples como acutilante, quer a forma e espírito com que o fez. Confinar-me-ei a uma marcada identificação com a ali tão bem reafirmada aversão cultural à construção estereotipada de modelos de uma única história.

Uma única história, repetida e divulgada sistematicamente sempre da mesma forma, retira a possibilidade de lhe acrescentar outras mais-valias, suportadas num contraditório dinâmico de uma possível segunda versão. Versão que complete uma história que se deseja de consenso alargado, alicerçada em testemunhos de factos e acontecimentos relatados pelos que a viveram e nela participaram.

Mas afinal que tem a ver este meu deambular sobre o perigo de uma única história com Reserva Naval vs AORN? A Reserva Naval compreende um universo constituído por uma classe de oficiais que pertenceram à Marinha de Guerra Portuguesa, naquela qualidade e enquadrados na e sob a responsabilidade da casa-mãe, a Armada.

A AORN–Associação dos Oficiais da Reserva Naval foi e será apenas uma associação constituída por sócios que terão sido ou não oficiais da Reserva Naval, de acordo com os estatutos daquela e que a ela tenham aderido mediante o pagamento de uma quotização numa das diversas classificações estatutárias de "admissibilidade de sócio" previstas.

Será obrigatório acrescentar que a condição sócio originário apenas poderá ser atribuída a um antigo Oficial da Reserva Naval de acordo com o estabelecido no "...Artigo Quinto dos Estatutos - Dos Associados , UM, alínea a): Todos os que tenham servido como Oficiais, na Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa, criada pelo Dec.-Lei nº 41399 de 26 de Novembro de 1957..."

Pode afirmar-se com propriedade que houve 3.598 oficiais da Reserva Naval da Marinha de Guerra. Entre 1958 e 1975 a Escola Naval formou 1.712 oficiais em 25 cursos das mais variadas classes. Entre 1976 e 1992 esse número foi acrescentado de mais 1.886 novos oficiais, correspondentes a 943 cadetes integrados em 41 cursos realizados da Escola Naval e a outros tantos 943 cadetes, em 37 cursos levados a cabo na Escola de Fuzileiros.

Dos 1.712 oficiais dos primeiros 25 cursos, cerca de 50% terão sido mobilizados para as mais diversas funções e missões na então Guerra do Ultramar/Guerra Colonial, nos teatros de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. Como notas curiosas, em Macau também prestou serviço um oficial e até mesmo em Timor desempenharam missões outros 2 oficiais da Reserva Naval.

Foram missões e serviços de complexidade variável, alguns deles de elevado risco, onde tiveram cabimento a nomeação para comandos e outras missões em unidades navais ou de fuzileiros, desde simples acções de fiscalização e patrulha até ao combate, em transportes, apoios, escoltas e também ainda servindo em unidades ou serviços em terra, ombreando com oficiais dos Quadros Permanentes e dos outros Ramos das Forças Armadas.

A AORN é a única associação existente que, desde 1995, ano da sua fundação, representa aquele conjunto de oficiais, enquanto sócios. No decorrer do tempo de vida da associação, ao longo de vários mandatos directivos têm sido diversos os "avisos à navegação", relativos a um percurso que parece estar a revelar-se escasso na prossecução dos princípios estatutários por que se deveria reger a colectividade e os objectivos a atingir.

Poderá a história da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa e dos seus 3.598 oficiais que por ela desfilaram vir um dia a ser devidamente salvaguardada, no espaço e no tempo, por espólios diversos constituídos por documentos, imagens, relatos e testemunhos, deixados à guarda da AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval, na qualidade de sua fiel depositária?

Terá a AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval ganho a confiança da Instituição Marinha - Armada - e de um conjunto significativo de antigos oficiais da Reserva Naval, sócios e outros associados, para que lhe venha a ser conferido o pleno direito de exercer essa qualidade de representante única e fiel depositária de tão importante memória histórica?

Pessoalmente, julgo que não! Parece-me razoável que pairem muitas dúvidas por esclarecer. O inexorável relógio do tempo, estreitando cada vez mais o horizonte de sobrevivência da AORN ao último Reserva Naval vivo ditará, ou não, da veracidade desta minha inqualificável profecia de Velho do Restelo.

Assumo que, integrado no conjunto das responsabilidades partilhadas, não terei tido a capacidade, eu próprio, de “levar a carta a Garcia” enquanto sócio e colaborador até meados do ano de 2004. Também depois, apenas como colaborador externo até ao final do ano de 2014, com o espírito Reserva Naval de que me orgulho de estar permanentemente imbuído.

Ter-me-á faltado certamente engenho e arte para debater objectivos e temas com os meus pares ou terei aceite demasiadas vezes a condição de remetido ao silêncio nas reuniões de trabalho e acções em que participei e foram muitas.


Em qualquer caso, continuarei a ser detentor da inalienável qualidade adquirida de antigo oficial da Reserva Naval da classe de Marinha do 8.º CEORN. Foi um privilégio pessoal e uma mais-valia académica, profissional e humana a que, orgulhosamente, posso acrescentar a invulgar situação de ter sido licenciado no posto de 1.º tenente, em 1972, por efeito do prolongamento voluntário do tempo de serviço prestado na Marinha.

Ao longo destes últimos anos terei ganho motivação suficiente para me manter a rabiscar num modesto blogue pessoal iniciado em 2006, a título meramente pessoal, farrapos de memórias Reserva Naval, expressando livremente opiniões, publicando relatos, imagens e documentos ou simplesmente divulgando notícias que considerei de interesse cultural.

Para esta dimensão, sem pretensões, ultrapassada a encorajadora fasquia de 311.000 visitas, ainda que no decorrer do tempo o silêncio nos comentários tenha sido maioritariamente ensurdecedor, os aspectos positivos foram suficientes para que mantenha afastada a ideia de abandono, no sentido de desistência da minha visão escrita de retalhos das memórias Reserva Naval.

Em consciência, profissionalmente distante de um perfil de historiador ou sociólogo, creio ter atingido um tempo de balanço neste meu exercício pessoal, forçado pela minha própria participação Reserva Naval e vontade de concluir um projecto idealizado já há alguns anos. Pelo caminho, foi muito o tempo dispendido ao sabor de algum mau tempo, vagas alterosas e diversas correntes, a que aliei uma tendência desmedida para alargar o âmbito do projecto inicial e também muita inexperiência da forma como lidar com temas de tal complexidade.

Existe uma subtil tendência para avaliar de forma grosseira, com leveza e ausência de conhecimento, a disponibilidade, meios necessários e tempo dedicado a pesquisa, recolha, compilação, tratamento e publicação de documentação de memórias históricas. É frequente a classificação do trabalho de quem mete mãos à obra como efectuado em tempo de lazer ou ainda como possível devido à disponibilidade de tempo de quem o faz.

Em vez de valorizar, motivando quem constrói, subalterniza-se diminuindo a qualidade da construção ou, bem pior, ignorando a construção. Terá o caminho percorrido desde 1997 sido feito no respeito por instituições e pessoas? Certamente que houve da minha parte esse cuidado que procurarei continuar a trilhar, mas tal não será impeditivo de manifestar desacordos pontuais sempre que se justificarem.

É tempo de não se correr também o perigo de uma única história da Reserva Naval e o articulado neste texto, sob aquele título, será por mim futuramente abordado com diferentes perspectivas, como que regressando a uma anterior rota, temporariamente abandonada devido a “marés e ventos desfavoráveis”.

Na qualidade de não sócio, encerro estes comentários com estas reflexões:

A Reserva Naval com génese num projecto de dimensão nacional na casa-mãe Marinha de Guerra Portuguesa completa este ano de 2016 o 59.º Aniversário;

O 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que integrou 68 cadetes e a que eu próprio pertenci, foi alistado na Escola Naval em 9 de Outubro de 1965, completando no mesmo ano de 2015, meio século de ingresso na Instituição. Terá havido da parte da AORN a preocupação de organizar e/ou apoiar qualquer tipo de encontro/convívio, habitual em iniciativas relativas a efemérides de cursos Reserva Naval? Se teve lugar alguma realização, em que qualidade e dimensão foi levada a cabo com a Escola Naval, a Instituição que acolheu aquele curso da Reserva Naval?

A Associação dos Oficiais da Reserva Naval comemorou no ano transacto o seu "20.º aniversário AORN", optando por abandonar um anterior percurso de vários anos de comemoração do "Dia da Reserva Naval" em que se apelava ao universo de Oficiais Reserva Naval, em vez de apenas "Sócios da AORN e convidados".

Porque me parecem invertidos valores e prioridades?

Da mesma forma que acima se critica o inexplicável, também se cumprimenta a Direcção da AORN pelo regresso este ano, ainda que parcialmente, a um anterior figurino expresso na comunicação prévia efectuada:

"...As Comemorações estarão abertas a todos os Camaradas que prestaram serviço na Marinha e respectivos acompanhantes, estendendo-se, deste modo, a toda a Reserva Naval...".


Manuel Lema Santos, 8.º CEORN
1.º TEN RN 1965-72 (lic)
Guiné, LFG "Orion" 1966-68
Comando Naval do Continente, 1968-70
EMA, 1970-72

Fontes:
Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa Manuel Pinto Machado, Lisboa 1992; Anuário da Reserva Naval 1976-1992, Manuel Lema Santos, Lisboa, 2011; Foto do arquivo pessoal do autor, gentil cedência da Escola Naval;



mls

12 fevereiro 2022

Livro "O Quarto da Alva" e “Oficiais milicianos (?) da Reserva Naval”


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 3 de Novembro de 2016)




O livro “O Quarto da Alva” tem como autor um oficial dos Quadros Permanentes da Armada e foi editado pela “Âncora Editores”. Integrou o Curso Oliveira e Carmo da Escola Naval que terminou, simultaneamente, com o 8.º CEORN – Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval que, em 9 de Outubro de 1965, alistou 68 cadetes.

Relata aquela obra um conjunto de memórias pessoais referentes ao período de 1966 a 1975. Depois do autor terminar o curso da Escola Naval, efectuou ainda o curso de Fuzileiro Especial e foi integrado no posto de Guarda-Marinha como 3.º oficial no DFE 8 em Moçambique – Lago Niassa (Metangula, Cobué e Cabo Delgado).

Terminada aquela comissão, depois de uma curta estadia no regresso, embarca no NRP “Nuno Tristão” para a Guiné, como oficial de navegação e, a partir de 1970, passa a fazer parte da Missão Hidrográfica de Angola.

Em nenhuma ocasião do meu tempo de vida na Marinha recordo de me ter cruzado com a personalidade em causa. Nem na Guiné (1966-1968), nem no Grupo n.º 1 de Escolas da Armada (escassos meses), nem no Comando Naval do Continente (1968-1970) e nem no Estado-Maior da Armada (1970-1972). Talvez possa ter existido algum cruzamento fugaz e recente no Clube Militar Naval ou na Escola de Fuzileiros, onde o livro foi apresentado, mas apenas a nível de conhecimento à distância.

Não adquiri a obra mas foi-me cedida a título de empréstimo. Li-a de fio a pavio. Para lá de não ter qualquer observação a fazer quanto a qualidade literária e temas relatados de inspiração pessoal, militar ou até de ficção – bastante em minha opinião - encontro-me no direito de exprimir o meu marcado desagrado quanto às múltiplas e sistemáticas apreciações feitas pelo autor à forma como se refere aos oficiais da Reserva Naval.


Começo por informar que, pessoalmente, nunca em todo o meu tempo de permanência na Marinha de Guerra Portuguesa ouvi aplicar, em qualquer circunstância, o termo miliciano a um oficial, sargento ou praça daquela Instituição. Como “filhos da escola”, ouvi classificar muitos ou quase todos mas, miliciano, acrescentado a um léxico de termos náuticos ou navais, assume ser mesmo um étimo de grande e aberrante criatividade.

Logo no início da obra, durante a frequência do curso de Fuzileiro Especial, a partir de 23 de Março de 1967, escreve o autor:

“...Não havia qualquer oficial miliciano da Reserva Naval neste Curso de Fuzileiro Especial...”

Mais à frente na página 21, já em Moçambique volta à carga:

“...Agora ali, isolado no Cobué praticamente sem navegar, ou mais propriamente, navegando apenas na qualidade de “tropa transportada no lago” e sobretudo quando seguíamos para mais uma operação, sentia então uma inconfessável inveja de outros oficiais, quase todos milicianos, e que ali estavam paulatinamente a comandar as lanchas de fiscalização. As nossas missões eram de tal forma diferentes e contrastantes, que enquanto de um lado estavam esses compelidos milicianos na missão de comando de uma unidade naval, do outro lado estaríamos nós, enquanto oficiais de um Destacamento de Fuzileiros, a residir naquele horrível aquartelamento ...”

Mais à frente, a partir 3.ª feira, 24 de Março, na página 22:

“... Ainda que a responsabilidade e o risco da missão de comandar um grupo de homens em situações de combate fosse porventura a mais impressiva incumbência que naquele tempo se poderia exigir a um militar, bem ao contrário dessa nossa atribuição, os comandantes das lanchas não corriam riscos de guerra, eram mais bem remunerados e estavam numa missão muitíssimo mais cómoda, para a qual supostamente, quer pelos tirocínios realizados, quer pela formação académica naval, estaríamos mais preparados.

Já a bordo do Império notara esta outra curiosidade, embora de sinal contrário:

As nove Companhias do Exército eram todas comandadas por capitães milicianos, dos quais o juiz Neves Costa era o decano, enquanto apenas a unidade de Fuzileiros Especiais da Marinha era comandado por um oficial do Quadro Permanente. Verificava-se assim que no vasto conjunto de mais de sessenta oficiais que compunham aquelas forças ali embarcadas, apenas quatro oficiais eram dos Quadros Permanentes das Forças Armadas, nós os três da Marinha e o Alferes Glória Alves da Companhia de Comandos. Enquanto a Marinha privilegiava alguns oficiais milicianos, confiando-lhes naquele cenário do Lago Niassa uma missão menos desgastante, olhando então aquela amostra embarcada no Império, a intenção parecia inversa no Exército, o que provavelmente terá sido, naquele tempo de guerra, apenas uma situação de excepção, talvez só isso....”

Continua na página 46:

“...Já bem acordado...tive a grata surpresa da chegada da LF «Castor», que saira logo de madrugada de Metangula, comandada pelo Cabral Fernandes, um oficial miliciano que interrompera o curso de engenheiro agrónomo e cumpria o serviço militar na Marinha, na qual também vinha o meu amigo Guilherme Allen. Camarada de curso da Escola Naval e ainda do mesmo curso de Fuzileiro Especial....”

mls - não condiz com o relato do Comando da LFP “Castor”

Ainda na página 46:

“...Mal o tinha sabido, partiria logo para o Cobué ao nosso encontro na Lancha «Marte», comandada pelo subtenente Manuel Abecassis, e apareceria assim de surpresa para nos felicitar apenas algumas horas depois de termos enviado a mensagem...”

mls - O Manuel Abecassis já era então 2TEN RN desde 29.4.66

Ao primeiro de Abril, página 50:

“...Nesta operação participava a totalidade do nosso Destacamento, embarcada na lancha Mercúrio, comandada pelo 2.º tenente Torres Sobral, o único comandante de lancha que não era miliciano. A pequena unidade ia carregadíssima...”

mls - não condiz com o relato do próprio Comando da LFP “Mercúrio”

Continua em Setembro de 1967, página 96:

“...Contava e ainda reconta o Cabral Fernandes, com essa particularidade comum a muitos oficiais milicianos da Reserva Naval que cumpriram comissões nas três zonas de campanha em África...”

Depois de concluída a comissão, já em fase de substituição pelo DFE 9 mas ainda no Niassa, página 99:

“...O primeiro-tenente Joaquim Barreiros acabara de chegar ao Lago para chefiar a esquadrilha de lanchas e presidia nesse dia à mesa onde os oficiais subalternos se preparavam para mais um dos invariáveis repastos, quando se deu o impensável. Vinha aquele «maçarico» de mais um sofisticado gabinete de algum Almirante Superintendente ou de uma Divisão do Estado-Maior...”

mls - de meu conhecimento a referência está feita ao hoje CAlm Joaquim Espadinha Galo

Sobre a chegada do médico, Dr. Noivo, na página 115:

“...Logo à chegada, ainda na pista de terra batida, alguns oficiais em serviço na Base, a maioria milicianos da Reserva Naval, tinham aproveitado a oportunidade para simular um exercício de reacção...”

Pela primeira vez, parece haver tratamento adequado, na página 116:

“...pelo que ainda antes do Bastos e do Serra regressarem de Lisboa , se apresentou para cumprir os cerca de dez meses em falta para o fim da comissão, o Subtenente Fuzileiro da Reserva Naval, Armando Santos Martins. Em meados de Janeiro, já com a Unidade recomposta e face à minha lesão, com ele a «jogar» no meu lugar...”

mls - Alguma consideração especial por se tratar de um oficial do mesmo Destacamento, substituto do autor ou por ter dedicado uma poesia à Unidade?

Ou ainda na página 129:

“...certificação que o havia de habilitar a ir pilotar um avião Dornier que prestava serviço em Metangula, oferta à Marinha da empresa Lusalite, propriedade da família do Manuel Abecassis, um oficial da Reserva Naval que comandava uma das lanchas do Lago Niassa, a “Júpiter”...”

mls - Deferência especial por ter em conta a oferta à Marinha?

Novamente na página 191:

“...Ao regressar a Moçambique, reencontrara na Escola de Fuzileiros o Frederico Rebelo (8.º CEORN), oficial miliciano da Reserva Naval, também chegado de uma longa comissão do leste de Angola...”

mls - O 2TEN FZ RN Frederico da Luz Rebelo, já falecido, oficial da Reserva Naval do mesmo curso que eu, 8.º CEORN, mereceria mais correcta referência, até tendo em conta o relacionamento de amizade havido com o autor.

Ainda na página 206:

“...No entanto, num certo dia em que eu entrava despreocupadamente num café onde era assíduo frequentador, ouviu da boca do João Reis, um subtenente miliciano que regressara há pouco do Lago Niassa...”

Notas finais:

“O Anuário da Reserva Naval 1958 - 1975”, Lisboa, 1992, é uma co-autoria dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, ambos do mesmo curso do autor de “O Quarto da Alva”, o curso Oliveira e Carmo da Escola Naval. Ao longo de 144 páginas esplana de forma clara, objectiva e pormenorizada, a necessidade que a Marinha teve de recorrer às Universidades para preencher a insuficiência de quadros de oficiais subalternos, exigência resultante do alargamento imposto pelo conflito armado que o país enfrentou então - a Guerra do Ultramar.

– Para quem leu aquele Anuário, correu os olhos pela listagem e ficou a conhecer a história resumida dos 1.712 Oficiais da Reserva Naval que integraram 25 cursos entre 1958 e 1975, tem sérias dificuldades em identificar algum deles como sendo um dos referidos ao longo das mais de três centenas de páginas, mais ou menos romanceadas de “O Quarto da Alva”, num modelo de escrita que, nas múltiplas referências à classe de Oficiais da Reserva Naval, se mostra leviano, depreciativo, subalternizante e até revelando pouco respeito pela própria Instituição onde, Personalidades de outro nível Cultural e Hierárquico, definiram as escolhas para a classe da Reserva Naval e o porquê dessas escolhas.




In "Wikipédia" Milícia (do latim militia) corresponde a uma designação genérica das organizações militares ou paramilitares, ou de qualquer organização que apresente grande grau de actuação. Stricto sensu, o termo refere-se a organizações compostas por cidadãos comuns armados (apelidados de milicianos), ou com poder de polícia que, em princípio, não integram as forças armadas ou a polícia de um país. As milícias podem ser organizações oficiais mantidas parcialmente com recursos do Estado e em parceria com organizações de carácter privado, muitas vezes de legalidade duvidosa. Podem ter objetivos públicos de defesa nacional ou de segurança interna, ou podem actuar na defesa de interesses particulares, com objectivos políticos e monetários. São ainda consideradas milícias todas as organizações da administração pública terceirizada e que possuam estatuto militar, não pertencendo no entanto às Forças Armadas de um país, isto é, ao Exército, Marinha de Guerra ou à Força Aérea.

Fontes:
Anuário da Reserva Naval dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado; O Quarto da Alva, Raul Patrício Leitão, Âncora Editores;

mls

28 janeiro 2022

Fragata “Dom Fernando II e Glória” - História, reconstrução e documentação


Fragata “Dom Fernando II e Glória” - História, reconstrução e documentação


A publicação neste post de retalhos da vasta documentação histórica existente sobre a Fragata “Dom Fernando II e Glória” só foi possível por cedências diversas de personalidades ligadas à História, Incêndio e Reconstrução daquela nau da Marinha portuguesa e que culminou com a sua participação na Expo ’98 no Parque das Nações.

De forma referenciada nesta linha de pensamento, publicam-se sem grande preocupação de enquadramento cronológico, algumas de algumas das significativas etapas do percurso da mais notável fragata à vela que navegou entre 1845 e 1878. Actualmente como navio museu, na dependência do Museu da Marinha, está classificada como UAM - Unidade Auxiliar da Marinha, sendo a quarta fragata de guerra mais antiga do mundo.

Especificamente, após a conclusão da reconstrução, só nos foi possível o acesso ao texto já publicado nos Anais do Clube Militar Naval, por especial deferência do seu autor e também o primeiro Comandante da Fragata depois de reconstruída, CMG Adriano Beça Gil (Ref).

Ver em:

A pedido da Direcção da Associação dos Oficiais da Reserva Naval (AORN) o Comandante concedeu igualmente uma entrevista em 23 de Março de 1999 e na qual participei com outro camarada. Foi publicada na revista da Associação n.º 9, ano IV, Jan/Mar 1999.

Ver em:

Durante a entrevista, com a colaboração de um profissional, foi-nos permitido fotografar muitos dos variados motivos de interesse daquela UAM, então atracada na Doca do Espanhol em Alcântara.

Este conjunto fotográfico de 54 slides não é do conhecimento público.




Fontes:
Texto gentilmente cedido pelo autor, CMG Adriano Beça Gil (Ref), enquanto Director do Museu de Marinha e já anteriormente publicado no Anuário do Clube Militar Naval, Vol. CXXXIV, Abril-Junho 2004, pags. 325-358 com imagens do Museu de Marinha; entrevista publicada na Revista da Associação dos Oficiais da Reserva Naval – AORN, n.º 9, ano IV, Jan/Mar 1999; foto inicial de capa da mesma revista do autor do blogue;


mls