14 novembro 2018

Guiné, 1968 - "Balada de Beli"


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 21 de Novembro de 2011)


"Balada de Beli" satirizada por "Eles"





Pormenor do Leste da Guiné e a região de Beli


Afinal quem teriam sido "Eles"?

"Eles"? foram todos os militares, anónimos, presentes na Guiné que, depois de uma longa viagem por mar, terra ou ar, lhes tocou na lotaria de quadrícula um qualquer aquartelamento no Leste.

"Eles"? foram essencialmente do Exército, em Batalhões, Companhias ou Pelotões. De Caçadores, Cavalaria, Artilharia, Serviços ou Nativos. Também Páraquedistas, Comandos e Fuzileiros.

"Eles"? ocuparam e defenderam espaços nas matas, lalas, bolanhas e tabancas, em toda a zona que confinava a sul e leste com a fronteira da Guiné Conakry e, para norte, todas as regiões envolventes de ambas as margens do rio Corubal.

"Eles"? estiveram em Cameconde, Gadamael, Guileje, Mampatá, Aldeia Formosa, Madina do Boé, Cabuca, Piche, Buruntuma, Canjadude, Galomaro e muitos outros locais.

"Eles"?, durante dois longos anos sem condições mínimas de sobrevivência, improvisaram com poucos meios, muita critividade, imaginação e sacrifício, adaptaram-se a duras condições de alojamento, higiene e alimentação, sobrevivendo a emboscadas, ataques e flagelações de toda a ordem.

"Eles"? marcaram pela passagem frequente o "corredor da morte" que conduzia a Madina do Boé e, mais para nordeste, a Beli, primeiro destacamento a ser abandonado pelas nossas forças no final de 1968.

"Eles"?, anónimos, ainda encontraram arreganho de alma para satirizarem humoristicamente Augusto Gil e a sua, sempre tão linda, "Balada da Neve".

"Eles"? foram soldados extraordinários e aqui ficam evocados, especialmente os já ausentes do nosso convívio.





A foto do início, esbatida, é de uma coluna militar de Madina do Boé para Gabú (Nova Lamego)



Fontes:
Texto do autor do blogue; texto da poesia original cedido pelo Alferes médico Alberto Lema Santos do BCaç 1933, recolhido enquanto permaneceu em Madina do Boé; foto do início de Manuel Caldeira Coelho, Furriel Mil TRMS da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894

mls

3 comentários:

aragonez disse...

Meu caro Lema.

Tens contas em offshores, recheadas com dinheiro sujo?
Roubas quanto podes e és admirado por não te deixares apanhar?
Travas as iniciativas dos outros porque não te pagam por fora?
Estás-te nas tintas para o teu semelhante?
Louvas o cacau e despresas os princípios?
As respostas são todas negativas.
Quem pensas que entende o que ecreves e eu LEIO?
O sítio onde vivemos em tempos idos, desapareceu. Já não é!

Serafim Lobato disse...

Caro Lema:

Não estive em Belli, que como tu dizes foi abandonado, propositadamente, em 1968, pelo general Spínola. Só cheguei à Guiné em Janiro de 1970. No entanto, passei lá perto quando, juntamente com mais sete camaradas do meu curso de fuzileiros, que estiveram todos na Guiné, fizemos, em 2003, uma visita de mais de três mil quilómetros, desde o norte a oeste de S. Domingos até ao Sul, perto de Catió, que não conseguimos alcançar, devido ao mau estado do terreno.
O curioso é que existe um relatório de 1973, que tinha o rótulo de secreto, quando o consultei há mais de 10 anos, elaborado pelo sucessor de Spínola, general Bettencourt Rodrigues, a criticar o abandono de toda a aquela região, pois permitiu um corredor de penetração permanente para ataques contínuos a Nova Lamego (hoje Gabú) e servir de retacgurada permanete aos guerrilheiros. Ele, o general que chegou em 1968 à Guiné, a afirmar que nunca cederia um palmo de terreno. Meses depois, estava a cedê-lo com a justificação que "nãp conseguia" defendê-lo.

mls disse...

Caro Serafim Lobato,
Tal como dizes, as alterações iniciaram-se logo que o então brigadeiro Spínola chegou à Guiné.
Na Marinha as alterações estratégicas foram profundas e a transferência de grande parte do dispositivo naval de sul para norte, tipo êxodo, foi quase radical, dando preferência aos corredores de infiltração no norte, pelo Cacheu, em prejuízo dos habituais dispositivos de fiscalização dos rios Cacine, Cumbijã, Cobade e Tombali no sul.
Nunca as LFP's, a partir de 1962, tinham voltado ao Cacheu e as operações "Via Láctea" e "Andrómeda", ambas no rio Cacheu, iniciadas a partir de Maio de 1968, empenharam meios excessivos.
A própria utilização de DFEs como tropa de quadrícula em Ganturé, Cacheu e, bem mais tarde, até em Cacine, retiraram eficácia à Marinha/Fuzileiros. A retirada progressiva de alguns aquartelamentos do leste e sul (Piche, Madina do Boé, Cabedú, etc.) ditaram o resto. Muito mais haverá para relatar de Sexa mas o Tempo Histórico o dirá.