07 setembro 2019

51.º CFORN na Escola Naval - Juramento de Bandeira


Juramento de Bandeira do 51.º CFORN - O Dia Esperado






A foto de família do 51.º CFORN na portaria da Escola Naval




Era chegado o dia tão ansiosamente esperado e para o qual nos tínhamos preparado durante a nossa estadia na Escola Naval.

Depois de várias semanas de treino de “ordinário, hop, marche”, de “hop, dois, esquerdo, direito” e do nosso preferido “destroça”, passámos à instrução com a arma pontiaguda, o sabre, ainda não baptizado pelo Sargento Fuzileiro Talhadas, veterano de várias guerras.

Esta implicava novos movimentos, “ombro arma”, “apresentar arma” e, a favorita de todos, “funeral armas”, que foi objecto de várias piadas e valeu a um camarada, com menos destreza manual, a alcunha de “engolidor de espadas”.

O próprio material não ajudava, assistindo-se à queda de baínhas, a talins que se soltavam ou a sabres que não saíam das baínhas.

O dia 4 de Julho de 1986 acordou ensolarado e nós despertámos, com a excitação, muito antes do toque de alvorada. Já esperando e temendo as tão esperadas praxes e a formalidade da cerimónia. Não ficámos desiludidos, o toque de alvorada em estilo jazz marcou o início do dia.

Depois das lavagens e da barba feita, chegou a hora de vestir a farda de gala, não esquecendo de subir para cima da arca para não sujar as calças com pó ou pôr, cautelosamente, a perna por vestir na boca. O dolman exigia outros cuidados, prender, com cuidado, as platinas para não caírem na parada e começar sempre pelo colarinho e ir descendo.

Brancos eram também os sapatos, as luvas e o boné. No fim, verificámos se havia giz no bolso para disfarçar as nódoas em tanto branco.

Depois do pequeno-almoço reforçado, para nos precavermos de tonturas e desmaios, abastecemo-nos de pacotes de açúcar, para o mesmo fim. Em seguida fomos buscar as armas, devidamente embebidas em vaselina para não falharem na hora da verdade.

O calor do Verão afligia-nos e receávamos desmaiar e cair “de redondo”, como acontecera com um camarada um ou dois dias antes. Estragando assim fácies e roupa. Por isso procurávamos recorrer a todos os truques que nos tinham sido ensinados e que tão úteis nos foram. A brisa do rio Tejo ajudou-nos e à cerimónia, entrando por entre os botões da farda.

Depois de assistirmos, de longe, à chegada do Vice-Almirante Superintendente dos Serviços de Material, com honras militares e música, preparámo-nos para formar na parada.

Durante a mesma distraímo-nos como pudemos conversando em surdina, vendo as meninas que assistiam e mexendo sempre os dedos dos pés, para evitarmos desmaios. Depois de terminar a música, os discursos, a entrega de espadas e os prémios, desfilámos frente à tribuna. Tão alinhadinhos, tão alinhadinhos que eu na última fila tive de olhar para trás, estragando tudo e provocando uma gargalhada sonora na multidão.

Depois do “destroça”, das fotos da ordem e das despedidas, alguns de nós foram almoçar as “lulas de caldeirada” com muito molho. Nova praxe?

Daí em diante começou a nossa carreira na “Briosa”.




Mário Castro Ferro
51º CFORN


Fontes:
Texto assinado pelo autor com foto pessoal, STEN RN Mário Castro Ferro, que integrou a Classe de Especialistas do 51.º CFORN-Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval; foto de arquivo do 51.º CFORN e listagem e listagem do Curso do Anuário da Reserva Naval 1976-1992 de Manuel Lema Santos, Edição AORN 2011;


mls

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