28 dezembro 2016

Lago Niassa - Base Naval de Metangula, 1964/75 (2)


Reserva Naval nas CF - Companhias de Fuzileiros Navais

(final)


De 1964 a 1975, 12 Companhias de Fuzileiros Navais integraram o dispositivo da Marinha de Guerra em Moçambique que tiveram como bases de estacionamento Lourenço Marques (Machava) e Lago Niassa (Metangula), ainda que ao longo do tempo tivessem cedido pelotões de reforço em vários locais, consoante as necessidades operacionais.

Um total de 76 oficiais integraram o conjunto das CF, dos quais 25 (3 médicos navais) pertenceram aos Quadros Permanentes (32,9%) e 51*(2 médicos navais) à Reserva Naval (67,1%), sendo o comandante de cada uma das unidades dos QP.

Além das Companhias de Fuzileiros o dispositivo incluiu ainda 7 Pelotões de Reforço, dos quais dois foram também comandados por Oficiais da Reserva Naval e os restantes por Sargentos.

Num caso, o oficial que comandou a CF 7 (1973/74), 1TEN Mário José do Santos Carvide, já tinha efectuado comissão anterior como oficial da Reserva Naval no DFE 6, Guiné - 1966/67, tendo ingressado posteriormente no quadro.




CF2 (1962/65)

1TEN José Carlos de Melo Borges Delgado, QP (Comandante)
2TEN José Manuel da Costa Ilharco Moura, QP
2TEN FZ RN Alexandre Manuel Cruz Mendes, 4º CEORN
2TEN FZ RN Eduardo Oloíso Tavares da Costa, 5º CEORN
2TEN RN Carlos Alberto Beatriz da Costa Miranda, 4º CEORN
2TEN RN Luís António Calheiros da França e Sousa, 4º CEORN
2TEN RN José Maria Raposo de Sousa Abecassis, 4º CEORN
2TEN MN RN António Santos Magalhães, 4º CEORN

CF6 (1965/67)

1TEN Heitor Prudêncio dos Santos Patrício, QP (Comandante)
2TEN MN Humberto de Vasconcelos Gonçalves, QP
2TEN António Bernardo Brito e Cunha, QP
2TEN RN Agostinho Cortes Caro Quintiliano, 6º CEORN
2TEN RN Joaquim Manuel Rebordão Esteves Pinto, 6º CEORN
2TEN FZ RN Armando Luiz Clemente de Bayão Marçal Corrêa
2TEN FZ RN Francisco Xavier Mata de Santa Rita Colaço
2TEN FZ RN Eduardo Bello Van Zeller, 8º CEORN
2TEN FZ RN José Manuel Raposo da Silva Peixoto, 8º CEORN
2TEN FZ RN Manuel Renipundo Monteiro Coutinho, 8º CEORN

CF8 (1965/68)

1TEN Jaime Barata Botelho, QP’s (Comandante)
2TEN Carlos Alberto Branco Martins Rosa Garoupa, QP
2TEN FZ RN Augusto César Gaspar Ferraz, 7º CEORN
2TEN FZ RN João Garcia Ribeiro, 7º CEORN
2TEN FZ RN Joaquim Miguel Calhau Barrocas, 7º CEORN
2TEN FZ RN José Sebastião Raposo Alves Saltão, 7º CEORN
2TEN FZ RN José Luís Sequeira Abrantes, 9º CFORN
2TEN FZ RN Aristides Alves do Nascimento Teixeira, 9º CFORN (correcção)
2TEN MN Dinis da Silva Noivo, QP

CF2 (1967/69)

1TEN José Manuel Oliveira Monteiro, QP (Comandante)
2TEN Pedro Miguel Peixoto Correia do Amaral, QP
2TEN FZ RN Manuel Renipundo Monteiro Coutinho, 8º CEORN
2TEN FZ RN José Manuel Raposo da Silva Peixoto, 8º CEORN
2TEN FZ RN Luis Filipe de Azevedo Araújo Neves, 8º CEORN
2TEN FZ RN Aristides Alves do Nascimento Teixeira, 9º CFORN (correcção)
2TEN FZ RN Carlos Alberto Correia de Matos e Silva, 9º CFORN
2TEN MN RN Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos, 8º CEORN

CF4 (1968/70)

1TEN António Pereira Varandas, QP (Comandante)
2TEN José Manuel Narciso de Sousa Henriques, QP
2TEN FZ RN José Luís Sequeira Abrantes, 9º CFORN
2TEN FZ RN Albertino da Silva, 10º CFORN
2TEN FZ RN Mário Artur Rodrigues de Almeida, 10º CFORN
2TEN FZ RN João António Rodeia Peneque, 10º CFORN
2TEN MN RN Mário Orlando Matos Bernardo, 9º CFORN
2TEN FZ RN João Alberto de Bettencourt Dias, 11º CFORN

CF1 (1969/71)

1TEN António Lucas Dias da Costa, QP (Comandante)
2TEN SG Amélio da Silva Cunha, QP
2TEN FZ RN Ernesto de Matos Durão, 13º CFORN
2TEN FZ RN Apolino Luz Martins, 13º CFORN
2TEN FZ RN Francisco Luís Tavares de Sousa Gomes, 13º CFORN

CF2 (1970/72)

1TEN Serafim Simões da Silveira Pinheiro, QP (Comandante)
2TEN SG Bernardino Rodrigues, QP
2TEN MN Osvaldo de Barros Mendes, QP
2TEN FZ RN António Maria Amaro Monteiro, 13º CFORN
2TEN FZ RN Sebastião Tavares Coutinho, 13º CFORN
2TEN FZ RN Vitor Manuel Gonçalves Cabeço, 13º CFORN
2TEN FZE RN José Diogo Coelho da Silva Passos, 16º CFORN

CF10 (1971/73)

1TEN Fernando Alberto dos Santos Lourenço, QP (Comandante)
2TEN SG Manuel Pereira Bicho, QP
2TEN FZE RN José Conde Figueiral Rebelo, 16º CFORN
2TEN FZ RN Eduardo Rui Gago de Carvalho e Cunha,16º CFORN (correcção)
2TEN FZ RN Carlos Alberto de Menezes Feio Duro, 17º CFORN
2TEN FZ RN Duarte Rodrigo Cardoso Belard da Fonseca, 20º CFORN
2TEN FZ RN Artur Eduardo Chaves da Fonseca, 16º CFORN

CF9 (1972/74)

1TEN Eduardo Eugénio Castro de Azevedo Soares, QP (Comandante)
2TEN SG Virgílio André Parola, QP
2TEN FZ RN José Inácio Gonçalves Mimoso Padre, 17º CFORN
2TEN FZ RN Manuel Augusto Simões Morgado, 18º CFORN
2TEN FZ RN António José Miranda Correia, 18º CFORN
2TEN FZ RN José Luís Calheiros Ferreira, 18º CFORN
2TEN FZ RN Roque Gomes dos Santos, 18º CFORN

CF7 (1973/74)

1TEN FZ Mário José dos Santos Carvide, QP (Comandante)
2TEN SG José Manuel Estevens Ferreira, QP
2TEN FZ RN José António de Oliveira Rocha e Abreu, 19º CFORN
2TEN FZ RN José Amaro Martins Carmona e Costa, 21º CFORN
2TEN FZ RN Jorge de Oliveira Cardoso Fernandes, 21º CFORN
2TEN FZ RN Nuno Eça de Queiroz Cabral, 21º CFORN

CF11 (1973/74)

1TEN EMQ José Eduardo Martins dos Reis, QP (Comandante)
2TEN SG Norberto Baptista Lourenço, QP
2TEN FZ RN Carlos Manuel Alves Martins, 20º CFORN
2TEN FZ RN João Manuel Pereira Forjaz de Sampaio, 20º CFORN
2TEN FZ RN Eduardo Augusto de Oliveira Pereira Machado, 20º CFORN
2TEN FZ RN Luís Mário Pais Paiva de Andrade, 21º CFORN

CF10 (1974/75)

1TEN José Manuel Narciso de Sousa Henriques, QP (Comandante)
2TEN SG Manuel Rodrigues, QP
2TEN FZ RN José Lopes da Cruz, 22º CFORN
2TEN FZ RN António Pedro Queirós Vendrell Santos, 22º CFORN
2TEN FZ RN Francisco Maria Castel Branco Potes Cordovil, 22º CFORN
2TEN FZ RN João Sérgio dos Santos Cardoso, 22º CFORN

Pelotão de Reforço (1968/70)

2TEN FZ RN Carlos Alberto Correia de Matos e Silva, 9º CFORN (Comandante)

Pelotão de Reforço (1970/72)

2TEN FZ RN Mário Themudo da Costa Macedo, 13º CFORN (Comandante)


* Dois dos oficiais da CF6 (1965/67) repartiram alargadamente os tempos de comissão pela CF 2 (1967/69)





Fontes:
Factos e Feitos da Guerra de África - Moçambique, Comissão Cultural da Marinha, 2006, Luís Sanches de Baêna; Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, Lisboa, 1992, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado;fotos cedidas pela Escola de Fuzileiros;




Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

26 dezembro 2016

Lago Niassa - Base Naval de Metangula, 1964/75 (1)


Reserva Naval nos DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais





De 1964 a 1975, 19 Destacamentos de Fuzileiros Especiais integraram o dispositivo da Marinha de Guerra em Moçambique que, pela rotatividade periódica de locais de estacionamento, desempenharam missões em todo o território de forma idêntica, especialmente, no Lago Niassa - Metangula ou Cobué – e também em Porto Amélia. Ainda o Ibo, Mocojo, Tete, Magoé Velho, e Tchiroze foram locais pontuais de actuação.




Um total de 75 oficiais integraram o conjunto dos DFE, pertencendo 32 aos Quadros Permanentes (42,7%) e 43 (57,3%) à Reserva Naval, sendo o comandante de cada uma daquelas Unidades dos QP.

Em dois casos, os oficiais que comandaram os destacamentos já tinham efectuado comissões anteriores como oficiais da Reserva Naval.

Foram eles:

Pedro Salgado Baptista Coelho, do 7.º CEORN que, tendo pertencido ao DFE 5 (1965/67) naquele teatro, veio a comandar o DFE 9 (1969/71), no mesmo local. De forma idêntica, Vasco Manuel Teixeira da Cunha Brazão, do 11.º CFORN integrou, na Guiné, o DFE 13 (1968/70), vindo a comandar em Moçambique o DFE 11(1972/74). Em ambos os casos, depois de ingressarem nos Quadros Permanentes vieram a desempenhar diversas funções de comando, atingindo o posto de Capitão-de-mar-e-guerra.

DFE 1 (1964/66)

1TEN Maxfredo Ventura da Costa Campos, QP (Comandante)
2TEN Fernando Alberto Gomes Pedrosa, QP
2TEN FZE RN António da Silva Pereira Jardim, 6.º CEORN

DFE 12 (1965/67)´

1TEN João António Serra Rodeia, QP (Comandante)
2TEN Luís Henriques Lopes Silva de Carvalho, QP
2TEN FZE RN João Frederico Campos Burnay, 7.º CEORN

DFE 5 (1965/67)

1TEN José Luís Pinto Gomes Teixeira, QP (Comandante)
2TEN Carlos António David Silva Cardoso, QP
2TEN FZE RN Pedro Salgado Baptista Coelho, 7.º CEORN

DFE 8 (1966/68)

1TEN João Carlos da Fonseca Pereira Bastos, QP (Comandante)
2TEN José Manuel Mala Ferreira Serra, QP
2TEN Raúl Patrício Leitão, QP
2TEN FZE RN Armando António dos Santos Martins, 10.º CFORN

DFE 9 (1967/69)

1TEN António Luís Santarém da Cruz, QP (Comandante)
2TEN António Eduardo Barbosa Alves, QP
2TEN FZE RN Raúl Henrique Cardoso da Sena Belo, 10.º CFORN
2TEN Guilherme Eduardo Trigo Allen, QP

DFE 1 (1967/69)

1TEN Carlos Jorge Ferreira de Magalhães Queiroz,QP (Comandante)
2TEN Luís António Pinto Basto Ribeiro Ferreira, QP
2TEN FZE RN José Manuel Matos Moniz, 8.º CEORN
2TEN FZE RN António Manuel Ponce de Leão Bettencourt, 10.º CFORN

DFE 4 (1967/69)

1TEN FZ José de Almeida e Costa Cardoso Moniz, QP (Comandante)
2TEN António Maria Catarino da Silva, QP
2TEN FZE RN José David Rodrigues Teixeira, 10.º CFORN
2TEN FZE RN Manuel Augusto Lopes, 10.º CFORN

DFE 6 (1968/70)

1TEN Hermenegildo Duarte Lourenço, QP (Comandante)
2TEN Manuel Amândio Francisco Pina, QP
2TEN FZE RN António José Rodrigues da Hora, 11.º CFORN
2TEN FZE RN José Floriano Lopes Fernandes, 12.º CFORN

DFE 5 (1969/71)

1TEN Luís Filipe Vidigal Aragão, QP (Comandante)
2TEN Joaquim Francisco de Almada Paes de Villas-Boas, QP
2TEN FZE RN Antides Rama de Oliveira Santo, 12.º CFORN
2TEN FZE RN António Lopes Fernandes, 12.º CFORN

DFE 9 (1969/71)

1TEN FZ Pedro Salgado Batista Coelho, QP (Comandante)
2TEN FZE RN António Nobre Rama, 13.º CFORN
2TEN FZ RN Vitor Manuel Lima Palmeira, 13.º CFORN
2TEN FZ RN Ismael da Costa Monteiro, 13.º CFORN

DFE 11 (1969/72)

1TEN Carlos Alberto Fernandes Maia, QP (Comandante)
2TEN Luís Alberto Cristiano de Oliveira, QP
2TEN FZE RN António Bento Martins Ferraz, 14.º CFORN
2TEN FZE RN Hélio Tavares Caló, 14.º CFORN

DFE 2 (1970/72)

1TEN José Manuel Ferreira de Gouveia,QP (Comandante)
1TEN José Luís Rodrigues Portero, QP
2TEN FZE RN Manuel Ribeiro Cardoso Rosa, 15.º CFORN
2TEN FZE RN José Jacinto de Almeida Vasconcelos Raposo, 15.º CFORN

DFE 7 (1971/72)

1TEN António Sadler Simões, QP (Comandante)
2TEN FZE RN Avelino Jorge da Silva Oliveira, 16.º CFORN
2TEN FZE RN António Manuel Mateus, 16.º CFORN
2TEN FZE RN António Luís Monforte Cunha e Silva, 15.º CFORN
2TEN FZE RN David Ribeiro de Sousa Geraldes, 18.º CFORN

DFE 5 (1971/73)

1TEN Pedro Manuel Ferreira Bastos Moreira, QP (Comandante)
2TEN FZE RN José Henriques Rodrigues Franco, 17.º CFORN
2TEN FZE RN Joaquim Pires dos Santos, 17.º CFORN
2TEN FZE RN Carlos Manuel Alves Martins, 20.º CFORN
2TEN FZE RN Luís Emanuel das Dores Ricardo, 16.º CFORN

DFE 9 (1971/73)

1TEN João Manuel Balançuella Bandeira Ennes, QP (Comandante)
2TEN FZE RN Francisco Manuel Lhano Preto, 17.º CFORN
2TEN FZE RN António Maria Allen Burnay Bello, 18.º CFORN
2TEN FZE RN Carlos Alberto Amado Pereira da Silva, 18.º CFORN
2TEN FZE RN António Guilherme Berbereia Ribeiro Moniz, 20.º CFORN

DFE 3 (1972/74)

1TEN EMQ José Matias Cortes, QP (Comandante)
2TEN FZE RN José Manuel Siguensa de Barahona Fragoso, 17.º CFORN
2TEN FZE RN António Agostinho Lucas da SIlva, 18.º CFORN
2TEN FZE RN Domingos de Sousa e Holsten Salgado, 18.º CFORN

DFE 11 (1972/74)

1TEN FZ Vasco Manuel Teixeira da Cunha Brazão, QP (Comandante)
2TEN FZE RN Pedro Segismundo do Valle Teixeira, 19.º CFORN
2TEN FZE RN Joaquim Maria Feijó, 20.º CFORN
2TEN FZE RN José Joaquim Pereira Simões, 23.º CFORN

DFE 8 (1973/74)

1TEN EMQ António Manuel Martins, QP (Comandante)
2TEN FZE RN Luís Alberto Pessoa de Fonseca Castro, 21.º CFORN
2TEN FZE RN Leopoldo Maria Lemos da Cunha Matos, 22.º CFORN

DFE 10 (1974/75)

1TEN Fernando Manuel de Oliveira Vargas de Matos, QP (Comandante)
2TEN FZE RN António Humberto Batista Dias, 22.º CFORN
2TEN FZE RN Benjamim de Jesus Correia, 23.º CFORN
2TEN FZE RN José Carlos da Mota Rodrigues, 23.º CFORN


(a continuar)



Fontes:
Factos e Feitos da Guerra de África - Moçambique, Comissão Cultural da Marinha, 2006, Luís Sanches de Baêna; Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, Lisboa, 1992, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado;fotos cedidas pela Escola de Fuzileiros;




Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

17 dezembro 2016

A Epopeia da LDM 302 na Guiné (2)


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 2 de Dezembro de 2008)

(continuação)

Novo ataque e incêndio da lancha em 10 de Junho de 1968


No dia seguinte, a 20 de Dezembro, equipas do SAO - Serviço de Assistência Oficinal e da secção de mergulhadores sapadores, rumaram para Ganturé embarcadas na LFG «Sagitário» com a finalidade de procederem ao salvamento da LDM 302. Aquela unidade naval, conjuntamente com a LFP «Canopus», garantiram apoio próximo e também escolta ao rebocador «Diana».




A LDM «302» em Ganturé durante a manobra de encalhe para recuperação

Reposta a lancha a flutuar e ainda sob escolta da mesma LFG, foi rebocada para Bissau, onde subiu o plano inclinado no dia 23. Os trabalhos de reparação prolongaram-se até 6 de Janeiro do ano seguinte.

Dia de alegria e também de orgulho para toda a equipa, foi aquele em que a LDM «302» içou à popa a bandeira nacional e recomeçou a navegar com nova guarnição, pronta para outras missões.




Depois de recuperada, a LDM «302» navega em experiências

Entendeu o Comando da Esquadrilha de Lanchas que deveria regressar ao rio Cacheu, agora integrada na organização operacional do dispositivo de contra-penetração ali montado, a Operação «Via Láctea», que viria a manter-se até final de 1971.

Seis meses depois do primeiro afundamento e exactamente no mesmo local, Porto de Coco, Tancroal, no dia 10 de Junho, descendo também o Cacheu, foi novamente atacada com canhão sem recuo, lança-granadas foguete, morteiros, metralhadoras pesadas e armas ligeiras, numa dura demonstração de poder de fogo do inimigo.



Em cima, no rio Cacheu, assinalado o Tancroal, o mesmo local de ataque à LDM «302»

Apesar da reacção imediata da LDM «305», comandada pelo cabo de manobra Lobo que navegava nas suas águas, logo aos primeiros disparos do inimigo foi atingido mortalmente por uma munição de lança-granadas foguete o grumete artilheiro António Manuel. Outro projéctil idêntico atingiu o escudo da Oerlinkon, fragmentando-se em numerosos estilhaços que feriram com gravidade, no tronco e nas pernas, o marinheiro artilheiro Manuel Luís Lourenço da Silva.

Mesmo ferido, continuou o artilheiro a fazer fogo sobre o inimigo, até que uma granada de morteiro deflagrou no poço da lancha, ateando um incêndio que se propagou à cobertura do poço e ao bote de borracha, provocando tal fumarada que o forçou a abandonar o posto da peça.

Ajudado pelo marinheiro fogueiro Ludgero Henrique de Oliveira, lançou o bote à água, fazendo o mesmo com o depósito de gasolina, pelo perigo que constituia. Colocaram o camarada já sem vida à popa, a salvo das chamas, voltando seguidamente à peça e continuando a fazer fogo até calar o inimigo.

O incêndio já tinha tomado proporções alarmantes estendendo-se a toda a lancha e o patrão, cabo de manobra Francisco Pereira da Silva, resolveu abicar à margem Norte. Saltaram então para a água e nadaram para terra conseguindo atingir o tarrafo.

A LDM «305», que não fora atingida, aproximou-se do local, embarcou todos os elementos e seguiu para Ganturé, onde o patrão da lancha, em estado de choque e o marinheiro artilheiro ferido, foram evacuados de avião juntamente com o corpo do artilheiro morto em combate.

No dia seguinte, a LDM “302” que continuava a arder foi rebocada pela LDM “305” para Ganturé, onde mais uma vez a equipa SAO e uma equipa de mergulhadores sapadores, com guarda montada por um destacamento de fuzileiros especiais a conseguiram repor em condições de ser rebocada para Bissau.




A LDM «302» encalhada em Ganturé, após o incêndio

Apoio próximo dado pelas LFP «Canopus» e LFG «Orion», tendo esta última procedido ao reboque da lancha até Barro, continuado depois pelo rebocador «Diana» até Bissau, com escolta daquela LFG.

Além dos elementos referidos, faziam igualmente parte da guarnição da LDM «302» o marinheiro telegrafista António Marques Martins e o marinheiro fogueiro Manuel Fernando Seabra Nogueira.

... e novamente recuperada, já não voltou ao Cacheu!

Em 26 de Julho voltou a subir o plano inclinado donde saíra quinze dias antes, mantendo-se ali em reparações até 10 de Novembro, data de aprontamento para regressar às habituais fainas.

Sabido que, na generalidade dos casos, os marinheiros são supersticiosos, não seria de estranhar que as guarnições da LDM «302» fossem sedimentando a convicção de que a lancha não se dava bem com os ares do Cacheu.

Compreensivelmente, o Comando da Esquadrilha de Lanchas decidiu-se pelo não regresso da lancha àquele rio, atribuindo-a à TU4*, conjunto de unidades navais encarregadas de manter o dispositivo de contra-penetração no rio Grande de Buba e com as mesmas missões de sempre, ou seja, transporte de forças de desembarque, apoio de fogo em operações militares e escoltas a combóios mercantes além de outras acções.

Já em 1969, pelas 11:30 horas do dia 18 de Fevereiro, quando navegava em missão de fiscalização, frente à foz do rio Uajá, afluente do rio Grande de Buba, foi atacada violentamente da margem esquerda com canhão sem recuo, lança-granadas foguetes e ainda metralhadoras ligeiras e pesadas.

Logo aos primeiros disparos, a cobertura da lancha ficou parcialmente destruída e foi ferido com gravidade o marinheiro artilheiro Dimas de Sousa Correia que, mesmo perdendo muito sangue, se manteve no seu posto de combate, disparando ainda quatro carregadores da Oerlinkon sobre o inimigo.

Talvez o seu sacrifício tenha evitado piores consequências ainda que, mesmo assim, registassem ferimentos ligeiros o marinheiro telegrafista, já mencionado em ocasião anterior, e o marinheiro fogueiro Custódio Mestre Paquete.

Houve igualmente um princípio de incêndio, originado por estilhaços dum projéctil de lança-granadas foguete que atingiu a cobertura do poço, mas foi rapidamente extinto.

O patrão da lancha era o cabo de manobra Manuel António Inácio, e ainda fazia parte da guarnição o marinheiro fogueiro Nogueira, numa prova evidente e confirmando o popular ditado de que não há duas sem três...




Cinco homens da guarnição que sofreu o último ataque, da esquerda para a direita: Mar CM Paquete, Cabo M Inácio, Mar A Correia, Mar CM Nogueira e Mar CE Martins (o penúltimo estava presente em três ataques à lancha e o último, no segundo e terceiro ataques).

Depois de evacuados e substituídos os elementos da guarnição referidos neste combate, a LDM «302» continuou a cumprir as habituais missões no rio Grande de Buba.

Até ao final da sua vida operacional, nunca mais foi atacada a gloriosa e nobre LDM «302». Passou à situação de desarmamento em 27 de Julho de 1972, tendo sido abatida ao efectivo dos navios da Armada em 30 de Novembro desse mesmo ano.

Notável historial de uma pequena unidade da Marinha de Guerra, a roçar a ficção ou o lendário, não tivessem sido reais os combates travados e as baixas sofridas. Os elementos das sucessivas guarnições, sem excepção, honraram ao mais alto nível um dever pátrio, no cumprimento das missões de que foram incumbidos, pagando alguns deles com a vida, a dedicação, a determinação e o estoicismo.

Estarão sempre presentes na nossa memória!



* TU4 - Task Unit 4

Das Unidades presentes:

• LFG «Sagitário» tinha como oficiais: 1TEN Joaquim Manuel Vaz Chaves Ubach (Comandante) e 2TEN RN José Horácio Gomes de Miranda (Imediato);
• LFG «Orion» tinha como oficiais: 1TEN Luis Joel Alves de Azevedo Pascoal (Comandante) e STEN RN Luis Mendes do Nascimento (Imediato);
• LFP «Canopus» tinha como oficial: STEN RN Henrique Nunes de Oliveira Pires (Comandante).


Fontes:
Arquivo de Marinha, Revista da Armada n.º 129 de Julho 1982, Setenta e Cinco Anos no Mar da Comissão Cultural da Marinha - Volumes diversos; Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, 1992; Fuzileiros-Factos e Feitos na Guerra de África, 1961-1974, Crónica dos Feitos da Guiné, Luís Sanches de Baêna, Comissão Cultural da Marinha, 2006;


mls

16 dezembro 2016

A Epopeia da LDM 302 na Guiné (1)


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 28 de Novembro de 2008)

19 de Dezembro de 1967 – O ataque e afundamento da lancha




A LDM «302» antes de seguir para a Guiné a bordo de um navio mercante


A «LDM 302», de que apenas o casco veio dos EUA em 1963, foi adaptada nos estaleiros da Argibay, onde permaneceu para esse efeito de 9 de Outubro desse ano a fins de Janeiro do ano seguinte.

Foi aumentada ao efectivo das navios da Armada em 18 de Janeiro de 1964.

Chegou à Guiné, Bissau, a bordo de um navio da Marinha Mercante, na manhã de 23 de Fevereiro desse ano. Era seu patrão de então o marinheiro de manobra n.º 2156, Aristides Lopes.

Após um curto período de adestramento da guarnição, foi atribuída ao DFE 2 - Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 2, ao qual competia a fiscalização da zona do rio Geba tendo aí iniciado intensa vida operacional.

Efectuou um primeiro cruzeiro de fiscalização naquele rio, em 18 de Março, sem que nada de anormal tivesse ocorrido, o que poderia ser interpretado como bom augúrio naquele teatro de guerra.

De 9 a 11 de Abril, pela primeira vez, em conjunto com a LDM «101», LDM «201«, LFG «Escorpião», LFP «Canopus» e os DFE 8 e DFE 9, foi incluída numa missão de apoio de fogo e transporte de fuzileiros, a operação «Tenaz», levada a cabo no rio Cumbijã.

Em 22 de Abril o baptismo de fogo. Frente a Jabadá quando, em conjunto com mais três LDM procedia a um desembarque de fuzileiros, o inimigo tentou opor-se com fogo de armas ligeiras mas não conseguiu evitar o desembarque.

No dia 22 de Julho, foi atacada pela segunda vez, desta feita no rio Cacheu, em Porto de Côco. O inimigo, emboscado nas margens, utilizou metralhadoras pesadas e morteiro, sem consequências.

Durante o resto do ano de 1964 tomou parte em várias operações no rio Geba e recolheu ao SAO – Serviço de Assistência Oficinal, onde foi submetida a alterações no poço, procedendo-se à instalação de uma cozinha e alojamentos para a guarnição. Foram também protegidos com chapa balística a casa do leme e o escudo da peça Oerlinkon de 20 mm.

A partir de então ficou com possibilidades de alojar permanentemente a guarnição, como viria a revelar-se indispensável.

1965, veio a revelar-se para a LDM «302» um ano muito duro. Continuando a desempenhar denodadamente missões de fiscalização, escoltas a combóios de barcaças mercantes, transporte de tropas e apoio de fogo, no dia 4 de Fevereiro, em frente de Tambato Mandinga, no rio Cacheu, foi violentamente atacada das margens com morteiros e metralhadoras ligeiras, sofrendo 30 impactos no costado e superestruturas. Não houve baixas na guarnição para o que muito contribuiu, certamente, a sua pronta e valorosa reacção.




A LDM «302» navegando no Cacheu, junto ao tarrafo da margem
A – Poço(resguardado com chapa balística); B – Peça Oerlinkon; C – Tarrafo; D – Casa do leme;
E – Bote de borracha; F – Porta de abater; G – WC.


No dia 4 de Outubro, no rio Armada, um afluente do Cacheu, em missão de transporte de forças terrestres, foi atacada das margens com metralhadoras ligeiras e granadas de mão, resultando 10 feridos ligeiros entre os militares embarcados.

Novamente, em 28 de Outubro, a leste de Farim, na margem do Cacheu, durante uma operação de desembarque de fuzileiros foi alvejada, sem consequências, com tiros de espingarda.

Foi de relativa tranquilidade o ano de 1966 dado que, apesar de ter estado sempre no rio Cacheu no cumprimento das missões que lhe foram atribuídas, não teve qualquer contacto de fogo directo. Mercê do seu constante vaivém nos rios da zona, tornara-se já perfil conhecido e respeitada pelo inimigo.

Trágico viria a revelar-se o ano de 1967, ainda que pelo escoar do tempo se assemelhasse ao anterior, aparentemente tranquilo. Chegara-se a meados de Dezembro sem qualquer acção hostil e apenas no dia 16, em violenta acção do inimigo contra Binta, auxiliou com eficácia as forças terrestres na defesa daquele aquartelamento.

Não viriam aqueles seis homens de guarnição a terminar assim o ano quando, a 19 de Dezembro, pelas 11:00, a LDM “302” descia o rio Cacheu, em postos de combate, calor já a apertar, margens de tarrafo denso a entranhar-se pelo rio.

No leme, o patrão, marinheiro de manobra Domingos Lopes Medeiros; nos seus postos, junto à Oerlinkon, os marinheiros artilheiros Manuel Luís Lourenço e Silva e Manuel Santana Carvalho; no posto de fonia, o marinheiro telegrafista Joaquim Claudino da Silva; na MG 42 o marinheiro fogueiro Manuel Fernando Seabra Nogueira e junto aos artilheiros, pronto a acorrer onde necessário fosse, o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, de serviço aos motores, comandados da casa do leme.

A lancha deixara para trás uma das muitas curvas sinuosas do rio e passava frente à clareira do Tancroal, com a guarnição em redobrada atenção pelo comprovado perigo que representava, pelo historial anterior de ataques já desferidos contra diversas unidades navais.

Subitamente, observaram-se fumos na margem sul à boca de peças e, quase de seguida, fortes rebentamentos. O navio estremeceu violentamente e os motores pararam. Estavam sob violentíssimo ataque de canhão sem recuo, lança-granadas foguetes (RPG) e ainda metralhadoras, pesadas e ligeiras.




Em cima, no rio Cacheu, assinalado o Tancroal, local de ataque à LDM «302»

A lancha atingida e com o patrão gravemente ferido ficou sem leme, entrando pelo tarrafo da margem Norte. Os ramos vergaram de imediato e, de seguida, ao recuperarem a posição normal, projectaram a LDM «302» que recuou, ficando à deriva.

A lancha metia água e afundava-se rapidamente de popa. A inclinação era já muito grande e os artilheiros, com água pelo peito, ainda faziam fogo por cima do tecto da casa do leme com grande dificuldade. O posto de fonia, atingido por um estilhaço de granada, tinha ficado destruído e o patrão moribundo, jazia caído sem que alguém lhe pudesse sequer acudir no momento.

Sentido, de todo, que o navio estava perdido, os artilheiros viram-se forçados a abandonar a peça tentando então o telegrafista, socorrer o patrão. Fez um esforço para o por de pé mas foi-lhe de todo impossível. Atingido em cheio estava quase cortado em dois, pelas costas, com as vísceras de fora.

Inexplicavelmente, o inimigo deixou de fazer fogo. O telegrafista, o mais antigo depois do patrão, assumiu o comando e deu ordem para abandonar a lancha. Arriaram então o bote de borracha, colocaram lá dentro, o patrão, nessa altura já morto, os papéis de bordo e uma G3, dirigiram-se para a margem e esconderam-se no tarrafo. Fora de água, a lancha tinha apenas parte da porta de abater.

Era imperioso alguém ir a Bigene, o aquartelamento do Exército mais próximo, situado a cerca de três quilómetros e regressar com socorros. Sendo os restantes elementos novos na guarnição e o telegrafista o único conhecedor da zona, empunhou a arma e foi ele próprio, conseguindo lá chegar coberto de lama e sem precalços pelo caminho.

Entretanto, a LDM «304», que navegava não longe do local, alertada pelo ruído das explosões e tiros da LDM «302», dirigiu-se ao local deparando, para espanto da guarnição, com uma lancha totalmente afundada, sem ninguém à vista.

Passaram-lhe um cabo de reboque e seguiram rio abaixo, avistando pouco depois os sobreviventes que embarcaram e relataram o sucedido.

Mas nesse dia a má sorte acompanhava a LDM «302». Ao aportarem a Ganturé, local escolhido para encalhar a lancha, em águas poucos profundas para poder ser recuperada, o artilheiro Carvalho, que saltara do bote para a LDM «302» a fim de manobrar os cabos de reboque, caiu à água e nunca mais foi visto, não obstante os porfiados esforços dos seus camaradas, soldados e nativos de terra que tinham acorrido ao local.

Tudo tinha sido muito rápido, com consequências trágicas em escassos vinte minutos de duração, num combate desigual para a guarnição, que enfrentou o inimigo com perda de vidas mas com exemplar determinação, abnegação e estoicismo.

Foram agraciados com a Cruz de Guerra na cerimónia anual do 10 de Junho, no Terreiro do Paço, estando os já ausentes representados pelas suas famílias.

A LDM «302» seria rapidamente recuperada e voltaria a navegar!


(continua)



Das Unidades presentes:

• LFG «Escorpião» tinha como oficiais: 1TEN José Olias Maldonado (Comandante) e 2TEN RN Fernando Tavares Farinha (Imediato);
• LFP «Canopus» tinha como oficial: 2TEN RN Luis Pinto Fernandes Sequeira (Comandante);
• DFE 2 tinha como oficiais: 1TEN Mário Augusto Faria de Carvalho (Comandante) que tinha substituído o 1TEN Pedro Manuel de Vasconcelos Caeiro, ferido em combate; 2TEN Adolfo Esteves Sousa (imediato), 2TEN FZ SE António Carlos Samões e 2TEN FZE RN José Luis Couceiro;
• DFE 8 tinha como oficiais: 1TEN Guilherme Almor Alpoim Calvão (Comandante), 2TEN José Manuel Malhão Pereira (Imediato) e 2TEN FZE RN José Luis Couceiro (3.º Oficial); este último tinha substituído o 2TEN FZE RN Abel Fernando Machado de Oliveira, ferido em combate;
• DFE 9 tinha como oficiais: 1TEN Horácio Gata Metelo de Nápoles (Comandante), 2TEN Francisco Isidoro Montes de Oliveira Monteiro (Imediato) e 2TEN FZE RN Emídio da Silva Simões (3.º Oficial);


Fontes:
Arquivo de Marinha, Revista da Armada n.º 129 de Julho 1982, Setenta e Cinco Anos no Mar da Comissão Cultural da Marinha - Volumes diversos; Anuário da Reserva Naval, 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, 1992; Fuzileiros-Factos e Feitos na Guerra de África, 1961-1974, Crónica dos Feitos da Guiné, Luís Sanches de Baêna, Comissão Cultural da Marinha, 2006;


mls

12 dezembro 2016

Guiné - LDM 302 atacada e afundada


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 15 de Novembro de 2008)

Rio Cacheu, 19 de Dezembro de 1967




A «LDM 302» antes de seguir para a Guiné a bordo de um navio mercante


A «LDM 302», a mais mítica «LDM» presente no dispositivo naval da Guiné, ganhou justificadamente o estatuto de lenda naval, durante o tempo em que esteve operacional ao longo de quase nove anos, no período compreendido entre 18 de Janeiro de 1964, data em que foi aumentada ao efectivo e 30 de Novembro de 1972, quando foi abatida.

E ganhou-o com todo o mérito, pela serenidade com que as guarnições enfrentaram sucessivas adversidades, pelo determinado desempenho no cumprimento das missões atribuídas e pela coragem demonstrada nas acções de combate.

Atacada e flagelada por oito vezes enquanto desempenhava as diferentes missões, em 19 de Dezembro de 1967, na sequência de um violento ataque sofrido no rio Cacheu, veio a afundar-se com o dramático balanço de dois mortos em combate.

Foi posteriormente recuperada e voltou à situação de operacional.

Da acção, de que resultou o seu afundamento, se publica uma curiosa e original banda desenhada, incluída na Revista da Armada, quando era então seu Director e primeiro nesse cargo, o CAlm Malheiro do Vale que anteriormente tinha desempenhado o cargo de 2.º Comandante da Defesa Marítima da Guiné.








Em tempo oportuno, voltaremos a abordar este tema - «LDM 302» - com um historial bastante mais completo daquela unidade naval.

Além desta versão histórica da LDM 302 publicada na Revista da Armada n.º 8 de Maio 1972 existe uma outra versão, igualmente em banda desenhada, da autoria de A. Vassalo.

Fontes:
Texto do autor do blogue com a devida vénia pela cedência de imagem da Revista da Armada n.º 8, Maio 1972.


mls

09 dezembro 2016

Clube Militar Naval e Reserva Naval - Fundação da AORN


Clube Militar Naval e Reserva Naval - Fundação da AORN

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 6 de Março de 2009)




Ao longo dos anos, frequentei inúmeras vezes o Clube Militar Naval participando em almoços calendarizados entre camaradas Reserva Naval a que se associaram também, em muitas ocasiões, oficiais dos Quadros Permanentes ou outros Convidados.

No conjunto procuraram sempre reviver, nos convívios havidos, a amizade, companheirismo e também camaradagem, fruto das mais-valias adquiridas de anos de convivência em Unidades e Serviços, com especial incidência no tempo da Guerra do Ultramar. Algures, no tempo, ter-se-iam cruzado ou mesmo partilhado missões ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa.

Também na qualidades de Mestres e Alunos sendo que, tanto oficiais dos Quadros Permanentes como da Reserva Naval, desempenharam aquelas prestigiadas missões na Escola Naval num mútuo e significativo enriquecimento cultural.

Em nenhuma situação procurei o Clube Militar Naval a sós porque, estatutariamente, os antigos oficiais da Reserva Naval não tinham direito à frequência das instalações do clube por "...não terem abraçado a carreira militar naval como profissão...". Para muitos outros constrangedora, também a mim me pareceu sempre impeditiva de uma livre frequência do clube podendo a qualquer momento poder ser invocada a não existência da qualidade de sócio.

Pessoalmente, como 1TEN da Reserva Naval licenciado em 1972, com um percurso de que ainda hoje me orgulho, sempre rejeitei a tão arbitrária quanto possível excepção ao princípio estatutário de que, quando acompanhado ou convidado por um sócio efectivo, poderia frequentar as instalações. Também nunca me agradou a simples facilidade de acesso, baseada na maior assiduidade com que cada qual poderia frequentar, ou não, as instalações do Clube. Por essa via se abre a porta à permissividade do conhecimento e simpatia, ainda que sem a condição necessária.

Julgo que todos procuram muito mais do que uma mera refeição, que pode ter lugar em qualquer outro local com farta escolha possível, provavelmente até em condições económicas mais vantajosas. Pessoalmente, furto-me normalmente a esse tipo de hábitos adquiridos, procurando sempre o espírito Reserva Naval recreado no ambiente próprio da Marinha que a acolheu e que naquele prestigiado clube sempre encontrei.

Mantida pela Direcção do Clube aquela reserva no tempo, terá sido uma medida redutora da valorização de um relacionamento recíproco que, além de afastar muitos antigos oficiais da Reserva Naval da frequência do Clube Militar Naval, conduziu à fundação de uma associação própria, a AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval, em 14 de Julho de 1995, na Sala do Risco - Casa da Balança, como exemplo único em todos os Ramos das Forças Armadas.



Ao tempo, afirmaria o primeiro Presidente da Direcção, Dr. António Rodrigues Maximiano:

„...Fomos e somos parte integrante de um Povo e de uma Marinha.

Como Associação crescemos e queremos ser toda a Reserva Naval.

Cumpriu-se o Mar.

Que se cumpra a AORN!...“




Foi primeiro Presidente da Assembleia Geral da AORN, o Prof. Doutor Êrnani Rodrigues Lopes – 7.º CEORN e Presidente do Conselho Fiscal, o Dr. Alípio Pereira Dias – 9.º CEORN.

Em 10 de Maio de 1996, realizou-se no Clube Militar Naval, um convívio de Oficiais da Marinha e Familiares que estiveram em Metangula – Lago Niassa, entre 1968 e 1971. A iniciativa partiu do CAlm Joaquim Espadinha Galo, conjuntamente com o Dr. João Rodeia Peneque – 10.º CFORN e Prof. Dr. Ricardo Migães de Campos – médico naval do 11.º CFORN.

Mais tarde este conceito de convívio foi alargado a outros participantes e ficou agendado, de forma permanente, para a primeira quinta-feira de cada mês, ficando conhecida como a mesa da Reserva Naval – Metangula, almoço convívio que ainda se mantém com os participantes que entenderem comparecer, onde pontifica o espírito aglutinador e sensato do Dr. João Sarmento Coelho (CMG), também ele fundador da Associação e antigo oficial da Reserva Naval do 10.º CFORN.

Há mais de quatro décadas, como tantos outros, quando ingressei na Escola Naval – Marinha de Guerra Portuguesa, fiquei indelevelmente marcado pela primeira sem nunca da segunda esquecer a génese, quer nos valores da hierarquia consentida, alicerçada na competência, quer no exemplo e no espírito de equipa.

Magnífico complemento de formação académica, com fasquia bem acima de formaturas de parada em que, a par de formação, instrução e ensinamentos, também marcaram passo espírito de grupo, camaradagem e amizade.

Durante mais de três décadas nas classes de Marinha, Médicos Navais, Administração Naval, Engenheiros Maquinistas Navais, Construtores Navais, Farmacêuticos Navais, Fuzileiros, Técnicos e Especialistas, a Reserva Naval ombreou com os Oficiais dos Quadros Permanentes nas mais variadas e espinhosas missões, teatros de guerra de além-mar incluídos.

Hoje, tudo se resume a memórias históricas, espelhadas em documentação diversa, relatos, imagens e testemunhos de vivências, recreadas em convívios de antigos camaradas de armas, afinal parte integrante da História da Marinha de Guerra da segunda metade do século passado.

O debate da eventual frequência das instalações do Clube Militar Naval pelos Oficiais da Reserva Naval, esgota-se num horizonte bem distante de qualquer protagonismo que considere efectividade ou o voto como principais objectivos. Pela oportunidade e actualidade, com a devida vénia, reproduzo integralmente o artigo do Comandante Adelino Rodrigues da Costa, publicado na Revista da Armada n.º 261, de Janeiro de 1994.





Notas:

Cerca de três anos mais tarde, em 3 de Março de 2012, o Presidente da Direcção da Associação de Oficiais da Reserva Naval, na altura o Comandante Joaquim Moreira, afirmaria que "...no passado dia 2, o espírito de cordialidade e de câmara entre oficiais de carreira da Armada e os antigos oficiais da Reserva Naval foi reforçado com a assinatura de um protocolo entre o Clube Militar Naval (CMN) e a AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval, efectuado nesse dia.

O protocolo, assinado entre o CMN e a AORN, na sede da primeira instituição, em Lisboa, em ambiente de salutar convívio, viabiliza formalmente “a utilização das instalações e serviços do CMN pelos antigos oficiais da Reserva Naval”, preconizando ainda a efectivação de iniciativas conjuntas, tais como “palestras, colóquios ou qualquer outro tipo de eventos de carácter cultural, recreativo ou técnico profissional”....


(Da assinatura deste protocolo daremos conhecimento em breve)


Fontes:
Texto do autor do blogue com inserção de texto do Comandante Adelino Rodrigues da Costa publicado na Revista da Armada n.º 261 de Janeiro de 1994;

mls