24 novembro 2018

Timor, 1973/1975 - Memórias de Um Marinheiro


CAlm José Luis Ferreira Leiria Pinto - Memórias de Um Marinheiro

Post já publicado em 16 de Novembro de 2011 que se republica na íntegra pelo interesse do tema




Cartaz de divulgação do evento no Museu de Marinha

No auditório do Museu de Marinha, no dia 12 passado, teve lugar mais uma “Conversa Informal” desta vez subordinada ao tema “Timor 1973-1975, Memórias de Um Marinheiro” pelo CAlm José Luis Ferreira Leiria Pinto.

Estiveram presentes o Vice-Almirante José Augusto Vilas Boas Tavares, Director da Comissão Cultural de Marinha e o CAlm António José Bossa Dionísio, Director do Museu de Marinha, além de outras personalidades e convidados.

O Dr. Rui Ortigão Neves, Presidente da Direcção do Gamma – Grupo de Amigos do Museu de Marinha efectuou a apresentação e traçou uma curta biografia do convidado, salientando alguns aspectos mais notáveis do seu prestigiado percurso na Marinha.

Aos presentes, o CAlm Leiria Pinto apresentou uma síntese histórica da evolução social, económica e política do território de Timor, desde os primeiros vestígios de civilização, primórdios da ocupação portuguesa, economia e comércio, assim como o papel dos missionários na evangelização das populações.

Continuou com a organização social e política, reinos dos Serviãos e Belos, tentativas de anexação e lutas com os holandeses, fixação de fronteiras em 1914, a invasão dos japoneses no decurso da segunda guerra mundial, a luta ao lado dos Aliados (australianos e holandeses) e os anos finais daquele território como possessão portuguesa.



1974 - A LFP "Tibar" a navegar nas águas do porto de Dili.

No decorrer dos anos de 1973 a 1975 o CAlm José Luis Ferreira Leiria Pinto, então no posto de Capitão-Tenente, desempenhou ali as funções de Comandante da Defesa Marítima de Timor, Director da Estação Radionaval de Timor e Comandante da LFP “Tibar”.

Acumulou os cargos de Chefe da Repartição Provincial dos Serviços de Marinha, Presidente da Junta Autónoma do Porto de Dili e Capitão dos Portos de Timor. De Julho a Setembro de 1974, agregou ainda sob a sua responsabilidade, por aquele curto período, a Chefia dos Serviços de Transportes Aéreos.

Em 26 de Agosto, a LFP “Tibar” participou no transporte das autoridades portuguesas do porto de Dili para a ilha de Atauro, sendo o último navio português a largar do cais de Dili, em cujas proximidades combatiam forças timorenses rivais.

A sessão encerrou com uma apresentação de slides de Timor tendo, no final, sido suscitadas algumas questões por parte dos participantes cujo esclarecimento esteve a cargo do orador convidado.

A efeméride teve lugar no dia em que decorreram 20 anos sobre o massacre do cemitério de Santa-Cruz em Timor.



Nota:
Sob o Comando do Almirante José Leiria Pinto, serviram também no Comando da Defesa Marítima de Timor os seguintes oficiais da Reserva Naval:

2TEN RN João António Martins Ribeiro de Carvalho, 23.º CFORN, desde 21JUL74;
2TEN RN Alexandre Maria Lindim Vassalo, 25.º CFORN, desde 16NOV75;





1967 - À esquerda o 2TEN RN joão Ribeiro de Carvalho e, à direita, o 2TEN RN Alexandre Lindim Vassalo




TIMOR - Resenha histórica




Dos primórdios, por volta de 12 mil anos aC, existem documentos que comprovam a existência de pequenos grupos de caçadores e agricultores que já habitavam a ilha de Timor, comerciando entre aquela ilha e a China a partir do século VII, sobretudo na venda de escravos, cera de abelha e sândalo. Por volta do século XIV, os habitantes de Timor pagavam tributo ao reino de Java. O nome Timor provem do nome dado pelos Malaios à Ilha onde está situado o país, Timur, que significa Leste.

Colonização

Quando em 1512 os primeiros mercadores portugueses chegaram à Ilha, a parte leste que hoje equivale a Timor-Lorosae, era habitada pelo povo Maubere dividido entre duas confederações de reinos, os Serviãos e os Belos. Já a parte oriental da ilha, hoje equivalente à província Indonésia de Timor oriental era habitada pelo povo Atoni, tradicionais inimigos dos Serviãos e dos Belos. Assim, enquanto estes últimos se aliaram aos Portugueses, os Atoni resistiram a fazer comércio com eles e, quando em 1651 a Companhia Holandesa das Índias Orientais conquistou Kupang, os Atoni decidiram aliar-se aos Holandeses contra os Portugueses e os Mauberes.

Os Mercadores portugueses foram atraídos pelos recursos naturais em 1514, trazendo os missionários e a religião católica que actualmente é predominante. Com a chegada do primeiro governador, vindo de Portugal em 1702, deu-se início à organização colonial do território, criando-se o Timor Português. Em 1914, a Sentença Arbitral assinada entre Portugal e os Países Baixos para terminar com os conflitos entre os dois países, fixando as fronteiras que hoje dividem a ilha.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados (australianos e holandeses) envolveram-se, em Timor, numa dura guerra contra as forças japonesas que tinham ali entrado, por Timor-Leste, em Fevereiro de 1942 com o fito de expulsar as forças australianas que tinham ocupado o território em Dezembro de 1941, violando a neutralidade da então colónia portuguesa. Algumas dezenas de milhar de timorenses deram a vida lutando ao lado dos Aliados, entre os quais se encontrou o célebre régulo Dom Aleixo.

Em 1945, a Administração Portuguesa foi restaurada no Timor Português. Seguiu-se um período de quase três décadas em que não se manifestaram movimentos independentistas.

Período Pós 25 de Abril

A Guerra do Ultramar não encontrou eco no longínquo Timor. A razão para a ausência de sentimentos ou movimentos defensores da independência poderá ter residido no facto de o domínio português ter assentado, ao longo de séculos, como aglutinador de vários povos, defendendo a identidade étnica, cultural e política da região face à tendência expansionista em da Insulíndia; além disso, a presença portuguesa não assumiu um carácter de exploração económica, uma vez que a precária economia timorense era dominada por uma pequena burguesia de origem chinesa, há muito estabelecida no território.

Apesar disso, a Assembleia Geral das Nações Unidas, pela Resolução 1514 (XV) de 14 de Dezembro de 1960, considerou o Timor Português como um Território Não Autónomo sob administração Portuguesa. Tal nunca foi aceite pelos governos dos Presidentes do Conselho António de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano e pela Constituição de 1933 que continuaram a considerar o território como parte integrante de Portugal. Tal resolução veio, todavia, a ser aceite pela Lei 7/74 de 27 de Julho do Conselho da Revolução que demonstrou a aceitação da independência de todos os territórios ultramarinos, incluindo Timor Português.

Nessa altura a administração Portuguesa promoveu a criação de partidos políticos. Foram criados:

União Democrática Timorense (UDT), que defendia a integração de Timor numa Comunidade de Países de Língua Portuguesa;

Associação Social Democrática Timorense (ASDT) que se viria a tornar a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN) que defendia um período de autonomia gradual, seguido da independência;

Associação Popular Democrática Timorense (APODETI) que defendia a integração de Timor-Leste na Indonésia como uma região autónoma.

Na sequência da formação destes partidos, o governo Português propôs a eleição de uma assembleia popular pelos Timorenses e a nomeação por Lisboa de um Alto Comissário com o fim de conduzir o território à independência total. Esta solução foi aceite quer pela UDT quer pela ASDT mas recusada pela APODETI.

Nessa altura a Indonésia adoptou uma política de intervenção mais dura levando a cabo o suborno de líderes políticos e campanhas de intimidação. Foi neste cenário que, em 1975, se realizaram as eleições municipais nos quais a ASDT obteve 55% dos votos, vencendo a ADT(40%) e a APODETI que teve muito pouco apoio popular.

Insatisfeito com os resultados, Francisco Lopes da Cruz (ADT) e os seus apoiantes pró-Indonésia levaram a cabo um golpe de estado contra as autoridades Portuguesas na noite de 10 de Agosto de 1975. Nessa altura 23 soldados e oficiais Portugueses foram feitos reféns e levados para a Indonésia. O alto comissário Mário Lemos Pires e as restantes forças portuguesas no território, sem o apoio de Portugal numa altura em que o país vivia momentos políticos e sociais difíceis, refugiaram-se no ilhéu de Ataúro.

Entre Setembro e Dezembro a ASDT/FRETILIN consegue vencer Lopes da Cruz e os seus seguidores, assegurando o controlo da maioria do território e o apoio da população. Como resultado destes acontecimentos, a FRETILIN já não aceita entrar em negociações com os outros dois partidos e também já não rejeita o controlo de Portugal dado que tinha lutado sozinha contra as forças pró-Indonésia sem o apoio português.

Assim, a 28 de Novembro a FRETILIN declara a independência de Portugal que é recusada pelo governo de Lisboa, que teme que isso sirva de pretexto às forças indonésias para invadir o território o que vem a verificar-se em larga escala pouco tempo depois, em 8 de Dezembro. Na sequência dos acontecimentos, a Indonésia ignora quaisquer resoluções da ONU e inicia um período de ocupação de 24 anos que ficaria marcado por terríveis atentados contra os direitos humanos do povo de Timor-Leste que veio a ser culminado com o massacre do cemitério de Santa-Cruz em 12 de Novembro de 1991.




Texto e fotos de arquivo do autor; Setenta e Cinco Anos No Mar, LFP, 16.º VOL, Comissão Cultural de Marinha, 2005; Gamma - Grupo de Amigos do Museu de Marinha; Resenha histórica a partir de Wikipédia em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_Timor-Leste;

mls

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