10 janeiro 2019

Anuário da Reserva Naval 1976-1992 - 33.º CFORN

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 26 de Dezembro de 2011)

Palavras do CAlm Médico Naval Eduardo Teles de Castro Martins

Em 14 de Junho de 2011, por ocasião do 16.º Aniversário da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, no Museu de Marinha - Pavilhão das Galeotas, com a presença do Vice-Almirante José Augusto Vilas Boas Tavares, então Director da Comissão Cultural de Marinha, diversas Entidades e Convidados, foi apresentado a obra "Anuário da Reserva Naval 1976-1992" da autoria de Manuel Lema Santos, do 8.º CEORN-Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval numa edição apoiada por aquela Associação.




O Contra-Almirante médico naval Eduardo Teles de Castro Martins que pertenceu o 33.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, Escola Naval, 1980 e, mais tarde, passou a integrar os Quadros Permanentes da Marinha de Guerra Portuguesa, proferiu as seguintes palavras na ocasião:

Neste tempo em que começo a olhar para trás, para o percurso tido, e o faço com a actividade sensorial mais desperta, é impossível não me deter no ano de 1980. A contemplação desencadeia uma dualidade de sentimento. Bom, quando me sinto, hoje, satisfeito, incluído e totalmente identificado com a Marinha. Mau, quando recordo o impacto que sofri ao constatar o resultado do sorteio dos médicos do meu curso, para encontrar aqueles que deveriam cumprir o serviço militar obrigatório.

Lá vinha, à cabeça, e no primeiro grupo, o meu nome. Foi, então, profundo o mal estar inicial de quem iria ser militar sem o desejar, de quem veria a carreira que ambicionava atrasada face aos seus pares, de quem ia interromper uma das mais aliciantes experiências da vida clínica, o Serviço Médico à Periferia e de quem imaginava já o impacto que, na hora, a redução brutal dos seus parcos rendimentos iria provocar. Esse mal-estar começou a ceder quando tive conhecimento que, afinal, me estava reservado o Serviço na Marinha. Menos mau!

Vencido o tempo inicial na Escola Naval e começada a participação no serviço de Saúde Naval, tudo se modificaria. Afinal o Hospital da Marinha, que teria o privilégio de vir um dia a dirigir, o então Gupo n.º 1 de Escolas da Armada, as corvetas e as fragatas, em que fiz múltiplos serviços SAR, mostraram-me, progressivamente, um outro Mundo, que desconhecia.

Um Mundo com REGRAS, com CULTURA PRÓPRIA, com GENTE BOA, com código de valores bem definido, com sentido de responsabilidade, onde ser solidário e leal é genético, onde a amizade se instala com naturalidade, cresce solidamente e nos marca profundamente. Afinal, aqui, era tão fácil e tão gratificante ser médico. Foi um mundo novo cheio de oportunidades que se abriu.

Sem ingressar na Reserva Naval não teria conhecido a Marinha, sem conhecer a Marinha não seria a mesma pessoa, não teria tido oportunidade de idealizar, desenvolver e concretizar, até ao patamar desejado, uma carreira clínica, académica e militar. Percebi por experiência feita e emoção vivida, porque sendo cidadão de raiz desse Alentejo Norte interior, afinal a minha terra é uma terra de marinheiros.

Quando entrei na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa jamais admitiria vir a ser militar e sou! Sou, livremente, por opção e com um profundo prazer.

Permitam que vos confidencie que os últimos 2-3 anos me ensinaram que sendo militar só poderia ser marinheiro. Perguntarão porquê? Pois, porque tive que confrontar o estar, o sentir e o pensar, na tentativa de edificação de uma estrutura conjunta, com outros militares da área da saúde e constatei que a cultura que aprendi na Marinha é única e já me é genética. Senti que não poderia ser outra coisa que não médico naval, senti, sobretudo, que não quero ser outra coisa que não seja ser médico da Marinha.

Por tudo isto perceberão o que significa para mim ser sócio e membro do pleno direito da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval. Foi dolorosa e imposta a minha entrada na Reserva Naval, é voluntário e desejado o meu retorno à Reserva Naval.

Tentarei ser digno desta nossa associação e tudo farei para o seu engrandecimento.


Eduardo Teles de Castro Martins
Contra-Almirante MN
Lisboa, 14 de Julho de 2011







Edição disponível no Secretariado da Associação:

Rua da Junqueira, 1300-342 Lisboa
Telefone: 21 362 68 40 – Horário das 15 às 20H
aorn95@reservanaval.pt



Fontes: Alocução do Contra-Almirante MN Eduardo Teles de Castro Martins, por ocasião da apresentação do Anuário da Reserva Naval 1976-1992, Manuel Lema Santos, Edição AORN 2011;



Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

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