07 julho 2017

Reserva Naval em Angola - DFE 6, 1973 / 75 (Parte II)


Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 6, «Os Tubarões»
Angola, 1973/75 – parte II


(Post reformulado a partir de outro já publicado em 5 de Janeiro de 2010)

(final)



Distintivo do DFE-6, Angola 1973/75.


O 25 de Abril de 1974 apanha o DFE 6 em plena actividade operacional no Leste de Angola, Chilombo. Apenas dois dias depois o Destacamento toma conhecimento formal da Revolução, através de uma mensagem do Comando do Movimento das Forças Armadas.

Na sequência desse processo, a unidade é deslocada para Luanda entre Julho e Agosto, após o que, no dia 5 deste último mês, o aquartelamento do Chilombo é entregue a um pelotão do Exército.

A LDP 208 é deixada no Chilombo, tendo-lhe apenas sido retirada a peça anti-aérea Oerlinkon de 20 mm, o mesmo sucedendo às duas peças de protecção ao aquartelamento.




Em cima, a peça Oerlinkon de 20 mm no respectivo abrigo e, em baixo, a LDP 208 varada na margem do rio Zambeze



O deslocamento do DFE 6 para Luanda é efectuado em duas fases. Na primeira fase, ainda durante o mês de Julho, o comandante, 1TEN EMQ José Manuel Correia Graça e o 2TEN FZE RN Jorge Manuel de Pina Paiva e Pona Franco, do 21.º CFORN, com a maior parte do destacamento, seguem por via aérea, a partir da Lumbala, em aviões Nord Atlas da Força Aérea.

No início de Agosto, o imediato, 2TEN FZE RN Sérgio Tavares de Almeida, do 20.º CFORN, e o oficial do pelotão de apoio, 2TEN FZ RN Alberto José do Santos Marques Cavaco, do 20.º CFORN é integrado na CF 6, seguem em coluna de viaturas até Teixeira de Sousa (actual Luau), com o restante pessoal e todo o material pesado. Nesta cidade embarcam no comboio e seguem por via férrea até Nova Lisboa (actual Huambo), onde embarcam novamente nas viaturas, seguindo depois em coluna motorizada até Luanda.




Em cima, a estação dos caminhos de ferro de Teixeira de Sousa (Luau) e, em baixo, traçado do percurso Chilombo - Teixeira de Sousa (Luau) - Nova Lisboa (Huambo) - Luanda



Durante os cerca de oito meses em que o DFE 6 se manteve em Luanda, foi-lhe atribuída a missão de segurança e protecção do Palácio do Governo, quando era Alto Comissário o Almirante Rosa Coutinho. Esta missão surgiu na sequência de uma manifestação da população branca que terminou com uma tentativa de invasão do Palácio onde se encontrava o Almirante.




Em cima, a baía de Luanda nos anos '70 e, em baixo, igualmente em Luanda, a fortaleza de S. Miguel, onde foi arriada a última Bandeira Portuguesa



Alguns dos manifestantes conseguiram mesmo entrar numa das salas do rés-do-chão, tendo levado a que Rosa Coutinho subisse para cima de uma mesa e falasse aos manifestantes, conseguindo acalmá-los.

O Destacamento, que tinha sido incumbido de controlar a manifestação, acabou por expulsar os manifestantes e, a partir desse dia, permaneceu nas instalações de modo a evitar que novas situações deste tipo tivessem lugar.




Em cima, uma manifestação das forças políticas e, em baixo, uma individualidade de um dos movimentos de libertação



Durante este período Luanda foi palco de múltiplas manifestações levadas a cabo pelos três movimentos revolucionários, MPLA, UNITA e FNLA, que assim pretendiam mostrar a sua força nas ruas. Essas manifestações tinham invariavelmente o seu ponto alto em frente ao Palácio do Governo.




Em cima, tomada de posse do «Governo de Transição» com os três movimentos e, em baixo, Agostinho Neto no Palácio do Governo



A partir da altura em que Rosa Coutinho, como Alto Comissário em Angola, foi substituído por um oficial general da Força Aérea, Gonçalves Cardoso, a missão de segurança ao Palácio do Governo passou a estar atribuída aos Páraquedistas.

Passou então a estar-lhe atribuída a missão de segurança ao aeroporto de Luanda. No decorrer desta missão, surgiram por vezes situações complicadas devido ao permanente movimento de altas entidades dos três movimentos que chegavam ou partiam de Luanda e se faziam acompanhar dos respectivos elementos de segurança privados. Estas situações exigiam uma grande dose de bom senso e diplomacia, para evitar conflitos.




Em cima, a chegada de Agostinho Neto a Luanda, transportado desde o aeroporto num helicóptero da FAP e, em baixo, o aeroporto de Luanda



Num desses momentos, um elemento armado de uma espingarda automática Kalashnikov, colocou-se ostensivamente à entrada da sala VIP, por onde iria sair brevemente um dos dignatários do seu movimento. Apesar de lhe ser explicado que a segurança do aeroporto estava a cargo das forças portuguesas, não mostrava qualquer intenção de sair daquela posição, afirmando que estava a cumprir ordens. A forma encontrada de resolver o incidente foi chamar um fuzileiro com uma MG-42. Após comparar o tamanho das armas lá decidiu retirar-se para um local mais discreto.

O DFE 6 participou também em diversas acções de protecção da população que vivia nos muceques (os bairros da população nativa), na sequência de tumultos que ocorriam com alguma frequência, entre populares de diferentes movimentos. De referir que, nessa altura, os três movimentos se encontravam instalados na capital.

Em Novembro de 1974 o imediato, 2TEN FZE RN Sérgio de Almeida, regressa a Lisboa, tendo assumido essas funções o 2TEN FZE RN Paiva e Pona, tendo o 2TEN FZE RN José António Ruivo, do 21º CFORN, passado a desempenhar as funções de terceiro oficial. Para completar o quadro de oficiais com um quarto elemento é enviado o STEN FZE RN António Proença Martins, pertencente ao 24.º CFORN.

O Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 6 termina a sua comissão e regressa definitivamente a Portugal em Março de 1975.





Em cima, a vista actual da antiga localização do aquartelamento do Chilombo, junto ao rio Zambeze, podendo ainda identificarem-se algumas ruínas, o "kimbo" e o areal onde acostava a LDP 208 e, em baixo, uma perspectiva actual da Lumbala, cuja pista ainda se mantém operacional



José António Ruivo
CMG FZE - 21.º CFORN


Fontes:
Texto e imagens do CMG José António Ruivo - 21.º CFORN.


mls

1 comentário:

António Veríssimo disse...

Sérgio do "Bisparia", recebe um grande abraço.
Se recordar é viver! Poder ver estas fotos, e ler os textos que aqui tens, faz com que aqueles que já nos deixaram estejam sempre na nossa memória.
Um grande abraço
António José Veríssimo Teixeira Bispo - Castelo Branco