Guiné, 1971/1973-CCav 3404, 36 anos depois do regresso
(Post reformulado a partir de outro já publicado em 18 de Outubro de 2009)
Guarda de honra por pelotão e terno de clarins do RAAC de Queluz.
Um pouco por todos os municípios do país, em praças ou largos criteriosamente escolhidos, estão espalhados símbolos de um passado próximo que marcaram pelo sacrifício e sofrimento uma geração inteira de mães, mulheres e familiares, privados do convívio de filhos, pais, maridos, irmãos ou simples amigos.
São sempre carregadas de significado e emoção as cerimónias de evocação e homenagem àqueles que, numa guerra que se prolongou por uma dúzia de anos, caíram, regressaram diminuídos ou combateram ao serviço de Portugal, na Guiné, em Angola ou Moçambique.
A efeméride de um já ido Sábado, 17 de Outubro de 2009, em Cascais, levada a cabo por elementos da antiga CCav 3404, junto ao quartel da Cidadela, no antigo CIAAC já desactivado, foi mais um exemplo dessa determinação, reunindo acima de uma centena de pessoas entre elementos da referida Companhia, Familiares, Amigos ou como meros transeuntes.
A CCav 3404, comandada pelo Cap Cav Luis Fernando Andrade de Moura juntamente com as CCav 3405/3406/CCS fez parte do BCav 3854 que embarcou para a Guiné em 4 de Julho de 1971 no NM «Angra do Heroísmo», arvorado em Transporte de Tropas. Atracou em Bissau em 9 de Julho desse mês, depois de ter efectuado uma escala no Funchal para desembarcar um militar acometido de apendicite aguda.
O NM/TT «Angra do Heroísmo».
Foi capitão de bandeira do navio o CTEN Engrácio Lopes Cavalheiro personalidade da Marinha já conhecida dos cursos da Reserva Naval por ter sido, anteriormente, um dos instrutores do 8.º CEORN na Escola Naval.
Como nota complementar curiosa, no mesmo navio e também para a Guiné, seguiu a CCav 3420 comandada pelo então Capitão de Cavalaria Fernando José Salgueiro Maia.
Nos dias 10, 11 e 13 seguintes, a LDG «Alfange», comandada pelo 1TEN João Manuel Lopes Pires Neves e tendo como oficial imediato o 2TEN RN Duarte José de Melo Borges Coutinho do 16.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, transportou para o Xime, na margem esquerda no rio Geba e um pouco acima da confluência com o Corubal, pessoal e material daquele batalhão.
O rio Geba, de Bissau até ao Xime, na margem esquerda, a montante da foz do rio Corubal.
A CCav 3405, mais tarde, efectuou o percurso por Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego, inflectindo para sudeste para Cabuca, junto ao rio Corubal e à fronteira leste, onde permaneceu durante dois anos desempenhando as diversas missões que lhe foram atribuídas.
A sudeste de Nova Lamego, a povoação de Cabuca.
No dia 12 o mesmo NM/TT «Angra do Heroísmo» regressou a Lisboa, trazendo de volta, por ter terminado a comissão, o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 3, comandado pelo 1TEN José Manuel Velho da Silva Dias que desempenhou igualmente as funções de Comandante das forças embarcadas.
Eram seus oficiais os 2TEN João Joaquim Teles Ribeiro (Oficial Imediato), 2TEN FZ RN José Pedro Pimentel Mesquita e Carmo do 14.º CFORN, 2TEN FZ RN Miguel Duarte Ferreira Castro Soares do 14.º CFORN e ainda o 2TEN FZ RN Francisco Ruy Pato de Góis Oliveira do 15.º CFORN. O navio atracou ao cais da Rocha Conde de Óbidos, no dia 17.
Mais de dois anos depois, em 11 de Setembro de 1973 a LDG «Montante» comandada pelo 1TEN Pedro Manuel Couceiro de Sousa Santos e tendo como oficial imediato o 2TEN RN José António Barbot Veiga de Faria do 21.º CFORN, trouxe de volta, do Xime para Bissau, a mesma unidade, a CCav 3404.
A 4 de Outubro seguinte, aquela unidade do Exército juntamente com outras, embarcaram de regresso a Lisboa no NM/TT «Niassa» que, já tendo sido escoltado na ida pela corveta «Honório Barreto» foi-o, no regresso e até á bóia de espera do Caió, pelo navio-patrulha «Quanza», estacionado na Guiné. Integrava a guarnição desta unidade naval o 2TEN RN Vitor Correia Guimarães do 18º CFORN.
O navio TT «Niassa».
Foi capitão de bandeira o CFR Joaquim Armando Cabeçadas da Silva Reis e a viagem decorreu sem incidentes com o apoio longínquo da fragata «Comandante João Belo», estacionada em Cabo Verde, fazendo parte da sua guarnição o STEN RN Cândido José Dominguez dos Santos do 21º CFORN. O navio foi ainda sobrevoado por um avião P2V5 Neptune daquela zona aérea.
A viagem de retorno completou-se sem incidentes e, em 11 de Outubro, depois de ter ficado a pairar em S. José de Ribamar por ter encontrado intenso nevoeiro na entrada da barra do rio Tejo, o navio atracou mais tarde ao cais de Alcântara.
A reconstrução simplificada deste pequeno “puzzle” de memória histórica, ilustra bem o notável trabalho logístico levado a cabo pela Marinha dos anos '60 no transporte e apoio às unidades militares que, como aquelas, ali estiveram estacionadas.
Simultaneamente, pode fazer-se uma pálida ideia do que representará a reconstituição detalhada do gigantesco rendilhado da memória histórica dos diferentes teatros de guerra, articulando os acontecimentos havidos pelos três ramos das Forças Armadas durante uma dúzia de anos de conflito.
Os modelos expostos por Mário Cavalleri, militar da Companhia e organizador do evento.
36 anos depois, em ambiente de agradável e são convívio, reviveram-se acontecimentos passados em que também estiveram representados alguns modelos das unidades e armamento então utilizados pelos três Ramos das Forças Armadas em serviço na Guiné, sendo visíveis um modelo da LFP «Bellatrix», outro da LDM 304, e ainda um avião Dornier DO 27.
Foi uma honra ter estado presente como convidado!
Fontes:
Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; texto do autor do blogue compilado a partir de documentação cedida por Mário Cavalleri, militar da CCav 3404; fotos de arquivo do autor do blogue;
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