24 setembro 2019

STEN FZ RN António Piteira • 18.º CFORN - Homenagem em Arraiolos


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 5 de Abril de 2015)


Ao camarada STEN FZ RN António Piteira

Homenagem da Classe de Fuzileiros do 18.º CFORN
Arraiolos, 20 de Setembro de 2014






António Bernardino Apolónio Piteira (1947-1973), natural de Arraiolos, único oficial da Reserva Naval morto em combate durante a Guerra de África, foi homenageado pelos seus camaradas que com ele iniciaram a caminhada na Marinha, em 18 de Fevereiro de 1971.

Promovido a Aspirante FZ RN em 13 de Outubro de 1971, após ter frequentado o curso de fuzileiro foi destacado para Angola, onde chegou a 18 de Setembro do ano seguinte, com o posto de STEN, assumindo o comando do 3.º Pelotão da Companhia N.º 1 de Fuzileiros.

Encontrou a morte no dia 2 de Junho de 1973, integrado numa coluna de viaturas do Destacamento do Zambeze em missão de serviço à Lumbala, fruto de uma emboscada inimiga ocorrida na Picada entre Lumbala e Chilombo, a cerca de 10 km desta última localidade.




A jornada de homenagem a este nosso querido camarada iniciou-se com uma sessão solene na Câmara Municipal de Arraiolos, presidida pela respectiva Presidente, Dr.ª Sílvia Pinto.

O nosso camarada, Nuno Santos Pereira, em representação do 18.º CFORN, teceu considerações sobre as razões desta justa iniciativa e o perfil humano do homenageado, agradecendo a prestimosa colaboração da autarquia. Interveio igualmente o Presidente da Assembleia Municipal, amigo e seu companheiro de escola que, de forma encomiástica, teceu rasgados elogios ao seu carácter e humanismo.

Por fim, interveio a Senhora Presidente que enaltecendo a iniciativa em boa hora tomada pela classe de fuzileiros do 18.º CFORN, publicitou que a breve trecho iria estar patente no Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos (CITA) uma exposição alusiva ao nosso camarada Piteira.




De seguida oferecemos à autarquia, na pessoa da sua Presidente, o espólio de Marinha do nosso camarada, em estrutura acrílica, composto por boné, cordão de fuzileiro, galões de subtenente e a sua fotografia sobre base cerâmica.

Seguiu-se uma tocante cerimónia com descerramento de uma lápide junto à placa da rua em seu nome, sita na Ilha do Castelo, evento partilhado por larga fatia da população local que, assim se quis associar e testemunhar o sentido apreço que nutre por uma figura muito querida da sua terra.

Neste enquadramento, tive oportunidade de fazer a seguinte intervenção, em sua memória:

A 18 de Fevereiro deste ano, completaram-se 43 anos da nossa integração no 18.º CFORN e a 2 de Junho passado rememoramos o 41.º aniversário da morte trágica e cobarde do nosso camarada e amigo António Bernardino Apolónio Piteira, em Angola.
É com profunda emoção e inquestionável pesar que pisamos esta terra escura, queimada pelo sol e germinada com o suor que advém do trabalho árduo dos que teimosamente aqui ficam, resistindo ao flagelo da emigração que, do mesmo passo que desenraíza as pessoas, torna mais tristes aqueles que as vêm partir, sem garantia de regresso.
O nosso Piteira era, perante nós, um porta-estandarte do seu Alentejo e, particularmente de Arraiolos. Não apenas pela pronúncia castiça, mas também pelo temperamento e idiossincrasia. O Piteirinha tinha em cada um dos presentes um amigo. O ar tranquilo, a face trigueira donde despontava um constante sorriso sereno, a bonomia do seu comportamento, quase que nos obrigavam a gostar dele. E como dele gostávamos!
Alguém disse que “a memória é o espelho onde observamos os ausentes”. Não é seguramente o caso. O Piteira é o ausente mais presente de todos. Está constantemente no nosso seio, como insofismavelmente o demonstramos ainda no último convívio, onde lhe foi reservado lugar cativo que testemunhará, de forma indelével, a sua “presença” em todas as nossas iniciativas futuras.



Daí que, nada nos apague da memória esses tempos, por isso estamos aqui, na sua terra natal, na sua RUA, a relembrá-lo e a prestar-lhe uma homenagem do coração, simples como evento, mas carregada de significado para todos nós que continuamos a vê-lo, não apenas como camarada, mas essencialmente como AMIGO que o decorrer dos tempos nunca fará esquecer.
Olhemo-nos em redor e observemos como foi substancialmente ultrapassado o quorum que legitima e dignifica esta assembleia. E não necessitamos de ajudas de custo ou senhas de presença para dizermos PRESENTE. O pecúlio arrecadado foi o privilégio de dele termos sido camaradas e amigos. Por isso, repito, estamos aqui. Sem embargo de sacrifícios e constrangimentos. De corpo e alma bem quentes como esta terra bendita, cujo ventre pariu um cidadão exemplar.
Daí que, em uníssono, queiramos honrar a sua memória.
E para terminar, permitam-me uma curta citação do que escrevi aquando da passagem dos 30 anos da sua morte, ou seja há 11 anos:
“A relação que mantive com o Piteira foi sempre muito próxima, quiçá potenciada pela minha extroversão de Homem do Norte que casava muito bem com a calma e fina ironia deste alentejano dos sete costados. Andávamos quase sempre juntos, mesmo nas muitas deslocações a Lisboa para desanuviar e combater o stresse, que acabavam quase sempre em bate-papo futebolístico numa cervejaria do Terreiro do Paço, chamada O Caracol, assim apodada pela fama dos característicos gastrópodes em cuja degustação o Piteirinha me iniciara. Hoje recordo com saudade aqueles momentos únicos antes de tomarmos a Vedeta da meia-noite ou da uma que nos levaria à Escola Naval.
O Piteirinha não era um mero camarada, era um amigo. Raramente levantava a voz ou se zangava, mas quando tal acontecia lá vinha a sua característica expressão: seus maganos!
Foi um privilégio conhecê-lo e usufruir da oportunidade de com ele privar e me tornar amigo. Tinha muita vontade de viver e o destino pregou-lhe uma partida. Este Mundo louco tem destas coisas.
Até sempre camarada e amigo. Um dia vamo-nos encontrar e retomar as nossas conversas estupidamente interrompidas.”

E concluo: Até já, nosso irmão!





Do programa constava ainda uma romagem ao cemitério onde foi depositada uma lápide na sua sepultura, do mesmo passo que se observou um minuto de silêncio. Em seguida, o camarada António Nascimento, que o acompanhou em Angola, fez uma breve dissertação sobre os acontecimentos daquele fatídico dia 2 de Junho de 1973, em que o nosso querido Piteira foi brutalmente morto.

Refira-se ainda que o espólio oferecido, bem como a intervenção feita na rua em seu nome, integram a exposição que, como era expectável, foi aberta ao público a partir de meados de Outubro do ano passado.

É devida ainda uma palavra de apreço à Câmara Municipal de Arraiolos, na pessoa da sua Presidente, pelo apoio, presença e intervenção activa nos diversos eventos constantes da homenagem ao nosso camarada.

Como é costume, seguiu-se um almoço de confraternização no Hotel da Ameira, junto a Montemor-o-Novo, onde reinou a amizade e uma incontida felicidade de podermos, mais uma vez, estar juntos a reviver momentos muito significativos das nossas vidas.

No final da jornada invadiu-nos um sentimento de dever cumprido. A nobreza de carácter do nosso camarada e amigo Piteira clamava por esta iniciativa. Desde os primeiros tempos do seu desaparecimento que pairava no grupo a ideia de uma homenagem na terra que o viu nascer. Ao levarmo-la a cabo, sentimo-nos mais felizes e em paz com as nossas consciências.

Aconteceu num dia de sol radioso, particularmente bonito, que nos fez tê-lo por perto e revivenciar, com redobrada emoção, momentos que a lonjura do tempo nunca apagará das nossas memórias. Um dia que nos tornou mais coesos e solidários. Enfim, um dia que nos ajudou a compreender que estes Encontros, muito para além da confraternização lúdica e fraterna, traduzem um sentimento de missão que o espirito de Marinha ensinou a cultivar.




Adelino Couto
Sóc. Orig. n.º 2382
2.º TEN FZ RN


Nota do Editor da revista "O Desembarque" n.º 20:

Entende-se estranho que nem a Marinha, nem a AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, nem a Associação de Fuzileiros (AFZ) tenham sido convidadas a participar, tratando-se do único Oficial da Armada (Fuzileiro e da Reserva Naval) morto em combate na Guerra do Ultramar (1961/74) ou, tendo-o sido (a AFZ não o foi com certeza), não se tivessem feito representar, a bom nível, nesta cerimónia, mais que merecida, ao António Piteira.



Fontes:
Cortesia da AFZ - Associação de Fuzileiros por cedência do artigo publicado na revista publicada "O Desembarque" n.º 20 com adaptação de espaços e fotos;


mls

22 setembro 2019

Bissau, Anos '60 - Imagens que despertam memórias (VI)


Guiné, anos '60 - Fainas inesquecíveis no Cais do Pijiguiti










Fontes:
Fotos do arquivo pessoal do autor do blogue, por especial cortesia e cedência do 1TEN AN Ref. Raul Sousa Machado;


mls

18 setembro 2019

Biblioteca Central da Marinha - Os 50 anos de aumento ao efectivo da LFG “Cassiopeia”


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 21 de Março de 2014)

Mostra bibliográfica e documental sob o título 50 Anos volvidos sobre o aumento ao efectivo da LFG «Cassiopeia»





Em 13 de Janeiro de 2014 foi inaugurada na Biblioteca Central da Marinha uma mostra bibliográfica e documental sob o título 50 Anos volvidos sobre o aumento ao efectivo da LFG «Cassiopeia», que esteve patente ao público até dia 22 de Março dacquele ano.

Estiveram presentes os então Director da Comissão Cultural de Marinha, Vice-Almirante Oliveira Viegas, o Director da Biblioteca Central da Marinha, Comandante Rocha de Freitas, o Director do Museu de Marinha, Comandante Costa Canas, além de outras personalidades e público não descriminado.



Na totalidade, o número de pessoas presentes pode ser entendido como excessivamente reduzido para um evento que constitui um registo importante da participação da Marinha na Guerra do Ultramar, na segunda metade do século passado, entre os anos de 1961 e 1975. Provavelmente, expressará apenas o resultado de uma divulgação antecipada pouco abrangente.

Esta parcela da memória histórica recente da Marinha de Guerra, passa inevitavelmente pelo envolvimento de meios navais da Armada com empenhada participação nos teatros de Angola, Moçambique e Guiné, onde as Lanchas de Fiscalização Grande da classe «Argos» constituiram o topo da pirâmide do dispositivo naval estacionado naqueles territórios.




Nos teatros de Angola e Moçambique, com outras características geográficas, hidrográficas e de navegação, a presença de navios de maior porte como avisos, fragatas, corvetas, navios hidrográficos e ainda os antigos destroyers, tiveram presença igualmente significativa.

Outro tanto não se não verificou na Guiné onde, devido à especificidade da hidrografia daquela antiga colónia, com grandes amplitudes de marés, enseadas, braços de mar, rios estreitos e sinuosos, assoreamentos e baixos frequentes, se vieram a revelar inadequados, pouco versáteis e com condições de navegabilidade especialmente difíceis ou mesmo impossíveis.

Representaram um indispensável apoio operacional e logístico, especialmente até 1964 e em águas costeiras safas, mas apenas a presença de meios navais de apoio e intervenção operacionais como as LFG - Lanchas de Fiscalização Grandes, LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, LFP - Lanchas de Fiscalização Pequenas, LDM - Lanchas de Desembarque Médias e LDP - Lanchas de Desembarque pequenas, construídas especificamente para aquele tipo de condições de conflito, reforçou significativamente a eficácia do dispositivo naval empenhado.

Constituído por um conjunto de unidades navais diversificadas, apelidado de “poeira naval”, ainda que não reunissem condições óptimas, foram considerados os meios suficientes para enfrentarem as difíceis condições de navegabilidade. Havia também que acrescentar manobrabilidade e versatilidade suficientes para poderem enfrentar e responderem, com eficácia, a ataques, emboscadas e flagelações movidos de locais imprevisíveis.





No conjunto do dispositivo naval, assumiram papel especialmente relevante as 10 LFG - Lanchas de Fiscalização Grandes da classe «Argos» de que a LFG «Cassiopeia» foi a quarta unidade naval a ser aumentada ao efectivo em 13 de Janeiro de 1964 e, no caso, a primeira a ser fabricada nos Estaleiros Navais do Alfeite.

Anteriormente, já a LFG «Argos», que deu o nome à classe, e as LFG «Dragão», LFG «Escorpião» e LFG «Pégaso», construídas nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, tinham sido aumentadas ao efectivo dos navios da Armada, respectivamente em 14Jun63, 17Jul63, 21Ago63 e 16Out63.

Como pode constatar-se, todas estas 4 LFG que antecederam nas datas de aumento ao efectivo a LFG «Cassiopeia», cumpriram no ano transacto os mesmos 50 anos sobre a data de aumento ao efectivo dos navios da Armada e, a seguir idêntico procedimento, seria normal que a escolha recaisse sobre a primeira unidade naval que deu o nome à classe, a LFG «Argos».




Ainda que se possa classificar esta mostra bibliográfica e documental como um primeiro e simples passo, sem lhe retirar o que de significativo tem, porque não foi levada a cabo esta acção de divulgação apenas no ano em que se comemoraram os 150 anos do Museu de Marinha e com a primeira unidade naval da classe, ou porquê a LFG «Cassiopeia» e naquela data?

Deixo a dúvida pela falta de entendimento que em mim suscitou o navio escolhido e a data.

Também nos Estaleiros Navais do Alfeite e com datas de aumento ao efectivo, respectivamente em 11Abr64, 19Jun64, 20Out64, 25Abr65 e 04Set65, foram posteriormente construídas as LFG «Hidra», LFG «Lira», LFG «Orion», LFG «Cassiopeia», LFG «Centauro» e LFG «Sagitário».

Nos diversos expositores patentes na entrada da Biblioteca Central da Marinha esteve exibida documentação diversa de que se destacam mensagens, diários náuticos, relatórios de comando, anuais ou de operações, notícia publicada sobre a Operação “Mar Verde”, relatórios de missão de fiscalização, fotos e desenhos, mapas, desenhos de construção naval, provas de mar, etc.




De forma sucinta, todos aqueles documentos representam parte de um significativo espólio à guarda do Arquivo de Marinha, que ilustra a importância daquela dezena de unidades navais na manutenção da então soberania e presença do dispositivo naval em Angola, Moçambique e Guiné, palcos da Guerra do Ultramar. Também S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde integram de forma alargado o conceito, ainda que sem conflito armado propriamente dito.

Será importante destacar especialmente a Guiné onde, entre 1969 e 1974, chegaram a estar em permanência sete das dez unidades da classe. Em 1969 e 1970 regressaram de Moçambique, as LFG «Argos» e LFG «Dragão», para onde tinham ido da Guiné em 1974, depois de ali terem sido as primeiras a estacionar, em 1973, juntamente com a LFG «Escorpião».

Verificadas a falta de condições de segurança, em situações de emboscadas sofridas, por inexistência de protecções balísticas, foram aqueles navios substituídos pelas LFG «Cassiopeia», LFG «Hidra» e LFG «Lira», já convenientemente apetrechadas à saída dos Estaleiros do Alfeite com blindagens na ponte alta, casa das máquinas, casa dos motores auxiliares e paiol de munições.

Sendo que as duas primeiras, as LFG «Argos» e LFG «Dragão» foram para Moçambique, ficando atribuídas àquele Comando Naval, a LFG «Escorpião» ficou atribuída ao Comando Naval de Angola onde permaneceu até ao final do tempo de vida operacional, alternando com algumas comissões de soberania em S. Tomé e Príncipe. Ali se lhe juntaram posteriormente as LFP «Pégaso» e «Centauro».




Uma questão também pertinente, prende-se com o facto de não ter verificado, na inauguração da mostra bibliográfica e documental, a presença de qualquer antigo comandante daqueles navios que, ao tempo, comandaram aquelas unidades, então no posto de 1.º Tenente, em vários das unidades navais e em qualquer um dos territórios mencionados.

Ainda que correndo o risco de errar, e se assim suceder aqui deixo exarado o meu pedido de desculpas pelo lapso, apenas estiveram presentes na inauguração da mostra dois oficiais imediatos, ambos da LFG «Orion», sendo que um dos Quadros Permanentes e outro da Reserva Naval, eu próprio. Participação escassa para uma mostra bibliográfica e documental sobre as LFG da classe «Argos».

Já por variadas vezes, em anteriores publicações o tema LFG da classe «Argos» foi abordado. Destacam-se, além de outros, os seguintes artigos onde são apontados algumas pistas com interesse ainda que possam ser consideradas, nos números apresentados, meras estimativas:


“...Em guarnições com 2 oficiais, 4 sargentos e 21 praças terão desfilado naquelas unidades navais próximo dos 1.800 a 2.000 homens, correspondendo a 140 oficiais, 280 sargentos e 1470 praças.....”
....
“...Desempenharam funções como Comandantes das LFG – Lanchas de Fiscalização Grandes, 67 oficiais dos Quadros Permanentes e como Oficiais Imediatos, 67 oficiais da Reserva Naval e mais outros 7 oficiais dos Quadros Permanentes. ...”

Ou ainda em:


Considero merecedora de mais cuidada e alargada abordagem institucional a temática Lanchas de Fiscalização Grandes da classe «Argos» com melhor divulgação e mais empenhada participação. De qualquer das formas, não sendo historiador ou sociólogo, mas fazendo parte de um público interessado, considero francamente positiva a mostra bibliográfica levada a cabo.

Aqui fica expresso o meu agradecimento público pelo amável convite pessoal que me foi feito então pela Exma. Sra. Dra. Isabel Beato, Chefe do Arquivo Histórico do Arquivo Central de Marinha.




Fontes:
Comissão Cultural de Marinha; Biblioteca Central da Marinha; Museu de Marinha; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), 15º VOL, Comissão Cultural da Marinha, 2004; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP), 16º VOL, Comissão Cultural da Marinha, 2005; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Desembarque Grandes (LDG), Médias (LDM) e Pequenas (LDP, 16º VOL, Comissão Cultural da Marinha, 2006; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; arquivo do autor do blogue, Arquivo de Marinha e Revista da Armada


mls

11 setembro 2019

Moçambique, DFE4 - A captura de Fernando Assane

DFE 4 - Moçambique, 1967/1969

cultura&memória


Preâmbulo

O DFE4, sob o comando do signatário desta crónica, cumpriu uma Comissão de Serviço em Moçambique entre Novembro de 1967 e Dezembro de 1969.

Realizou 70 operações correspondentes a cerca de 300 dias no mato, percorrendo perto de 3.500 km (valor estimado) além das deslocações em viaturas, aviões, helicópteros, combóio, meios navais, etc.

Nesta narrativa vou recordar factos ocorridos na 8.ª Operação, baptizada com a designação de “Chave de Ouro II”, por julgar causar boa disposição a quem a quiser ler.

Por natureza, formação e para minha defesa pessoal, só recordo acontecimentos que deram satisfação e boa disposição. Apesar dos enormes esforços físicos que nos foram exigidos nunca senti que qualquer dos homens que serviram comigo manifestasse sintomas de “stress” ou outros sentimentos deprimentes. Toda a nossa actividade se desenvolvia com entusiasmo, aventureirismo e satisfação pelo dever cumprido.

O Lago Niassa, um dos maiores reservatórios de água doce do mundo, estava sob jurisdição do CDPLN - Comando da Defesa dos Portos do Lago Niassa. Considerava-se haver 3 portos com cais acostáveis: Metangula, Cobué e Meponda.

O Lago era patrulhado por lanchas, de fiscalização e de desembarque. Todos os meios navais foram transportados a partir do Oceano Índico, utilizando a linha de caminho-de-ferro e viaturas de grandes dimensões, numa epopeia que causa a maior perplexidade a quem tem curiosidade de saber como tudo se passou.


Pressupostos

Em Janeiro de 1968 dois comandantes de lanchas, em dias diferentes, comunicaram ao CDPLN terem sido flagelados com tiros de armas ligeiras, a partir duma vasta zona conhecida por Meluluca, tendo ripostado com peças de 20 mm. O controlo desta área era da responsabilidade do DFE4.

Consequentemente, o Estado-Maior do CDPLN gizou uma Ordem de Operações determinando que o DFE4 patrulhasse a referida zona para se inteirar das alterações havidas, já que era suposto estar limpa da presença de guerrilheiros.


Operação Chave de Ouro II

Iniciou-se no dia 14 de Janeiro de 1968. Saída de Metangula pelas 20:00. Dois grupos de combate, num total de cerca de 40 homens, cada um comandado pelo Comandante e Imediato, embarcados em duas lanchas de fiscalização, com todos os meios necessários e suficientes para que a operação decorresse com toda a segurança.

Navegando em total ocultação de luzes, já perto do local de desembarque, previamente determinado, cerca das 22:00, surgiu uma tempestade medonha, com ventos muito fortes, chuva grossa e intensa, raios e trovões. O desembarque, na foz do rio Lussefa, realizou-se debaixo deste temporal. Os primeiros homens, de joelhos e com as mãos abriam trilhos na areia para detectarem a presença de minas antipessoais. O distrito do Niassa era cognominado de “estado de minas gerais”!...

Já em terra, ficámos de pé, encostados às árvores existentes, procurando descansar. O solo estava com mais de 20 cm de água! Por outro lado seria muito arriscado movimentarmo-nos sem vermos nada. Os relâmpagos cegavam-nos. O temporal foi amainando e os primeiros alvores surgiram cerca das 05:00, já com o céu limpo. Imediatamente, iniciámos a deslocação em coluna de “pirilau” (fila indiana) com o grupo do Imediato à frente. Percorridos cerca de 800 metros o Comandante foi chamado à frente pois foram avistadas pegadas fresquíssimas, completas e muito bem definidas, em terra cultivada, o que indiciava terem andado por ali dois homens já depois das chuvas.

Os rastos, em passos normais, eram o testemunho de que não se tinham apercebido da nossa presença. As pegadas inflectiam para um trilho bastante batido, pelo que o grupo do Imediato se dispôs-se T, com duas MG42 nos extremos e um LGF a meio, junto a si. Enquanto o grupo do Imediato se preparava para o combate, o grupo do Comandante, sempre em linha, trepou um monte à direita por forma a flanquear uma possível base inimiga ali sediada haveria poucos dias.

Andados cerca de 200 metros, o grupo do Comandante via perfeitamente o aglomerado de palhotas novas. Houve que esperar que o grupo do Imediato se aproximasse até cerca de 30 a 40 metros. Naquela progressão foi avistado um posto de vigilância, em cima de uma árvore, desguarnecido. Em terra, o hipotético vigia “aliviava a tripa”!!! Em vez de limpar o traseiro levou a mão à espingarda, que tinha ao seu lado. Azar o seu. Gerou-se um tiroteio violentíssimo que durou aproximadamente 4 a 5 minutos. Uma eternidade para quem estava a ver o desenrolar do combate. E ao mesmo tempo, ia fazendo uns tiros certeiros. Tipo tiro ao alvo.

O acampamento era formado por 25 a 30 palhotas, estrategicamente camufladas debaixo das árvores. Após o combate, foi montada a segurança, contados os mortos, passada revista às palhotas, recolhidos armas e documentos, sendo o acampamento destruído pelo fogo. Não ficaram feridos no terreno. Presumimos que os sobreviventes os tenham levado.


A Captura

Terminada a rotina da apreensão dos materiais encontrados foi o Comandante alertado para o facto de haver um rasto de sangue na periferia, indicando um ferido em fuga precipitada, a corta mato, em direcção a sul. Os sobreviventes, levando os feridos, terão fugido por um trilho muito batido em direcção a leste.

Passados 10 a 15 minutos para descanso e para comermos, seriam perto das 07:00, encetámos a perseguição ao ferido. O sangue deixado no capim ia diminuindo, até que desapareceu. O capim partido denunciava a passagem do fugitivo. Cerca das 11:30, já com o sol a pique, chegámos à beira de uma ravina, inclinada a cerca de 60°, com o talude completamente desnudado. A 120 m, em linha recta havia uma baía, à beira do lago, onde estavam implantadas 5 a 6 palhotas.

Houve que ponderar a decisão a tomar para avançarmos num terreno sem qualquer protecção. Decidimos avançar, estendidos em linha curva, tipo meia-lua, convictos de que iríamos encontrar o ferido fugido do Lussefa. Lentamente, passo a passo, íamos avançando sempre com receio de sermos “mal recebidos”! Passada a revista às palhotas - ali havia um tufo de árvores que as encobriam - concluímos terem sido abandonadas precipitadamente, sem deixarem objectos palpáveis. Havia 9 casquinhas que eram embarcações manufacturadas a partir de troncos de árvores.




Marinheiro FZE Fernandes Cruz, Fernando Assane e Marinheiro FZE Fernando Caçador


O ferido? Sem rasto!

Foi então que entrou em acção o nosso guia intérprete que sempre nos acompanhava, o Domingos Aíde. A plenos pulmões gritou, ora em dialecto "ajaua" ora em "nianja", dizendo que sabíamos estar ali e que se não se apresentasse varríamos tudo com rajadas de metralhadora e granadas. Ao mesmo tempo garantíamos que nada de mal lhe aconteceria.

Passados cerca de 10 minutos, um dos muitos montes de pedregulhos ali existentes, parecia ter ganho vida. Afastando as pedras, surgiu um homem com cerca de 25 anos, bastante corpulento e bexigoso, tremendo como varadas verdes. As suas queixadas pareciam castanholas sevilhanas!

O Domingos Aíde, muito calmamente, apresentou o Comandante daquela tropa, garantindo que ninguém lhe faria mal. Teria que colaborar respondendo com verdade às perguntas que lhe íamos fazer. Aparentemente mais calmo, identificou-se como "Fernando Assane", nascido próximo de Nova Coimbra, que viera para ali destacado havia cerca de uma semana, com o objectivo de fazer fogo contra embarcações que passassem nas proximidades da “base do Lussefa”. Ficámos a saber que tínhamos atacado e destruído a “base do Lussefa”. Informou que falava português e que fora ferido na perna esquerda durante o tiroteio. O nosso enfermeiro desinfectou o ferimento. Não era profundo.

Ordenei que fosse buscar a sua arma. Logo uns fuzos se precipitaram com receio de que fizesse uso “indevido” da dita. Impus que seria ele a ir buscar a arma e a entregá-la. Lá foi ao amontoado de pedras e trouxe uma metralhadora com dispositivo para fogo contra aeronaves, com dimensões muito avantajadas, bastante pesada e diferente das que era suposto serem utilizadas pela Frelimo. Informou que para manusear aquele “brinquedo” tinha recebido instrução na Tanzânia.




José Cardoso Moniz (Comandante do DFE 4) e Fernando Assane

De imediato houve uma forte empatia entre o guerrilheiro e os fuzileiros. Depois das manifestações de pânico e à medida que ia acalmando, começou a aceitar alimentos consigo partilhados. Como ficou dito havia 9 casquinhas. Comunicámos com o CDPLN e pedimos para sermos reembarcados. Depois daquele tiroteio, todos os possíveis habitantes fugiram para longe. Solicitámos ainda que fosse disponibilizada uma LDP para transportar as 9 casquinhas que poderiam ser aproveitadas pelos pescadores de Metangula.


Apresentação do Prisioneiro ao CDPLN

Reembarcámos, regressámos a Metangula onde todos os oficiais, sargentos e muitas praças nos esperavam. Entre todos estava Orlando Cristina. Este, logo manifestou interesse em entrevistar o Fernando Assane. A conversa foi longa, em dialecto "nianja". O Domingos Aíde ia traduzindo.

Quando o Orlando ficou satisfeito e dispensou o Fernando este, com um sorriso matreiro, perguntou-lhe: “O senhor não se lembra de mim?”!!!

O Orlando, embasbacado e atento à fisionomia do Fernando, confessou não se lembrar. O Fernando, com uma grande lata, diz-lhe:

O senhor foi casado com a minha irmã. Sou filho do régulo…” (não me recordo do nome). O Domingos Aíde nem conseguia traduzir de tanto rir.

Depois foi a risota geral.

"Vai-te lá embora, vai-te lá embora”, disse o Orlando.

O Fernando foi entregue no Posto Administrativo de Metangula onde esteve sob prisão durante menos de uma semana. Foi-nos devolvido e integrado no DFE 4 como guia, com direito a usar a G3 sempre que saía connosco.

As casquinhas constituíram o embrião duma empresa de pesca organizada pelos Comandantes Conceição e Silva e Chuquere. Contrataram pescadores, compraram as artes necessárias e foram profícuos na pesca no Lago Niassa, onde pontificava um peixe de nome "Kapango" que chegava a pesar uns 8 kg. Uma espécie de perca do Nilo.

Esta foi uma das muitas peripécias vividas na guerra que travámos em África.

Que saudades daqueles tempos!!!




José Cardoso Moniz
Sócio Originário n.º 36 da AFZ
CMG


Fontes:
Texto e fotos já publicados na Revista "O Desembarque" n.º 21 da Associação de Fuzileiros, Junho 2015, autoria de José Cardoso Moniz (CMG FZE) comandante do DFE 4, Moçambique 1967/69;




Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

07 setembro 2019

51.º CFORN na Escola Naval - Juramento de Bandeira


Juramento de Bandeira do 51.º CFORN - O Dia Esperado






A foto de família do 51.º CFORN na portaria da Escola Naval




Era chegado o dia tão ansiosamente esperado e para o qual nos tínhamos preparado durante a nossa estadia na Escola Naval.

Depois de várias semanas de treino de “ordinário, hop, marche”, de “hop, dois, esquerdo, direito” e do nosso preferido “destroça”, passámos à instrução com a arma pontiaguda, o sabre, ainda não baptizado pelo Sargento Fuzileiro Talhadas, veterano de várias guerras.

Esta implicava novos movimentos, “ombro arma”, “apresentar arma” e, a favorita de todos, “funeral armas”, que foi objecto de várias piadas e valeu a um camarada, com menos destreza manual, a alcunha de “engolidor de espadas”.

O próprio material não ajudava, assistindo-se à queda de baínhas, a talins que se soltavam ou a sabres que não saíam das baínhas.

O dia 4 de Julho de 1986 acordou ensolarado e nós despertámos, com a excitação, muito antes do toque de alvorada. Já esperando e temendo as tão esperadas praxes e a formalidade da cerimónia. Não ficámos desiludidos, o toque de alvorada em estilo jazz marcou o início do dia.

Depois das lavagens e da barba feita, chegou a hora de vestir a farda de gala, não esquecendo de subir para cima da arca para não sujar as calças com pó ou pôr, cautelosamente, a perna por vestir na boca. O dolman exigia outros cuidados, prender, com cuidado, as platinas para não caírem na parada e começar sempre pelo colarinho e ir descendo.

Brancos eram também os sapatos, as luvas e o boné. No fim, verificámos se havia giz no bolso para disfarçar as nódoas em tanto branco.

Depois do pequeno-almoço reforçado, para nos precavermos de tonturas e desmaios, abastecemo-nos de pacotes de açúcar, para o mesmo fim. Em seguida fomos buscar as armas, devidamente embebidas em vaselina para não falharem na hora da verdade.

O calor do Verão afligia-nos e receávamos desmaiar e cair “de redondo”, como acontecera com um camarada um ou dois dias antes. Estragando assim fácies e roupa. Por isso procurávamos recorrer a todos os truques que nos tinham sido ensinados e que tão úteis nos foram. A brisa do rio Tejo ajudou-nos e à cerimónia, entrando por entre os botões da farda.

Depois de assistirmos, de longe, à chegada do Vice-Almirante Superintendente dos Serviços de Material, com honras militares e música, preparámo-nos para formar na parada.

Durante a mesma distraímo-nos como pudemos conversando em surdina, vendo as meninas que assistiam e mexendo sempre os dedos dos pés, para evitarmos desmaios. Depois de terminar a música, os discursos, a entrega de espadas e os prémios, desfilámos frente à tribuna. Tão alinhadinhos, tão alinhadinhos que eu na última fila tive de olhar para trás, estragando tudo e provocando uma gargalhada sonora na multidão.

Depois do “destroça”, das fotos da ordem e das despedidas, alguns de nós foram almoçar as “lulas de caldeirada” com muito molho. Nova praxe?

Daí em diante começou a nossa carreira na “Briosa”.




Mário Castro Ferro
51º CFORN


Fontes:
Texto assinado pelo autor com foto pessoal, STEN RN Mário Castro Ferro, que integrou a Classe de Especialistas do 51.º CFORN-Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval; foto de arquivo do 51.º CFORN e listagem e listagem do Curso do Anuário da Reserva Naval 1976-1992 de Manuel Lema Santos, Edição AORN 2011;


mls

01 setembro 2019

USS "Bataan" - LHD 5


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 4 de Maio de 2014)

USS "Bataan" - LHD 5 em Lisboa







O USS BATAAN (LHD 5) da classe «Wasp», é um navio de assalto anfíbio da Marinha dos Estados Unidos, com cerca de 257 metros de comprimento, 41.000 toneladas de deslocamento, 32 metros de altura e atinge uma velocidade superior a 23 nós (milhas/hora).

A guarnição conta com mais de 1.000 elementos entre Oficiais, Sargentos e Praças, além de quase 2.000 Marines.

O USS «Bataan» iniciou a actividade operacional a 20 de Setembro de 1997 e o seu nome foi inspirado na Batalha de Bataan, nas Filipinas, durante a Segunda Guerra Mundial, em homenagem à resistência americana e filipina na península com o mesmo nome. Actualmente encontra-se preparado quer para missões de assistência humanitária quer de combate, em qualquer parte do mundo.

Entre as várias tarefas humanitárias, prestou apoio após o furacão “Katrina” em 2005, sendo o primeiro a chegar ao local e a prestar assistência. Há quatro anos auxíliou ainda as vítimas do Terramoto do Haiti. Serviu em operações de combate na Guerra do Iraque em 2003.






O gigante tem uma área reservada para os veículos militares bem como uma ala hospitalar, com uma equipa de cerca de meia centena de profissionais de saúde, entre os quais seis médicos, dois cirurgiões e um dentista.

Este “mini-hospital” tem quatro salas de cirurgia, três salas de observações, uma unidade de cuidados intensivos com 14 camas e uma enfermaria com 46 (com capacidade para aumentar até mais de 200).

No Haiti, esta ala hospitalar ficou responsável pelo tratamento médico de 96 cidadãos do país, tendo tido inclusivamente o primeiro parto a bordo.

No convés do navio, que pode parecer um porta-aviões mas não o é, por não dispor de pista para descolagem, alinham-se ainda cerca de 30 aeronaves e helicópteros de diversos tipos: «CH-53E Super Stallion», «AV-8B Harriers», «MH53E Super Stallions», «MH-60SSea Hawks», «AH-IW Cobra», entre outros. Todos podem efectuar descolagem na vertical.

No conjunto, estão preparados tanto para missões de combate como para missões de ajuda.






O «LHD 5» esteve em Liboa por 3 vezes. Em 6 de Junho de 2003, durante seis dias, em 20 de Janeiro de 2010, durante cinco dias, e em 27 de Fevereiro de 2014, durante três dias.

Nesta última visita, esteve atracado no cais do Jardim do Tabaco, e a Embaixada Americana organizou uma visita guiada no dia 28 de Fevereiro ao USS «Bataan» (LHD 5) para ex-bolseiros de programas de intercâmbio do governo americano e suas famílias.

Para além da informação que recolheram sobre o navio e a sua história, os "Alumni" e seus familiares estiveram no hangar, no convés de voo e viram um grande número de aeronaves.

Todas as fotos publicadas são de arquivo autor do blogue, efectuadas em Junho de 2003, quando esteve atracado igualmente atracado no cais do Jardim do Tabaco.










A Batalha de Bataan

A "Batalha de Bataan" foi uma das primeiras e mais duras batalhas acontecidas entre norte-americanos e japoneses durante a II Guerra Mundial, no início da Guerra do Pacífico, durante a invasão das Filipinas pelo Japão em Dezembro de 1941, poucos dias após o ataque japonês a Pearl Harbour.

A batalha teve lugar na Península de Bataan, na ilha de Luzon, principal ilha das Filipinas, de Janeiro a Abril de 1942, entre as forças invasoras japonesas comandadas pelo General Masaharu Homma e os defensores norte-americanos e filipinos comandados pelo General Douglas MacArthur.

Determinados na sua defesa em Bataan e na ilha de Corregidor, uma fortaleza naval situada no meio da Baía de Manila, após a tomada da capital e da quase totalidade do país pelo exército japonês, MacArthur e os seus soldados entrincheiraram-se na península, onde durante mais de três meses lutaram atacados por terra, mar e ar, aguardando reforços (tropas, munições e provisões) a serem trazidos pela Marinha dos Estados Unidos.






Entretanto, a falta de recursos dos americanos no começo da guerra, que tiveram quase toda a sua frota no Pacífico destruída em Pearl Harbor, impediu essa ajuda e em 9 de Abril de 1942, após a partida de MacArthur para a Austrália, quando proferiu sua famosa frase: "Eu voltarei!", mais de 70 000 soldados americanos e filipinos renderam-se aos japoneses.

A queda de Bataan arrastou a tomada de Corregidor um mês depois que culminou na rendição total dos norte-americanos nas Filipinas. Porém, o tempo em que as tropas de MacArthur conseguiram resistir a um inimigo superior em armas, munições e mantimentos, permitiu aos americanos ganharem tempo para se prepararem melhor contra os japoneses nas batalhas vindouras no Pacífico, em que começariam a inverter o sentido da guerra.

A península de Bataan voltaria a ser retomada por tropas americanas e filipinos em 8 de Fevereiro de 1945, com a reocupação aliada das Filipinas e da rendição japonesa.

O ponto mais alto da ilha de Bataan, é o Monte Natiba e a sul ergue-se o monte Samat, local histórico de partida da infame Marcha da Morte durante a II Guerra Mundial.









Fontes:
http://www.uscarriers.net/lhd5history.htm e também em http://pt.wikipedia.org/wiki/Bataan


mls