31 julho 2018

"In Memoriam" Professor Doutor Agostinho Almeida Santos - O último embarque de um antigo Oficial da Reserva Naval


2TEN MN RN Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos
8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval





Agostinho Almeida Santos


Aqui nesta modesta homenagem recordo Agostinho Diogo Jorge de Almeida Santos, alguns dias depois de ter deixado o nosso convívio, dia 14 passado.

Infausta notícia que, chegando tardia no meu conhecimento, não me impede de manifestar, à família enlutada e a todos os amigos pessoais, um enorme sentimento de pesar pela perda havida.

Dissertar aqui sobre o percurso pessoal e profissional de Agostinho Almeida Santos é objectivo para que assumo humildemente não ter dimensão, quer pelo relativo afastamento pessoal quer profissional, ambos condicionados por rumos de vida diferenciados.

A comunicação social especializada e a própria Assembleia da República, em diferentes formas de manifestada homenagem, expressaram e difundiram a notícia da perda de tão humana quanto erudita personalidade.

Limito-me aqui a mencionar algumas das possíveis referências:



In "Notícias de Coimbra"

"...O médico e professor catedrático de ginecologia, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), realizou, pela primeira vez, em Portugal, a técnica de procriação medicamente assistida, designada por GIFT (Transferência de Gâmetas para a Trompa), “método que propiciou o nascimento do primeiro bebé em junho de 1988”, refere um resumo curricular de Agostinho Almeida Santos do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida...."

"...Naquela que terá sido uma das suas últimas entrevistas de vida, efectuada por Braga da Cruz e Américo Santos, dois dos grandes timoneiros do Clube da Comunicação Social de Coimbra, o reputado médico lembrou que se sentia “o pai de 17 mil crianças” nascidas no seio de casais que não tinham filhos..."


In "Público"

"...Segundo a mesma nota, Agostinho Almeida Santos fundou e dirigiu o programa de reprodução medicamente assistida, que funciona em Coimbra, desde 1985. Entre 2005 e 2007, foi o presidente do Conselho de Administração dos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Na vida académica, publicou 185 trabalhos científicos, proferiu mais de 400 palestras e foi o responsável pelas disciplinas de Obstetrícia e Ética, Deontologia e Direitos Médicos da FMUC.

Membro de 18 sociedades científicas nacionais e internacionais, desempenhou funções de perito da Comunidade Económica Europeia na área de investigação em bioética. Autor do livro Razões de Ser, associado aos problemas e futuro da bioética, Agostinho Almeida Santos manteve uma actividade universitária de forma ininterrupta desde 1965, sublinha a mesma nota curricular.

Em 2011, com a intervenção da troika, alertou para a necessidade de se ajudarem os portugueses mais pobres, no acesso aos cuidados de saúde. "Vamos ter em Portugal, dentro de pouco tempo, pessoas que não têm dinheiro, nem amigos, mas vão precisar de ter acesso à saúde", disse então, frisando que se tratava de "um problema cívico", que devia mobilizar todos...."




Largamente difundida em toda a comunicação social, a notícia do desaparecimento de tão ilustre personalidade da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra com vasto e riquíssimo percurso médico, científico, académico, humano e pessoal, transporta-nos a memória ao mês de Setembro de 1965, ano em que ingressou num grupo de 68 Cadetes na Escola Naval, na classe de Médicos Navais do 8.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, onde se manteve até Fevereiro de 1968, ano em que foi licenciado, passando à vida civil no posto de Segundo-Tenente.




8.º CEORN, na portaria da Escola Naval em foto de família - Agostinho Almeida Santos (ao centro do círculo),
Jorge Miranda (à esquerda), António Palma Fernandes (à direita) e Frederico Silveira Machado (atrás)





Foto de grupo do 8.º CEORN - Em cima, da esquerda para a direita: Augusto de Athaide Albergaria, Agostinho Almeida Santos, Frederico Silveira Machado, José Silveira Godinho, Manuel Castro Norton e António Simões Pereira; em baixo, Mário Rocha de Sousa

Em Abril de 1966, depois da habitual viagem de instrução nas fragatas «Corte Real» e «Diogo Cão», seguiu-se o Juramento de Bandeira com a promoção a Aspirante a Oficial.

Agostinho Almeida Santos foi então destacado para o NRP «São Gabriel», vindo a integrar como Médico Naval a Companhia de Fuzileiros n.º 2 em Moçambique, onde permaneceu até 1968, ano em que foi licenciado, regressando à vida civil no posto de Segundo-Tenente.




Buarcos, 1992 - Em cima, da esquerda para a direita:
José Silveira Godinho, Martinho Pereira Coutinho, Agostinho Almeida Santos, Alexandre Ferreira Borrego, António Simões Pereira, António Cardoso da Silva e Manuel Lema Santos;
Em baixo, Joaquim José Carvalho, Luis Mata de Oliveira, Mário Rui Nunes e Fernando Nunes Serra com a companhia de várias das respectivas senhoras presentes;


Nunca esqueceu a Marinha e os camaradas de curso "Filhos da Escola". Anos mais tarde, em Novembro de 1992, empenhou-se na organização de um Encontro-Convívio dos elementos do seu curso da Escola Naval, 8.º CEORN-Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, reunindo em Coimbra/Buarcos vários antigos companheiros e respectivas senhoras, convívio repetido por sua iniciativa em 1994, sempre num ambiente de grande fraternidade e amizade, características de uma personalidade eminentemente humanista e social.




Dois momentos do 1.º Encontro de Médicos no Hospital de Marinha



Em 27 de Fevereiro de 1999, integra a Comissão Organizadora e participa no 1.º Grande Encontro de Médicos da Reserva Naval, numa organização da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, com o apoio do Hospital de Marinha que encerrou na secular Sala da Farmácia com a já tradicional hospitalidade da Marinha.



Na revista n.º 11 da mesma Associação, em Abril de 2000, sob o título «Saúde e Medicina» publicou um artigo denominado "Clonagem Humana - Um Horror Quase Possível".


Entre 19 e 21 de Setembro de 2003, esteve presente como elemento e sócio participante no Primeiro Encontro Nacional da Reserva Naval, numa organização da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval que teve lugar na Figueira da Foz, no Centro de Artes e Espectáculos.




Encontro Nacional da Reserva Naval, Set2003 - Em cima, Agostinho Almeida Santos no secretariado e, em baixo no decorrer do Jantar Convívio de encerramento




Agostinho Almeida Santos apoiou ainda e encabeçou a direcção e organização de uma Delegação das Beiras da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

Depois de uma reunião prévia decorrida em 8 de Julho, em Coimbra, no Hotel Astória, continuada num convívio a 6 de Setembro, em 24 de Outubro de 2003 nasceu aquele Núcleo, então a bordo do "Basófias", com mais de 30 camaradas da Reserva Naval presentes.

Promovido por Agostinho Almeida Santos, acompanhado pelos camaradas Corte-Real, Maia de Carvalho e João Paulo Craveiro, com o apoio do Polo Norte que apadrinhou, o Núcleo das Beiras viu finalmente o baptismo do mar com o nome de "Granel das Beiras".




Agostinho Almeida Santos na sua alocução

Sobre aquele momento escreveu então Agostinho Almeida Santos:

"...Coimbra não tem mar mas tem marés. E foi numa maré cheia de uma lua nova que uma vintena de bravos marinheiros de antanho subiram o Mondego numa barcaça sem quilha, flutuando ao sabor da sorte a bordo de um “Basófias”. Após lauto repasto os intrépidos guerreiros bradaram às armas e decidiram navegar a vante.
Para se reabastecerem, semanas depois, no porão da ré de um couraçado bairradino. Com o Luís Pato ao leme, o imediato suporte dos comandos do “Polo Norte” e a fragância das espumantes ondas, o iluminado espírito do camarada Pires da Rosa fez baptismo do “Granel das Beiras” que há-de ser figura de proa da nau do Centro à conquista das mares da costa que nos banha.
Todos seremos agora poucos para no “Granel das Beiras” honrarmos um passado de que nos orgulhamos, ao serviço da Armada Portuguesa.
Agostinho Almeida Santos
8º CEORN



Desde a vinda a este mundo que todos estamos ao portaló a aguardar a hora de chamada para o último embarque, agora num horizonte de vida necessariamente estreitado pelas milhas já percorridas.

Até breve!


Fontes:
Texto do autor do blogue, compilado a partir de: Anuário da Reserva Naval, Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, Lisboa, 1992; Lista da Armada; Fotos de arquivo pessoal do autor do blogue; Revistas da AORN-Associação dos Oficiais da Reserva Naval, nº 9-Mar1999, n.º 11-Abr2000 e n.º 17-Mar2004;


mls

1 comentário:

Jorge Lourenço Goncalves disse...

Nesse ano de 1965, estava eu a completar o 4º ano da Escola Naval.
Com sua licença vou partilhar no grupo "Filhos da Escola Naval.