(Post reformulado a partir de outro já publicado em 21 de Março de 2014)
Mostra bibliográfica e documental sob o título 50 Anos volvidos sobre o aumento ao efectivo da LFG «Cassiopeia»
Em 13 de Janeiro de 2014 foi inaugurada na Biblioteca Central da Marinha uma mostra bibliográfica e documental sob o título 50 Anos volvidos sobre o aumento ao efectivo da LFG «Cassiopeia», que esteve patente ao público até dia 22 de Março dacquele ano.
Estiveram presentes os então Director da Comissão Cultural de Marinha, Vice-Almirante Oliveira Viegas, o Director da Biblioteca Central da Marinha, Comandante Rocha de Freitas, o Director do Museu de Marinha, Comandante Costa Canas, além de outras personalidades e público não descriminado.
Na totalidade, o número de pessoas presentes pode ser entendido como excessivamente reduzido para um evento que constitui um registo importante da participação da Marinha na Guerra do Ultramar, na segunda metade do século passado, entre os anos de 1961 e 1975. Provavelmente, expressará apenas o resultado de uma divulgação antecipada pouco abrangente.
Esta parcela da memória histórica recente da Marinha de Guerra, passa inevitavelmente pelo envolvimento de meios navais da Armada com empenhada participação nos teatros de Angola, Moçambique e Guiné, onde as Lanchas de Fiscalização Grande da classe «Argos» constituiram o topo da pirâmide do dispositivo naval estacionado naqueles territórios.
Nos teatros de Angola e Moçambique, com outras características geográficas, hidrográficas e de navegação, a presença de navios de maior porte como avisos, fragatas, corvetas, navios hidrográficos e ainda os antigos destroyers, tiveram presença igualmente significativa.
Outro tanto não se não verificou na Guiné onde, devido à especificidade da hidrografia daquela antiga colónia, com grandes amplitudes de marés, enseadas, braços de mar, rios estreitos e sinuosos, assoreamentos e baixos frequentes, se vieram a revelar inadequados, pouco versáteis e com condições de navegabilidade especialmente difíceis ou mesmo impossíveis.
Representaram um indispensável apoio operacional e logístico, especialmente até 1964 e em águas costeiras safas, mas apenas a presença de meios navais de apoio e intervenção operacionais como as LFG - Lanchas de Fiscalização Grandes, LDG - Lanchas de Desembarque Grandes, LFP - Lanchas de Fiscalização Pequenas, LDM - Lanchas de Desembarque Médias e LDP - Lanchas de Desembarque pequenas, construídas especificamente para aquele tipo de condições de conflito, reforçou significativamente a eficácia do dispositivo naval empenhado.
Constituído por um conjunto de unidades navais diversificadas, apelidado de “poeira naval”, ainda que não reunissem condições óptimas, foram considerados os meios suficientes para enfrentarem as difíceis condições de navegabilidade. Havia também que acrescentar manobrabilidade e versatilidade suficientes para poderem enfrentar e responderem, com eficácia, a ataques, emboscadas e flagelações movidos de locais imprevisíveis.
No conjunto do dispositivo naval, assumiram papel especialmente relevante as 10 LFG - Lanchas de Fiscalização Grandes da classe «Argos» de que a LFG «Cassiopeia» foi a quarta unidade naval a ser aumentada ao efectivo em 13 de Janeiro de 1964 e, no caso, a primeira a ser fabricada nos Estaleiros Navais do Alfeite.
Anteriormente, já a LFG «Argos», que deu o nome à classe, e as LFG «Dragão», LFG «Escorpião» e LFG «Pégaso», construídas nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, tinham sido aumentadas ao efectivo dos navios da Armada, respectivamente em 14Jun63, 17Jul63, 21Ago63 e 16Out63.
Como pode constatar-se, todas estas 4 LFG que antecederam nas datas de aumento ao efectivo a LFG «Cassiopeia», cumpriram no ano transacto os mesmos 50 anos sobre a data de aumento ao efectivo dos navios da Armada e, a seguir idêntico procedimento, seria normal que a escolha recaisse sobre a primeira unidade naval que deu o nome à classe, a LFG «Argos».
Ainda que se possa classificar esta mostra bibliográfica e documental como um primeiro e simples passo, sem lhe retirar o que de significativo tem, porque não foi levada a cabo esta acção de divulgação apenas no ano em que se comemoraram os 150 anos do Museu de Marinha e com a primeira unidade naval da classe, ou porquê a LFG «Cassiopeia» e naquela data?
Deixo a dúvida pela falta de entendimento que em mim suscitou o navio escolhido e a data.
Também nos Estaleiros Navais do Alfeite e com datas de aumento ao efectivo, respectivamente em 11Abr64, 19Jun64, 20Out64, 25Abr65 e 04Set65, foram posteriormente construídas as LFG «Hidra», LFG «Lira», LFG «Orion», LFG «Cassiopeia», LFG «Centauro» e LFG «Sagitário».
Nos diversos expositores patentes na entrada da Biblioteca Central da Marinha esteve exibida documentação diversa de que se destacam mensagens, diários náuticos, relatórios de comando, anuais ou de operações, notícia publicada sobre a Operação “Mar Verde”, relatórios de missão de fiscalização, fotos e desenhos, mapas, desenhos de construção naval, provas de mar, etc.
De forma sucinta, todos aqueles documentos representam parte de um significativo espólio à guarda do Arquivo de Marinha, que ilustra a importância daquela dezena de unidades navais na manutenção da então soberania e presença do dispositivo naval em Angola, Moçambique e Guiné, palcos da Guerra do Ultramar. Também S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde integram de forma alargado o conceito, ainda que sem conflito armado propriamente dito.
Será importante destacar especialmente a Guiné onde, entre 1969 e 1974, chegaram a estar em permanência sete das dez unidades da classe. Em 1969 e 1970 regressaram de Moçambique, as LFG «Argos» e LFG «Dragão», para onde tinham ido da Guiné em 1974, depois de ali terem sido as primeiras a estacionar, em 1973, juntamente com a LFG «Escorpião».
Verificadas a falta de condições de segurança, em situações de emboscadas sofridas, por inexistência de protecções balísticas, foram aqueles navios substituídos pelas LFG «Cassiopeia», LFG «Hidra» e LFG «Lira», já convenientemente apetrechadas à saída dos Estaleiros do Alfeite com blindagens na ponte alta, casa das máquinas, casa dos motores auxiliares e paiol de munições.
Sendo que as duas primeiras, as LFG «Argos» e LFG «Dragão» foram para Moçambique, ficando atribuídas àquele Comando Naval, a LFG «Escorpião» ficou atribuída ao Comando Naval de Angola onde permaneceu até ao final do tempo de vida operacional, alternando com algumas comissões de soberania em S. Tomé e Príncipe. Ali se lhe juntaram posteriormente as LFP «Pégaso» e «Centauro».
Uma questão também pertinente, prende-se com o facto de não ter verificado, na inauguração da mostra bibliográfica e documental, a presença de qualquer antigo comandante daqueles navios que, ao tempo, comandaram aquelas unidades, então no posto de 1.º Tenente, em vários das unidades navais e em qualquer um dos territórios mencionados.
Ainda que correndo o risco de errar, e se assim suceder aqui deixo exarado o meu pedido de desculpas pelo lapso, apenas estiveram presentes na inauguração da mostra dois oficiais imediatos, ambos da LFG «Orion», sendo que um dos Quadros Permanentes e outro da Reserva Naval, eu próprio. Participação escassa para uma mostra bibliográfica e documental sobre as LFG da classe «Argos».
Já por variadas vezes, em anteriores publicações o tema LFG da classe «Argos» foi abordado. Destacam-se, além de outros, os seguintes artigos onde são apontados algumas pistas com interesse ainda que possam ser consideradas, nos números apresentados, meras estimativas:
“...Em guarnições com 2 oficiais, 4 sargentos e 21 praças terão desfilado naquelas unidades navais próximo dos 1.800 a 2.000 homens, correspondendo a 140 oficiais, 280 sargentos e 1470 praças.....”
....
“...Desempenharam funções como Comandantes das LFG – Lanchas de Fiscalização Grandes, 67 oficiais dos Quadros Permanentes e como Oficiais Imediatos, 67 oficiais da Reserva Naval e mais outros 7 oficiais dos Quadros Permanentes. ...”
Ou ainda em:
Considero merecedora de mais cuidada e alargada abordagem institucional a temática Lanchas de Fiscalização Grandes da classe «Argos» com melhor divulgação e mais empenhada participação. De qualquer das formas, não sendo historiador ou sociólogo, mas fazendo parte de um público interessado, considero francamente positiva a mostra bibliográfica levada a cabo.
Aqui fica expresso o meu agradecimento público pelo amável convite pessoal que me foi feito então pela Exma. Sra. Dra. Isabel Beato, Chefe do Arquivo Histórico do Arquivo Central de Marinha.
Fontes:
Comissão Cultural de Marinha; Biblioteca Central da Marinha; Museu de Marinha; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), 15º VOL, Comissão Cultural da Marinha, 2004; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP), 16º VOL, Comissão Cultural da Marinha, 2005; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Desembarque Grandes (LDG), Médias (LDM) e Pequenas (LDP, 16º VOL, Comissão Cultural da Marinha, 2006; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; arquivo do autor do blogue, Arquivo de Marinha e Revista da Armada
Comissão Cultural de Marinha; Biblioteca Central da Marinha; Museu de Marinha; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), 15º VOL, Comissão Cultural da Marinha, 2004; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP), 16º VOL, Comissão Cultural da Marinha, 2005; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Desembarque Grandes (LDG), Médias (LDM) e Pequenas (LDP, 16º VOL, Comissão Cultural da Marinha, 2006; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; arquivo do autor do blogue, Arquivo de Marinha e Revista da Armada
mls
1 comentário:
Eu que fui um dos componentes dessas LFG sinto que está esquecida a guarnição da LFG ORION.
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