(Post reformulado a partir de outro já publicado em 21 de Abril de 2013 e referido a essa data)
Os 10.º e 11.º CFORN, Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval regressam à Escola Naval 46 anos depois
A jornada incluiu as visitas ao "Simulador de Navegação" e ao "Museu da Escola Naval", tiveram continuidade numa actualizada informação sobre "O Ensino na Escola Naval", continuaram com uma conferência sobre a “Marinha como instituição pilar da afirmação de Portugal no mar” e culminaram com uma visita à fragata "D. Francisco de Almeida".
No dia 5 passado, 46 anos depois do ingresso na Marinha, em 1967, os 10.º CFORN e 11.º CFORN - Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval, voltaram à Escola Naval.
De acordo com o horário do programa pré-estabelecido, pelas 10:00, na portaria da Escola Naval os elementos presentes daqueles dois cursos da Reserva Naval, foram recebidos pelo 2.º Comandante da Escola Naval, CMG Aníbal Júlio Maurício Soares Ribeiro e respectivo Corpo de Oficiais.
Espelhada no rosto de cada veterano, a sempre renovada e dificilmente contida emoção do regresso, a uma tão familiar quanto notável instituição de acolhimento e formação.
Acolhimento em tempo de obrigação cívica para com o País, no cumprimento do serviço militar obrigatório, formação académica e humana complementares mas, sobretudo, maturidade e crescimento adquiridos durante o tempo de permanência na Marinha.
Em seguida, na “Sala Reserva Naval” que referencia a memória do oficial daquela classe, STEN FZ RN António Bernardino Piteira, 18.º CFORN, morto em combate no ano de 1973, numa emboscada no Leste de Angola, estava disponível, para consulta, a documentação de cada um dos cursos o que propiciou natural curiosidade, consulta, registos fotográficos e comentários humorísticos.
Trazidas a lume rábulas da época e nomes de mestres que, ao tempo, cunharam com timbre próprio a formação dos elementos que integraram aqueles dois cursos, o passo seguinte foi a assinatura do “Livro de Honra”.
Em terra ou a navegar, em unidades navais, serviços ou nos fuzileiros, foram recordados os locais para onde, no final do curso, depois da viagem de instrução e juramento de bandeira, cada um foi destacado. Nos teatros de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e mesmo Macau ou Continente e Ilhas, todos desempenharam as missões de que foram incumbidos.
Seguiu-se a apresentação de cumprimentos ao Comandante da Escola Naval, Contra-Almirante Bastos Ribeiro, que reafirmou, em si próprio, a continuidade de uma permanente disposição da Marinha em receber e confraternizar com antigos oficiais da Reserva Naval da forma que melhor sabe e pode, naquela que considerou ser também “a vossa casa”. Na escadaria principal, diversas imagens selaram para memória futura a foto de família.
No simulador de navegação, a 2TEN Teresa Sofia d’ Abreu comandou as operações na ponte, com mar, ventos e tempestadas recreadas num adequado ambiente que só tecnologia avançada permite; foi possível rever um convés fugidio nos pés devido ao mau tempo, o governo com máquinas e leme reguláveis a contento de marinheiros também eles renovados, chuva e vaga dificultando a manobra e, felizmente, sem grandes riscos para a navegação de tão “temerários tripulantes”, salvaguardando a segurança de todos os instruendos e também do simulador.
Uma visita guiada ao Museu da Escola Naval conduzida pelo seu Director, CMG Augusto António Alves Salgado, propiciou um alargado e pormenorizado descritivo de múltiplas memórias históricas daquele estabelecimento de ensino de que se destacaram, entre muitas outras, a exposição da caixa de graxa do Sr. Faustino que, durante anos, não teve mãos a medir com as abrilhantadelas do calçado dos senhores Cadetes, cujo exame era feito na formatura de saída em que um mau trabalho podia custar uma saída.
Na continuação do encontro, não podia deixar de ser honrada a memória dos Camaradas já desaparecidos no combate último da vida, lembrados na Missa e Acção de Graças celebrada na Capela da Escola Naval pelo capelão CFR Joaquim da Nazaré Domingos.
Foram eles do 10.º CFORN, os 2TEN FZ RN Benjamim Lopes de Abreu, 2TEN FZ RN Manuel Augusto Lopes e 2TEN Raul Jorge Ramos Lima e, do 11.º CFORN, os 2TEN AN TE Adelino Manuel Lopes Amaro da Costa, 2TEN AN RN Daniel Germano das Neves Silva Ferraz, 2TEN FZ RN João Evaristo Carapinha, 2TEN FZ RN Júlio Vilas Boas Malhou da Costa, 2TEN TE RN Luís Alberto Camacho Lobo e 2TEN MN RN Ricardo Manuel Migães de Campos.
Os participantes foram depois conduzidos ao auditório onde o 2.º Comandante, CMG Soares Ribeiro procedeu a uma curta sessão de apresentação da Escola Naval nas vertentes instalações, comando, corpo docente, cursos e evolução do ensino, meios disponíveis, missões atribuídas, perspectivas futuras de ensino integrado e enquadramento geral no ensino superior com acreditação.
Presença marcante na sessão a do Eng.º Vitor José de Almeida e Sousa Lobo, oficial da Reserva Naval do 1.º CFORN TE 1988/89 que, admitido na classe de Especialistas, é ainda hoje docente da Escola Naval nas cadeiras do Grupo de Electrónica e Comunicações, nas áreas de Sistemas Lógicos e Digitais.
Na Messe de Oficiais foi proporcionado um almoço convívio com obrigatório realce para a excelência do serviço prestado pelo pessoal da já tradicional taifa de Marinha, momento que culminou com a alocução do camarada 2TEN FZ Fernando Prado Dias de Freitas, do 11.º CFORN que, nas palavras que proferiu, descreveu também o sentir de todos os presentes e de muitos outros que o não estavam, por impedimentos diversos:
Exmo. Senhor Almirante Comandante da Escola Naval
Exmo. Senhor Almirante Espadinha Galo
Exmos. Senhores Oficiais
Representante dos Alunos
Caros Convidados e Camaradas
Comemorar 45 anos do nosso juramento de bandeira, em 5 de Abril de 1968, é não só um acto simbólico que visa juntar camaradas de quem, pelas vicissitudes da vida, nos afastamos, mas também recordar uma fase das nossas vidas que de forma indelével nos marcaram para sempre. Mas é também motivo suficientemente forte para virmos aqui, na Escola Naval, testemunharmos junto de Vª. Exª. a nossa gratidão e reconhecimento pelo que a Marinha de Guerra fez por nós e pela forma como contribuiu para a nossa formação não só militar, mas também cívica, numa perspectiva de sensibilização e transmissão de valores morais, éticos, de disciplina e respeito pelas hierarquias.
Podemos afirmar que ao passarmos a porta verde desta Escola, em 7 de Setembro de 1967, iniciamos um novo ciclo das nossas vidas, deixando para trás anos de conforto, de protecção familiar, de estudos, de amigos de Escolas por onde passámos. A vida militar na Marinha de Guerra iria transformar-nos, tornando-nos mais conscientes, mais sensíveis, mais atentos a um mundo que desconhecíamos.
Não nos esqueçamos que estávamos em plena Guerra do Ultramar que nos iria levar às mais diversas funções e missões, quer no Continente quer em África. Estivemos em Angola, Guiné, Moçambique, Cabo Verde, Macau, Timor. Fomos Fuzileiros, comandámos lanchas, estivemos em missões em fragatas, patrulhas, lanchas de desembarque. Servimos a Pátria, cumprindo o juramento que aqui fizemos nesta Parada.
De diversas formas, com maior ou menor sacrifício, enfrentámos perigos, assumimos responsabilidades, comandámos homens em situações de combate (alguns já com 2 comissões), responsabilizámo-nos pela sua segurança, tentando preservar as suas vidas e tentando humanizar a guerra, se é que tal era possível. Foi esta vivência que fez jus ao lema da Reserva Naval que anos mais tarde seria criada - “E bem serviram sem cuidar recompensa”.
Muitos foram louvados e condecorados por feitos extraordinários em combate ou pelo desempenho competente nas diversas funções e locais por onde passaram. Ficou-nos para sempre a consciência do dever cumprido e o orgulho que ainda hoje sentimos e manifestamos de ter servido na Marinha de Guerra. Servimos a Marinha com a consciência de termos contribuído para o seu prestígio. A Marinha tem-nos dado provas do seu reconhecimento pelo que a Reserva Naval representou para si durante décadas. O poder político ainda não teve coragem de homenagear e fazer justiça a uma geração que foi sacrificada na defesa dos superiores interesses da nação, numa época difícil e conturbada em que Portugal vivia. Sentimos que estávamos a cumprir um dever. Não nos arrependemos de o ter feito e disso continuamos a ter o maior orgulho.
Não fugimos, nem viramos costas como alguns o fizeram e que, anos mais tarde, vieram a ser considerados como heróis e a ocupar diversos cargos políticos. Construímos e temos sabido preservar um património de que a história não poderá olvidar. É pena que as gerações que se seguiram não tenham tido a oportunidade de viver as nossas tão enriquecedoras experiências, ainda que diferentes, face às profundas transformações pelo que o país passou neste últimos quase 40 anos.
Que bom seria, na minha perspectiva, que todos os jovens portugueses pudessem viver uma experiência de meses ou 1 ano numa instituição militar. As juventudes partidárias tudo fizeram e conseguiram acabar com o serviço militar obrigatório porque (disseram), já não estávamos em guerra. Esqueceram um pequeno pormenor: As Forças Armadas não existem somente para fazer a guerra. É graças a ela que, pelo menos o mundo ocidental, desde o fim da 2ª guerra mundial, excepção feita com a guerra dos balcãs, tem sabido manter a paz.
Certamente sem Forças Armadas não poderíamos hoje viver em paz e cooperação, com direitos e liberdades garantidos, isto é, em DEMOCRACIA, mas também com deveres. Aqueles jovens nem se deram ao trabalho de saber o que se passava e passa na Europa onde muitos países, nomeadamente, a Noruega, não estão em guerra, nem próximo, e têm serviço militar obrigatório. Talvez que a experiência vivida numa instituição militar lhes tivesse dado valores e princípios, sacrifícios e disciplina, respeito e dever por forma a torna-los mais aptos, responsáveis, conscientes e competentes para o desempenho das mais altas funções que muitos deles hoje ocupam nos destinos de todos nós.
Sr. Almirante, Srs. Oficiais e Alunos, caros Camaradas,
Passaram pela Marinha de Guerra, no período de 1958 a 1974 (até ao final da Guerra do Ultramar) 1712 oficiais da Reserva Naval. Depois da Guerra do Ultramar, até 1992 mais 1885 oficiais da Reserva Naval serviram a Marinha (curioso é verificar que, pós guerra tenha havido mais oficiais da Reserva Naval do que no período anterior). Desconhecíamos tal situação, somente aqui queremos deixar estes dados como estatísticas, pois que, certamente, razões houve para que tal tivesse sucedido.
Aqui estamos hoje num encontro de saudade, recordando momentos marcantes das nossas vidas. À Escola Naval ficaremos sempre ligados de forme afectiva, gratos pelo contributo que deram à nossa formação, pela forma cordial, cavalheiresca, educada e respeitosa como sempre fomos tratados. Continuaremos hoje e sempre a ser oficiais da Reserva Naval, a defender e lutar para que o prestígio da Marinha de Guerra seja mantido como um baluarte de excelência na sociedade portuguesa e que sem ela, sem os meios, recursos humanos e materiais requeridos para as suas importantes missões em Portugal continental, ilhas, na imensa plataforma continental, pela qual deverá estar responsabilizada, pelas missões nos mais variados teatros de operações em defesa e manutenção da paz, sem ela e os meios requeridos, dizia, Portugal ficará mais pobre.
A Reserva Naval acabou, e é pena! O País, no contexto actual, já não tem necessidade da nossa colaboração como militares. Fica-nos o orgulho de termos um dia servido a Marinha de Guerra. Como civis, estejamos onde estivermos, seremos uma voz activa na defesa de um património militar, científico e cultural que, historicamente, jamais poderá ser esquecido.
Não podia deixar, antes de terminar, recorrendo ao lema dos Fuzileiros (“Fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre”), transpô-lo para nós: Oficial da Reserva Naval uma vez, oficial da Reserva Naval para sempre.
Os nossos cumprimentos e Muito Obrigado.
Na sequência destas palavras, o Contra-Almirante Bastos Ribeiro, Comandante da Escola Naval, no uso da palavra, agradeceu:
"...enaltecendo a importância da Reserva Naval para a Marinha ao longo de várias décadas com a sua capacidade, competência e a sua cidadania, servindo o seu País de forma notável. Por isso mesmo a Escola Naval se sentirá sempre honrada e orgulhosa por ali receber os antigos oficiais que, na casa-mãe, complementaram formação académica e militar...".
No auditório da Escola Naval teve lugar então uma Conferência intitulada “Marinha como instituição pilar da afirmação de Portugal no mar” pelo CFR Sérgio Miguel da Silva Pinto do Estado-Maior da Armada, seguida e participada com muito interesse por todos os presentes, com debate de várias questões suscitadas pela apresentação dos temas.
Os presentes foram depois conduzidos à Base Naval de Lisboa, a bordo da fragata «D. Francisco de Almeida» – classe «Bartolomeu Dias» – onde foram recebidos pelo Comandante daquela unidade naval, CMG José Rafael Figueiredo e pelo seu Oficial Imediato, CTEN Ricardo José da Silva Inácio e ainda os seguintes Oficiais: CTEN Fernando Gabriel Teodósio, 1TEN Vitor Monteiro Teixeira e 2TEN Catarina de Jesus Sequeira Rolo.
Em dois grupos conduzidos pelo Comandante e pelo Oficial Imediato, os antigos oficiais da Reserva Naval visitaram os diversos serviços daquela moderna unidade naval, acompanharam atentamente as explicações de locais, dispositivos e equipamentos prestados pela equipa de Oficiais que, de forma competente e profissional, responderam a todas as questões levantadas.
No final da visita, uma foto de família à popa da fragata «D. Francisco de Almeida», o regresso à Escola Naval e também a ideia de que a Marinha, com as dificuldades e limitações que o País e todos os cidadãos sentem, mantém a operacionalidade e a dignidade de uma Instituição pronta a servir Portugal.
Com a capacidade de operar em qualquer parte do mundo, o navio, originalmente concebido para missões anti-submarinas, dispõe de uma boa capacidade de sobrevivência, traduzida na sua reduzida assinatura radar e no avançado sistema de defesa aéreo integrado.
Está também preparado e treinado para levar a cabo um vasto conjunto de missões não combatentes, tais como embargo, usando equipas de abordagem (inseridas pelas embarcações do navio ou por helicóptero), anti-pirataria e combate ao narcotráfico, assistência humanitária, vigilância costeira e salvaguarda da vida humana no mar (SAR).
Relativamente a sensores, possui um radar de longo alcance, um radar 3D de médio alcance, dois radares de controlo de tiro, dois radares de navegação, um sonar activo de médio alcance e um sonar passivo de baixa frequência rebocável.
Está ainda equipado com um sistema de guerra electrónica que permite a detecção e identificação de emissões electromagnéticas e o emprego de medidas de protecção activa contra essas emissões.
O seu armamento primário consiste em dois lançadores para mísseis de longo alcance (Harpoon) para ataques a navios, uma peça de artilharia de 76 mm (Oto Melara) para o combate próximo a navios e aeronaves e para tiro contra-costa, mísseis de curto alcance (NATO Sea Sparrow) para defesa antí-aérea próxima; um sistema automático com elevado ritmo de fogo para defesa próxima anti-míssil; dois reparos duplos de tubos lança-torpedos para ataque a submarino; e duas peças de pequeno calibre para dissuasão a navios e embarcações.
Como meio orgânico, opera o helicóptero Super Lynx MK95, vocacionado para a luta anti-submarina, equipado com um sonar de profundidade variável e com torpedos MK46. O helicóptero pode ainda ser empregue em missões de busca e salvamento (SAR), transporte de passageiros e carga, inserção rápida de equipas de operações especiais em outros navios para acções de abordagem e vistoria no mar, evacuação de feridos e compilação do panorama de superfície para ataque com mísseis de longo alcance.
In: www.marinha.pt
mls
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