28 dezembro 2018

Guiné, 1968 - LFG «Sagitário»


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 24 de Janeiro de 2012)

LFG «Sagitário», 1968 - Memórias fotográficas de uma guarnição




A LFG "Sagitário" no rio Cacheu, máquinas a vante toda a força.




Guiné, 1968 - Algures, a bordo da LFG «Sagitário»,
com elementos do Conjunto Académico João Paulo, em missão de entretenimento militar





Ganturé, rio Cacheu - Elementos da guarnição da LFG «Sagitário» jogam futebol




Guiné - No início de 1968, na ponte-cais de Bissau, a equipa de futebol da LFG «Sagitário»;
integrando a equipa, o último em pé do lado direito,
STEN RN José Horácio Miranda, 9.º CFORN, oficial Imediato da LFG





Guarnição e equipa de comunicações da LFG "Sagitário" com o oficial Imediato

Nota:
Não são referenciados outros nomes por não terem sido fornecidos




Fontes: Fotos gentilmente cedidas pelo então Marinheiro C (telegrafista) 243/64, da LFG «Sagitário»;

mls

23 dezembro 2018

Natal Guiné, 1966 e 1967 - Um Reserva Naval na Lancha de Fiscalização Grande «Orion»


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 29 de Dezembro de 2008)

Um Reserva Naval na LFG «Orion» no Natal de 1966 e 1967


Seria sensato afirmar que, para todas as guarnições das diversas unidades navais estacionadas na Guiné, era considerada uma normal situação serem confrontadas com a passagem das festividades de Natal e Fim de Ano, sem que lhes fosse permitido arredar pé daquele teatro de guerra.

Haveria alguns casos esporádicos de licenças , mas sempre concedidas por motivos especiais e eram excepção à regra. Seria correcto assim entendê-lo num conceito necessariamente fechado de hierarquia militar de que a “guerra era igual para todos”.

Também assim foi com a LFG «Orion» que, tendo passado o Natal de 1966 atracada em Bissau, em idêntico período de 1967, entre os dias 23 e 26 de Dezembro, navegava no rio Cacheu, patrulhando e fiscalizando.

Os dois finais de ano foram ambos “comemorados” com a LFG estacionada na ponte-cais em Bissau.




Natal de 1966 - A equipa de Oficiais e Sargentos da LFG «Orion», da esquerda para a direita:
1Sarg ACM Augusto Lenine Abreu, 2Sarg H José Augusto Piteira, 1TEN Luis Joel Pascoal (Comandante), STEN RN Manuel Lema Santos (Imediato), 2Sarg M Alfredo Viegas Galvão e 1Sarg A António Vieira


Bissau era, e foi ao tempo, o único local melhorado de selecção possivel para a comemoração daquela quadra festiva melhorada, comparativamente a eventuais missões operacionais nos rios Cacheu, Cacine, Cumbijã ou em qualquer outro local, mas alguém tinha que ser nomeado para zonas onde as rotinas previstas, quer em escalas habituais quer em estados de prontidão, o impunham.

Tocava a todos!

À época, pairava o conceito de tempo de tréguas ou relativo apaziguamento de acções de flagelação por parte do inimigo no decorrer daquele período, provavelmente correspondendo a alguma redução sensível da nossa actividade operacional, pese embora o registo de diversos ataques sofridos.




Natal de 1966 - Momento de convívio na coberta da LFG «Orion», da esquerda para a direita:
2Sarg M Alfredo Viegas Galvão, Mar A Magalhães, STEN RN Manuel Lema Santos, 2Gr A António Figueira e Mar L Brás (cantineiro)


Nada era certo e, para os que ficavam, certa era a tentativa para esquecerem as dificuldades e os riscos, lembrando familiares, partilhando amizade e convívio com outras unidades, a navegar, no cais ou em terra, telefonando, enviando aerogramas, brindando repetidamente, não regateando um cumprimento ou o abraço.

No meu espírito, ainda hoje, perdura a memória da enorme disponibilidade pessoal e competência profissional de uma guarnição que nunca deixou de manifestar grande apoio ao seu oficial imediato, para lá de grande dedicação e transbordante amizade sempre por mim sentida.




Desta vez já em 1967, da esquerda para a direita:
2Sarg A António Vieira, Mar A Magalhães, 2TEN RN Manuel Lema Santos (Imediato),
Mar M Águas, Cabo F Xavier e 2Gr A António Figueira


Foram inexcedíveis como profissionais e marinheiros, mas também como homens ou como amigos.

Num ideário náutico por mim concebido, continuam todos a fazer parte de uma guarnição da LFG «Orion» com que repetiria a longa jornada sem hesitações.

Para mim foi uma honra ser oficial imediato de tal guarnição e a linha definida de rumo que ainda hoje mantenho, foi também ajudada a traçar com os ensinamentos e experiência que, como oficial e como homem, colhi no desempenho daquelas funções.

Aqui fica o meu testemunho lembrando-os a todos, especialmente os que já não podem partilhar o nosso convívio.


Nota:
O 2 Gr A António Figueira, semanas depois, em 13 de Janeiro de 1968, acabaria por ser ferido em combate no rio Cacheu, Tancroal e, apesar de ferido, manteve-se disparar sobre o inimigo.




Fontes:
Texto redigido, compilado e adaptado pelo autor do blogue; Imagens de arquivo do espólio pessoal do autor, então oficial Imediato da LFG «Orion»;


mls

04 dezembro 2018

Guiné, 1968 - "Oração de Beli"


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 25 de NMovembro de 2011)

Ainda uma oração elaborada por "Eles..."






Fontes:
Texto de fundo da poesia original cedido pelo Alferes médico Miliciano Alberto Lema Santos, BCaç 1933, recolhido enquanto permaneceu em Madina do Boé;


mls

30 novembro 2018

53.º CFORN regressou à Escola Naval


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 19 de Novembro de 2011)


53.º CFORN - 25 anos depois, de novo na Escola Naval em Setembro de 2011





Na portaria da Escola Naval, da esquerda para a direita:
1ª fila (degrau inferior): Nuno Manuel de Abreu Veloso, António Jorge Aldinhas Ferreira, João Antero Nascimento dos Santos Cardoso, Luís Filipe Pires Fernandes, Luís Filipe Matos de Araújo Maia
e 1TEN André Cardoso de Morais (Oficial de Dia);
2ª fila: António Cândido Lampreia Pereira Gonçalves e Nelson Bruno Monteiro Ferreira Pacheco;
3ª fila: Jorge Manuel Fernandes Nunes, José Eduardo Sabido Gualdino Ferreira Martins,
CMG Aníbal Soares Ribeiro (2.º Comandante da EN), Orlando António Pires Leitão
e António Antunes Gaspar Pita;
4ª fila (degrau superior): António Manuel da Silva Bernardes, Manuel de Oliveira dos Santos,
Sávio Jacobo Fernandes e José Manuel Gonçalves Reis.



Para comemorarem o 25.º Aniversário da data de admissão na Escola Naval, ali se reencontraram em 17 de Setembro daquele ano, os elementos que integraram o 53.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, com o habitual apoio e hospitalidade já tradicionais da instituição Marinha, sempre disposta a acolher familiarmente e a bem receber antigos alunos e oficiais.

Aquele curso, apenas da classe de Marinha, alistou 17 cadetes em 15 de Setembro de 1986. O Juramento de Bandeira e a promoção a Aspirantes a Oficial teve lugar no dia 14 de Março de 1987.



2011 - A placa comemorativa da efeméride.

Do evento se publicam imagens elucidativas com a presença do 2.º Comandante da Escola Naval, CMG Anibal Soares Ribeiro e o Oficial de Dia, 1TEN André Cardoso de Morais, no decorrer do qual se procedeu ao descerramento de uma placa evocativa da presença daquele curso e data.

Este registo de convívio dos "Gorileiros" - assim ficou conhecido este curso - só foi possível pelo espírito de iniciativa e colaboração do Orlando António Pires Leitão a quem transmitimos especiais felicitações, extensíveis a todo o grupo.


Fontes:Texto do autor do blogue; imagens cedidas por Orlando Pires Leitão (fotos da EN), 53.º CFORN; Anuário da Reserva Naval 1976-1992, Manuel Lema Santos, edição AORN, 2011;

mls

25 novembro 2018

Guiné, 1968 - Beli, "Lá onde..."


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 24 de Novembro de 2011)

"Lá onde...", por "Eles"

Ficaremos sem saber quem eram "Eles" em Beli?

Aqui ficam lamentos em verso, possível rasto para aqueles que possam identificar quem eram e onde estavam "Eles..."







Fontes:
Texto de fundo da poesia original cedido pelo Alferes médico Alberto Lema Santos, BCaç 1933, recolhido enquanto permaneceu em Madina do Boé;


mls

14 novembro 2018

Guiné, 1968 - "Balada de Beli"


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 21 de Novembro de 2011)


"Balada de Beli" satirizada por "Eles"





Pormenor do Leste da Guiné e a região de Beli


Afinal quem teriam sido "Eles"?

"Eles"? foram todos os militares, anónimos, presentes na Guiné que, depois de uma longa viagem por mar, terra ou ar, lhes tocou na lotaria de quadrícula um qualquer aquartelamento no Leste.

"Eles"? foram essencialmente do Exército, em Batalhões, Companhias ou Pelotões. De Caçadores, Cavalaria, Artilharia, Serviços ou Nativos. Também Páraquedistas, Comandos e Fuzileiros.

"Eles"? ocuparam e defenderam espaços nas matas, lalas, bolanhas e tabancas, em toda a zona que confinava a sul e leste com a fronteira da Guiné Conakry e, para norte, todas as regiões envolventes de ambas as margens do rio Corubal.

"Eles"? estiveram em Cameconde, Gadamael, Guileje, Mampatá, Aldeia Formosa, Madina do Boé, Cabuca, Piche, Buruntuma, Canjadude, Galomaro e muitos outros locais.

"Eles"?, durante dois longos anos sem condições mínimas de sobrevivência, improvisaram com poucos meios, muita critividade, imaginação e sacrifício, adaptaram-se a duras condições de alojamento, higiene e alimentação, sobrevivendo a emboscadas, ataques e flagelações de toda a ordem.

"Eles"? marcaram pela passagem frequente o "corredor da morte" que conduzia a Madina do Boé e, mais para nordeste, a Beli, primeiro destacamento a ser abandonado pelas nossas forças no final de 1968.

"Eles"?, anónimos, ainda encontraram arreganho de alma para satirizarem humoristicamente Augusto Gil e a sua, sempre tão linda, "Balada da Neve".

"Eles"? foram soldados extraordinários e aqui ficam evocados, especialmente os já ausentes do nosso convívio.





A foto do início, esbatida, é de uma coluna militar de Madina do Boé para Gabú (Nova Lamego)



Fontes:
Texto do autor do blogue; texto da poesia original cedido pelo Alferes médico Alberto Lema Santos do BCaç 1933, recolhido enquanto permaneceu em Madina do Boé; foto do início de Manuel Caldeira Coelho, Furriel Mil TRMS da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894

mls

09 novembro 2018

O DFE 12 esteve lá, em Cumbamory - Operações «Catanada» e «Cocha»


Guiné 1970/71 - A Solidariedade nas Matas, no Sofrimento e na Amizade

Breve Nota sobre o DFE N.º 12 - Operação “Chave”




2TEN FZE RN Serafim Lobato (DFE 12): Operação “Chave”


O Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 12 foi para a Guiné dividido em dois grupos. Em Janeiro seguiram três oficiais e os quadros subalternos – sargentos, cabos e marinheiros. Não havia grumetes, com curso, para completar o destacamento, na data indicada pelo Estado-Maior da Armada: uma unidade completa comportava 80 homens. Aqueles chegaram em finais de Março, juntamente com o 3.º Oficial, que ficou na Escola de Fuzileiros, para escolher os jovens que acabavam o curso de especiais.

No Território Operacional (TO) ao contrário dos anteriores destacamentos, não tiveram PTO – ou seja, um período de adaptação operacional que, normalmente, era enquadrado pela unidade que estivesse nos últimos meses de comissão na base de Ganturé, onde se encontravam, normalmente, três DFEs e um pelotão de apoio de uma companhia de fuzileiros.

Entraram, meia dúzia de dias depois da chegada, em acção. Num ritmo operacional alucinante. O seu “baptismo” de fogo deu-se, justamente, nos princípios de Abril, com a entrada na Base Central da Frente Norte do PAIGC, dentro do Senegal, Cumbamory, onde regressaram, uma semana depois, e capturaram mais de 10 toneladas de armamento.

Foi a única unidade da Marinha – diria, pelo que consegui investigar nos arquivos militares, de todas as Forças Armadas – a entrar e afastar, ainda que momentaneamente, a guerrilha do interior do seu principal “quartel operacional de retaguarda” naquela região. Cerca de dois meses depois, assaltaram outra grande base do PAIGC, em Sanou (Sanu em português) igualmente sediada no interior do Senegal, situada, mais ou menos, no meridiano do antigo quartel português de Barro. Seguiram-se outros combates e outros locais de passagem.

Pela sua experiência, verificaram, ao longo dos meses, que os Fuzileiros Especiais – e outras tropas especiais – estavam a ser mal enquadrados na sua acção militar no TO. Opinaram, quando lhe foi dado consentimento para tal, sobre tal facto. As autoridades superiores consideraram tal opinião como se tratasse de um “crime de lesa-majestade”.

Foram ostracizados superiormente, mas este DFE 12 continuou, disciplinadamente e com todo o espírito de corpo, a actuar com a mesma rectidão. Aliás, na adversidade, ganhou um sentido de solidariedade e de camaradagem que se perpetua até hoje. Tiveram sempre a noção real do seu valor.


Serafim Lobato
Sócio Originário n.º 1792
4.º Oficial do DFE 12





O DFE 12 esteve lá, em Cumbamori - Operações «Catanada» e «Cocha»




Carta de navegação usada pelo DFE 12

Numa época em que já ninguém pensava ir à tropa porque a tropa já não pensava em ninguém, a Marinha incorporou-me nas suas fileiras. Fui, durante três anos, oficial da Reserva Naval, classe de Técnicos-Especialistas. Não obstante, chapinhei na Pista de Lodo da Escola de Fuzileiros e fui aprendendo muito, então como agora, sobre a classe de Fuzileiros.

Colocado nas unidades a que pertenci, ouvia os mais velhos, todos do Quadro Permanente, a maioria da classe de Marinha, falar do DFE 12, que definiam como um implacável cilindro de guerra que tudo esmagava por onde passava. Não falavam, porém, de factos concretos nem de concretas operações. Apenas deixavam no ar uma aura mítica de arrojo, audácia e glória.

Vou, pois, abordar duas acções extra-territoriais, verdadeiras operações especiais realizadas em país estrangeiro, tendentes à detecção e destruição de uma hipotética base militar a partir da qual o PAIGC operaria.

Tratava-se da Base de Cumbamory, no Senegal, cuja importância se revelou crescente no decurso da guerra da Guiné, o teatro de operações ultramarino que ficou para a História Militar com a designação de «Vietname negro». Pelo menos desde 1967 que os altos comandos militares portugueses tinham ideia da existência desta Base inimiga. Mas não é certo que se soubesse da sua exacta localização. Estaria ela sobre a linha da fronteira norte da Guiné ou no interior do Senegal? De uma coisa se tinha a certeza: era por essa Base que o PAIGC infiltrava na Guiné grande parte do seu pessoal e do seu equipamento. Daí a sua importância.

Há registo de que no dia 11 de Dezembro de 1967, uma força pertencente ao Batalhão de Caçadores n.º 1887, constituída por 170 soldados, tentou assaltar a Base, mas não lhe alcançou o cerne. Causou algumas baixas ao IN, capturou escasso material de escassa importância e sofreu, infelizmente, bastantes baixas, entre as quais quatro mortos cujos cadáveres não recuperou.

Foi a Operação "Chibata", que se considerou que teve relativo êxito, mas que não correu bem. O grupo de combate “Os Roncos”, que integrava a força, foi louvado a justo título. Foi esta a primeira tentativa de assalto a Cumbamory de que há nota. Como se verificou mais tarde por acção do DFE 12, a Base de Cumbamory ficava no interior do Senegal a cerca de 7 km da fronteira norte da Guiné, tinha uma área superior a quatro campos de futebol e era composta por duas zonas longitudinalmente bem definidas: um bosque de palmeiras, a Oeste, e uma mata aberta, a Leste.

O DFE 12, de início, apenas tinha 35 ou 40 Fuzileiros Especiais nas margens do Cacheu, baseados em Ganturé. Eram 35 ou 40 veteranos já curtidos pelo fragor do combate que tinham chegado ao largo da ponta Caió, vindos de Lisboa, a 31 de Janeiro de 1970, e que atendiam pela designação de “Os Jacarés”.




Heli foge de artilharia IN

Alguns cumpririam a sua terceira comissão de serviço. A Base de Ganturé, situada 2 km a Sul do Quartel de Bigene, pertencia à jurisdição do Comando Operacional 3 (COP 3), um comando regional operacional encabeçado pelo Capitão-tenente US/FZE Alpoim Calvão, cuja sede fora instalada naquele Quartel. A jurisdição do COP 3 incluía unidades do Exército e estendia-se de Barro até Brufa.

Mas um DFE era constituído por 80 homens, pelo que, aos velhos Jacarés, comandados pelo 1.º Tenente FZE RN Mendes Fernandes, haveriam de se juntar, dois meses depois, 40 ou 45 jovens Grumetes FZE recém-formados pela Escola de Fuzileiros. Enquanto aguardavam pelas crias, “Os Jacarés” participavam em missões de combate e de patrulha integrados noutros Destacamentos também baseados em Ganturé.

Em Março, todavia, agiram sozinhos em patrulha de reconhecimento até à fronteira do Senegal e capturaram um soldado do PAIGC, que lhes forneceu informações importantes para as perigosíssimas operações que muito em breve, mal eles sabiam, se avizinhavam.

É que, entretanto, O COP 3 decidiu atacar a Base de Cumbamory, a principal base militar do PAIGC no Norte, e contou, para o efeito, com o DFE 12. Delineava-se, então, a Operação "Catanada". As jovens e tenras crias, embora bem preparadas técnica, emocional e fisicamente, haviam chegado da Escola apenas no dia 1 de Abril de 1970.

Como era habitual, seriam adaptadas ao Teatro de Operações mediante a chamada Preparação Técnica Operacional (PTO), com uma duração normal de dois meses, durante os quais realizariam pequenas operações com fuzileiros experimentados para se familiarizarem com o IN, com o pântano, o tarrafo e o clima.

Não houve tempo, porém, para tanto, posto que a Operação "Catanada" estava em marcha. Sem PTO, sem apoio aéreo e sem apoio de fogos próximo, o juvenil DFE 12 zarpou rumo a Bigene e, daí, até ao Senegal, na madrugada de 3 de Abril de 1970. Oficiais doutras unidades baseadas em Ganturé arrepiaram-se com a sorte do DFE 12, que seguia em direcção à «boca do lobo».

As informações militares adiantavam que a Base de Cumbamory estaria guarnecida por 150 soldados. O DFE 12, progredindo pelo interior do Senegal, chegou ao Norte de Cumbamory ao alvorecer e aproximou-se do local que denotava ser o da Base. Nessa altura, Mendes Fernandes deu instruções para que se montasse um perímetro defensivo e enviou patrulhas de reconhecimento, que tomaram rumos diferentes, a fim de verificarem se o DFE 12 tinha realmente localizado a Base. Uma dessas patrulhas detectou-a ao cabo de 500m de evolução.

Mas detectou também duas crianças junto de uma fogueira, as quais, assustadas, fugiram. O chefe da patrulha correu para tentar apanhá-las à mão quando encarou com dois soldados envergando os uniformes verde-oliva do PAIGC. Eram sentinelas. Sem hesitar, alvejou-os a uma distância de cerca de 3,5 m, no que foi seguido pelo apontador da metralhadora MG42. Uma das sentinelas morreu ali mesmo e a outra, gravemente ferida, foi levada pelo chefe da patrulha, num gesto nobre de humanidade, para junto do Destacamento.

Nisto, eclodiu imediatamente uma nutrida e violenta troca de fogo entre o PAIGC e o DFE 12, que perdurou por várias horas. Estava muito calor e havia muita humidade. O recontro, violentíssimo, evoluiu quase corpo-a-corpo, ardiam cubatas, ardiam árvores, ardia vegetação. Até que, por volta do meio-dia, o PAIGC inexplicavelmente cessou fogo.

O IN retirou-se. O jovem DFE 12 não teve baixas, apenas dois feridos ligeiros. O IN, como refere uma notícia C2 da Companhia de Caçadores 3, sofreu 16 mortos e 18 feridos, exactamente como consta do Resumo de Operações e Acções Realizadas da Repartição de Operações do Quartel-General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné.




Em cima, pessoal carregando armamento apreendido e, em baixo, pessoal do DFE 12 escavando paiol



Aquela retirada do IN foi, anos depois, explicada pelo próprio Presidente Luís Cabral na sua obra Crónica da Libertação: o PAIGC resistira com tamanha ferocidade, porque decorria na Base uma reunião dos comandantes e comissários políticos da Frente Norte e doutras zonas, entre os quais estava o próprio Presidente Luís Cabral. Delineavam uma nova forma de comando, que veio a traduzir-se em Corpo de Comando.

O PAIGC, nas circunstâncias, bateu-se até onde pôde para proteger as suas cúpulas político-militares, que escaparam na retirada. O DFE 12, sem combate, regressou incólume a Bigene ao anoitecer desse dia 3 de Abril de 1970.

Mas haveria de tornar à Base de Cumbamory. Com efeito, informado de que a Base fora reconstruída, o COP 3 enviou novamente o DFE 12 ao assalto a partir de Bigene, o qual ocorreu no dia 12 de Abril de 1970, pelas 05:25. Era o início da Operação "Cocha".

Ingressando na Base pelo Sul, o DFE 12 eliminou as sentinelas mediante o emprego de ALG e o primeiro grupo de assalto avançou pela bolanha, passando de fila a linha quando o IN iniciou os disparos. Era, contudo, demasiado tarde para este: o grupo entrou na Base, surpreendendo vários elementos IN nos seus próprios abrigos. Uns fugiram, outros foram mortos, não tendo havido possibilidade de fazer prisioneiros.

Conquistada a Base e montando o perímetro, o DFE 12 passou a ocupar as próprias posições IN, colocando-se em situação privilegiada de defesa. A vanguarda, porém, havia-se separado da rectaguarda do Destacamento. Entretanto, o Marinheiro Galante Guerra, refazendo a ligação, veio anunciar ao 2.º Tenente FZE RN Serafim Lobato, 4.º Oficial da Unidade que tinham encontrado armas.

Serafim Lobato, chegado ao local indicado por Galante Guerra, viu, com espanto, armamento diverso de diversos modelos, tudo material de fabrico soviético e doutros países do Pacto de Varsóvia e até da China, muito mais sofisticado do que o armamento usado pelas forças portuguesas.

Descobriram-se seguidamente vários outros depósitos de armas e munições, todos camuflados no sub-solo. Chamados meios aéreos via rádio, “Os Jacarés” começaram a carregar os helicópteros com os achados. Nessa altura, o PAIGC carregou com violenta energia tentando recuperar a Base. O fogo IN era cerrado e impetuoso. Os helicópteros que recolhiam o armamento levantaram voo diversas vezes para não serem atingidos pela artilharia IN.

Ao tentar recuperar a Base, o PAIGC encontrou, porém, o DFE 12 firmemente posicionado e foi sendo repelido. Quatro aviões dois Fiat G 91 e dois Harvard T6 foram chamados a prestar apoio na defesa da Base, o que fizeram em parelhas com várias passagens rasantes intervaladas por cerca de 15 minutos, accionando as suas metralhadoras, principalmente os T6.

A troca de fogo entre o PAIGC e o DFE 12 mantinha-se cerrada e constante. O IN manteve a produção de fogo até ao meio da tarde. As forças em contenda estavam tão próximas uma da outra que o PAIGC, em desespero, tentou o corpo-a-corpo. “Os Jacarés” prepararam-se para a luta, colocando os sabres nas armas. O anoitecer aproximava-se, pelo que o Destacamento fez explodir tudo o que tinha à mão.

O combate durou 11 horas. O DFE 12 apreendeu 10 toneladas de armas ao IN, que foram expostas em Bigene. O armamento que restava foi maioritariamente destruído pelo bombardeamento dos Fiat, que se seguiu à saída de “Os Jacarés” rumo a Bigene, onde chegaram pela noite dentro.




Início de exposição de armamento no Quartel do Exército em Bigene

No decurso da guerra da Guiné mais nenhuma outra força portuguesa conseguiu entrar na Base de Cumbamory e ocupá-la, ainda que a espaços, e muito menos logrou apreender tamanha quantidade de armamento nesta Base IN.

O DFE 12 também não teve baixas nesta operação, apenas um ferido ligeiro. O PAIGC, como se relata no Resumo de Operações acima citado, sofreu vários mortos e feridos não quantificados, para além da apreensão das 10 toneladas de armamento. Eram apenas 35 ou 40 Jacarés nas margens do Cacheu, a que se juntaram jovens crias recém-saídas do ovo escolar, sem o adequado desmame que a PTO proporcionaria. Os jovens Jacarés desceram, num ápice, do Céu ao Inferno sem passar pelo Purgatório.

O DFE 12 a Pátria honrou. Que a Pátria o contemple, independentemente das posições, perspectivas e até preconceitos que cada um tenha sobre a Guerra do Ultramar.


Gomes da Silva
Sócio n.º 2243


Notas da Redacção:
1 - Na foto da exposição do armamento, no Quartel do Exército, em Bigene, apenas se vê uma pequena parte do material de Guerra apreendido;
2 - Nesta exposição do armamento, a Praça que olha o fotógrafo é o Mar Telegrafista Ulisses Pereira Correia, o “Maxi Mine” que morrerá em combate com o IN, em 20 de Outubro de 1970, na estrada de Sambuiá, a cerca de 10 a 15 quilómetros de Cumbamory;
3 – O elemento preto que aparece na foto a tirar armamento do paiol, não é fuzileiro. Trata-se de um guia balanta de Bigene;
(Serafim Lobato)

4– Sabemos quem foi o protagonista, aliás, grande militar – que confirmámos por pesquisa complementar, de boa fonte – do nobre gesto de poupar a vida a uma das sentinelas. Por razões que desconhecemos, presume-se que em virtude da sua conhecida humildade, este exigiu não ser citado, embora em versão inicial deste artigo o tivesse sido, pelo que respeitámos a vontade do próprio e do autor do texto.
(Marques Pinto)


Fontes:
Texto e imagens compilados integralmente por cortesia da Direcção da Associação de Fuzileiros, revista "O Desembarque" n.º 17, publicada em 6 de Julho de 2013


mls

27 outubro 2018

Liga dos Combatentes - Lei do Reconhecimento e da Solidariedade


Antigos Combatentes da Guerra do Ultramar




Capa da revista "Combatente" n.º 385


É este o título do Editorial da revista trimestral Combatente n.º 385, Setembro de 2018, assinado pelo seu Director e Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes, General Joaquim Chito Rodrigues.

(clicar para ver)

Pessoalmente, sou sócio da Liga dos Combatentes há cerca de três décadas, com o n.º 83.162, não pelas vantagens que tal me pode proporcionar essa qualidade, mas pelos valores e objectivos se solidariedade social que aquela Instituição tem prosseguido na defesa dos interesses dos Antigos Combatentes.

Entendo ser do interesse geral dos Antigos Combatentes o conhecimento do referido Editorial, motivo pelo qual, com a devida vénia, o reproduzo na íntegra tal como publicado na página 5 daquele número da revista «Combatente» acima referido.


Fontes:
Texto do autor do blogue; reprodução integral da página 5 da Revista "Combatente" n.º 385 de Setembro de 2018 da Liga dos Combatentes, em http://www.ligacombatentes.org.pt/revista_combatente/edi_oes_da_revista




Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

27 agosto 2018

53º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, Set86


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 12 de Julho de 2011)

53.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval




Registo de família na portaria da Escola Naval, da esquerda para a direita:
Fila inferior: José Eduardo Sabido Gualdino Ferreira Martins, Luís Filipe Pires Fernandes, Luís Filipe Matos de Araújo Maia e Nuno Manuel de Abreu Veloso;
Fila (degrau) do meio: Nelson Bruno Monteiro Ferreira Pacheco, António Manuel da Silva Bernardes, António Jorge Aldinhas Ferreira e Jorge Manuel Fernandes Nunes;
Fila (degrau) superior: Manuel de Oliveira dos Santos, António Cândido Lampreia Pereira Gonçalves, Orlando António Pires Leitão, João Antero Nascimento dos Santos Cardoso e Jorge Manuel Moita Nunes Pereira.



Do 53.º CFORN foram alistados inicialmente 17 cadetes da classe de Marinha, no dia 15 de Setembro de 1986. Daquela incorporação, terminaram o curso e foram promovidos a Aspirante a Oficial 13 elementos (*), em 14 de Março de 1987.

Comandava a Escola Naval o Contra-Almirante António Carlos Fuzeta da Ponte e foi Director de Instrução o Capitão de Mar-e-Guerra José Luis Ferreira Leiria Pinto.




O Juramento de Bandeira na parada da Escola Naval.
Da esquerda para a direita, fila da frente: José Eduardo Sabido Gualdino Ferreira Martins, Jorge Manuel Fernandes Nunes, António Manuel da Silva Bernardes, Manuel de Oliveira dos Santos
e Nuno Manuel de Abreu Veloso;
Fila de trás: Luís Filipe Pires Fernandes, Nelson Bruno Monteiro Ferreira Pacheco e,
mais à direita ou atrás, já não se conseguem identificar


No final do período de instrução, o "Prémio Reserva Naval" foi entregue ao cadete da classe de Marinha, António Jorge Aldinhas Ferreira. Este prémio destinava-se a galardoar o aluno com classificação mais elevada no conjunto da frequência escolar e da apreciação de carácter militar.

A exortação aos cadetes esteve a cargo do CTEN Sajara Madeira e presidiu à cerimónia o Almirante CEMA que passou revista ao Corpo de Alunos em parada, após o que se seguiu o habitual desfile.

Mais tarde foram destacados para as seguintes Unidades e Serviços:

ASP RN José Eduardo Sabino Gualdino Ferreira Martins, LFP «Águia";
ASP RN António Jorge Aldinhas Ferreira, navio-patrulha «Cacine»
ASP RN Orlando Pires Leitão, navio-patrulha «Quanza» e, mais tarde, LFP «Albatroz»;
ASP RN Jorge Manuel Moita Nunes Pereira, LFP «Andorinha»;
ASP RN António Cândido Lampreia Pereira Gonçalves, requisitado pelo Estado;
ASP RN João Antero Nascimento dos Santos Cardoso, Draga-Minas «S. Miguel»;
ASP RN Nuno Manuel de Abreu Veloso, NH «Almeida Carvalho»;
ASP RN Luis Filipe Pires Fernandes, navio-patrulha «Save»;
ASP RN Jorge Manuel Fernandes Nunes, LDG «Alabarda»;

Não se conhecem os locais para onde foram destacados cumprir missões os seguintes oficiais:

ASP RN Manuel de Oliveira dos Santos;
ASP RN Nelson Bruno Monteiro Ferreira Pacheco;
ASP RN António Manuel da Silva Bernardes;
ASP RN Luis Filipe Matos de Araújo Maia;

Este 53.º CFORN ficou conhecido como "Os Gorileiros", nome resultante de uma anedota contada por um dos elementos do curso sobre um cão gorileiro, espécie de feroz e voraz versão africana de um perdigueiro...




Em cima, embarque de fim-de-semana na fragata "Almirante Magalhães Corrêa" e, em baixo, na Escola de Limitação de Avarias, em instrução.



No dia 17 de Setembro de 2011, o 53º CFORN, "Os Gorileiros" reuniu-se para convívio e almoço 25 anos após a entrada na Escola Naval. O encontro teve lugar naquele Estabelecimento de Ensino.



(*) Nota - Os cadetes não mencionados, não concluiram o curso ou sairam da Marinha.


Fontes:
Texto e fotos de arquivo do autor do blogue, compilado a partir do Anuário da Reserva Naval de Manuel Lema Santos, edição AORN, 2011; elementos e fotos do 53.º CFORN cedidos por Orlando Pires Leitão, 53.º CFORN;


mls

23 agosto 2018

LFP «Átria"»- P 360


Os Oficiais da Reserva Naval na LFP «Átria» - P 360




A LFP «Átria»


Construída nos Estados Unidos era uma lancha rápida, em fibra de vidro e que desde 1972 estivera na Guiné, sob o nome de «Corsair». Fora abatida ao efectivo de Unidades Auxiliares da Armada em 31 de Janeiro de 1983.

Esta unidade naval tinha as seguintes características gerais:



No dia 1 de Fevereiro daquele ano, foi aumentada ao efectivo de navios da Armada como Lancha de Fiscalização, com o nome de LFP «Átria» e substituiu a LFP «Rio Minho» no serviço de patrulha e fiscalização da pesca no rio Minho.

Foi abatida ao efectivo dos navios da Armada em 1 de Março de 1993, recebendo o nome de «Tainha» e passando a ser designada por UAM 831.

Durante todo o período em que esteve operacional foram comandantes da LFP «Átria» os seguintes oficiais:

Reserva Naval:

2TEN RN Luís Manuel Mota Ferreira da Silva, 37.º CFORN, 08Abr83/14Set84;
2TEN RN José Manuel da Veiga Ferreira, 43.º CFORN, 14Set84/05Out85*




*A partir desta data e até ao seu abate não foi possível apurar os comandantes da LFP «Átria».

Fontes:
Dicionário de Navios & Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha – 2006; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP’s), 16º VOL, 2005, com foto de arquivo do autor do blogue cedida pela Revista da Armada;


mls


20 agosto 2018

LFP "Rio Minho" - P 370


Os Oficiais da Reserva Naval na LFP «Rio Minho» - P 370

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 20 de Junho de 2011)




A LFP «Rio Minho» fundeada no rio Minho


Construída nos estaleiros navais do Arsenal do Alfeite e única da sua classe, foi destinada à navegação e fiscalização do Rio Minho e aumentada ao efectivo dos navios da Armada no dia 8 de Fevereiro de 1956 com a designação de Lancha de Fiscalização Fluvial. Em 9 de Outubro de 1959 passou a designar-se por Lancha de Fiscalização Pequena.

Esta unidade naval tinha as seguintes características gerais:




Permaneceu no Continente em missões de patrulha e de fiscalização de pesca ao longo de toda a costa norte. Em 1981 o seu estado geral era já bastante mau e com o motor de estibordo inoperativo.

Durante todo o período em que esteve operacional foram comandantes da LFP «Rio Minho» os seguintes oficiais:

Quadros Permanentes:

CFR António José de Barros Vieira Coelho, 09Out59/18Fev61;
CTEN José Marques Elpídio, 18Fev61/12Abr66;
CTEN Adriano Augusto Loureiro de Chuquere Gonçalves da Cunha, 12Abr66/14Nov68;
CTEN Fernando Miranda Gomes, 14Nov68/28Set72;
CTEN Paulo Joaquim Costa Teixeira, 28Set72/13Nov74;
CTEN João Manuel Velho da Silva Dias, 13Nov74/17Set75;
CTEN Manuel Gomes Araújo, 17Set75/13Set79;

Reserva Naval:

2TEN RN Noémio da Silva Moreira, 29.º CFORN, 13Set79/16Set80;
2TEN RN Manuel Albino das Costa Ribeiro, 31.º CFORN, 16Set80/08Set81;
2TEN RN José António Raimundo Mendes da Silva, 34.º CFORN, 08Set81/17Dez82;

Em 17 de Fevereiro de 1982 passou ao estado estado de desarmamento para posterior abate ao efectivo da Armada, o que se consumou em 17 de Dezembro daquele ano.






Nota:
Nova lancha com o mesmo nome e numero de costado foi construída no Arsenal do Alfeite em 1991 e especialmente concebida para missões de patrulha em águas pouco profundas, sendo de realçar o seu reduzido calado. Pelo mesmo motivo, não possui hélices nem lemes, sendo a sua propulsão e governo assegurados por dois jactos de água omni-direcionais, o que lhe confere excelente capacidade de manobra.

A lancha possui espaçosos alojamentos para a guarnição, constituída por um oficial e um sargento, ambos com camarote privativo, e seis praças. A sua compartimentação garante a sobrevivência da lancha mesmo com dois compartimentos contíguos alagados. Ainda se encontra ao serviço da Armada, mas não foi possível obter os nomes dos respectivos comandantes.





Fontes:
Dicionário de Navios & Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha – 2006; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP’s), 16º VOL, 2005, com foto de arquivo do autor do blogue cedida pela Revista da Armada


mls

16 agosto 2018

Anuário da Reserva Naval 1976/1992 de Manuel Lema Santos

Apresentação pelo Comandante Adelino Rodrigues da Costa

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 19 de Julho de 2011)





No dia 14 de Junho de 2011, por ocasião do 16.º Aniversário da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, no Museu de Marinha - Pavilhão das Galeotas, com a presença do Vice-Almirante José Augusto Vilas Boas Tavares, Director da Comissão Cultural de Marinha, diversas Entidades e Convidados, foi apresentado a edição "Anuário da Reserva Naval, 1976-1992".

A apresentação da obra foi efectuada pelo Comandante Adelino Rodrigues da Costa que, na ocasião, dirigiu as seguintes palavras às personalidades e convidados presentes:

" Foi com muito agrado que aceitei o convite que me foi dirigido pela AORN para apresentar o Anuário da Reserva Naval, nesta edição que regista e identifica o vasto conjunto de homens que, entre 1976 e 1992, serviram a Reserva Naval e a Marinha.

A minha aceitação desta tarefa resultou essencialmente da admiração pessoal que tenho pelo Manuel Lema Santos, o autor deste trabalho – que desde já felicito vivamente –, pela dedicação, persistência e seriedade como conduziu as suas pesquisas em fontes informativas muito dispersas, que não eram fáceis, nem isentas de contradições.

Porém, houve outras razões adicionais para que eu aceitasse este honroso convite. Uma delas é de natureza emocional. De facto, tenho mantido uma ligação muito próxima à Reserva Naval, bem como a muitos dos seus elementos e às suas memórias navais, porque entre 1968 e 1974 tive o privilégio de ter sido instrutor de sete CFORN – Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval, além de muitos desses oficiais terem sido meus companheiros em diversas situações, nomeadamente em Moçambique e, sobretudo, nas barras e nos rios da Guiné.

Para além disso, também entendi que este convite me dava a oportunidade de louvar uma vez mais a AORN pelo trabalho que tem desenvolvido em prol da Marinha e de prestar a minha modesta homenagem aos seus primeiros presidentes da Assembleia Geral e da Direcção, que prematuramente nos deixaram e que aqui evoco com saudade – Ernâni Rodrigues Lopes e António Henrique Rodrigues Maximiano.

O Anuário da Reserva Naval que hoje é apresentado, constitui um notável trabalho que resulta da laboriosa actividade do seu autor e, naturalmente, de uma pesquisa documental muito vasta.

Creio estar em condições de fazer esta afirmação porque, há cerca de vinte anos, eu próprio passei por uma experiência semelhante à que viveu o Manuel Lema Santos e, portanto, sei por experiência própria, que neste tipo de pesquisa se sucedem muitas dificuldades e que há muitos obstáculos e lacunas de informação nos documentos que se consultam. Assim se consomem tempo e paciência que, por vezes, quase bloqueiam o andamento do trabalho e desesperam quem assumiu o desafio de chegar a um resultado final.

Por isso, embora as 116 páginas do Anuário da Reserva Naval nos possam sugerir uma ideia de facilidade ou de simplicidade, o facto é que essas páginas correspondem a um labor aturado e exigente de pesquisa e de selecção de informações, assim como de atenta resolução de muitas dúvidas e contradições.

Esta edição do Anuário vem revelar-nos uma nova visão do que foi a Reserva Naval e é um notável contributo para a preservação da sua memória histórica e da sua relação com a Marinha.

Por vezes, há a tendência para identificar a Reserva Naval com o período de 1958 a 1975, quando a previsão da guerra em África e as hostilidades que se mantiveram por 13 anos na Guiné, em Angola e em Moçambique, levaram a Marinha a procurar na sociedade civil e, em particular nas universidades, os homens que vieram reforçar os seus quadros, que comandaram lanchas de fiscalização, que embarcaram em todos os tipos de navios, que integraram os destacamentos e companhias de fuzileiros e que, de uma forma mais geral, deram um importante contributo para um certo rejuvenescimento e modernização da Marinha.

Se o contributo da Reserva Naval foi um facto que tanto valorizou a Marinha, a inversa também é verdadeira. Esses jovens de formação universitária também se valorizaram através da sua integração temporária na Marinha e dos conhecimentos que adquiriram sobre a organização e a cultura da corporação e, hoje, nas suas actividades e nas suas vidas, mantêm com orgulho essa marca marinheira.

Porém, este trabalho do Manuel Lema Santos revela-nos que, a partir de 1976 e já com as páginas da conflitualidade colonial encerradas, a Marinha decidiu continuar a procurar na sociedade civil um reforço de quadros e de especialistas de que necessitava para acompanhar as exigências da sua adaptação aos novos contextos operacionais, mas também às novas realidades democráticas e às suas mudanças políticas, sociais e, sobretudo, tecnológicas.

Nesse período decorrido entre 1976 e 1992, a Marinha incorporou 1885 oficiais cuja formação decorreu na Escola Naval ou na Escola de Fuzileiros, salientando-se que 414 se destinaram à classe de Marinha, 249 à classe de Médicos Navais, 484 à classe da Especialistas, 50 à classe de Técnicos, 666 à classe de Fuzileiros, 11 à classe de Engenheiros Construtores Navais e 11 à classe de Farmacêuticos Navais.

Estes números mostram que, embora num contexto operacional bem diferente do que acontecera entre 1958 e 1975, a Reserva Naval continuou a prestar importantes serviços ao País, através da nossa Marinha.

A edição que hoje nos é apresentada sumaria o historial da Reserva Naval entre 1976 e 1992, com uma detalhada descrição da evolução dos cursos realizados e uma elaborada Síntese Legislativa, que inclui a principal legislação publicada ao longo desse período, que foi muitas vezes alterada em função das necessidades da corporação e constitui um importante auxiliar para fundamentar futuros estudos sobre este tema.

Depois, o Anuário identifica os cursos e os cadetes das várias classes que os frequentaram, com a indicação das suas datas de nascimento, de alistamento e de promoção a Aspirante, constituindo uma notável base de dados que, até agora, não estava disponível.

Na sua parte final o Anuário da Reserva Naval inclui Informações Adicionais, onde se incluem diversas listagens – Comandantes da Escola Naval e da Escola de Fuzileiros, Directores de Instrução dos vários cursos, Prémios Reserva Naval atribuídos – e, ainda, uma interessante resenha ilustrada do nosso dispositivo naval entre os anos de 1976 e 1992, com uma apresentação inspirada nos Jane’s Fighting Ships.

Finalmente, para além do seu conteúdo objectivo, deve ser salientada a excelência da apresentação gráfica do Anuário, que muito o valoriza. Assim, o Manuel Lema Santos está de parabéns e é credor do reconhecimento da AORN e da Marinha, pelos resultados que obteve e pelo livro que hoje nos apresenta.

O Anuário é, portanto, um valioso repositório de informações sobre a Reserva Naval. Um dia, tal como hoje sucede com os registos do Arquivo Histórico da Biblioteca Central da Marinha e com as saudosas Listas da Armada, os Anuários da Reserva Naval serão um instrumento indispensável para a pesquisa histórica e para o conhecimento do que foi a Marinha na segunda metade do século XX, mas também do importante papel que os oficiais da Reserva Naval – mais de três mil – tiveram na sua na sua estrutura administrativa, técnica e operacional.

E nesta sala, que com as suas galeotas e aeroplanos nos evoca algumas das facetas mais simbólicas da nossa herança cultural marinheira, eu ouso perguntar se a Marinha podia ter sido uma prestigiada corporação e uma referência institucional da sociedade portuguesa, sem o enriquecedor contributo da Reserva Naval.
E ouso, também, dar a resposta:

Poder, podia, mas não era a mesma coisa!


Adelino Rodrigues da Costa
Lisboa, 14 de Julho de 2011




Edição disponível no Secretariado da Associação:



Rua da Junqueira, 1300-342 Lisboa
Telefone: 21 362 68 40 – Horário das 15 às 20H
Fax: 21 362 68 39
aorn95@reservanaval.pt
maria.antonieta@reservanaval.pt




Fontes: Alocução do Comandante Adelino Rodrigues da Costa em 14 de Junho de 2011; Anuário da Reserva Naval, 1976-1992, Manuel Lema Santos, edição AORN-2011;



Manuel Lema Santos
1TEN RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

10 agosto 2018

LFP «Dom Jeremias» - P 1149


Os Oficiais da Reserva Naval na LFP «Dom Jeremias» - P 1149

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 13 de Junho de 2011)




A LFP «Dom Jeremias».



Construída nos estaleiros navais de S. Jacinto em Aveiro, foi a segunda e última da classe «Dom Aleixo», com as mesmas características gerais.

Foi aumentada ao efectivo dos navios da Armada no dia 22 de Dezembro de 1967 e entregue ao primeiro oficial a exercer o comando nesse mesmo dia. Inicialmente, houve a intenção de seguir para Timor mas a ideia foi abandonada.

Até princípio de Abril de 1968 decorreu o período de aprontamento e adestramento da guarnição com algumas deficiências, pelas constantes reparações a que o navio esteve sujeito, quer no Arsenal do Alfeite quer nos estaleiros responsáveis pela construção, em Aveiro. Houve que modificar a posição dos escapes dos motores principais e auxiliares, alterar o sistema eléctrico de iluminação e o sistema de descarga de água dos motores.

Com o apoio da fragata «Diogo Gomes», largou de Lisboa em 10 daquele mês rumo a Cabo Verde, juntamente com a LFP «Dom Aleixo», tendo aportado a S. Vicente em 18 de Abril depois de escalarem o porto do Funchal.

Permaneceu em missões de fiscalização naquele arquipélago durante cerca de 30 meses, até ao último trimestre de 1970. Regressou a Lisboa, novamente na companhia da «Dom Aleixo», em 27 de Outubro daquele ano.

Os anos de 1971 a 1975 passou-os no desempenho de missões de fiscalização da pesca na costa continental portuguesa, nomeadamente ao longo da costa algarvia.

A partir de 1976 foram-lhe atribuídas missões hidrográficas e oceanográficas, passando para a dependência do Instituto Hidrográfico.

Foi abatida ao efectivo da Armada em 19 de Dezembro de 1997.

Durante todo o período em que esteve operacional foram comandantes da LFP «Dom Jeremias» os seguintes oficiai:

Quadros Permanentes:

2TEN Carlos Alberto da Encarnação Gomes, 22Dez67/15Jan69;
2TEN José António dos Santos de Almeida Joglar, 15Jan69/09Fev72;
...............................................................

2TEN Luís Filipe Borges Pereira e Cruz, 25Ago76/02Set77;
2TEN Luís Maria Cabral Leal Faria, 02Set77/17Mar78;
2TEN José Alberto Alves dos Santos, 17Mar78/02Ago79;
2TEN João Adelino Delduque Pereira Gonçalves, 02Ago79/03Set80;
2TEN César Martinho Gusmão Reis Madeira, 03Set80/24Ago82;
2TEN Diogo Alberto Font Xavier da Cunha, 24Ago82/08Set83;
2TEN Edgar Marcos de Bastos Ribeiro, 08Set83/14Set84;
2TEN Manuel Alexandre Pinto de Abreu, 14Set84/05Out85*

Reserva Naval:

..............................................................

STEN RN Francisco de Oliveira de Castro Paradela, 16.º CFORN, 09Fev72/24Out72;
STEN RN José Manuel da Veiga Ferreira, 19.º CFORN, 24Out72/01Set75;
STEN RN Eurico Teixeira Ladeira, 23.º CFORN, 01Set75/03Set75;
STEN RN José Carlos Baptista Santos, 23.º CFORN, 03Set65/18Dez75;
STEN RN José Guilherme dos Santos Alves, 25.º CFORN, 18Dez75/25Ago76;
.............................................................

*A partir desta data e até 1997 não foi possível apurar os comandantes da LFP «Dom Jeremias».


Navios da mesma classe: LFP «Dom Aleixo», LFP «Dom Jeremias».


Fontes:
Dicionário de Navios & Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha – 2006; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP's), 16º VOL, 2005, com fotos de arquivo do autor do blogue - Arquivo de Marinha e Revista da Armada;


mls

08 agosto 2018

LFP "Dom Aleixo" - P 1148


Os Oficiais da Reserva Naval na LFP «Dom Aleixo» - P 1148

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 8 de Junho de 2011)





A LFP «Dom Aleixo»


Foi construída nos Estaleiros de S. Jacinto em Aveiro e deu o nome à classe «Dom Aleixo». Posta de lado a ideia inicial de seguir para Timor, foi aumentada ao efectivo dos navios da Armada no dia 22 de Dezembro de 1967 e entregue ao primeiro oficial a exercer o comando nesse mesmo dia.

Estas unidades navais tinham as seguintes características gerais:




Até princípio de Abril de 1968 decorreu o período de aprontamento e adestramento da guarnição com algumas deficiências, pelas constantes reparações a que o navio esteve sujeito, quer no Arsenal do Alfeite quer nos estaleiros responsáveis pela construção, em Aveiro.

Houve que modificar a posição dos escapes dos motores principais e auxiliares, alterar o sistema eléctrico de iluminação e o sistema de descarga de água dos motores.

Com o apoio da fragata «Diogo Gomes», largou de Lisboa em 10 daquele mês rumo a Cabo Verde, juntamente com a LFP «Dom Jeremias», tendo aportado a S. Vicente em 18 de Abril depois de escalarem o porto do Funchal.

Permaneceu em missões de fiscalização naquele arquipélago durante cerca de 30 meses, até ao último trimestre de 1970. Regressou a Lisboa, novamente na companhia da «Dom Jeremias», em 27 de Outubro daquele ano.

Os anos de 1971 e 1972 passou-os, na sua maior parte, no Arsenal do Alfeite, a fim de efectuar grandes reparações, largando esporadicamente para efectuar experiências de máquinas, leme e de outras estruturas.

Após o final deste último ano desempenhou missões de fiscalização da pesca na costa continental portuguesa, nomeadamente ao longo da costa algarvia, tendo voltado ao Arsenal do Alfeite em 4 de Dezembro de 1973 para novas reparações e calibrações. Regressou à costa algarvia em 22 de Abril de 1974 onde continuou a desempenhar missões de fiscalização da pesca.

A partir de 1976 foram-lhe atribuídas missões hidrográficas e oceanográficas. Em 1988 e 1989 esteve em missão o arquipélago da Madeira. Em 30 de Abril de 1996 passou ao estado de desarmamento e foi abatida ao efectivo da Armada em 31 de Julho de 1997.

Durante todo o período em que esteve operacional foram comandantes da LFP «Dom Aleixo» os seguintes oficiais:

Reserva Naval:

2TEN RN José Manuel da Conceição Grade, 10.º CFORN, 22Dez67/24Nov69;
2TEN RN Joaquim Manuel Nunes Serra, 14.º CFORN, 24Nov69/18Out71;
2TEN RN Carlos Augusto Fernandes Lopes, 18º CFORN, 18Out71/02Out73;
2TEN RN João Rodrigues de Oliveira, 22.º CFORN, 02Out73/01Set75;
2TEN RN Eurico Teixeira Ladeira, 23.º CFORN, 02Set75/26Mar76;
.............................................................
2TEN RN Jorge Filipe Ramos Silva Guerreiro, 29.º CFORN, 13Set79/05Set80;
2TEN RN Manuel Augusto Moutinho da Silva, 31.º CFORN, 05Set80/09Set81;
2TEN RN Carlos Manuel de Abreu Matias Ângelo, 34.º CFORN, 09Set81/13Abr83;
2TEN RN Helder António Carrilho Figueiras , 38.º CFORN, 13Abr83/14Mar84;
2TEN RN Álvaro Fernando G. Amzalak dos Santos, 41.º CFORN, 14Mar84/03Abr85;
2TEN RN José António Raimundo Mendes da Silva, 44.º CFORN, 03Abr85/05Out85;*

Quadros Permanentes:
.............................................................
2TEN António Carlos da Cruz Cordeiro, 26Mar76/15Nov77;
2TEN António Tomé Robalo Cabral, 15Nov77/13Set79;

*A partir desta data e até 1997 não foi possível apurar os comandantes da LFP «Dom Aleixo»





A LFP «Dom Aleixo» a navegar

Navios da mesma classe: LFP «Dom Aleixo», LFP «Dom Jeremias».


Fontes:
Dicionário de Navios & Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha – 2006; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP's), 16º VOL, 2005, com fotos de arquivo do autor do blogue - Arquivo de Marinha e Revista da Armada;


mls

05 agosto 2018

Guiné, 1966-Lancha de Fiscalização Grande no rio Cacine


Registo no “Diário Náutico” de uma LFG - Lancha de Fiscalização Grande

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 7 de Junho de 2006)




Em cima, mapa do rio Cacine e, em baixo, a LFG "Orion" a navegar




Noite fechada, na ponte da LFG – Lancha de Fiscalização Grande, radar em cima, o oficial apresta-se para fundear o navio na foz do rio Imberém, a montante do aquartelamento de Cacine, na margem esquerda do rio.

Maré na vazante, lancha a navegar para montante, pessoal de “quarto“ atento nos postos, mestre na proa, ao guincho.

Em sequência rotineira, mãos nos comandos das máquinas da ponte, reduz para máquinas avante devagar. Quase de seguida, pequena pausa e pára as máquinas.

O marinheiro do leme aguenta o rumo, o navio desliza as derradeiras jardas contra a corrente até quase se imobilizar.

Da ponte são dadas instruções para ser largada a amarra. Ouve-se o barulho metálico das quarteladas que deslizam no escovém e o ferro que mergulha na água.

Entretanto o navio imobiliza-se, lentamente descai e o ferro unha no fundo lodoso.

Volta à faina, navio fundeado.

Pessoal e lancha entorpedecidos na imensidão temporal de um cruzeiro, entre um suspender de ferro, navegar acima e abaixo por tempo indeterminado, o fundear de novo.

Quartos uns iguais aos outros, ora para montante ora para juzante, horas de fiscalização a cumprir

Na margem, as luzes do aquartelamento de Cacine bruxuleiam no cacimbo da noite e, mais longe, por cima do arvoredo a mancha luminosa das luzes da Cacoca e Gadamael, os dois aquartelamentois mais próximos.

O registo do diário náutico, páginas vazias de imaginação, o pensamento longe, a mão que se arrasta em cima do calhamaço, rabiscando o que nunca há-de ser lido, quem sabe?




Esboços no Diário Náutico de uma LFG - Lancha de Fiscalização Grande

Por vezes, durante o dia, o PAIGC, da Ponta Canabém, da outra na margem do rio, frente ao aquartelamento de Cacine, entende "participar nas festas" com morteiradas e uma ou outra rajada de metralhadora pesada na direcção do aquartelamento. Sempre sem consequências, por curtas na distância, mas o objectivo é mesmo incomodar.

Em alguns casos a LFG presente suspendia ferro e, reduzindo a distância, fazia questão de retribuir de perto o cumprimento com as peças de 40 mm, calando o inimigo.

Neste caso, nada de notável a registar. O regresso ao silêncio, ficam os esboços e o pessoal de quarto em serviço.


Fontes:
Texto de Manuel Lema Santos, 8.º CEORN, compilado e editado por mls; extracto do mapa do rio Cacine da "Carta da Porvíncia da Guiné", Ministério do Ultramar, 1961; fotos de arquivo do autor do blogue com cedência do Arquivo de Marinha e do Alf Mil João Alves Martins, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69;


mls

31 julho 2018

"In Memoriam" Professor Doutor Agostinho Almeida Santos - O último embarque de um antigo Oficial da Reserva Naval


2TEN MN RN Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos
8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval





Agostinho Almeida Santos


Aqui nesta modesta homenagem recordo Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos, alguns dias depois de ter deixado o nosso convívio, dia 14 passado.

Infausta notícia que, chegando tardia no meu conhecimento, não me impede de manifestar, à família enlutada e a todos os amigos pessoais, um enorme sentimento de pesar pela perda havida.

Dissertar aqui sobre o percurso pessoal e profissional de Agostinho Almeida Santos é objectivo para que assumo humildemente não ter dimensão, quer pelo relativo afastamento pessoal quer profissional, ambos condicionados por rumos de vida diferenciados.

A comunicação social especializada e a própria Assembleia da República, em diferentes formas de manifestada homenagem, expressaram e difundiram a notícia da perda de tão humana quanto erudita personalidade.

Limito-me aqui a mencionar algumas das possíveis referências:



In "Notícias de Coimbra"

"...O médico e professor catedrático de ginecologia, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), realizou, pela primeira vez, em Portugal, a técnica de procriação medicamente assistida, designada por GIFT (Transferência de Gâmetas para a Trompa), “método que propiciou o nascimento do primeiro bebé em junho de 1988”, refere um resumo curricular de Agostinho Almeida Santos do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida...."

"...Naquela que terá sido uma das suas últimas entrevistas de vida, efectuada por Braga da Cruz e Américo Santos, dois dos grandes timoneiros do Clube da Comunicação Social de Coimbra, o reputado médico lembrou que se sentia “o pai de 17 mil crianças” nascidas no seio de casais que não tinham filhos..."


In "Público"

"...Segundo a mesma nota, Agostinho Almeida Santos fundou e dirigiu o programa de reprodução medicamente assistida, que funciona em Coimbra, desde 1985. Entre 2005 e 2007, foi o presidente do Conselho de Administração dos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Na vida académica, publicou 185 trabalhos científicos, proferiu mais de 400 palestras e foi o responsável pelas disciplinas de Obstetrícia e Ética, Deontologia e Direitos Médicos da FMUC.

Membro de 18 sociedades científicas nacionais e internacionais, desempenhou funções de perito da Comunidade Económica Europeia na área de investigação em bioética. Autor do livro Razões de Ser, associado aos problemas e futuro da bioética, Agostinho Almeida Santos manteve uma actividade universitária de forma ininterrupta desde 1965, sublinha a mesma nota curricular.

Em 2011, com a intervenção da troika, alertou para a necessidade de se ajudarem os portugueses mais pobres, no acesso aos cuidados de saúde. "Vamos ter em Portugal, dentro de pouco tempo, pessoas que não têm dinheiro, nem amigos, mas vão precisar de ter acesso à saúde", disse então, frisando que se tratava de "um problema cívico", que devia mobilizar todos...."




Largamente difundida em toda a comunicação social, a notícia do desaparecimento de tão ilustre personalidade da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra com vasto e riquíssimo percurso médico, científico, académico, humano e pessoal, transporta-nos a memória ao mês de Setembro de 1965, ano em que ingressou num grupo de 68 Cadetes na Escola Naval, na classe de Médicos Navais do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, onde se manteve até Fevereiro de 1968, ano em que foi licenciado, passando à vida civil no posto de Segundo-Tenente.




8.º CEORN, na portaria da Escola Naval em foto de família - Agostinho Almeida Santos (ao centro do círculo),
Jorge Miranda (à esquerda), António Palma Fernandes (à direita) e Frederico Silveira Machado (atrás)





Foto de grupo do 8.º CEORN - Em cima, da esquerda para a direita: Augusto de Athaide Albergaria, Agostinho Almeida Santos, Frederico Silveira Machado, José Silveira Godinho, Manuel Castro Norton e António Simões Pereira; em baixo, Mário Rocha de Sousa

Em Abril de 1966, depois da habitual viagem de instrução nas fragatas «Corte Real» e «Diogo Cão», seguiu-se o Juramento de Bandeira com a promoção a Aspirante a Oficial.

Agostinho Almeida Santos foi então destacado para o NRP «São Gabriel», vindo a integrar como Médico Naval a Companhia de Fuzileiros n.º 2 em Moçambique, onde permaneceu até 1968, ano em que foi licenciado, regressando à vida civil no posto de Segundo-Tenente.




Buarcos, 1992 - Em cima, da esquerda para a direita:
José Silveira Godinho, Martinho Pereira Coutinho, Agostinho Almeida Santos, Alexandre Ferreira Borrego, António Simões Pereira, António Cardoso da Silva e Manuel Lema Santos;
Em baixo, Joaquim José Carvalho, Luis Mata de Oliveira, Mário Rui Nunes e Fernando Nunes Serra com a companhia de várias das respectivas senhoras presentes;


Nunca esqueceu a Marinha e os camaradas de curso "Filhos da Escola". Anos mais tarde, em Novembro de 1992, empenhou-se na organização de um Encontro-Convívio dos elementos do seu curso da Escola Naval, 8.º CEORN-Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, reunindo em Coimbra/Buarcos vários antigos companheiros e respectivas senhoras, convívio repetido por sua iniciativa em 1994, sempre num ambiente de grande fraternidade e amizade, características de uma personalidade eminentemente humanista e social.




Dois momentos do 1.º Encontro de Médicos no Hospital de Marinha



Em 27 de Fevereiro de 1999, integra a Comissão Organizadora e participa no 1.º Grande Encontro de Médicos da Reserva Naval, numa organização da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, com o apoio do Hospital de Marinha que encerrou na secular Sala da Farmácia com a já tradicional hospitalidade da Marinha.



Na revista n.º 11 da mesma Associação, em Abril de 2000, sob o título «Saúde e Medicina» publicou um artigo denominado "Clonagem Humana - Um Horror Quase Possível".


Entre 19 e 21 de Setembro de 2003, esteve presente como elemento e sócio participante no Primeiro Encontro Nacional da Reserva Naval, numa organização da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval que teve lugar na Figueira da Foz, no Centro de Artes e Espectáculos.




Encontro Nacional da Reserva Naval, Set2003 - Em cima, Agostinho Almeida Santos no secretariado e, em baixo no decorrer do Jantar Convívio de encerramento




Agostinho Almeida Santos apoiou ainda e encabeçou a direcção e organização de uma Delegação das Beiras da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

Depois de uma reunião prévia decorrida em 8 de Julho, em Coimbra, no Hotel Astória, continuada num convívio a 6 de Setembro, em 24 de Outubro de 2003 nasceu aquele Núcleo, então a bordo do "Basófias", com mais de 30 camaradas da Reserva Naval presentes.

Promovido por Agostinho Almeida Santos, acompanhado pelos camaradas Corte-Real, Maia de Carvalho e João Paulo Craveiro, com o apoio do Polo Norte que apadrinhou, o Núcleo das Beiras viu finalmente o baptismo do mar com o nome de "Granel das Beiras".




Agostinho Almeida Santos na sua alocução

Sobre aquele momento escreveu então Agostinho Almeida Santos:

"...Coimbra não tem mar mas tem marés. E foi numa maré cheia de uma lua nova que uma vintena de bravos marinheiros de antanho subiram o Mondego numa barcaça sem quilha, flutuando ao sabor da sorte a bordo de um “Basófias”. Após lauto repasto os intrépidos guerreiros bradaram às armas e decidiram navegar a vante.
Para se reabastecerem, semanas depois, no porão da ré de um couraçado bairradino. Com o Luís Pato ao leme, o imediato suporte dos comandos do “Polo Norte” e a fragância das espumantes ondas, o iluminado espírito do camarada Pires da Rosa fez baptismo do “Granel das Beiras” que há-de ser figura de proa da nau do Centro à conquista das mares da costa que nos banha.
Todos seremos agora poucos para no “Granel das Beiras” honrarmos um passado de que nos orgulhamos, ao serviço da Armada Portuguesa.
Agostinho Almeida Santos
8º CEORN



Desde a vinda a este mundo que todos estamos ao portaló a aguardar a hora de chamada para o último embarque, agora num horizonte de vida necessariamente estreitado pelas milhas já percorridas.

Até breve!


Fontes:
Texto do autor do blogue, compilado a partir de: Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Lista da Armada; Fotos de arquivo pessoal do autor do blogue; Revistas da AORN-Associação dos Oficiais da Reserva Naval, nº 9-Mar1999, n.º 11-Abr2000 e n.º 17-Mar2004;


mls

29 julho 2018

LFP "Cisne" - P 1167


Os Oficiais da Reserva Naval na LFP «Cisne» - P 1167

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 22 de Maio de 2011)




A LFP «Cisne»


Construída nos estaleiros navais do Arsenal do Alfeite, quinta e última da classe «Albatroz», com as mesmas características gerais, foi aumentada ao efectivo dos navios da Armada no dia 31 de Março de 1976 e entregue ao primeiro oficial a exercer o comando nesse mesmo dia.

A LFP «Cisne» construída como uma lancha rápida de fiscalização e patrulhamento, outrora dispondo de uma peça de artilharia de 20 mm, foi depois equipada com um alador de redes, fruto da reconversão do navio, levada a cabo em 1999, para a actividade de controlo e fiscalização da pesca nas águas sob jurisdição nacional do continente, o que lhe conferia interessantes características de operacionalidade.

Desde a sua incorporação, guarneceu os dispositivos da Zonas Marítimas do Centro e do Sul, com algumas incursões à Zona Norte, realizando diversas missões, nomeadamente de fiscalização da pesca, repressão do contrabando, busca e salvamento, controle da poluição no mar, fiscalização dos esquemas de separação de tráfego marítimo existentes ao largo da costa. Desde a alteração sofrida em 99, executou também missões específicas de alagem de artes caladas em situação presumivelmente infractora.

Durante os períodos em que esteve operacional foram comandantes da LFP «Cisne»os seguintes oficiais:

Reserva Naval

STEN RN Alexandre Maria Lindim Vassalo, 31Mar76/16Ago76;
STEN TE RN Joaquim Pereira de Oliveira, 25.º CFORN, 16Ago76/26Jan77;
...............................................
STEN RN José Pedro de Sá Campos Gil, 32.º CFORN, 11Mar81/10Mar82;
STEN RN Mário Manuel Soares Alves, 35.º CFORN, 10Mar82/13Abr83;
STEN RN Paulo San-Bento de Sousa Almeida, 38.º CFORN, 13Abr83/20Mar85;
STEN RN João Carlos Gonçalves Lanzinha, 44.º CFORN, 20Mar85/05Out85*

Quadros Permanentes:
...............................................
2TEN Joaquim António Saloio Ganhão, 26Jan77/25Ago78;
2TEN José Domingos Pereira da Cunha, 25Ago78/02Jun80;
2TEN Eduardo Miguel Cardoso Botelho, 02Jun80/11Mar81;

*Em Outubro de 1985 continuava no comando do navio e a partir desta data não foi possível apurar os comandantes da LFP «Cisne» que ainda se encontra ao efectivo da Armada


Tendo sido comandada por vários oficiais da Reserva Naval, a partir de finais de 1991, passou a ser comandada por oficiais dos Quadros Permanentes.

Até ao final da sua vida operacional não foi possível apurar os comandantes da LFP «Cisne» que, nesta data, já se encontrava abatida ao efectivo dos navios da Armada.




A LFP "Cisne" em mais uma das suas missões.

Navios da mesma classe: «Albatroz», «Açor», «Andorinha», «Águia» e «Cisne»


Fontes:
Texto compilado de Dicionário de Navios & Efemérides, Adelino Rodrigues da Costa, Edições Culturais da Marinha – 2006; Setenta e Cinco Anos no Mar, Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP’s), 16º VOL, 2005, com fotos da Revista da Armada.


mls