09 dezembro 2016

Clube Militar Naval e Reserva Naval - Fundação da AORN


Clube Militar Naval e Reserva Naval - Fundação da AORN

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 6 de Março de 2009)




Ao longo dos anos, frequentei inúmeras vezes o Clube Militar Naval participando em almoços calendarizados entre camaradas Reserva Naval a que se associaram também, em muitas ocasiões, oficiais dos Quadros Permanentes ou outros Convidados.

No conjunto procuraram sempre reviver, nos convívios havidos, a amizade, companheirismo e também camaradagem, fruto das mais-valias adquiridas de anos de convivência em Unidades e Serviços, com especial incidência no tempo da Guerra do Ultramar. Algures, no tempo, ter-se-iam cruzado ou mesmo partilhado missões ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa.

Também na qualidades de Mestres e Alunos sendo que, tanto oficiais dos Quadros Permanentes como da Reserva Naval, desempenharam aquelas prestigiadas missões na Escola Naval num mútuo e significativo enriquecimento cultural.

Em nenhuma situação procurei o Clube Militar Naval a sós porque, estatutariamente, os antigos oficiais da Reserva Naval não tinham direito à frequência das instalações do clube por "...não terem abraçado a carreira militar naval como profissão...". Para muitos outros constrangedora, também a mim me pareceu sempre impeditiva de uma livre frequência do clube podendo a qualquer momento poder ser invocada a não existência da qualidade de sócio.

Pessoalmente, como 1TEN da Reserva Naval licenciado em 1972, com um percurso de que ainda hoje me orgulho, sempre rejeitei a tão arbitrária quanto possível excepção ao princípio estatutário de que, quando acompanhado ou convidado por um sócio efectivo, poderia frequentar as instalações. Também nunca me agradou a simples facilidade de acesso, baseada na maior assiduidade com que cada qual poderia frequentar, ou não, as instalações do Clube. Por essa via se abre a porta à permissividade do conhecimento e simpatia, ainda que sem a condição necessária.

Julgo que todos procuram muito mais do que uma mera refeição, que pode ter lugar em qualquer outro local com farta escolha possível, provavelmente até em condições económicas mais vantajosas. Pessoalmente, furto-me normalmente a esse tipo de hábitos adquiridos, procurando sempre o espírito Reserva Naval recreado no ambiente próprio da Marinha que a acolheu e que naquele prestigiado clube sempre encontrei.

Mantida pela Direcção do Clube aquela reserva no tempo, terá sido uma medida redutora da valorização de um relacionamento recíproco que, além de afastar muitos antigos oficiais da Reserva Naval da frequência do Clube Militar Naval, conduziu à fundação de uma associação própria, a AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval, em 14 de Julho de 1995, na Sala do Risco - Casa da Balança, como exemplo único em todos os Ramos das Forças Armadas.



Ao tempo, afirmaria o primeiro Presidente da Direcção, Dr. António Rodrigues Maximiano:

„...Fomos e somos parte integrante de um Povo e de uma Marinha.

Como Associação crescemos e queremos ser toda a Reserva Naval.

Cumpriu-se o Mar.

Que se cumpra a AORN!...“




Foi primeiro Presidente da Assembleia Geral da AORN, o Prof. Doutor Êrnani Rodrigues Lopes – 7.º CEORN e Presidente do Conselho Fiscal, o Dr. Alípio Pereira Dias – 9.º CEORN.

Em 10 de Maio de 1996, realizou-se no Clube Militar Naval, um convívio de Oficiais da Marinha e Familiares que estiveram em Metangula – Lago Niassa, entre 1968 e 1971. A iniciativa partiu do CAlm Joaquim Espadinha Galo, conjuntamente com o Dr. João Rodeia Peneque – 10.º CFORN e Prof. Dr. Ricardo Migães de Campos – médico naval do 11.º CFORN.

Mais tarde este conceito de convívio foi alargado a outros participantes e ficou agendado, de forma permanente, para a primeira quinta-feira de cada mês, ficando conhecida como a mesa da Reserva Naval – Metangula, almoço convívio que ainda se mantém com os participantes que entenderem comparecer, onde pontifica o espírito aglutinador e sensato do Dr. João Sarmento Coelho (CMG), também ele fundador da Associação e antigo oficial da Reserva Naval do 10.º CFORN.

Há mais de quatro décadas, como tantos outros, quando ingressei na Escola Naval – Marinha de Guerra Portuguesa, fiquei indelevelmente marcado pela primeira sem nunca da segunda esquecer a génese, quer nos valores da hierarquia consentida, alicerçada na competência, quer no exemplo e no espírito de equipa.

Magnífico complemento de formação académica, com fasquia bem acima de formaturas de parada em que, a par de formação, instrução e ensinamentos, também marcaram passo espírito de grupo, camaradagem e amizade.

Durante mais de três décadas nas classes de Marinha, Médicos Navais, Administração Naval, Engenheiros Maquinistas Navais, Construtores Navais, Farmacêuticos Navais, Fuzileiros, Técnicos e Especialistas, a Reserva Naval ombreou com os Oficiais dos Quadros Permanentes nas mais variadas e espinhosas missões, teatros de guerra de além-mar incluídos.

Hoje, tudo se resume a memórias históricas, espelhadas em documentação diversa, relatos, imagens e testemunhos de vivências, recreadas em convívios de antigos camaradas de armas, afinal parte integrante da História da Marinha de Guerra da segunda metade do século passado.

O debate da eventual frequência das instalações do Clube Militar Naval pelos Oficiais da Reserva Naval, esgota-se num horizonte bem distante de qualquer protagonismo que considere efectividade ou o voto como principais objectivos. Pela oportunidade e actualidade, com a devida vénia, reproduzo integralmente o artigo do Comandante Adelino Rodrigues da Costa, publicado na Revista da Armada n.º 261, de Janeiro de 1994.





Notas:

Cerca de três anos mais tarde, em 3 de Março de 2012, o Presidente da Direcção da Associação de Oficiais da Reserva Naval, na altura o Comandante Joaquim Moreira, afirmaria que "...no passado dia 2, o espírito de cordialidade e de câmara entre oficiais de carreira da Armada e os antigos oficiais da Reserva Naval foi reforçado com a assinatura de um protocolo entre o Clube Militar Naval (CMN) e a AORN – Associação dos Oficiais da Reserva Naval, efectuado nesse dia.

O protocolo, assinado entre o CMN e a AORN, na sede da primeira instituição, em Lisboa, em ambiente de salutar convívio, viabiliza formalmente “a utilização das instalações e serviços do CMN pelos antigos oficiais da Reserva Naval”, preconizando ainda a efectivação de iniciativas conjuntas, tais como “palestras, colóquios ou qualquer outro tipo de eventos de carácter cultural, recreativo ou técnico profissional”....


(Da assinatura deste protocolo daremos conhecimento em breve)


Fontes:
Texto do autor do blogue com inserção de texto do Comandante Adelino Rodrigues da Costa publicado na Revista da Armada n.º 261 de Janeiro de 1994;

mls

14 outubro 2016

Galeria Reserva Naval - Comandante Artur Manuel Coral Costa




Comandante Artur Manuel Coral Costa
(1924-2003)


O Comandante Artur Manuel Coral Costa, nasceu em 9 de Julho de 1924, e alistou-se na Armada em 6 de Setembro de 1943.

Frequentou a Faculdade de Ciências de Lisboa (1942/1943), pertenceu ao curso “D. João I” da Escola Naval que completou em 1946 e, em 1948/1949, tirou o curso de especialização em Artilharia (A), na Escola de Artilharia Naval.

Continuou a sua formação, frequentando o curso de Defesa Atómica, Biológica, Química e Limitação de Avarias (ABCD), em Inglaterra, no ano de 1954. Cursou ainda, nos Estados Unidos da América, em 1955/56, o aperfeiçoamento em Artilharia Antiaérea (AA).

Em 1962/63, frequentou o Curso Geral Naval de Guerra (CGNG), voltando a Inglaterra em 1974 para a frequência do Naval Tactical Course (TN/CI).

Foi Oficial de guarnição e Oficial Imediato de várias Unidades Navais, Instrutor da Escola de Artilharia Naval (1954/56), integrou a Missão de Recepção das Fragatas da “Classe Diogo Cão”, nos Estados Unidos da América (1956/57), organizou e foi Director dos Cursos de Formação dos Oficiais da Reserva Naval (1958/1960), pertenceu ao Estado Maior da Armada (1963/67) e esteve na Embaixada de Portugal em Madrid, como Adido Naval (1970/73).

Foi Comandante dos seguintes Navios e Unidades: LFP “Altair” (1948), navio-patrulha “Santo Antão” (1960/63), corveta “Cacheu” (1967/69), fragata “Magalhães Corrêa” (1973/75), Instalações Navais de Alcântara (1976/80).

Promovido ao posto de Capitão de Mar-e-Guerra em 2 de Setembro de 1974.

O Comandante Artur Manuel Coral Costa foi condecorado com a Medalha Militar de Prata de Serviços Distintos, Medalha Militar de Mérito Militar de 2ª classe, Medalha Militar de Ouro de Comportamento Exemplar, Comenda da Ordem Militar de Aviz, Medalha Comemorativa das Expedições das Forças Armadas (legenda Cabo Verde 1967/69), Medalha de Prata Comemorativa de V Centenário da Morte do Infante D. Henrique e Medalha de Mérito Naval de Espanha, de 1ª Classe, com Distintivo Branco.

A evocação do comandante Artur Manuel Coral Costa, nesta “Galeria”, não é um mero acto de retórica por nele se corporizar a História da Reserva Naval. Como Director de Instrução do 1.º CEORN, em 1958 e, no ano seguinte, do 2.º, foi vigilante atento das matérias ministradas nos cursos, na sequência da tarefa de que fora incumbido superiormente. Foi ainda o comandante Coral Costa que acompanhou o 5.º CEORN na sua viagem de instrução, substituindo o Director de instrução daquele curso, entretanto destacado para outra missão.

Foi o próprio Comandante Coral Costa que, em entrevista recolhida para a Revista da AORN, em 1997, relatou a forma como recebeu essa missão revelando dados históricos a propósito do início da Reserva Naval:


“Na altura, os Quadros normais da Marinha não previam operações de guerra nas Províncias Ultramarinas. Isto quer dizer que qualquer oficial que destacava para Angola, Moçambique ou Guiné, era desligado do Quadro. Desta forma, dava-se uma consequente redução dos efectivos no Continente, com as evidentes dificuldades de preencher os lugares e posições que ficavam vagas.
O único pessoal que não desligava era o dos navios e dos Destacamentos ou Companhias de Fuzileiros, Todos os outros, pertencendo a Governos de Província, Comandos Navais, Comandos de Defesa Marítima, Capitanias de Portos, entre outros, eram desligados do Quadro.

Como se depreende, não havia Quadros de Oficiais para as necessidades exigidas por três frentes de combate. Esta situação veio a verificar-se alguns anos mais tarde, mais precisamente três anos após a entrada, em 1958, do 1.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, podendo considerar-se a decisão de iniciar estes cursos como uma antecipação, ou previsão, de situações e cenários que vieram a ser realidade.

Estava eu a bordo da fragata “Diogo Gomes”, como oficial Imediato; recebi, através do respectivo Comandante Basílio de Sousa Pinto, a indicação de que o Almirante Quintanilha me queria falar. Conhecia o Almirante Fernando Quintanilha desde a viagem do aviso “Bartolomeu Dias” às comemorações da coroação da Raínha Isabel II de Inglaterra. Ele era então o comandante desse navio e eu o oficial chefe do Serviço de Artilharia.




No decorrer da entrevista, o Comandante Coral Costa, explica a Manuel Torres do 8.º CEORN as diferentes fases de criação da Reserva Naval.


Mas não fazia a mais pequena ideia de qual seria o assunto sobre o qual ele me quereria falar. Dirigi-me ao Gabinete do Almirante Quintanilha, apresentei os normais cumprimentos e, com o feitio que se lhe conhecia, não perdeu tempo com grandes explicações. Deu um murro na mesa e disse-me:

– Coral, vamos começar com a Reserva Naval!

Percebi então que qualquer pergunta que fizesse seria absolutamente extemporânea. E disse:

– Pois sim, senhor Almirante. E terminou ali a conversa.

Quando cheguei ao corredor, disse para comigo: O que será isto? Onde é que hei-de ir? E dirigi-me, penso, ao sítio certo. Na 1.ª Divisão do Estado-Maior da Armada estava então o Comandante Manuel Pereira Crespo, futuro Ministro, que uma pessoa que remodelou a Marinha em muitos aspectos, grande valor, CMG na altura e muito meu amigo. Expliquei-lhe a situação e recebi algumas preciosas directivas.

Passaram-me para a Escola Naval, mas era em casa que trabalhava no assunto, dia e noite. Tinha um mês para fazer o trabalho.

Eu já tinha estado no estrangeiro, sabia mais ou menos os planos de um curso desta natureza, o tempo que se leva a falar de certas matérias, de alguns pormenores importantes e acabei por fazer o Plano de Curso.

Evidentemente que tive de recorrer a camaradas que me ajudaram em períodos muito especiais, como foi o caso da Navegação, em que foi fundamental o apoio do Comandante Pinheiro de Azevedo. Era, aliás, uma matéria que ninguém acreditava fosse possível ensinar em tão pouco tempo. Refiro aqui outras colaborações que me foram dadas. Para as matérias de Máquinas recorri ao Engenheiro Vila Real, também formado pelo Instituto Superior Técnico. Nas matérias de Luta Anti-Submarina, ao Tenente Virgílio de Carvalho; para as Comunicações, ao Tenente Paulo Manuel Guerra Corujo; para as Informações de Combate, ao Tenente João Encarnação Simões e para Administração Naval, aos Tenentes Alfredo de Oliveira e Carlos Pereira de Oliveira.

Feito este estudo, extrapolei para seis meses, nem mais um dia. No total um ano e meio de serviço. Toda a gente concordou e começámos.


Na mesma entrevista, foram expostas também as razões porque o Comandante Coral Costa decidiu oferecer à Associação dos Oficiais da Reserva Naval o seu valioso espólio, constituído por uma biblioteca de várias centenas de livros, nos quais se incluem, encadernados, todos os números da Revista de Marinha, as suas fardas de gala e a número três e ainda todas as condecorações descritas na sua biografia, tal como a sua espada pessoal.




A espada, medalhas e condecorações do Comandante Coral Costa, cedidas para guarda da Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

“Ao longo da minha vida e pelo curriculum que vos mostrei, conclui-se que mais de metade do tempo passei-o a bordo. Mais do que em casa. Penso que as minhas coisas, relacionadas com a vida de Marinha, não irão ter continuidade.

Os livros que fui comprando, para os ler mais tarde quando houvesse mais tempo, terão possivelmente o destino da Feira da Ladra. Tudo são bocadinhos meus. Pensar que tudo iria, talvez, ser vendido a peso, era de facto um desgosto enorme. Numa Biblioteca Nacional de Marinha iria passar despercebido. Num Museu, igual.

Eu tenho esperança que na vossa Associação, serão de facto apreciados. Com outra curiosidade, até porque de entre estes livros há alguns que são realmente bastante bons”.



Estas confissões do comandante Coral Costa, na sequência da sua decisão de tornar depositária do seu espólio a Associação dos Oficiais da Reserva Naval, representada pela AORN, conhecedor do projecto de instauração de um Museu materializando a sua História, foram prova da máxima simpatia e amizade que a ela dedicou desde sempre, e que deveriam conciencializar a Associação para a responsabilidade que o acto representou.

O Capitão de Mar-e-Guerra Artur Manuel Coral Costa, em 15 de Janeiro de 1998 teve oportunidade de se reunir num almoço, no Clube Militar Naval, com oficiais da Reserva Naval que pertenceram ao 1.º e 2.º CEORN.




Andrade Neves - 2º CEORN, J. de Almeida Rezende, M. Andrade Neves,
J. Cavalleri Martinho e M. Paiva Pinto, todos do 1º CEORN, com o Comandante Coral Costa.



Director de Instrução destes dois cursos, decorridos 40 anos desde o seu primeiro encontro, foi nesta data reactivada a ligação ao passado através de João de Almeida Resende, Manuel Andrade Neves, José Cavalleri Martinho e Manuel Paiva Pinto do 1.º CEOEN e António Andrade Neves do 2.º CEORN, num acto de extrema simpatia e amizade.

Quem teve o privilégio de conhecer o Comandante Artur Manuel Coral Costa, ao longo da sua vida activa de Marinha ou, já retirado, mantendo as suas ligações em religiosas deslocações ao Clube Militar Naval para almoços com amigos, guarda a imagem de um grande Senhor, não só como profundo conhecedor da História da Reserva Naval, mas também no orgulho que deixava transparecer por ter deixado o seu nome pessoal ligado ao êxito que da sua criação e implementação, na Armada, resultou.


Fontes:
Publicado na Revista n.º 5 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval - Jul/Set 1997; fotos de arquivo do autor do blogue.


mls

07 outubro 2016

1.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval,1958





Listagem completa do 1.º CEORN
(clicar)





Em cima, o 1.º CEORN no habitual registo de família na portaria da Escola Naval
e, em baixo, a identificação de cada um dos presentes.



Classe de Marinha:

Rogério Canas de Sousa Ferreira (nº 21, na foto)
Manuel Rui Guedes Salgado (nº 9, na foto)
Gabriel Ângelo Silos de Medeiros (nº 17, na foto)
Manuel Jaime Sampaio Andrade Neves (nº 7, na foto)
José Valente da Silva (nº 12, na foto)
José Eduardo Cardoso Trigo de Morais (nº 19, na foto)
Carlos Alberto de Oliveira Canelas Cardoso (nº 3, na foto)
José Manuel da Silveira e Castro Guerra (nº 18, na foto)
José Alvarez Cavalleri Martinho (nº 10, na foto)
Mário Alberto Duarte Donas (nº 4, na foto)
Armando Manuel Monteiro de Barros Pereira (nº 15, na foto)
Augusto Gonçalves Correia (nº 20, na foto)
Manuel António de Paiva Pinto (nº 16, na foto)
Luís Filipe Mendia de Castro (nº 1, na foto)

Classe de Saúde Naval (médicos navais):

José Augusto Palla Garcia (nº 6, na foto)
Manuel Ribeiro Couto (nº 13, na foto)

Classe de Administração Naval (AN):

Rui dos Santos Martins (nº 11, na foto)
José Nunes Rodrigues (nº 14, na foto)

Classe de Engenheiros Maquinistas Navais (EMQ):

João Gomes de Almeida Rezende (nº 8, na foto)
Augusto Manuel Rodrigues Correia Pereira de Oliveira (nº 2, na foto)



A data de 11 de Agosto de 1958 marca o levantar ferro de uma enorme Esquadra chamada Reserva Naval.

Reorganizada pelo Decreto Lei nº 41399 de 26 de Novembro de 1957, quando era Presidente da República o General Francisco Higino Craveiro Lopes e Ministro da Marinha o Almirante Américo de Deus Rodrigues Thomaz, a Reserva Naval vê as condições de recrutamento e prestação de serviço dos reservistas estabelecidas pela Portaria nº 16714, de 27 de Maio de 1958, a que se seguiu, em Julho do mesmo ano, uma “Directiva do Estado Maior da Armada, dando forma ao funcionamento dos Cursos Especiais de Oficiais da Reserva Naval e à prestação de serviço dos reservistas que frequentarem esses cursos”.

Esta Directiva, publicada na Ordem do Dia à Armada nº 127 de 3 de Julho de 1958, determina que será de vinte o número limite dos mancebos (posteriormente designados Cadetes) a destacar pelo Ministério do Exército, para a frequência do 1º Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval (CEORN) de 1958-1959.

Era Chefe do Estado-Maior da Armada, o Vice Almirante José Augusto Guerreiro de Brito e Ministro da Marinha, à data da incorporação deste curso, o Contra-Almirante Fernando Quintanilha Mendonça Dias.

Catorze cadetes na classe de Marinha, dois na classe de Saúde Naval, dois na classe de Engenheiros Maquinistas Navais e dois na classe de Administração Naval, constituiram o primeiro ensaio de uma experiência que viria a permitir, pelo sucesso alcançado desde a primeira hora, que mais 65 cursos se seguissem.

É este primeiro curso que ora se recorda, constituindo como que uma homenagem pela responsabilidade que lhe cabe na aceitação que, ao longo de mais de três décadas, a Reserva Naval mereceu da mais antiga Instituição Militar Portuguesa - a Marinha de Guerra.

Foi Patrono deste Curso, Duarte Pacheco Pereira, navegador e cosmógrafo, nascido em Lisboa (c. 1460-1533), que fez parte da delegação portuguesa que elaborou o Tratado de Tordesilhas, em 1494. O seu livro, “Esmeraldo de situ orbis” - escrito entre 1505 a 1508, deixado incompleto e inédito até 1892, revela-o como um dos melhores representantes da escola náutica portuguesa.

Como todos os Cursos que se seguiram, teve este 1º CEORN o seu Director de Instrução, oficial dos quadros permanentes, com a responsabilidade de coordenar todas as actividades dos cadetes, perseguindo o objectivo de melhorar e corrigir eventuais deficiências na instrução.

Foi Director deste Curso, o então 1TEN Artur Manuel Coral Costa (nº 5, na foto), também responsável pela elaboração dos manuais das várias disciplinas ministradas, oficial a quem tem sido dado o devido relevo e considerado, muito justamente, um dos maiores responsáveis pelo valor atribuído à Reserva Naval.

11 de Agosto de 1958 marca a arrancada para uma viagem que viria a revelar-se recheada de episódios que ajudaram a fazer a História da Marinha de Guerra Portuguesa, na segunda metade do século XX.

O então Director e 1º Comandante da Escola Naval, Comodoro Manoel Maria Sarmento Rodrigues, na cerimónia de juramento de bandeira deste 1º Curso, em 2 de Março de 1959, finalizou a sua alocução com a seguinte frase: “... os que para cá vieram, sairão da Marinha mais homens, mais portugueses e terão, decerto, uma melhor compreensão do valor da Marinha e da sua gente. E, nas futuras missões que o destino lhes reservar, hão-de com certeza ser-lhes úteis os ensinamentos colhidos e saberão, por sua vez, ajudar a reinvidicar para a Marinha o lugar que lhe deve pertencer, dentro do conjunto das actividades nacionais.
E desta maneira, estaremos pagos, uns e outros, louvando a hora em que foi tomada tão feliz iniciativa“
.

Premiando o esforço no aperfeiçoamento dos seus conhecimentos técnicos e qualidades militares e, por despacho do Ministro da Marinha, foi criado o “Prémio Reserva Naval”e na Ordem do Dia à Armada Nº 54, de 13 de Março de 1959, pode ler-se: “Sua Exª o Chefe do Estado Maior da Armada determina e manda publicar o seguinte:

"PRÉMIO RESERVA NAVAL:

No ano de 1958-1959, foi atribuído o “Prémio Reserva Naval” ao cadete da Classe de Marinha da Reserva Naval Rogério Canas de Sousa Ferreira por ter sido o mais classificado na média de frequência escolar e classificação de carácter militar, na frequência do Primeiro Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval."

Foi esta a primeira referência individual feita na O.D.A. a um cadete da Reserva Naval.

Seguiu-se, em 26 de Março, a publicação na O.D.A. Nº 63, da “promoção ao posto de Aspirante a Oficial, ficando dentro de cada curso colocados na escala de antiguidades pela ordem em que acima estão mencionados, a contar de 1 de Março de 1959, sendo nesta mesma ocasião alistados definitivamente na Reserva Naval aqueles cadetes.

Um ano mais tarde, em 1 de Março de 1960, apreciados por um Conselho de Promoções de que faziam parte o Capitão de mar e guerra João Chaves Ubach, o Capitão de mar e guerra Diogo José Leite Pereira de Melo e Alvim e o Capitão de fragata da R.A. José Mendes da Rocha Zagalo, estes Aspirantes foram promovidos ao posto de Subtenente das várias classes da Reserva Naval iniciando, a partir desta data, o processo de licenciamento e a consequente passagem à disponibilidade.

No entanto, de entre estes, Gabriel Silos de Medeiros, José Cavalleri Martinho e Carlos Alberto Canelas Cardoso, manter-se-iam no serviço activo, sendo promovidos, a partir de 1 de Março de 1961, ao posto de 2TEN da Reserva Naval. Foram estes os primeiros oficiais da Reserva Naval a atingir aquela patente.

Canelas Cardoso viria a ingressar, posteriormente, no quadro de Serviço Especial, mantendo-se nele até atingir o posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra.

Os Contra Torpedeiros «Tejo», «Dão»; «Lima» e »Vouga», bem como as Fragatas «Côrte Real» e «Pero Escobar» receberam os Aspirantes deste Curso, constituindo o grupo de Navios onde pela primeira vez oficiais da Reserva Naval prestaram serviço.

Dezenas de outras Unidades tiveram nas suas guarnições, ao longo dos anos, muitas centenas de Oficiais RN.

Seria no Draga Minas «Vila do Porto», segundo publicação da Ordem do Dia à Armada Nº 107 que, em 25 de Maio de 1959, o Aspirante RN Luís Filipe Mendia de Castro assumiria, nos termos do artigo 628º da O.S.N., as funções de Comandante, durante o impedimento, por motivo de serviço, do respectivo Comandante.

Era Comandante deste navio, nesta data, o 1º Tenente Manuel José da Costa Souto e Moura.

Luís Mendia de Castro tornou-se assim o primeiro oficial da Reserva Naval a exercer funções de comando num navio da Armada.

A fragata «Pero Escobar» tornou-se um símbolo na História da Reserva Naval, por ter sido o primeiro navio onde embarcaram, para a viagem de instrução, os cadetes do 1º CEORN. Itália seria o destino desta viagem.

Aliás seria, esta uma das unidades que recebeu os Aspirantes Sousa Ferreira, Castro Guerra e Paiva Pinto, no primeiro destacamento de Oficiais RN para navios da Armada.

Mantendo-se ao serviço, após a promoção a Aspirante, pelo período de mais doze meses, passou este grupo que constituiu o 1º CEORN por diversos outros navios e unidades.

Os navios-patrulhas «São Nicolau», «Santa Luzia», «Sal», «Brava», «Fogo» e «S. Vicente», os draga-minas, «São Roque», «Pico», «Graciosa», «Rosário», «S. Jorge», «Corvo» e «Santa Cruz» e as lanchas de fiscalização «Corvina» e «Dourada», foram algumas das unidades por onde passaram estes oficiais RN.

O Hospital da Marinha foi cenário de prestação de serviço dos médicos deste Curso.

A Ordem do Dia à Armada Nº 27, de 4 de Fevereiro de 1960, refere, pela primeira vez na História da Reserva Naval, a concessão de uma “Menção de Apreço” pela actuação do Aspirante RN Manuel António de Paiva Pinto, da guarnição do navio-patrulha «S. Vicente», em serviço no Comando Naval dos Açores, pela classificação obtida nas provas de pistola e de espingarda de guerra, no campeonato de tiro do Comando Militar do Arquipélago. Valeria ainda este “feito”, cinco dias de licença especial.

E, como registo de curiosidades relacionadas com o 1º CEORN, a O.D.A. nº 39 de 22 de Fevereiro de 1960 confirma que o Aspirante RN de Administração Naval José Nunes Rodrigues, foi o primeiro oficial da Reserva Naval a pedir para ser submetido a exame complementar de condução auto de viaturas ligeiras e que o Aspirante RN Andrade Neves foi o primeiro a encontrar-se na situação de doente, conforme publicou a O.D.A. Nº 83 de 23 de Abril de 1959.

Este relato breve, de factos vividos nos primeiros anos da Reserva Naval, não pretende ser mais do que o recordar de um grupo de vinte jovens que, pela sua actuação ao longo de dezoito meses, permitiu que a Marinha de Guerra reconhecesse a valia da decisão de incorporar entre os seus operacionais, oficiais não oriundos dos cursos tradicionais da Escola Naval.

É neste 1º CEORN do ano de 1958 que a Reserva Naval assenta a sua História e, foi com origem nele, que cerca de 3.600 jovens tiveram a possibilidade de conhecer a realidade do Mar e da instituição militar Marinha, a ele ligada.

Uma lembrança especial para aqueles que deste 1º Curso a lei da vida já traçou o destino e, se este relato avivar a memória dos que com eles mais de perto conviveram na Armada, teremos certamente contribuído para lhes prestar uma homenagem sentida.


Galeria de Fotos:


0001/01-José Valente da Silva


0002/01-Rogério Canas de Sousa Ferreira


0003/01-Manuel Rui Guedes Salgado


0004/01-José Eduardo Cardoso Trigo de Morais


0005/01-Gabriel Ângelo Silos de Medeiros


0006/01-José Alvarez Cavalleri Martinho


0007/01-Mário Alberto Duarte Donas


0008/01-Alberto Manuel Monteiro de Barros Pereira


0009/01-Luis Filipe Mendia de Castro


0010/01-Manuel Jaime Sampaio de Andrade Neves


0011/01-José Manuel da Silveira e Castro Guerra


0012/01-Carlos Alberto de Oliveira Canelas Cardoso


0013/01-Augusto Gonçalves Correia


0014/01-Manuel António de Paiva Pinto


0015/01-José Augusto Palla Garcia


0016/01-Manuel Ribeiro Couto


0017/01-Augusto Manuel Rodrigues Correia Pereira de Oliveira


0018/01-João Gomes de Almeida Rezende


0019/01-José Nunes Rodrigues


0020/01-Rui dos Santos Martins

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0001/01-José Valente da Silva




Fontes:
Arquivo de Marinha; Anuário da Reserva Naval 1958-1975, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Dicionário de Navios, Adelino Rodrigues da Costa, 2006; Texto do autor do blogue compilado e corrigido a partir do publicado na Revista n.º 5 da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, Julho/Setembro 1997; Fotos de Arquivo do autor do blogue.


mls